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Delito de Opinião

Je vais, je vais et je viens

Pedro Correia, 02.08.24

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A imagem deste beijo da fogosa ministra francesa do Desporto ao Presidente Emmanuel Macron, a pretexto de uma proeza qualquer nas Olimpíadas, está a dar a volta ao mundo desde ontem. Deixando algo desconfortável o primeiro-ministro Gabriel Attal, que virou rapidamente os olhos noutra direcção.

Questiono-me o que aconteceria se a iniciativa tivesse partido do inquilino do Palácio do Eliseu. Estaríamos perante um repelente atentado à dignidade feminina? Assédio intergovernamental? Abuso de posição dominante? Demonstração de heteropatriarcado tóxico? Agressão sexual?

A derrota de Putin em França

Pedro Correia, 25.04.22

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Vladímir Putin foi derrotado em França. Por interposta candidata. A que se apressou a reconhecer a anexação ilegal da Crimeia, recebeu financiamento russo e a 8 de Fevereiro - contra todas as evidências - afirmou sem hesitar: «Não acredito que a Rússia queira invadir a Ucrânia.» O que diz tudo sobre a sua falta de clarividência em política internacional. E sobre o seu servilismo face a Moscovo.

Os eleitores concluíram - e muito bem - que esta candidata não era digna de chefiar o Estado francês. Para resumir tudo numa palavra, Marine Le Pen é inapresentável. Emmanuel Macron emerge deste escrutínio como óbvio vencedor, com mais 18 pontos percentuais do que a adversária, contrariando aqueles que vaticinavam uma disputa «taco a taco», cheia de «incertezas até ao fim». Balelas.

Apesar dos brutais constrangimentos económicos e sociais impostos por dois anos de pandemia, França apresenta hoje uma das melhores taxas de crescimento na Europa (7% em 2021) e regista uma redução quase histórica do desemprego. Daí este triunfo claro, superior em percentagem ao que o carismático general De Gaulle alcançou em 1965, quando enfrentou François Mitterrand nas urnas: venceu com 55% na segunda volta. Agora Macron obtém 59%

 

Escrevo estas linhas com imensa satisfação: como aqui escrevi na sexta-feira, se fosse francês teria votado em nele.

Há 20 anos que nenhum Presidente era reeleito em França: esta é uma proeza suplementar, também no plano simbólico, do inquilino do Eliseu. E que inaugura uma tendência que vai registar-se a partir de agora em todas as eleições na Europa: quanto mais um candidato estiver conotado com Putin, menos hipóteses terá de vencer. Pela rejeição visceral que isso provoca nos eleitores - de Lisboa a Riga, de Estocolmo a Trieste. Ninguém quer a pata russa em cima.

 

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Parabéns a Macron, o homem que Putin queria ver longe do poder. O ditador enganou-se: os franceses mostraram muito mais clarividência do que ele imaginava. Tal como os ucranianos demonstram, em todas as horas de todos os dias, uma tenacidade e uma resistência que ele jamais supôs.

É uma excelente notícia. Não só para França, pois abre uma luz de esperança também na Ucrânia: se Le Pen tivesse vencido, como algumas luminárias anteviam, isso seria um pesadelo acrescido para aquele martirizado povo.

Os franceses ficaram servidos em matéria de colaboracionismo: não precisam de nenhum outro. Já lhes bastou o decrépito marechal Pétain, ajoelhado perante Hitler entre 1940 e 1944. 

Em quem votaria Putin em França?

Pedro Correia, 23.04.22

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Marine Le Pen com Putin em Moscovo (24 de Março de 2017)

 

Os franceses vão amanhã às urnas para escolherem quem ocupará o Palácio do Eliseu nos próximos cinco anos.

Se eu fosse francês, não hesitaria um momento: o meu voto ajudaria a reconduzir o actual Presidente. Emmanuel Macron enfrenta nesta segunda volta uma recauchutada Marine Le Pen, que para seduzir eleitores não pertencentes à direita radical abandonou as bandeiras mais extremistas que agitara no escrutínio de 2017. Riscou o anterior slogan "Frexit", inspirado no Brexit: deixou de querer a França fora da União Europeia. E não voltou a exigir o regresso ao franco como moeda nacional: agora já aceita o euro.

Macron é a antítese da sua adversária: não imita os televangelistas no púlpito, não proclama frases demagógicas, não faz cedências ao populismo. Nem andou a mendigar financiamento russo, como o partido da candidata que em 2011 se confessava «admiradora» de Vladímir Putin, em 2017 recusou haver «qualquer ilegalidade» na anexação da Crimeia e no passado dia 8 de Fevereiro, em entrevista à BBC, declarava sem pestanejar: «Não acredito que a Rússia queira invadir a Ucrânia.» Dezasseis dias antes da invasão.

Nesta eleição presidencial francesa, com a guerra a decorrer na Ucrânia, impõe-se a pergunta, para arrumar ideias: quem escolheria o ditador russo, se pudesse votar? Marine Le Pen.

Razão suficiente, desde logo, para eu me encontrar na margem oposta.

Pregar um estalo

Pedro Correia, 10.06.21

 

Emmanuel Macron foi esbofeteado terça-feira, no Sudeste de França, por um sujeito que claramente não se inclui entre os seus admiradores. 

No seu habitual estilo pomposo e grandiloquente, a imprensa gaulesa apressou-se a sentenciar que esbofetear o Presidente «é como esbofetear a França». Andam muito sensíveis. Nem parecem pertencer ao mesmo povo que noutros tempos erguia cadafalsos e  guilhotinava reis.

A violência é sempre condenável. O que não invalida a hipótese de alguns por cá terem desejado eventualmente pregar um estalo (metafórico) no político X ou Y. Por ser incompetente, desonesto ou aldrabão.

Já vos aconteceu?

Travar os turcos

João Pedro Pimenta, 31.10.20
A avaliar por algumas leituras rápidas, o culpado destes casos de terrorismo que ocorreram em França nos últimos dias é Emmanuel Macron devido às suas declarações. Só que Macron não incitou ninguém à violência; limitou se a dizer o que devia ser dito: que aquele país tem regras, que não podem ceder à violência de fanáticos e que quem não gostar de viver naquela sociedade tem de se sujeitar às leis vigentes, dentro do sistema democrático e da liberdade de expressão que este concede.
 
Se alguém deve ser condenado é em primeiro lugar Recep Erdogan, um dos maiores incendiários do nosso tempo. Só este ano já enviou tropas para a Líbia para proteger a sua facção, reconverteu Santa Sofia, outrora a maior igreja da cristandade e nas últimas décadas um museu, em mesquita, apoiou o Azerbaijão na guerra contra a Arménia na questão do Nagorno-Karabakh invectivando os arménios de forma inaceitável (um chefe de estado turco a dizer coisas semelhantes aos arménios equivale à chanceler alemã a insultar judeus) e agora diz que Macron tem "problemas mentais" e apela ao boicote à França; ou seja, a França é atacada no seu território por extremistas gritando "Alá Akhbar"e ainda recebe ameaças deste fulano.
Relembre-se que Erdogan já tinha um extenso currículo com a repressão aos curdos, a participação na guerra da Síria (onde atacou mais os curdos que o Daesh, por vezes até favorecendo este nos ataques que realizava às YPG) e a reacção à tentativa de golpe de estado de 2016 com a prisão de milhares de pessoas. Tentou fazer comícios às populações emigrantes turcófonas em países europeus a quem, perante a evidente recusa, acusou de serem "nazis", etc, etc.
Por importantes que sejam as relações comerciais da União Europeia com a Turquia, já é tempo de pôr esta sinistra criatura no seu lugar e de chamar os bois pelos nomes. Se assim não for, o sultão de opereta vai continuar a insultar e a incendiar impunemente, aproveitando-se de qualquer fraqueza para estender a sua influência neo-otomana. Agora talvez se perceba porque é que a Grécia tem uma fatia tão grande do PIB reservada à defesa.
 

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De novo os coletes amarelos.

Luís Menezes Leitão, 08.12.18

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A situação em França demonstra bem o flop total que está a ser a presidência de Macron, como aliás já antes o tinha sido a presidência de Hollande. O movimento En Marche não passou de uma total mistificação, como se alguém que foi Secretário-Geral Adjunto do Presidente Hollande e depois Ministro da Economia no governo Valls pudesse representar alguma novidade em relação ao Presidente anterior. Tudo isto não passou de uma tentativa bem sucedida para travar Marine Le Pen, com a invenção de um novo partido, graças ao facto de a França ter um sistema eleitoral que permite a um partido com 1/3 dos votos ter 2/3 dos deputados. Mas essa alavancagem da representatividade eleitoral falha nas alturas decisivas e aí basta uma fagulha para deitar fogo à pólvora.

A fagulha foi neste caso o aumento dos combustíveis, que é um símbolo da constante tributação de um Estado cada vez mais voraz. Esse Estado persegue os cidadãos até ao tutano, de tal modo que até uma parvoíce de uns coletes amarelos os manda ter no carro, sob pena de multa. Não admira por isso que essa imposição de vestuário seja usada como sinal distintivo pelos cidadãos. Os coletes amarelos são hoje o substituto dos barretes frígios usados pelos que tomaram a Bastilha. E ninguém sabe como isto vai acabar.

A vandalização do Arco do Triunfo.

Luís Menezes Leitão, 03.12.18

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Eu até tenho alguma compreensão pelo protesto dos coletes amarelos contra a carga fiscal insustentável que o Estado cada vez mais faz recair sobre os cidadãos. Mas já acho absolutamente intoleráveis actos de destruição da propriedade pública e privada e especialmente actos de vandalização de monumentos nacionais, com o simbolismo do Arco do Triunfo. A isto a única resposta só pode ser a da força da lei. Como disse De Gaulle perante os protestos do Maio de 1968: "la République n'abdiquera pas".

A revolta dos coletes amarelos.

Luís Menezes Leitão, 17.11.18

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O actual Estado fiscal insuportável, depois de ter elevado os impostos directos quase até ao limite do absurdo, aposta agora nos impostos indirectos e na multiplicação de taxas por tudo e por nada, como se viu com a protecção civil, a que agora o governo quer regressar. Só que há alturas em que esta situação conduz a movimentos de revolta de cidadãos, como entre nós sucedeu com a revolta da ponte sobre o tejo em 1994, que precipitou o fim de Cavaco Silva. Hoje parece que é Emmanuel Macron que está a passar pela mesma situação.

Leituras

Sérgio de Almeida Correia, 13.07.17

"Um mar de ruínas"

Pedro Correia, 12.06.17

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 François Hollande e Benoit Hamon

 

 

«Nada grandioso será alguma vez conseguido sem grandes homens.»

Charles de Gaulle

 

Lembram-se de François Hollande, o indivíduo que segundo alguns arautos lusos proclamavam ruidosamente há cinco anos, iria  revitalizar a débil esquerda europeia?

Hollande, bem avisado, decidiu não se recandidatar ao Eliseu: à beira do fim do mandato inaugurado em 2012, a sua taxa de popularidade entre os franceses era de longe a mais baixa da V República, fundada em 1958 pelo general De Gaulle. O delfinato possível do chefe do Estado cessante foi assegurado pelo medíocre Benoit Hamon, sufragado pelas "primárias" - o último grito da moda Outono-Inverno da saison política parisiense - mas arrasado nas urnas quando deixou de se jogar a feijões e houve eleições a sério: recolheu apenas 6,3% dos votos, ficando na quinta posição entre os candidados à corrida presidencial.

A primeira volta das legislativas francesas acaba de traçar um retrato fidedigno do Partido Socialista Francês, avaliando-se assim o verdadeiro legado político de Hollande: entre 7% e 10%. "Um mar de ruínas", na justa definição do Libération. Com o Presidente Emmanuel Macron a vencer, como se esperava, por intermédio do seu novo partido pós-ideológico, República em Marcha - criado só há 14 meses. Numa prova de que em democracia tudo pode transformar-se.

Há umas semanas, o ex-primeiro-ministro Manuel Valls causou imenso escândalo ao anunciar que o PSF estava morto. Tinha razão, como esta catástrofe eleitoral confirma. Resta aos socialistas franceses encerrar para balanço, imitando o que François Mitterrand fez em 1969, na ressaca do Maio de 68, ao mandar sepultar a defunta SFIO [Secção Francesa da Internacional Operária] num congresso do qual emergiu o Partido Socialista, agora falecido aos 48 anos. Paix à son âme.

Desafio aos leitores (parte 2)

Pedro Correia, 01.06.17

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Quem poderá ser o Emmanuel Macron português?

Os leitores do DELITO já começaram a pronunciar-se aqui.

 

Eis os nomes mais votados:

António Horta Osório

Carlos Moedas

Fernando Medina

Paulo Azevedo

 

Também mencionados:

Adolfo Mesquita Nunes

Assunção Cristas

Assunção Esteves

Bernardino Soares

Henrique Neto

João Galamba

Mário Centeno

Ricardo Arroja

Rui Moreira

 

O debate vai prosseguir, naturalmente. Aceitam-se mais palpites.

Viver habitualmente

Pedro Correia, 07.05.17

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Dia triste para os apreciadores de emoções fortes: o moderado e "cinzento" Emmanuel Macron, o ex-ministro que diz não ser de esquerda nem de direita,  venceu por esmagadora margem a eleição presidencial francesa. Batendo Marine Le Pen, por dois terços dos votos expressos nas urnas.

Notícia desanimadora para os tudólogos que passam o tempo a gritar que vem aí o lobo. Afinal o novo inquilino do Palácio do Eliseu não quer retirar a França da União Europeia, não quer voltar ao franco, não quer encerrar as fronteiras, não quer cortar os vínculos militares com a NATO, não quer estabelecer "parceria privilegiada" com Moscovo, não quer revoluções na quinta economia mundial. Só quer viver habitualmente.

Ainda não foi desta que o lobo chegou - tal como sucedera na  Áustria e na Holanda. O povo francês revelou mais maturidade e sensatez do que os putativos intérpretes das massas populares anteviam em trepidantes tribunas televisivas, onde qualquer teoria da conspiração ajuda sempre a cativar audiências.

Coisa chata, admito. Uma imensa maçada.

O programa de Macron

Pedro Correia, 05.05.17

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Destaques do  programa eleitoral do candidato presidencial francês Emmanuel Macron, fundador do movimento Em Marcha:

 

1. Redução de um terço do número actual de deputados e senadores.

2.  Supressão do regime especial de aposentação dos deputados.

3. Generalização do voto electrónico até 2022.

4. Paridade absoluta de género nas listas eleitorais.

5. Cumprimento intransigente do direito à igualdade de género no espaço público francês.

6. Alteração do mapa administrativo, com a supressão de um quarto das entidades territoriais hoje existentes.

7. Criação de um estado-maior permanente de operações de segurança interna como peça fundamental na luta contra o terrorismo.

8. Encerramento de templos e associações religiosas onde se faz a apologia da violência e do terrorismo.

9. Anulação de novas missões militares francesas no estrangeiro, salvo em casos de legítima defesa.

10. Prioridade absoluta à cibersegurança e à ciberdefesa.

11. Reforço do orçamento da defesa até atingir 2% do orçamento anual francês.

12. Fixação de um tecto máximo de 0,5% do défice estrutural das finanças públicas até 2022.

13. Grande plano de investimentos públicos, orçado em 50 mil milhões de euros, destinados à qualificação dos recursos humanos, à modernização dos serviços públicos, à transição ecológica e à reabilitação urbana.

14. Introdução de mecanismos de controlo do investimento estrangeiro para preservar os sectores estratégicos.

15. Redução do imposto sobre as sociedades, de 33,3% para 25%.

16. Primado aos acordos de empresa no estabelecimento de novos contratos laborais.

17. Redução para 7% do desemprego nos próximos cinco anos.

18. Supressão de 120 mil postos de trabalho na administração pública.

19. Flexibilizar os horários de funcionamento dos serviços públicos.

20. Acelerar a convergência dos sistemas de pensões e reformas.

21. Criação de 30 mil apartamentos sociais para os jovens.

22. Redução do número de canais públicos audiovisuais.

23. Oposição ao alargamento das actuais fronteiras da NATO.

24. Manutenção das sanções à Rússia.

25. Alargamento a mais cinco países do número actual de membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (com inclusão da Alemanha, do Brasil, da Índia, do Japão e de um país africano a designar).

Um apoio de peso.

Luís Menezes Leitão, 04.05.17

 

Como se pode ver por este vídeo, Obama acaba de declarar o seu apoio a Macron nas eleições francesas. Considerando a enorme eficácia que Obama tem tido neste tipo de intervenções junto de outros povos — afinal já aconselhou os britânicos a rejeitarem o Brexit e os americanos a escolherem Hillary Clinton — eu, no lugar de Macron, ficaria muito preocupado com este apoio. Mas pode ser que à terceira seja de vez. Ou então não há duas sem três…