Eficácia à portuguesa e mulheres alemãs*
Nunca tinha visto sessão de penáltis tão rápida, até os meus nervos aguentaram.
Não costumo assistir a este tipo de desempate, esteja Portugal envolvido. E já me preparava para sair da sala, quando me apercebi de que seriam os eslovenos a inaugurar a sessão. Pensei: “OK, eles marcam golo e eu saio”. Mas Diogo Costa fez a sua primeira defesa! Quando vi que seria Ronaldo o primeiro português, estive novamente para sair, considerando a tragicidade que o envolvera neste jogo. Mas pensei: “Enfim, os eslovenos falharam o primeiro; se ele não marcar, desta vez, não é tragédia nenhuma”. Mas ele marcou! “Pronto, ainda aguento ver o próximo esloveno”. E o Diogo Costa tornou a defender! Já não havia desculpa para sair e o resto foi o que se sabe: tudo acabado em três tempos, com vitória de Portugal por 3-0. Era esta a eficácia que se esperava durante o tempo normal de jogo. Enfim, estamos nos quartos. E Diogo Costa escreveu a primeira página digna de registo na História deste Euro.
Bem, e onde entram as alemãs no meio disto tudo? Na transmissão televisiva do ARD, onde elas estiveram em maioria.
A locutora desportiva Christina Graf foi a voz-off de todo o desafio. Não pela primeira vez, é ela a responsável por muitos jogos do Euro transmitidos pelo ARD. Christina Graf foi igualmente jogadora de futebol, mas uma lesão grave no tornozelo obrigou-a a abandonar a carreira com apenas 23 anos. Enfim, ganhou-se uma excelente locutora e jornalista.
Ao intervalo e no fim da partida, tivemos as análises de Sebastian Schweinsteiger, ao lado de outra mulher, Esther Sedlaczek, também já habitual nestas andanças.
Não gostava de Sebastian Schweinsteiger como jogador. Excelente, sem dúvida, mas bastante agressivo e impaciente, muitas vezes, arrogante. Desde que casou, em 2016, com a antiga tenista sérvia Ana Ivanović, modificou-se, está um outro homem. Ponderado, calmo e simpático, nem sequer pratica o chamado “mansplaining” com Esther Sedlaczek, do estilo: “até podes ser competente, mas eu sou homem, fui um dos melhores jogadores do mundo e vai dar-me um gozo enorme pôr a nu as tuas deficiências nesta matéria”. Uma atitude muito comum em homens, mesmo não sendo estrelas e tendo uma mulher competente a seu lado. Schweinsteiger limita-se a opinar e a analisar o solicitado por Esther Sedlaczek, falando bem, sem hesitações, nem interrupções, mantendo um semblante simpático. Um comentador de grande classe.
Que diferença dos debates futeboleiros portugueses, entre homens! Mesmo não sabendo alemão, tentem ver um pouco do vídeo da análise final do jogo de ontem, uma análise dinâmica e descontraída (espero que os direitos permitam a visualização do vídeo em Portugal). Os dois começam aliás por falar da Eslovénia e, só depois, se dedicam à nossa selecção.
Mais mulheres no futebol português, fora das quatro linhas, precisam-se!
Sebastian Schweinsteiger e Ana Ivanović têm três filhos. O mais novo nasceu no ano passado.
Foto Gala
*Publicado originalmente no És a Nossa Fé.