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Delito de Opinião

A escola da minha terra

Paulo Sousa, 22.01.20

Como disse ontem, frequentei a Escola Secundária de Porto de Mós, aquela que continua cheia de amianto.

O autocarro deixava-me à porta da escola mais de uma hora antes das aulas. Depois disso ia fazer uma segunda volta para a serra a recolher mais alunos. A escola ainda estava fechada e os cafés mais perto da escola ficavam logo cheios. Haviam os grupos que se juntavam atrás do pavilhão 3 ou 4 e haviam os grupos que se juntavam no café A ou B. Eram como uma extensão do espaço escolar. No meu grupo do café todos fumavam menos eu. Confesso que tentei repetidamente travar sem tossir mas apesar de muito empenho nunca consegui. Felizmente era um grupo de mente aberta e apesar de fazerem piadas sobre isso nunca me excluíram por não fumar.

O Instituto Educativo do Juncal (IEJ) foi inaugurado pouco depois disto e desde há mais de 30 anos, foram muitas as centenas de alunos que deixaram de ter de acordar de noite para ir à escola.

Desde o primeiro momento o IEJ conseguiu, e graças à liderança do seu fundador Dr. João Martins, ter um ambiente caloroso onde se aprendia quase em família. Já se sabe que são os clientes satisfeitos que fazem a melhor publicidade e, ano após ano, a procura aumentava. O quadro pedagógico era estável e sintonizado com a identidade da escola.

Muito antes do Ministério de Educação inventar as AEC's para o primeiro ciclo já o IEJ proporcionava aos seus alunos actividades extra-curriculares como o Basquetebol, Futsal, Voleibol, Ténis, Ténis de Mesa, Ginástica, Atletismo, Xadrez, Ciências Experimentais, Pintura, Laboratório de Matemática, Jornalismo, Teatro, Cinema, Culinária (havia alunos que aprendiam a cozinhar!!), Canto Coral, Banda, Italiano, Programação, Horta Pedagógica, entre outros que me estarei a esquecer.

Quando começaram a ser comparadas as classificações dos alunos das várias escolas, o IEJ obteve desde logo uma boa classificação. Ano após ano, os critérios foram sendo afinados de acordo com a sensibilidade do Ministério de Educação, e a boa classificação inicial acabou por não se conseguir manter.

Claro que a procura crescente de alunos fazia concorrência à Escola Secundária do amianto. Os país dos alunos sabiam que as aulas dos seus filhos não eram perturbadas pelas frequentes greves dos professores. O alivio dos pais era simétrico ao desapontamento sentido pela Fenprof.

Alguns anos mais tarde houve quem quisesse comparar os custos por aluno nestas escolas com as demais e os resultados que obteve foram novamente perturbadores para a Fenprof e para os defensores do status quo público. E não é que este tipo de ensino tinha o atrevimento de custar menos ao OE do que a chamada escola pública?

Não sei relatar em detalhe, mas algum tempo mais tarde foram feitas mudanças nas carreiras dos professores de modo a que em pouco tempo o corpo docente passou a ser como os da escola pública, ou seja, mudava com frequência e isso criou, como acontece em todo o lado, instabilidade na escola.

No governo da Troika, ainda antes da Geringonça, o valor assumido pelo estado por cada aluno baixou significativamente o que teve impacto imediato no dia a dia da escola. Era mais fácil cortar ali do que na escola pública.

A narrativa contra os directores que iam de Porche para a escola foi lançada já no tempo da Geringonça, e bem sabemos qual é a última palavra dos Lusíadas. Nessa altura o incómodo acumulado desencadeou o pogrom.

Se em algumas regiões as escolas em contrato de associação eram demasiadas, todas levaram por tabela. Não eram necessários quaisquer estudos pois a decisão já estava tomada. E o resto já sabemos. Ano após ano deixaram de entrar novas turmas, foram acabados apenas os ciclos em curso e algumas já fecharam.

Não fosse ter-se transformado numa escola profissional e o IEJ teria seguido o mesmo caminho.

O meu filho foi aluno do IEJ e agora anda na escola pública. Nos primeiros dias após a mudança chegou a casa espantado dizendo que em cada pavilhão havia 3 funcionários... e na secretaria havia mais de 10!! Isso era impensável no IEJ, onde tudo funcionava com muito menos gente. Lembrei-me novamente disso quando já este ano lectivo ano houve uma greve a denunciar a falta de pessoal não docente.

Se o bom senso fosse para aqui chamado tudo isto seria diferente.

O discurso com que eu me sentiria representado

Paulo Sousa, 21.01.20

Há dias, a Dra Olga Silvestre, ilustre deputada do meu concelho, eleita pelo círculo eleitoral de Leiria nas listas do PSD, usou da palavra na Assembleia da República para reivindicar a requalificação e alargamento da Escola Secundária de Porto de Mós, que eu próprio frequentei.

Ao ouvi-la achei que alguns aspectos que contam ficaram por referir. Por isso, propus-me a reescrever o discurso com que eu me sentiria representado. Aqui vai:

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Senhor Presidente,

Senhor Ministro,

Senhores Secretários de Estado,

A educação é um dos maiores pilares de uma sociedade desenvolvida.

Pretendia hoje aqui lembrar o Senhor Ministro que, no meu concelho, é urgente requalificar a Escola Secundária de Porto de Mós.

É uma escola com mais de 40 anos, com amianto nas coberturas e nos pilares, sem isolamento térmico ou acústico e é ladeada por muros de sustentação de terras em risco de ruir.

A intervenção é urgente.

Se vivêssemos num Portugal mais equilibrado esta seria a minha reivindicação de hoje.

Há, no entanto, uma outra questão que não posso deixar de a referir aqui.

Esta escola, além da requalificação, necessita agora também de ser ampliada pois a lotação actual ronda 130% da sua capacidade.

E não senhor Ministro, a população escolar do nosso concelho não aumentou nessa proporção.

O que explica este fenómeno foi o pogrom ideológico que o seu governo promoveu contra as escolas com contrato de associação.

A sete quilómetros de Porto de Mós, no Instituto Educativo do Juncal existem doze salas de aula vazias e em silêncio. Todas já pagas pelos impostos do portugueses.

Estão totalmente equipadas, com quadros e projectores, dentro de um edifício moderno e confortável, mas o seu governo, e os amigos do seu governo, decidiram transferir os alunos dali para a agora superlotada e cheia de amianto Escola Secundária de Porto de Mós.

Assim, além da mais que necessária qualificação, esta escola tem agora de ser também aumentada.

Os contribuintes portugueses vão ser mais uma vez chamados a pagar as novas salas porque a outras, que não são velhas, não servem os interesses de quem decide a Educação.

 

Vou terminar Senhor Presidente –

 

Senhor ministro,

Os fundos à disposição do estado, não são do governo, mas sim dos portugueses.

O lugar que hoje ocupa é seu mas é de turno.

No seu legado político ficará inscrita esta perseguição ideológica e os portugueses lembrar-se-ão de como o seus impostos foram desbaratados.

Termino com um pedido.

Apelo à sua noção de ética republicana para que não use esta minha intervenção como desculpa para continuar a adiar a requalificação e a remoção do amianto da Escola Secundária de Porto de Mós.

Disse.

Nós precisamos de explicações sobre as explicações

Paulo Sousa, 16.01.20

No país dos governantes que não se cansam de repetir o mantra da escola pública, já reparámos que esta não é o elevador social que deveria ser. Se o fosse, os filhos dos pobres poderiam ambicionar ter uma vida melhor que os seus pais, mas quase meio século depois do 25 de Abril, só em sonhos poderão um dia vir a ter uma vida desafogada. Existirão excepções, mas que infelizmente confirmam esta regra.

Quem se relaciona com o mundo do ensino, e eu faço parte do universo dos pais, sabe como pertencer a uma turma mais ou menos pacata tem influência nos resultados escolares. Esse facto resulta de uma quase lotaria. Com sorte calha-se numa turma com boa onda e com azar calha-se numa turma problemática.

A realidade das explicações na situação actual do nosso ensino é o tema deste texto. De que modo se encaixa a dimensão da procura de explicações fora da escola no discurso político?

Existem aulas de apoio nas escolas mas, permitam-me perguntar, quantos alunos portugueses recorrem a explicações pagas depois da escola? Quanto pagam em média por hora de explicação? Qual o encargo mensal para o seus pais? Que hipóteses têm os filhos dos pobres num sistema de ensino em que os alunos necessitam de pagar para ter explicações fora da escola?

Greve após greve, os professores conseguiram tornar-se no epicentro das grandes preocupações do Ministério da Educação e isso é uma parte significativa do problema. O enfoque do sistema devia ser o aluno.

Ao acabar com as retenções o governo assumiu a derrota. Mesmo com fraco aproveitamento escolar, os pobres, que não podem pagar explicações fora da escola, ficarão sempre em desvantagem, mas o nosso bondoso governo conforta-os ao lhes garantir que já não chumbam. Os empregos de menor qualificação e mais mal pagos esperam por eles. E o ciclo de pobreza eterniza-se.

Parque Escolar EPE, até quando?

Tiago Mota Saraiva, 17.10.16

 

Após décadas de condicionamento à manutenção e reabilitação do edificado, o plano de Sócrates para a sua requalificação parecia ser um bom investimento na escola pública. A pressa e a preocupação em distribuir avultadas verbas pelas várias clientelas - em 2011 a dívida da Parque Escolar EPE era praticamente igual à do valor somado das 408 empresas municipais – transformo-o numa estrondosa oportunidade perdida.

Atropelando procedimentos, sem transparência e controlo e, tantas vezes, sem competência e qualidade foram-se realizando obras até que Nuno Crato parou tudo - numa eficiente forma de patrocinar indemnizações aos grandes empreiteiros sem que tivessem de fazer a obra.

Muita desta história ainda estará por contar. Do Tribunal de Contas ao governo de Passos trabalhou-se para esconder aquela que foi a “festa” do Bloco Central ainda que os seus cadáveres estejam à vista de todos.

Depois de muitos anos a fazer-se de morta, a administração da Parque Escolar regressa à ribalta ao lançar um concurso de arquitectura para a reabilitação do Conservatório Nacional de Lisboa – um daqueles edifícios condenado ao degredo. Ainda que os administradores sejam outros, a vontade de manter as práticas obscuras condicionando a encomenda aos arquitectos de outrora, mantém-se. Mais uma vez ao arrepio da lei, abre-se um procedimento de concurso de arquitectura como se tratasse da escolha de uma equipa para reparar uma central nuclear, estabelecendo como critérios de adjudicação o preço (30%) e a realização nos últimos dez anos de projectos de reabilitação de edifícios e de uso colectivo de carácter semelhante (70%), e sem que nenhum critério se baseie sobre a qualidade da proposta. Sabendo-se que neste limite temporal e com este enquadramento fez-se pouco mais do que escolas, o resultado ficará limitado a pouco mais do que os gabinetes que mais escolas fizeram - sem qualquer análise crítica do seu trabalho e mesmo que depois da “festa” os respectivos gabinetes tenham fechado portas e lançado no desemprego e à emigração os falsos recibos verdes que faziam parte da sua precária engrenagem.

A consideração que nutro pela actual equipa do Ministério da Educação dá-me esperança que possam enfrentar mais estes interesses instalados. A Parque Escolar é um facilitador de interesses privados. Urge dissolvê-la e reintegrar o seu património – todas as escolas intervencionadas – e trabalhadores competentes no seio do Ministério da Educação para que, a partir daí, se consiga estruturar um plano integrado de longo curso de recuperação gradual do património escolar afectado pela ausência de manutenção ou pelas obras da Parque Escolar.

 

(publicado hoje no i)

O Estado a que isto chegou

Pedro Correia, 02.08.16

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 Imagem: blogue Ruas de Lisboa com Alguma História

 

Num país pobre, damo-nos ao luxo de deitar para o lixo um equipamento escolar como a Escola Secundária Afonso Domingues, alvo de "obras substanciais de melhoria e requalificação" em 2009, um ano depois de encerrar por ordem do Ministério da Educação, alegando-se expropriação do terreno para a edificação da terceira travessia sobre o Tejo em Lisboa. Que não avançou, por absoluta falta de orçamento, como todos sabemos.

Ficou a falida capital sem nova ponte e Marvila perdeu a escola, onde o nosso Nobel José Saramago foi aluno entre 1935 e 1940.

A escola está a saque, alvo de constante e crescente vandalismo, como documenta o sítio Evasão, cumprindo uma verdadeira missão de serviço público. O Estado, proprietário do espaço, encolhe os ombros. A Câmara Municipal de Lisboa não quer saber.

O arquitecto que concebeu o Mosteiro da Batalha não merecia isto.

Reflexão do dia

Pedro Correia, 12.06.16

«A secretária de Estado Adjunta e da Educação, Alexandra Leitão, exerceu a sua liberdade de escolha e matriculou as suas duas filhas numa escola privada. Tudo bem. Seria hipocrisia aproveitar esta sua opção para denegrir a sua sinceridade e empenho na defesa da escola pública. Pela sua inteligência, pela sua energia e pela sua convicção, Alexandra Leitão tornou-se o rosto do combate contra a continuidade dos contratos de associação que autorizavam o Estado a financiar escolas privadas em áreas onde o serviço público existe, e esse é um galhardete que ninguém lhe tira. Mas a falta de articulação entre a sua opção privada e a sua luta pública não é neutra no debate em curso. Dos políticos, para lá de palavras, esperamos exemplos. E o exemplo de Alexandra Leitão vai ao encontro dos defensores da liberdade de escolha. O racional é óbvio: a secretária de Estado fez uma opção pela escola privada e pôde pagá-la. Há milhões de portugueses que gostariam de fazer a mesma escolha, mas não têm dinheiro para tal.»

Manuel Carvalho, no Público

Deixem-se de lérias

Sérgio de Almeida Correia, 25.05.16

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Confesso que já estou enjoado com a conversa dos contratos de associação. Mais com a desinformação, com a chantagem barata, a politiquice e a pseudo indignação de meia dúzia de privilegiados, de alguns manipuladores e de instrumentalizados de boa fé que defendendo o seu legítimo direito de escolha querem que este seja exercido – sem perceberem o que está em causa –, com a generosa colaboração de todos os contribuintes. De igual modo, confesso que não compreendo por que razão havemos de ser todos a contribuir para pagar a alimentação dos cavalos, as aulas de esgrima e a água das piscinas de algumas instituições a que só alguns podem aceder.

O Estado tem de assegurar o direito de todos à educação e a um ensino que ensine e que forme com qualidade os seus cidadãos. E também tem de garantir a liberdade de escolha e a liberdade de abertura e de encerramento de escolas privadas; mas é evidente que não tem de estar a sustentar a educação ministrada em escolas privadas ou estabelecimentos de ensino religioso, ou os seus luxos, mais a mais sendo Portugal um Estado laico e não estando em causa a satisfação de necessidades públicas, em detrimento da escola pública.

O ideal era que o Estado, em vez de estar a subsidiar os estabelecimentos privados, atribuísse uma verba por aluno aos seus pais, dando-lhes a faculdade de depois poderem escolher a escola para os filhos. Os empresários abriam as escolas e colocavam-nas no mercado com o seu próprio dinheiro, ou pedindo a alguém – sem ser o Estado – que lhes emprestasse. Os pais escolhiam a escola e usavam o dinheiro recebido do Estado para pagar parte da educação do filho na escola escolhida. Se fosse privada e a mensalidade fosse superior ao valor do cheque teriam de cobrir a diferença do seu bolso. Mas, infelizmente, as coisas não funcionam assim. 

Por isso mesmo, se uma escola privada apresenta cem ou duzentos mil euros de lucros contando para a sua realização com subsídios públicos, o que seria justo era que o beneficiado devolvesse ao Estado e aos contribuintes que a financiaram, pelo menos, uma parte desses lucros. O facto dos contratos terem dezenas de anos não justifica que a mama continue. Tem de haver algum risco para quem investe no ensino privado na mira dos lucros. Com o dinheiro e os subsídios dos outros é muito fácil ser empresário. 

E como nestas coisas não há nada como números, o ideal não era os jornais publicarem a lista das 39 instituições que actualmente recebem verbas à conta dos contratos de associação e que vão deixar de as receber quando estes chegarem ao fim. Isso são só nomes. Importante era que fosse levada informação às pessoas e que essa informação fosse actualizada e permitisse saber se no local em causa existe oferta educativa pública, se esta é suficiente e corresponde às necessidades e, não correspondendo, o que é necessário fazer para que ela possa existir, seja melhorada e se torne acessível a todos com o menor custo possível para o contribuinte.

Porém, também seria importante que fosse devidamente publicitado (ninguém lê listagens no Diário da República) quanto é que cada uma dessas instituições privadas, que tem sido beneficiária de contratos de associação e os irá perder, tem recebido anualmente, já que só em relação a estas é que, penso eu, o problema se coloca. Atirar números para o ar, manipulá-los e depois dizer que na escola pública os alunos saem mais caros, só serve para atirar areia para os olhos das pessoas.  

Já todos perceberam que está em curso uma cruzada contra algumas decisões mal explicadas (o que não quer dizer que todas estivessem erradas), a falta de jeito e alguma sobranceria do ministro da Educação, cruzada que conta com a desinformação e a manipulação de alto coturno dos papás, das mamãs e da criançada, bem como com o trabalho de bastidores dos "interpretadores" oficiais dessa instituição de referência para alguns dos mais conhecidos cábulas nacionais. E de pessoas como a Dr.ª Manuela Ferreira Leite que, apesar de ter sido ministra das Finanças e da Educação, nestas coisas muda de opinião consoante os ventos. Mas também começa a ser tempo de se colocar um ponto final nas garraiadas dessa malta e de se fazerem as coisas como deve ser. 

Por mim, se quiserem continuar a berrar, podem berrar à vontade. É lá com eles. Agora, deixem-se de lérias e não me venham depois pedir para lhes subsidiar a aveia e as pastilhas para a garganta.

Barões privados com dinheiros públicos

Tiago Mota Saraiva, 09.05.16

publicado aqui

 

Mais do que a racionalização financeira do sistema, o corte no financiamento público de colégios privados que o Ministério da Educação está a ensaiar é um acto de coragem. Desengane-se quem, a este propósito, lucubra argumentos em torno da liberdade de escolha – alguém achará que, se eu optar por beber água engarrafada, o Estado deve financiar o litro de água que bebo para que me custe o mesmo que a da torneira? – ou quem julga ser um ataque às escolas católicas – quem o diz é o PSD, e não os órgãos próprios da Igreja.

Não tendo caracteres disponíveis para relatar alguns casos escandalosos de negócios privados no sector da educação, aconselho a reportagem “Dinheiros públicos, vícios privados”, de Ana Leal, que passou na TVI em Dezembro de 2012. Nesta investigação revelava-se o caso do Grupo GPS, detentor, à época, de 26 colégios, que auferia 25 milhões de euros do Orçamento do Estado para concorrer com escolas públicas e no qual pontificavam ilustres ex-governantes, deputados e dirigentes de PSD e PS.

Sendo injusto conotar todas as instituições detentoras de colégios privados com as do Grupo GPS, talvez tivesse sido prudente que a AEEPC, associação que os representa, escolhesse para seu director executivo e porta-voz um professor de carreira ou um pedagogo com provas dadas no sector, ensaiando a despartidarização que a nomeação do ex-chefe de gabinete da ministra da Educação do governo de Santana Lopes não garante.

Como se deve imaginar, esta decisão do Ministério da Educação não será pacífica, desde logo, dentro do PS. É muito dinheiro e muita gente importante que vive na sombra destes negócios privados com dinheiros públicos que não se esgotam na educação. Seria um excelente sinal que este corte nas gorduras do Estado também chegasse a outras áreas de negócio com características semelhantes, como a saúde ou a segurança social, desmanchando o baronato financeiro que vive em torno das velhas lógicas do bloco central.

 

Mais uma conquista na via laranja de desmantelamento do ensino público

Sérgio de Almeida Correia, 30.11.14

"Em 14 anos de rankings das escolas secundárias nunca as públicas tinham sido tão ultrapassadas pelos colégios como agora — para se encontrar a primeira no ranking geral é preciso descer até ao 34.º lugar, que é ocupado pela Raul Proença das Caldas da Rainha, com uma média de 12,41, numa escala de 0 a 20."

 

Pois é, as escolas privadas, que vivem e enriquecem com as subvenções dos contribuintes, é que são boas.

As secundárias e também as universidades apadrinhadas pelo ex-primeiro-ministro Cavaco Silva, de onde têm saído os "visionários" que há uma década governam Portugal. Convém não esquecer.

estudar

Patrícia Reis, 01.05.14

É o nono ano. A gramática? Não é nada parecida com o que estudei e os nomes? É para esquecer. Mais vale dizer que "bacia" também pode ser "anca" e "penico" e depois o miúdo lá entende que é uma qualquer coisa acabada em "minia" ou assim.

Não há nada mais frustrante do que ter de empinar a gramática sem a entender verdadeiramente e depois ver como faz bilharetes na interpretação, na composição, na riqueza de vocabulário. No fim, diz

 

Bom, pode ser que me safe se for sobre os Lusíadas ou sobre o Alto da Barca do Inferno.

 

E depois acrescenta

 

Ainda bem que o Vasco Graça Moura escreveu o livro a explicar os Lusíadas. É pena que já tenha morrido, se fizesse um livro sobre a gramática podia ser que fosse mais fácil.

 

De resto? O costume. O professor que manda para a rua, a professora que considera um determinado comentário insolente. E eu a desvalorizar, a dizer que os professores têm os seus dias e tal, sempre a defender, e o mundo não é justo e as pessoas não são máquinas, blá, blá, blá. Seja. Remate final

 

O pior é quando nos perguntam se queremos ser expulsos.

 

Como? Sem comentários.

O que fazer com o eduquês?

Rui Rocha, 03.10.11

 

O Ramiro Marques propõe à discussão uma lista de 10 pecados mortais do eduquês, que aqui transcrevo com a devida vénia:

 

1. Concepção instrumental da educação: "aprender a aprender", "aptidão para o pensamento crítico", "aptidões metacognitivas", "aprendizagem permanente". 2. Desenvolvimentalismo romântico: "escola centrada na criança", "diferenças individuais dos alunos", "ensinar competências e não os conteúdos". 3. Pedagogia naturalista: "construtivismo", "aprendizagem por descoberta", "aprendizagem holística", "método de projecto", "currículo em espiral", "aprendizagem temática". 4. Antipatia pelo ensino de conteúdos: "os factos não contam tanto como a compreensão", "os factos ficam desactualizados", "menos é mais", "aprendizagem para a compreensão". 5. A desvalorização dos padrões culturais tidos como relativos e subjectivos, portanto irrelevantes. 6. Crítica do uso da memória e recusa das actividades de repetição, tidas como não significativas, portanto inúteis. 7. Defesa da ideia falsa de que as crianças só compreendem o que lhes está próximo e o que é concreto e manipulável. 8. Primazia à componente lúdica e recreativa por oposição à valorização do esforço na aprendizagem. 9. Redução da aprendizagem a um processo construtivista que diminui a função de transmissão dos conteúdos. 10. Visão anti-intelectualista da cultura e da educação.

Partilho, em boa parte, da crítica implícita em cada um dos pontos apresentados. Mas considero que a avaliação essencial do eduquês não se deve fazer ponto por ponto. O aspecto realmente nocivo da proposta está no facto de ter sido erigida como pensamento único e de ser aplicada por fanáticos. Historicamente, o eduquês responde a um estado de coisas que era, também ele, inaceitável. O do ensino centrado no professor, de sentido único, em que os conteúdos eram despejados sobre o aluno e em que este era encarado como mero receptor, acrítico e abúlico. Nas ciências sociais, a uma tese sucede, mais das vezes, a sua antítese. A uma visão da sala de aula em que o professor era o protagonista principal, o eduquês respondeu com a sobrevalorização do papel do aluno. À visão da escola como ensino, veio contrapor uma abordagem centrada num certo conceito de aprendizagem. Estará talvez na altura de compreendermos que urge fazer a síntese. Aprender exige esforço, memorização e compreensão de conceitos abstractos. E o papel do professor é fundamental. Mas  não pode ser só isso. Na era da internet, da abundância da informação, os alunos não podem ser considerados como folhas de papel em branco ou baldes vazios para dentro dos quais o professor desepeja conteúdos (em rigor, nunca foi assim e agora é-o ainda menos, por maioria de razão). A participação e o envolvimento dos alunos na construção do conhecimento e o "manuseamento" dos conteúdos é também indispensável. Por isso, uma nova abordagem do ensino não pode prescindir das propostas úteis do eduquês e do pré-eduquês, organizando-as rumo a um novo equilíbrio na sala de aula.

Os escândalos de dez minutos

Ana Margarida Craveiro, 06.09.11

Acho piada a algumas notícias e escândalos de dez minutos. O de hoje é a Parque Escolar, empresa criada pelo governo anterior para gerir e reformar as infraestruturas escolares. Os gritos de protesto acumulam-se: porque eles gastam muito dinheiro!; porque as escolas são demasiado luxuosas!; porque as escolas triplicaram a factura energética! E por aí fora, com maior ou menor razão. Mas nunca ninguém se lembra de um pequenino pormenor. Os engenheiros e arquitectos da Parque Escolar não decidem fazer uma escola em mármore porque lhes dá na real gana (exemplo inventado por mim); nem decidem que todas as salas devem ter ar condicionado e janelas de bandeira porque a ideia lhes ocorreu durante o pequeno-almoço. Há regulamentos para a construção. Neste país, praticamente tudo se encontra regulado, através de regimentos, decretos-leis e sei lá mais o quê. Mas a ninguém ocorre responsabilizar os criadores dessa mesma legislação pelas suas desastrosas consequências financeiras. A ninguém ocorre alterar essas mesmas leis e regulamentos, antes de crucificar na praça pública o trabalho feito.