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Delito de Opinião

Escuteiros

Paulo Sousa, 28.11.22

A minha filha é escuteira há pouco tempo e Sábado esteve de serviço para o Banco Alimentar.

O dia estava farrusco e pouco convidativo para ali ficarem plantados à entrada de um supermercado, de calções, a abordarem quem passava.

Chegou a casa com várias estórias, que registei. Estava indignada com as pessoas que respondiam logo Não! ainda antes dela ter tido tempo de perguntar se queriam ajudar. Mas vinha também contente porque no seu turno tinham conseguido encher três carros de compras.

A chefe dos Lobitos disse-nos que são os miúdos pequenos que conseguem sempre reunir mais donativos, embora precisem também dos mais velhos para os ajudar. A chefe contou ainda que, além de um saco com diversos bens para o Banco Alimentar, um senhor comprou também uma caixa de bombons, de marca bem conhecida, para cada um dos escuteiros, e que eles foram perguntar à chefe se os podiam colocar junto com os bens doados.

Lembro-me de há uns anos, uma cadeia de electrodomésticos ter lançado uma campanha publicitária com o slogan, Eu é que não sou parvo, e que ilustrava essa passagem com uns escuteiros com ar de parvos dentro de uma dessas lojas. Gozar com os escuteiros é aceitável, tal como o é também com uma série de outras organizações e instituições. Não merecem o tratamento dedicado a algumas minorias, escolhidas a dedo, mas eles não ligam a isso. Dispensam que tenham pena deles e gostam mesmo é de fazer coisas desafiantes.

Nas primeiras noites dormidas fora de casa, acantonados na sede, há sempre uma eventual lágrima derramada na hora de dormir, mas acabam por chegar a casa com aquela indiferença, fingida, de que tal como as pessoas crescidas, às vezes passam a noite fora de casa. Além disso ela tem ainda o gosto de seguir as pegadas do irmão, bem mais batido naquela vida de calções.

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Em algumas actividades são distribuídos em grupos mistos compostos por escuteiros de diferentes idades e é giro ver como os mais novos são ajudados pelos outros. Também cozinham para si próprios, fazem grandes caminhadas a navegar por um mapa, e, como nem todos têm as mesmas capacidades, gosto de ver como tomam conta um dos outros.

Nas festas há sempre uns que tocam guitarra e todos cantam muitas canções. A que eu mais gosto é uma dos Pioneiros que diz: Criança não sou, adulto tão pouco, sou escuteiro e podes confiar em mim.

Quando saem para algum raid, apenas os guias de cada grupo podem levar telefone, que só usam se precisarem de ajuda. Para os outros, o que seria impensável em casa, é ali o normal e lá vão conversando uns com os outros, tal e qual como antigamente.

Nos dias de hoje, em que alguns miúdos com dez, doze ou mais anos, por falta de necessidade, não sabem usar uma faca para cortar um bocado de pão, as capacidades adquiridas nos escuteiros parecem ser de uma escala próxima aos super-poderes.

Nada disto seria possível sem os dedicados chefes. Tomar conta dos filhos dos outros e, gratuitamente, abdicar de tempo livre, apenas para assegurar que, semana após semana, o agrupamento continua a funcionar e que os escuteiros continuam a querer regressar no Sábado seguinte, é algo apenas reservado a pessoas realmente positivas e dedicadas aos outros.

Acho mesmo que o escutismo ajuda a formar pessoas mais capazes e preparadas para a vida. E tem ainda uma outra vantagem, por não ser obrigatório, só lá anda quem quer.