Discordâncias perigosas
Do que conheço, não tenho qualquer boa impressão de Robert Fico, uma espécie de Orbán de esquerda e putinófilo confesso. Espero obviamente que sobreviva ao atentado à bala, coisa que tudo indica que vá acontecer, porque isto de disparar sobre governantes não é lá grande método de os tirar do poder (e crime é crime, seja lá contra quem for). Para mais, o atirador confessa que disparou contra Fico por "discordar dele", um argumento muito abalável e digno desta época de discussões desbocadas e intolerantes nas redes sociais. Parece que é membro de grupos literários, o que altera de forma perigosa a máxima de José Mário Branco "a cantiga (neste caso a literatura) é uma arma".
Mas, e já sabendo que Fico fica mesmo entre nós, há uma certa ironia nisto tudo: é que um seu anterior governo caiu em 2018 precisamente por ligações perigosas ao assassínio de um jornalista de investigação e da sua noiva e as coisas nunca ficaram completamente claras, uma coisa chocante mesmo em democracias algo imaturas e a tender para o iliberal. Obviamente que o jornalista discordava do governo. Discordar tem vindo a ser uma coisa perigosa na Eslováquia dos nossos dias.