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Delito de Opinião

Multiplicação dos pães

José Meireles Graça, 22.03.21

Nos seus quase nove séculos de vida Portugal atravessou fomes, pestes e guerras, incluindo civis, e portanto a afirmação que costumo fazer de que a dívida portuguesa actual é a maior da sua História é provavelmente falsa. Por exemplo, sei lá qual o tamanho do tombo que a guerra civil de 1832-34 provocou, e qual foi exactamente o preço do apoio inglês a um dos lados. Quem sabe dessas coisas é um economista como Nuno Palma, e mesmo esse lança mão de métodos indirectos – o Instituto Nacional de Estatística só foi fundado em 1935, em vez de, como teria sido desejável, no séc. XII.

Guerra já não temos desde 1974 e essa, que decorreu a partir de 1961, coincidiu com o maior período de crescimento económico da nossa história (mais uma vez, se formos procurar nos escaninhos da memória histórica talvez se encontre outra época dourada, os historiadores económicos que desembrulhem essa meada), e, já agora, também com o das antigas colónias.

A desvalorização destes factos, tal como o do saneamento das contas públicas que o Estado Novo realizou, é um sub-produto da guerra ideológica: o regime salazarista, e a sua versão edulcorada, isto é, o marcelismo, não podiam ter produzido crescimento porque reconhecê-lo é o mesmo que coonestar o regime.

Não é, claro, e haveria alguma coisa a ganhar em estudar o passado sem as lentes dos partis pris ideológicos. Mas nem quem o interpreta se subtrai a preconceitos: a explicação para a vertiginosa convergência com a Europa na década de 60 costuma ser a adesão à AECL em 1960 e a base relativamente baixa de que se partia. Explicações significando pouco porque a ainda maior abertura ao comércio externo em 1986 não produziu efeito tão relevante (sem guerra e com apoios que a AECL não contemplava) nem a base de que se parte quer dizer muito: Portugal está há quase duzentos anos, pelo menos, relativamente atrasado no continente a que pertence, e nem por isso deixou de ter largos períodos de estagnação.

Não vou, num artigo para um blogue, resolver o problema da dívida que nos atenaza. Aliás, se resolvesse escrever um livro sobre a matéria, é provável que ficasse com lesões no couro cabeludo, de tanto o coçar; e ainda menos o do atraso português, que há vinte anos se acentua.

Mas, se é difícil enunciar a longa lista do que seria necessário fazer, é muito mais fácil tropeçar no que não se deve porque temos todos os dias exemplos diante do nariz. E destes a importação acrítica de soluções de países em circunstâncias diferentes é quase sempre uma burrice. Eça disse algures (cito de cor) que Portugal era um país traduzido do francês em calão; e agora continua a ser, mas do inglês macarrónico das faculdades do mundo anglo-saxónico, onde actualmente a seita dos economistas vai buscar a sua formação, para o efeito de preopinar receitas para o desenvolvimento – já andamos nisto há quarenta anos.

Desse mundo vêm as modas do pensamento mágico. E destas a última é a da semana dos quatro dias. Há países e empresas que já estão a estudar, e a aplicar, versões diferentes deste milagre. Nós, se tivéssemos juízo, deveríamos olhar para semelhante movimento por aquilo que é: empresas e países que, tendo pouco a invejar à concorrência, transferem para empregados e cidadãos os benefícios do desenvolvimento e o maná dos recursos. Imaginar que, trabalhando menos, se produz mais sem mexer nos outros factores que têm a ver com produtividade, é o milagre da multiplicação dos pães, a menos que o resultado do trabalho seja o mesmo, apenas o seu ritmo aumente.

Não é que, longe disso, a quantidade de horas de trabalho seja a variável mais importante no desempenho das empresas: qualquer empresário de vão de escada sabe que se duplicar a produção porque investiu numa nova máquina, mesmo que requerendo pessoal com formação, portanto mais bem pago, pode ter feito um excelente negócio; como o pode ser a contratação de quem se ocupe do marketing, ou a criação de canais próprios de distribuição, ou a adopção, se for bem sucedida, de uma estratégia de diferenciação do produto, ou, ou, ou. Tudo isto e o mais que qualquer licenciado em gestão pode papaguear, em geral acrescentando queixa das deficiências de formação dos ridículos empresários que o não contratam, razão pela qual o país está muito atrasado e pérépépé. Os motivos por que quem não sabe faz, e quem sabe opina em vez de fazer, ficam em geral no segredo dos deuses.

“Aquilo que é robusto na literatura é que em termos macro existe uma correlação negativa entre o PIB por hora trabalhada e o número de horas trabalhadas. Países com maior produtividade trabalham menos horas em média (Dinamarca e Noruega) e países com menos produtividade trabalham mais (Grécia e Portugal). Correlação não quer dizer causalidade”.

Não, não quer, se bem que neste caso a causalidade exista: os países que são mais produtivos não precisam de trabalhar tantas horas porque… são mais produtivos, isto é, têm mais capital, do propriamente dito e do humano, além de uma história mais ou menos recente de progresso que lhes permitiu estarem onde estão – candeia que vai à frente ilumina duas vezes. Candeia em termos micro, não sei se me entendem, em termos macro deveria talvez dizer uma rede de holofotes, que arranho umas coisas do dialecto economês.

Porquê então este disparate? A ideia de que depois da Covid nada ficará como antes é aliciante: o cidadão já se habituou a achar que o Estado pode tudo, combater a epidemia e paralisar a economia, subsidiando-a de modo a tornar o sofrimento invisível, e que o endividamento daí resultante é uma abstracção – eles resolverão o problema.  Quem pode o mais pode o menos, haveremos de ter o mesmo PIB por cabeça da Alemanha, um design do nível do italiano e as mulheres bem vestidas como as francesas até mesmo no Casal Ventoso. E para isso não é preciso esforço, do que precisamos é de governos de esquerda, daquela esquerda que se acolhe ao que a define – bandeiras, como dizia Kundera (cito de memória, mais uma vez). De modo que podemos contar com engenheiros do progresso, empresas que querem aliciar os melhores quadros, sindicatos, a malta do PCP que quer pôr fim ao capitalismo e a do BE que o quer melhorar até ao ponto de ficar irreconhecível, bem como adeptos da descarbonização, não dos refrigerantes em garrafa, como se esperaria, mas da economia, uma iniciativa ecológica que tem a grande vantagem de não se saber bem o que seja além de subsidiar parasitas para produzir o que sem ajudas não veria a luz do dia.

Isso e idiotas úteis, dos quais entre nós há uma generosa abundância.

Ambiente de trabalho III

Teresa Ribeiro, 02.11.18

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As estatísticas sobre a quebra de rendimentos em Portugal, mesmo dos profissionais que têm elevados níveis de formação, são devastadoras. Segundo dados do INE, os licenciados ganham hoje menos 17,7% de salário médio mensal líquido do que há uma década. Anabela Carneiro, uma docente da Faculdade de Economia do Porto, citada há duas semanas pelo Expresso, revelou num estudo que em 2000 tínhamos 8% de trabalhadores a receber o salário mínimo; em 2015 já eram 21% e em 2016, 23,3%.

A comparação com o que se passa nos países da UE, deprime: Segundo os dados mais recentes da consultora Adecco, um português tem de trabalhar quatro meses para ganhar o salário médio de um dinamarquês. Apesar de a economia estar a crescer, a verdade é que os salários não descolam. Para um trabalho que fiz sobre este assunto há poucas semanas, tanto a Experis, empresa de recrutamento do grupo Manpower, como a Randstad, sua concorrente, assumiram que nem mesmo nas áreas altamente especializadas, em que há falta de mão-de-obra em Portugal, os empregadores estão dispostos a abrir os cordões à bolsa. Ou seja, entre nós, a lei da oferta e da procura não funciona. E essa, informaram-me, "é uma originalidade portuguesa".

Mas se há coisa que o empresariado indígena aprecia é mostrar que acompanha as novas tendências. Ultimamente tem revelado muito entusiasmo com uma das ideias que aparece vinculada à nova cultura do trabalho que nasceu com a tecnologia e os millenials: a de que a felicidade no emprego, algo reconhecido como fundamental para aumentar a produtividade, não depende apenas do salário. Entrevistas, artigos de opinião, seminários, andam a enxamear os media com esta ideia que de nova não tem nada, mas que parece que só agora calou fundo no espírito dos empregadores de todo o mundo civilizado. É claro que bom ambiente, reconhecimento, flexibilidade de horários e uma série de pequenas regalias são factores importantes para "reter talento", como agora se usa dizer, mas só fazem sentido se estivermos a discutir a situação de profissionais que auferem um salário que lhes permite pagar as contas e ter uma vida autónoma. Ver gente que prefere prescindir de trabalhadores que fazem falta a aumentar-lhes o salário salivar com esta estratégia é, simplesmente, patético. Excitados com a ideia de poupar mais umas coroas e enganar uns quantos tolos cultivando a imagem de empresários modernaças, não querem perceber o óbvio: que a receber uma miséria ao fim do mês, ninguém é feliz. 

Ambiente de trabalho II

Teresa Ribeiro, 22.10.18

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Creio que tudo começou com a glorificação das chamadas soft skills. Em teoria, um profissional vale mais se, além de conhecimento técnico, revelar qualidades como empatia, iniciativa e dedicação, entre outras tantas características fofinhas. O pior é quando, cientes dessa sobrevalorização, emergem no mercado de trabalho pessoas cujo maior talento é o da capacidade de autopromoção. Conheço gente que faz voluntariado não porque tenha qualquer vocação para tal, mas porque pode fazer a diferença num currículo. Fazer MBAs e pós-graduações tornou-se, por este motivo, um desporto de alta competição, em que a suposta sede de conhecimento não passa de um engodo para potenciais empregadores.

A indústria do "parecer" está pujante, as fake skills em alta. É por isso que a pouco e pouco, em todos os sectores, encontramos os melhores performers em lugares de topo. Há pessoas destas, com funções executivas, que saltam de área em área de actividade, sem possuir os mais elementares conhecimentos relativos às matérias sobre as quais tomam decisões. Por mais hábeis e inteligentes que muitas sejam, é claro que nestas circunstâncias os erros tornam-se inevitáveis.

Há uma incompetência larvar que tem a ver com isto e está a minar todos os sectores e a destruir os mais vulneráveis. 

 

Ambiente de trabalho

Teresa Ribeiro, 29.08.18

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Lembro-me que demorei séculos a escrever a primeira notícia da minha vida. Tensa, insegura, ensaiei várias versões para começar o texto e não havia meio de me decidir qual a melhor. O meu chefe, numa secretária perto de mim, trabalhava com um ar imperturbável, mas eu percebia que me tinha debaixo de olho. Quase imperceptível descortinava-lhe uma expressão divertida, benevolente.

Parece um quadro de há cem anos, mas não foi assim há tanto tempo que tudo se passava a uma escala humana. Com tempo para aprender e possibilidade de se ser aquilo que se era: alguém a dar os primeiros passos, a quem não se podia exigir tudo, nem sequer muito. Sem pressões, a evolução dos estagiários era um processo natural, que dispensava exibições de carácter, currículos carregados de "skills" e a linguagem performativa que hoje todos os miúdos carrregam na mochila junto com a marmita do almoço.

A avaliação fazia-se, e chumbava quem tinha de chumbar. De entre os que ficavam havia quem se revelasse em pouco tempo e também os que precisavam de amadurecer. Como acontece com os frutos, os vinhos, as couves, enfim tudo o que cresce e se desenvolve na Natureza. E isto - sabia-se - era assim em todas as profissões.

Fomos, na minha geração, os últimos profissionais de cultura biológica.

Estágios não pagos

João André, 23.08.16

Nos EUA tenho notado que existe um debate constante acerca do pagamento a estagiários. Numa das perspectivas, os estagiários trabalhariam de graça, recebendo em troca a possibilidade de obterem experiência, conseguirem contactos e poder observar "como o mundo real funciona". Na outra perspectiva... bom, é tudo o mesmo mas os estagiários recebem um vencimento.

 

Ninguém duvida que um estagiário não oferece o mesmo valor a uma empresa que um profissional mais experiente (mesmo que apenas um tudo nada). Os estagiários recebem habitualmente as funções de base e mesmo quando são empregados em funções teoricamente em linha com as suas qualificações, acabam por fazer fotocópias, ir buscar café, transportar equipamento e observar. Observar muito.

 

Por outro lado um estagiário é um ser humano cujo tempo vale alguma coisa. Se a empresa contrata um estagiário, é porque coloca um valor, por pequeno que seja, nas funções do mesmo. Caso não o fizesse não precisaria dele, uma vez que apenas estariam a ocupar espaço e o tempo dos outros profissionais. Nesta lógica faz sentido que recebam um salário. Além disso, antes do início das funções não é certo que um estagiário vá de facto receber essa experiência valiosa que tanto é prometida. Se ficar encafuado num cubículo sem janelas a tirar fotocópias, certamente que isso não o enriquecerá. Para cúmulo, contratar um estagiário sem lhe pagar é um mau passo pela empresa: estão a investir (o tempo dos outros empregados) numa pessoa a quem não dão incentivos para se ligar à empresa nem para se valorizar (além de ter uma entrada extra no currículo).

 

Há no entanto um outro argumento contra os estágios não pagos: estão abertos essencialmente a quem tenha outras formas de rendimento. Ou os pais pagam, ou há outro trabalho com o qual se pode viver (neste caso ambos os trabalhos sofrem devido ao excesso de tempo neles). O primeiro caso será o mais comum e o pior, porque perpetua o ciclo dos conhecimentos. Quem tem conhecimentos consegue o tão desejado estágio para o filho e pode pagar esse custo e o filho, beneficiando disso, poderá fazer o mesmo para os seus filhos. É um ciclo vicioso que fecha portas a quem não tenha alternativas a trabalhar para poder sobreviver.

 

Claro que há quem quebre o ciclo. Normalmente são pessoas que trabalham 20 horas por dia e que depois vendem a sua história como um sucesso e um exemplo do que pode ser alcançado com trabalho duro. É verdade, mas pelo caminho provavelmente ficará a grande maioria que não aguentará tais exigências.

 

Não posso falar do caso português porque o conheço mal, mas por vezes tenho a sensação que está a piorar. Há quem se insurja contra os estágios não pagos, mas não é o meu caso. Eu revolto-me simplesmente com trabalho não pago. Os estágios são casos específicos que podem estar abrangidos por regulamentação especial (isentos de segurança social, menos impostos ou outros), mas que devem ser pagos como trabalho que são. Permitir que os jovens (a maioria destes estagiários) sejam usados desta forma não passa de um abuso do direito ao trabalho.

Demagogia salarial

João André, 20.01.16

O nosso José António Abreu fez abaixo um post demagógico acerca da diferença de salários médios entre público e privado. Digo que é demagógico não porque o JAA seja um demagogo, mas porque escrever o que escreveu, sem falar em mais nada (mesmo que invocando razões com que se possa discordar) é demagogia pura. Seria o mesmo que eu escrever que os CEOs portugueses ganham "x" vezes mais que o Presidente da República para indicar o mal que se paga aos titulares dos cargos públicos. Se queremos abordar o tema, temos que o fazer pelo lado da interpretação, caso contrário parecemos novos Grillos.

 

O primeiro ponto é simples: no público os trabalhadores têm qualificações superiores ao privado. Não sei valores actuais, mas sei que há uns 5 anos os trabalhadores com formação superior eram 10% no privado e 50% no público. A média europeia dos ganhos salariais por ano extra de educação superior é de cerca de 10%. Com cursos entre 3 e 5 anos, pode-se esperar que a formação superior traga benefícios salariais de 40%. Se aplicarmos um peso de 50% desta componente ao público (20% aumento em vez de 40%) para 50% dos trabalhadores, temos que explica cerca de metade do diferencial (1140 € - Privado; 1140 x 120% = 1368 €).

 

O segundo ponto volta às qualificações, mas no outro lado do espectro. Se o sector público terá mais tendência a empregar pessoas com qualificações superiores, também empregará menos com qualificações abaixo da escolaridade mínima. Aqui não tenho valores, mas posso facilmente imaginar que os trabalhadores com a 4ª classe ou um ensino secundário incompleto serão muito mais facilmente empregados como empregados fabris, lavadores de pratos ou terão outras funções não qualificadas que os do público. Isto aumentará também o diferencial.

 

Por último há um aspecto importante: o simples facto de existir este diferencial não significa que deva ser abatido pelo lado do público, como o JAA implicitamente sugere. Poderá não ter sido a sua intenção, mas ao escrever como o fez, dá a entender que o que está mal é o salário público, não o privado. Nos comentários fala da asfixia do sector público ao privado, o que vejo como um disparate em si. Há de facto uma enorme lacuna na legislação em Portugal que permita ao privado poder desenvolver-se, mas o público não asfixia o privado, antes o estimula (pelo menos alguns actores do mesmo) em relações muito pouco saudáveis.

 

Eu gostaria muito de ver o diferencial a desaparecer, mas pelo lado do aumento do salário do privado. Para tal é necessária legislação mas também mudança das mentalidades canhestras dos empresários portugueses. Enquanto continuarem a ver pessoas com formação superior como tipos a quem têm de pagar mais; mulheres como aquela gente que vai ter de ir parir; e os trabalhadores em geral como "colaboradores", o diferencial continuará a existir. E os rendimentos (não necessariamente sob a forma de salários) mais elevados continuarão a existir no lado do privado. E aqui os diferenciais não se medirão em um salário mínimo.

A reforma do Estado dá sempre frutos antes das eleições

Sérgio de Almeida Correia, 20.08.15

Mentalidades empresariais em anúncios de empregos

João André, 24.09.14

Como ainda não perdi completamente as esperanças de um dia voltar a Portugal, continuo a receber semanalmente as actualizações sobre empregos nas minhas áreas de interesse e, de tempos a tempos, dou uma espreitadela ao que vai sendo publicado em jornais. Uma coisa que vou notando com frequencia é a aversão que os anúncios (ou anunciantes) parecem ter a identificar a empresa ou frequentemente sequer a área de actividade. Nas descrições de anúncios, as funções são igualmente de tal forma vagas que quase qualquer pessoa com as habilitações literárias indicadas se poderia candidatar. Há, por último, um curioso hábito de pedir para posições de chefia experiência em funções semelhantes.

 

Este é o tipo de anúncios que via quando andava a estudar (já lá vão 15-20 anos) e que parecem não ter mudado em Portugal. Estranhamente, as empresas parecem não ter ainda entendido que é do seu interesse anunciar que estão a contratar (sinal de saúde). No caso das descrições de funções ou qualificações, têm uma rede de captação tão grande que irão apenas aumentar o trabalho de triagem de cartas e anúncios (perdendo assim tempo e dinheiro). Por fim, parece ainda não se ter percebido que, alguém que suba dentro de uma empresa a cargos de chefia, dificilmente mudará de empresa (com todas as dificuldades subjacentes) para o mesmo cargo (ou, pelo menos, para um salário semelhante).

 

Estas são lições que vejo aprendidas por toda a Europa. O tecido empresarial português ainda não o parece ter percebido. Também nisto há muito que mudar a nível de mentalidades.

A luz ao fundo do túnel

Pedro Correia, 15.03.14

«Pelo terceiro trimestre consecutivo, Portugal criou postos de trabalho. O País tinha começado 2013 com uma queda de 1,7% na taxa de emprego mas a partir daí, na comparação trimestral, o registo foi sempre positivo até ao final do ano.

No segundo trimestre a taxa de emprego cresceu 0,7% e no terceiro registou uma nova subida de 0,8%. Os dados do Eurostat revelam agora que os últimos três meses de 2013 também foram de criação de emprego: de Outubro a Dezembro a taxa cresceu 0,7%, o equivalente a mais 33.800 postos de trabalho.

No conjunto dos países que aderiram à moeda única, Portugal registou mesmo a maior subida, a par da Irlanda.»

Notícia de ontem, no Jornal da Noite (SIC)

Enquanto o Cristiano e o Platini distribuíam opiáceos com fartura...

André Couto, 03.07.12

Oportunidade de emprego - Angola

Rui Rocha, 21.12.11

No âmbito da sua política de transparência e de tolerância 0 (zero) a todas as práticas de corrupção, o Estado Angolano pretende recrutar inspectores e detectives.

 

Perfil dos candidatos:

Miopia grave;

Surdez irreversível;

Incapacidade para trabalhar sob pressão;

Desconhecimento de legislação e práticas de investigação criminal;

Incapacidade de relacionamento pessoal;

Capacidade de descoordenação de equipas;

Falta de conhecimentos de economia e gestão;

Incapacidade de análise;

Desconhecimento de ferramentas informáticas básicas;

 

O que oferecemos:

Um desafio aliciante e oportunidades reais de desenvolvimento de carreira.

 

Missão:

Encontrar os 32 mil milhões de dólares que o FMI e a Human Rights Watch dizem que desapareceram das contas públicas angolanas nos últimos anos.

 

Envie-nos a sua candidatura através da caixa de comentários.

Da competitividade

Teresa Ribeiro, 15.12.11

Inovação e criatividade fazem muito mais pelo futuro de uma empresa do que meia dúzia de empregados baratinhos. Mas claro que a batalha pela competitividade em Portugal vai travar-se sobretudo neste segundo plano, baixando os custos do trabalho e facilitando os despedimentos. Porquê? Porque os nossos empresários são o que são e neste país as relações entre quem tem responsabilidades são de todas as mais mansas e anquilosadas.

Em Portugal joga-se sempre ao elo mais fraco.

Despedimento colectivo

José António Abreu, 26.09.11

É a pessoa que tratou das minudências de um despedimento colectivo. No final do processo viu-se incluída no grupo de despedidos. Ficou surpreendida. Não devia. Qualquer empresa de média dimensão (nas pequenas nem se conhece o conceito de gestão de recursos humanos enquanto nas grandes o ambiente está de tal modo impessoal que ninguém conhece realmente ninguém) tem interesse em evitar que o rosto de um despedimento colectivo permaneça nos quadros. Trata-se de um elemento em quem os restantes trabalhadores jamais voltarão a confiar. Despedi-lo permite aos verdadeiros responsáveis arranjar alguém para quem medo e raiva podem ser canalizados e marcar um ponto de viragem na empresa. É como se dissessem aos que ficam que também acharam mal o que se passou e garantissem que não voltará a acontecer. E quem fica esforça-se por acreditar porque precisamos sempre de acreditar em alguma coisa, por muito ilógica que seja.

 

Ingenuidade excessiva é estupidez e eu tenho dificuldade em sentir empatia por esta pessoa. Especialmente quando sei que tratou do assunto com um entusiasmo raiando a insensibilidade. Acreditando genuinamente estar a fazer o melhor para a empresa. Talvez estivesse. Tal como quem a despediu.

Efeito perverso

Paulo Gorjão, 12.03.11

Perante o sucesso da manifestação de hoje, vai na volta e José Sócrates decide que, depois dos estágios, chegou o momento de combater os falsos recibos verdes.

O emprego precário poderia diminuir, mas o custo seria certamente o aumento em flecha do desemprego. Em todo o caso Sócrates arranjaria seguramente maneira de culpar Angela Merkel ou Pedro Passos Coelho.