Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Porquê em Janeiro?

João Pedro Pimenta, 19.01.21

Admito que fosse difícil, ou mesmo legal e constitucionalmente impossível, alterar as datas das eleições presidenciais para mais tarde. A questão é: porquê em Janeiro? Por causa do prazo da tomada de posse do Presidente? Isso não é alterável? Recordo que as primeiras eleições presidenciais tiveram lugar em Junho (de 1976). E que há uns anos, as autárquicas, que eram tradicionalmente em Dezembro, passaram a ser em Outubro também com o argumento, se não estou em erro, do frio. Então porquê essa obstinação em manter estas eleições no mês mais gélido? Decididamente, a república e os seus actos de afirmação não ajudam nada.

Tenham juízo

José Meireles Graça, 11.09.20

Um amigo socialista pouco carregado (isto é, cor de rosa pastel e não choque), há dias ecoava uma colega de profissão que se queixava de que o PS, não obstante o cartaz de progressista, feminista e modernaço, não apoiava uma mulher para a Presidência. E dava-lhe razão, lembrando o descaso a que foi votada Maria de Belém nas últimas eleições, a benefício de uma completa nulidade palavrosa, qualificação minha, como Sampaio da Névoa (não, não grafei mal).

A queixa é sintomática. O mulherio anda nervoso e, se até há pouco se limitava a querer igualdade para níveis semelhantes de competência, agora reclama a obrigatoriedade de quotas em lugares de direcção, para já em empresas públicas e privadas cotadas, salvo erro, depois em grandes privadas e finalmente em todas, que não há cá ninhos. Se forem de esquerda, as queridas não precisam de desculpas, é imperioso impor justiça, igualdade e mais um par de botas até que as empresas fiquem de joelhos, altura em que devem ser salvas pelo Estado, pelo expediente de as nacionalizar. Se forem, ou se dizerem, de direita, há que rapar de um dos estudos – há dúzias – que demonstram, preto no branco, que em havendo mulheres na direcção, e não apenas homens, o desempenho da organização ganha com isso. Claro que, com interesse e recursos, se podem fazer estudos a demonstrar o contrário e até o contrário do contrário – pessoas ingénuas julgam que os estudos se fazem para entender o real, e não para o modificar, e que a distinção entre correlação e causalidade é fácil de estabelecer, ou que essa preocupação sequer existe; e que na escolha dos factores que influenciam um determinado fenómeno se selecionam os mais relevantes.

Elas votam, são maioria, e as pessoas que andam na política, e não simplesmente a comentam, têm as orelhas arrebitadas e o olho arregalado para topar a tendência. E a tendência é essa – mulherio a bem ou a mal, e se o resultado for que apareçam umas cómicas a asneirar, como a querida Jo, nada de mais: cómicos a asneirar é o que nunca faltou.

Depois, já há países onde o apoio à mulher foi mais longe, e onde menos pesam os handicaps daquela condição (maternidade, sobretudo) e as adoradas, donas da liberdade de escolher sem excessiva penalização financeira, fogem de certas profissões tipicamente masculinas e escolhem outras, que não eram para ser, mas afinal são, tipicamente femininas.

Esclareci o meu amigo, ou melhor, a amiga dele, que com justiça não me ligou pevas, que o PS não é misógino, mas nem Maria de Belém nem agora a pasionaria Gomes, de Estremoz, davam garantias ao regedor do PS de não lhe tolherem as mãos. Elas não, mas Marcelo sim. Daí que o PS apoie Marcelo, não venham cá com teorias da conspiração. E, com o coração apertado por ter defendido o PS, fui rezar um Acto de Contrição, e julgo-me absolvido.

Bem bem, temos portanto duas mulheres candidatas, que se dá o caso de serem duas abominações:

Marisa é uma carta batida e rebatida do Bloco, uma agremiação que os comunistas justamente desprezam por ser de revolucionários de pacotilha, e o resto do país, salvo alguns jovens e outros eternamente, por lhe parecer que os dirigentes têm acne, nas trombas ocasionalmente bem giras e nas ideias;

E Ana Gomes, que tem banca montada no negócio do combate à corrupção, que quer combater a golpes de declarações bombásticas, sempre poupando o principal agente facilitador da corrupção no país, que é o Estado omnipresente, e os seus camaradas, que entende terem, como o seu admirado Sócrates, um par de asas nas costas. Isto e causas sortidas, incluindo internacionais, decerto por achar que como usa sapatos de salto não se nota que se está a pôr em bicos de pés.

Restaria, para gente com a cabeça em cima dos ombros, Marcelo e o candidato da IL. E corre por aí uma tese peregrina segundo a qual a vitória de Marcelo é uma vitória da direita porque este, no segundo mandato, vai mostrar as suas credenciais de PPD e pôr o PS em sentido.

Claro que não vai. Para isso seria preciso que não fosse, mas é, um socialista que vai à missa, como Guterres, que aliás diz admirar, Deus lhe perdoe, e que tivesse para o país alguma ideia que vá além do ar do tempo e da preservação da estabilidade, que confunde com a sua popularidade, julgando ambas valores a defender.

Lá popular é – Cristina Ferreira também. E estabilidade tem garantido – a estabilidade da mediocridade que tem feito Portugal deslizar com pertinácia para os últimos lugares do desenvolvimento na UE. Mas o caderno de encargos para um Presidente que fosse eleito pelo Parlamento, com a Geringonça, desenharia Marcelo. Porquê então a maçada de uma eleição directa, e ainda por cima com a possibilidade, mesmo que remota, de a duas voltas?

Sobra o candidato da IL, que ninguém conhece (nem eu, e mais talvez devesse, por ser do Porto e circular em meios que não me são alheios) e precisava, para vencer a falta de notoriedade, de ter uma personalidade espectacular e abrasiva, ou alguma espécie de auctoritas, que julgo não tem. E, voltando ao princípio do post, é homem, que o diabo o carregue.

Então, tiro algum coelho da cartola? Tiro sim senhor, embora dele ninguém se tivesse lembrado e, por razões várias, incluindo o ser tarde, ninguém se vá lembrar.

Assunção Cristas não deixou, como dirigente do CDS, grandes saudades: por falta de consistência em algumas posições, por uma direcção errática, por parte do eleitorado ter dado à sola para o Chega e a IL, e por não ter sabido calçar os sapatos de Portas, que de toda a maneira ficariam sempre apertados ou largos.

Nada que a desqualificasse para fazer uma boa candidatura à Presidência. Não se lembraram decerto, os que a apearam, porque se a achassem muito boa não a tinham apeado, e os outros porque entenderam talvez que a sua derrota era demasiado recente ꟷ e de toda a maneira muitos não a apreciariam excessivamente.

Porém, eles são eles e eu sou eu, que me estou bem nas tintas para uns e outros.

E talvez, senão com toda a certeza, Marcelo seja invencível, como um cantor reles que vende muitos discos.

Mas haverá alguém que, sem ter a alma ancorada à esquerda, ache que Assunção não seria mulher para se medir com uma bloquista com a cabeça cheia das caraminholas da seita, e uma socialista com modos, e opiniões, de justiceira de Freamunde? Tenham juízo.

France partout

João Pedro Pimenta, 23.04.17

Lá pelas 19:00, mais minuto menos minuto, teremos as primeiras projecções dos resultados da primeira volta das presidenciais francesas. Às 19:45 começa o superclássico Real Madrid-Barcelona, em que os "merengues", treinados pelo antigo craque francês Zinedine Zidane, tentarão dar a estocada final no rival da Catalunha, essa região vizinha de França. Não há por onde escapar: dê por onde der, hoje todas as atenções se centram em franceses ou aparentados.

Do «presidente de todos os portugueses» a Marcelo

José António Abreu, 22.01.16

1. Intróito com auto-citação

Permitam-me recuperar parte de um texto pré-histórico (bom, de Julho de 2009):

O conceito de «presidente de todos os portugueses» é, pelo menos na forma como habitualmente surge, um logro. Nenhum presidente representa «todos os portugueses» no sentido de ter que agir como cada um deles deseja. Seria, aliás, impossível. Não pode também pretender-se que represente os portugueses que elegeram o governo acima dos que o elegeram a ele. (Aconteceria se permanecesse em silêncio perante todas e quaisquer medidas do governo.) Também não é, como muitas vezes se defende, um «árbitro». Se o papel do presidente fosse apenas arbitral, bastar-lhe-ia conhecer as regras «do jogo» (definidas na Constituição) e a ideologia seria irrelevante, uma vez que não decidiria em função dela. Aliás, pura e simplesmente não decidiria e elegê-lo configuraria um contra-senso: poderia ser nomeado ou até sorteado entre os portugueses. Um presidente é eleito depois de apresentar um conjunto de posições e de convicções e deve presidir em função delas. Obviamente, não tendo poder executivo deverá procurar consensos com o governo e só o afrontar quando achar indispensável fazê-lo. Mas tem o direito de o fazer. Mais: tem o dever. Em função das suas próprias convicções, cada cidadão decidirá então se ele está ou não certo. Mas não o pode criticar por falar.

 

2. Candidatos de quase todos os portugueses

Mantenho a opinião: «presidente de todos os portugueses» é um conceito que só faz sentido como tentativa de impedir que os presidentes manifestem posições de centro-direita. Após observar a campanha nestas últimas semanas - com uma traumática excepção, de relance, que o meu sistema imunitário anda frágil - devo, no entanto, admitir a existência de «candidatos de quase todos os portugueses». Não por defenderem ideias claras mas altamente consensuais (seria impossível) mas por procurarem agradar a gregos e a troianos; por apresentarem platitudes com ar de quem apresenta soluções; por tentarem parecer assertivos enquanto evitam comprometer-se com medidas e cenários concretos. E, se quase todos os candidatos são culpados disto, é forçoso reconhecer que nenhum o fez com tanto denodo como Marcelo Rebelo de Sousa.

 

3. Os snobes de esquerda têm razão e o pessoal de direita é estúpido?

A esquerda, cosmopolita por inerência, tende a classificar os indivíduos que não concordam com as suas ideias (i.e., todos aqueles à direita do centro-esquerda) como retrógrados, trogloditas e/ou simplesmente estúpidos (mas como é que 38% dos portugueses ainda votaram na coligação PSD-CDS?). Olhando para a forma como Marcelo desprezou o eleitorado de centro-direita, considerando-o no bolso, dá vontade de admitir que, pelo menos no que concerne à parte da estupidez, a sobranceria da esquerda se justifica. À primeira vista, só a estupidez dos eleitores de centro-direita parece explicar que, após uma campanha decorrida inteiramente no terreno da esquerda, sem um único candidato a defender posições como o primado da liberdade de escolha dos cidadãos, a responsabilidade fiscal do Estado ou a necessidade de assentar a redistribuição numa economia capaz de a suportar, eles ainda se dêem ao trabalho de ir às urnas. Porém, embora lhes fosse certamente agradável poder um dia votar numa pessoa (ou num partido) com quem estivessem de acordo em todos os assuntos fundamentais, os eleitores de centro-direita são, acima de tudo, pragmáticos. Encontram-se habituados a escolher o mal menor - e ainda assim a perder quase sempre, nem que seja na secretaria.

 

4. O mal menor, portanto

Na era pós-4 de Outubro de 2015, ao centro-direita (e por conseguinte, na minha opinião, ao país) só interessam eleições quando existir uma razoável probabilidade de PSD e CDS conseguirem maioria absoluta. Sampaio da Nóvoa estaria disponível para as convocar na altura mais conveniente para António Costa. Maria de Belém estaria disponível para as convocar na altura mais conveniente para o PS (e, por conseguinte, para Costa). Marcelo deverá manter uma política de não-hostilidade em relação a Costa (porque se dá bem com ele e porque - inteligentemente - não desejará ser acusado de força de bloqueio) mas, não obstante toda a sua inconstância, tenderá menos a permitir-lhe manobrar os timings. Pagaremos uma factura elevada mas é necessário deixar António Costa governar - até ficar evidente que, com a ajuda dos parceiros de «geringonça», leva (de novo) o país na direcção do abismo.

 

5. Por exclusão de partes e por cansaço

Ponderei seriamente votar em Henrique Neto, o único candidato que assumiu algumas posições com as quais concordo. Não o farei por dois motivos:

a) O pesadelo que seria ter Belém ou - credo - Nóvoa na Presidência (as hipóteses de qualquer deles ganhar na segunda volta parecem reduzidas mas – pragmatismo acima de tudo – mais vale não arriscar);

b) O desejo de terminar com este circo deprimente tão depressa quanto possível.

Votarei pois em Marcelo Rebelo de Sousa.

Os debates presidenciais.

Luís Menezes Leitão, 06.01.16

Dos debates presidenciais que até agora vi fiquei com uma conclusão óbvia. Estas eleições presidenciais são as mais tristes da história da democracia e a esmagadora maioria dos candidatos poderia seguramente fazer alguma coisa mais útil como, por exemplo, ir cultivar batatas em lugar de andar a recolher 7.500 assinaturas apenas pelo prazer de ocupar o espaço mediático numa candidatura presidencial completamente inútil.

 

Tem-se visto de tudo. Um candidato abandona um debate em directo, desrespeitando o compromisso com a televisão, apenas porque o tempo de antena que lhe deram não foi aquele que desejava. Outro candidato discursa sistematicamente contra a corrupção, parecendo que ainda não percebeu que o lugar em disputa não é o de procurador-geral da república. Outro candidato promete, imagine-se, alterar a constituição, competência que o presidente não tem, a qual é obrigado a jurar cumprir e fazer cumprir no acto de posse. E outro candidato passeia o seu habitual estilo gongórico, dizendo coisas de um absoluto vazio, como a de que é preciso "um tempo novo". E chegamos a assistir a debates em que os candidatos estão de acordo em tudo, sem que ninguém lhes pergunte se nunca pensaram em desistências recíprocas.

 

Os jornalistas moderadores assistem normalmente a este triste espectáculo com enfado e perplexidade, nada questionando a candidatos que manifestamente não têm nada de relevo para dizer. A excepção tem sido Rodrigues dos Santos que tem colocado aos candidatos algumas perguntas que devem ser feitas. No debate entre Sampaio da Nóvoa e Henrique Neto, ficou claramente à vista, por mérito deste último, a vaguidade total e a absoluta ausência de ideias de Nóvoa. Rodrigues dos Santos fez-lhe apenas algumas perguntas concretas, como qualquer jornalista tem o dever de fazer. Parece que por isso uma apoiante de Nóvoa apresentou uma queixa na ERC, demonstrando assim que os apoiantes de Nóvoa acham que os jornalistas estão nos debates como figuras de corpo presente, e que questionar o seu candidato já passou a ser crime de lesa-majestade.

 

Eu só peço a Deus que esta eleição presidencial acabe já à primeira volta. É que não há santo que aguente aturar mais duas semanas disto.

O candidato menos mau.

Luís Menezes Leitão, 11.12.15

Não concordo nada com a análise que o Luís Naves faz da candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, considerando-o uma "personalidade com indiscutível carisma e conhecimento do país". E muito menos acho que Marcelo seja "capaz da moderação e da equidistância", ou "alguém que dê garantias de confiança e firmeza, de um presidente colocado ao centro, capaz de negociar com as diferentes forças, proporcionando entendimentos entre elas".

 

Pelo contrário, acho que Manuel Maria Carrilho disse tudo quando o qualificou como "ex-líder partidário, ex-candidato à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, ex-ministro, etc. (tudo funções em que, aliás, nunca se destacou especialmente), titular de uma homília pastoral dominical, no telejornal nacional de várias televisões, como se cada minuto lá passado não estivesse ao serviço de ambições políticas pessoais, óbvias para todos". Como ele bem diz, durante os últimos 15 anos a sua actividade limitou-se a um comentário televisivo, que constituiu "uma humilhação constante da mais elementar ética jornalista, com comentários combinados, exibição de cachecóis futebolísticos ou oferta de leitões bem temperados, à mistura com a mostra de livros nem sequer folheados, perante o silêncio e a impunidade gerais!". Mas o que interessa é aparecer na televisão, já que, como uma vez disse Emídio Rangel, a mesma tanto pode vender sabonetes como fazer eleger o presidente da república.

 

Que moderação e equidistância pode oferecer Marcelo aos outros líderes partidários? Passos Coelho já o qualificou como "um catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político". Com Paulo Portas são conhecidos os velhos litígios desde a história da vichyssoise. Agora o PSD e o CDS aparecem a recomendar o voto em Marcelo, mas como justificação apresentam apenas o "equilíbrio político". Importam-se de repetir? Para Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, Marcelo nada representa. Só António Costa parece ter alguma proximidade com Marcelo, o que, deve dizer-se, não o recomenda nada em termos de equilíbrio político. Aliás, com a conhecida habilidade de Marcelo em criar factos políticos, receio que o palácio de Belém se torne o maior foco de instabilidade de que há memória em Portugal. 

 

Apesar disso, eu vou votar em Marcelo Rebelo de Sousa. E a explicação é simples. Reside nos outros candidatos que se apresentaram. Perante um candidato folclórico, sem qualquer currículo político, e que todos os dias nos mimoseia com disparates, uma candidata lançada por uma ala do seu partido, sem mais nada que a recomende, e dois candidatos de partidos da extrema esquerda, que apenas pretendem cumprir os mínimos, é óbvio que eu só poderia votar em Marcelo. Mas não me venham dizer que ele é o melhor candidato. É apenas o candidato menos mau.

As presidenciais.

Luís Menezes Leitão, 13.08.15

459643[1].png

 

 Os dados parecem já estar claramente lançados para as presidenciais. À direita o despique vai ser entre Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio. Neste jogo Santana Lopes é apenas um entertainer e de Alberto João Jardim nem vale a pena falar. Mas esse despique está adiado para depois da legislativas. Marcelo aposta numa derrota da coligação que o possa fazer surgir como o candidato presidencial destinado a vingar essa derrota. Já Rui Rio espera, pelo contrário, que uma vitória o catapulte para a eleição como o candidato preferido de Passos Coelho. Neste último quadro, é possível que Marcelo nem sequer se apresente, uma vez que sempre pretendeu chegar num andor a Belém, em lugar de concorrer numa eleição disputada. Mas se as sondagens lhe continuarem a ser tão favoráveis, é possível que os seus próximos o convençam a não desperdiçar a oportunidade de uma vida. Não é por isso de excluir a existência de duas candidaturas à direita nas presidenciais.

 

Na esquerda, as coisas estão muito mais complicadas. Independentemente da vitória ou da derrota do PS, parece evidente que vai haver três candidatos socialistas às presidenciais: Sampaio da Nóvoa, Henrique Neto e Maria de Belém. António Costa parece que vai forçar o apoio do PS a Sampaio da Nóvoa, mas só tem para dizer dele que é um candidato próximo da família socialista, e que lhe merece muita estima, não se revendo na caricatura esquerdista com que tem sido apresentado. O que se passa é que uma caricatura acentua os traços mais visíveis da personagem e os traços de Sampaio de Nóvoa colocam-no muito mais à esquerda do que o discurso tradicional do PS. Apoiá-lo em 2016 é equivalente a se o PS tivesse apoiado Otelo em 1976 ou Pintasilgo em 1986. Espanta por isso esse apoio, perante dois candidatos do PS com muito mais currículo político e maiores hipóteses de vitória. Comparado com eles Sampaio da Nóvoa é apenas um candidato mais à esquerda, mas é sobretudo um zero à esquerda. 

 

O que pode levar então António Costa a querer apoiar esse candidato, por comparação com um senador respeitável e com provas dadas no mundo empresarial, como Henrique Neto, ou com uma antiga ministra e presidente do PS, com largo apoio na sociedade civil, como Maria de Belém? A resposta é simples. Nenhum desses dois candidatos é próximo de António Costa, pelo que não se deixaria manipular por ele em Belém, enquanto que Sampaio de Nóvoa não tem sequer peso político para exercer uma magistratura de influência. Por isso, António Costa prefere arriscar uma derrota nas presidenciais, a ter em Belém alguém do seu partido que lhe pudesse fazer sombra. Por outro lado, tem boas relações com Marcelo e com Rui Rio, pelo que julga preferível relacionar-se com eles em Belém.

 

O raciocínio de António Costa está a ser semelhante àquele que Sócrates teve com Cavaco, quando preferiu deixar eleger um presidente da área contrária, em lugar de alguém do seu próprio partido, mas que não fosse da sua confiança, como Manuel Alegre. Viu-se o que aconteceu depois.

O candidato.

Luís Menezes Leitão, 22.07.14

 

Depois de ter ouvido Passos Coelho dizer que um dos motivos da sua deslocação ao Sri Lanka foi reconhecer o trabalho extraordinário da AMI, tive a certeza que isso significava da sua parte uma manifestação de apoio para Fernando Nobre também se candidatar às presidenciais. Mais uma vez Passos Coelho insiste na estratégia TMMRS (Todos Menos Marcelo Rebelo de Sousa), e não pára de lançar sinais de abertura para todos os candidatos e mais alguns que o possam impedir de ver Marcelo em Belém. Só que escusava de se deslocar ao Sri Lanka para esse efeito, num gasto desnecessário para os contribuintes. Uma simples declaração pública de apoio em qualquer lugar do Portugal profundo, que depois do seu governo está hoje em dia tão necessitado da AMI como o Sri Lanka, chegaria.

 

Como não poderia deixar de ser, Fernando Nobre respondeu prontamente ao apoio de Passos Coelho. O homem que em tempos tinha dito que se não lhe dessem um tiro na cabeça iria para Belém, acaba de declarar que está vivo, não tem 100 anos, e portanto vai para Belém. Depois de Santana Lopes no sábado, agora com o avanço de Fernando Nobre, já temos assim dois candidatos presidenciais na mesma semana, ambos carinhosamente apoiados por Passos Coelho. Não há dúvida de que estas presidenciais prometem.

 

Entretanto, para aumentar a confusão, Passos Coelho acaba de declarar que espera que os candidatos se assumam, não exclui que possa surgir mais do que um à direita, e propõe que o PSD fique à espera um ano sem decidir quem apoia. A este ritmo, daqui a um ano já teremos perdido a conta aos inúmeros candidatos presidenciais do PSD. Será que a estratégia TMMRS também passa por deixar António Guterres chegar a presidente?

O candidato.

Luís Menezes Leitão, 19.07.14

 

Resulta claramente desta entrevista que Santana Lopes não pensa noutra coisa a não ser em candidatar-se a Belém, no que parece ter pelo menos o ámen de Passos Coelho, que continua a apostar teimosamente na estratégia TMMRS (Todos menos Marcelo Rebelo De Sousa). Neste enquadramento, o lugar de Provedor da Santa Casa da Misericórdia, que misericordiosamente foi atribuído a Santana, seria apenas um estágio para que ele pudesse adquirir uma imagem de simpatia social, após o que transitaria para Belém. Claro que Passos Coelho preferiria Durão Barroso, mas não estando este disponível, prefere naturalmente apostar em Santana do que deixar Marcelo avançar.

 

A questão é que esta estratégia foi claramente posta em causa pelo avanço de António Guterres. Efectivamente António Guterres secou completamente o espaço à esquerda, tanto assim que António Costa, mal soube desse avanço, mergulhou logo nas absurdas primárias do PS em vez de se guardar para Belém. Neste espaço apenas Marinho Pinto pode conservar algum eleitorado, se conseguir manter o seu discurso populista e contra a classe política, que tantos votos lhe trouxe nas europeias. Já os candidatos da esquerda tradicional cederão naturalmente o lugar a António Guterres.

 

A questão é que António Guterres entra também muito no eleitorado da direita, com o seu catolicismo social e com o facto de ter sempre resistido a entrar nas questões fracturantes, em que o PS se fracturou logo após a sua saída. É por isso que na área da direita só alguém com o perfil de Marcelo Rebelo de Sousa lhe poderia dar alguma luta. Durão Barroso percebeu isso e afastou-se logo da corrida presidencial. Já Santana Lopes, pelo contrário, acha que Guterres "não é imbatível" e que até seria "altamente estimulante" enfrentá-lo.

 

Santana Lopes tem um problema com as eleições presidenciais, semelhante à percepção que ele tem do seu governo, e que ele próprio quis expor no seu livro de 2004, et pour cause chamado Percepções e Realidade, na altura objecto destes dois fabulosos sketches dos Gato Fedorento. Na sua percepção, o seu governo foi óptimo e foi uma grande injustiça ter sido derrubado por Jorge Sampaio. A realidade é que o seu governo foi o pior da história da democracia portuguesa, e se há alguma coisa a censurar a Sampaio — e a Durão Barroso — foi precisamente o terem permitido que ele tomasse posse. Já em relação às presidenciais, ele tem a percepção de que, passados dez anos do seu governo, e com o seu currículo na Santa Casa, tem condições de bater Guterres nas eleições. A realidade é, no entanto, que nem com mais cem anos na Santa Casa Santana conseguiria ultrapassar Guterres na área social, e que tem tantas hipóteses de ser eleito presidente como a torre Eiffel de dançar o samba. Mas, conhecendo a teimosia de Passos Coelho, é muito provável que venha a ser ele o candidato presidencial do PSD. 

Rumo à Presidência.

Luís Menezes Leitão, 12.04.14

 

Tudo o que tinha escrito aqui sobre a candidatura de Durão Barroso à Presidência da República com o apoio simultâneo do PSD e do PS acaba de ser confirmado por esta curiosa conferência promovida pela Comissão Europeia em Lisboa, intitulada "Portugal: Rumo ao Crescimento e Emprego", mas que melhor se poderia chamar: "Barroso: Rumo à Presidência". Depois da elucidativa entrevista ao Expresso, parece que Durão Barroso já arrumou definitivamente os papéis como Presidente da Comissão Europeia, cargo em que se destacou por uma total ausência de intervenção, e dedica-se agora com afã a promover a sua candidatura presidencial. De facto, é incompreensível que o Presidente da Comissão Europeia tenha feito o ataque que fez ao Vice-Presidente do Banco Central Europeu, sem que o seu Presidente e o próprio Banco tivessem dito a mais leve palavra sobre o assunto. E também é incompreensível que a Comissão Europeia organize uma conferência com claro significado político em Portugal nas vésperas das eleições europeias, com a presença do próprio Presidente da Comissão, que tem um claro dever de neutralidade sobre as questões políticas internas do seu país. Mas a conferência realizou-se e agora é preciso ver o seu significado político.

 

Este significado é claro. Já se sabia que o PSD de Passos Coelho iria apoiar Durão Barroso nas presidenciais, por muito que Marcelo Rebelo de Sousa proteste na TVI ou leve os militantes às lágrimas nos Congressos. Agora ficou a saber-se que há um claro endorsement de Cavaco Silva a Durão Barroso, que pretende ver como o seu sucessor no cargo. Foram especialmente comoventes estas palavras carinhosas de Cavaco: "Posso testemunhar, como poucos, a atenção que o doutor Durão Barroso sempre prestou aos problemas do país e a valiosa contribuição que deu para encontrar soluções, minorar custos, facilitar apoios e abrir oportunidades de desenvolvimento". Fica-se a saber que Cavaco já escolheu o seu Delfim. Só é pena que os portugueses também possam "testemunhar, como poucos", a forma como Durão Barroso tratou o país, deixando um Governo em colapso com a sua ida para Bruxelas, e ameaçando recentemente que estaria o caldo entornado se não cumprissem as suas determinações. Mas reconheço que Cavaco tem razão quando diz que "Portugal e os portugueses muito lhe devem". Não só devemos como estamos a pagar todos os dias os empréstimos que a troika nos concedeu, mesmo que isso nos deixe só com pele e osso.

 

Mas o que foi elucidativo na conferência foi a reacção do PS. Ao contrário da restante oposição, que não quis estar presente, "PS recebeu convite para assistir e deu liberdade a cada deputado para fazer o que entender". Conforme já tinha anunciado, parece claramente estar a desenhar-se a preparação de um governo de Bloco Central, para depois da queda de Passos Coelho, aparecendo, como contrapartida do apoio do PSD ao PS, o apoio deste a uma candidatura de Durão Barroso a Belém. Para isso o PS só tem que tirar António Costa do caminho, mas isso é fácil. Não é por acaso que o PS anda a reclamar nos últimos tempos o direito a nomear o próximo Comissário europeu. O PSD pode perfeitamente oferecer-lhe a nomeação de António Costa, o que permitiria tirar já do terreno alguém que poderia ameaçar simultaneamente a liderança de António José Seguro e a eleição de Durão Barroso. Parece que a estratégia de Cavaco de forçar um acordo entre Passos e Seguro vai agora cumprir-se sob a égide de Durão Barroso. Les beaux esprits se rencontrent.

O candidato.

Luís Menezes Leitão, 29.03.14

 

Esta entrevista constitui a demonstração acabada para quem tivesse dúvidas de que Durão Barroso não quer outra coisa do que ser candidato a Belém, e que tem o apoio do actual Governo para lá chegar. Há muito que se viam sinais nesse sentido. Primeiro foram as contínuas peregrinações de Passos Coelho a Bruxelas ou às sucessivas homenagens que Barroso ia recebendo pela Europa. Depois foi a sucessiva ascensão de barrosistas no PSD e a sua inclusão no Governo, onde até o antigo chefe de gabinete de Barroso foi feito secretário de Estado e conservado depois do desastre comunicativo desta semana. E finalmente ocorreu a tentativa de rejeitar logo no Congresso a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, que este habilmente desmontou com uma intervenção que pode ter tocado o coração dos militantes mas manifestamente não conseguiu convencer Passos Coelho.

 

O problema de Durão Barroso é que o seu abandono em 2004 e a sua desastrada actuação na comissão europeia causou tão profunda irritação nos portugueses que ele sabe que não tem a mínima hipótese de ser eleito, mesmo com o apoio do PSD e do CDS. Ensaiou por isso uma estratégia simples. As sondagens demonstram que o PS vai vencer as próximas eleições, mas não terá maioria para governar. Como não é credível que o PS se alie ao PCP ou ao BE e com o CDS não deve ter condições para formar maioria, atento o previsível castigo que os pensionistas, seu eleitorado tradicional, lhe vão aplicar, resta apenas o PSD para formar governo com o PS. Ora, como se sabe que Passos Coelho não sobreviveria a uma derrota eleitoral, o que Durão está a dizer publicamente a António José Seguro é que neste momento, com os seus homens em lugares-chave, já tem o partido na mão e que oferece o apoio do PSD a um governo PS a troco de um apoio do PS nas presidenciais. Assim já conseguiria ser eleito como os exemplos históricos têm demonstrado em relação a um candidato apoiado pelos dois maiores partidos. Eanes teve 61% dos votos em 1976 e Soares 70% dos votos em 1991. Apoiado pelos dois maiores partidos, e até eventualmente pelo CDS, Durão Barroso teria seguramente muito menos votos, mas os suficientes para ser eleito. Aliás, já começou na entrevista a inverter o discurso, proclamando a sua paixão pelo país, a sua simpatia pelas classes sacrificadas e a declarar ter avisado Passos de que havia limites para esta política, tudo a contrastar com as suas anteriores declarações de que estaria o caldo entornado se o país não aplicasse as medidas de austeridade que lhe foram exigidas.

 

Resta saber apenas duas coisas: o que pensam do negócio que hoje é proposto por Barroso os militantes do PS e do PSD. Palpita-me que a resposta não vai ser do agrado dele.

Eleições presidenciais.

Luís Menezes Leitão, 28.01.14

 

O falecimento hoje de Soares Carneiro, que os jornais apenas recordaram como o candidato presidencial de Sá Carneiro, constitui motivo para recordar os erros políticos que se pode ter na escolha dos candidatos às eleições presidenciais. Sá Carneiro era um político talentoso, mas cometeu um erro monumental quando escolheu Soares Carneiro como candidato, que nunca teria a mínima possibilidade de ser eleito. Consta que, depois de escolhido, o mesmo decidiu ir visitar Ramalho Eanes ao palácio de Belém para o avisar de que se iria candidatar contra ele. À saída cruza-se com Sousa e Castro, que também ia visitar Eanes. Eanes pergunta então a Sousa e Castro se já sabia quem era o candidato presidencial da AD. Sousa e Castro responde: "Não faço a mínima ideia, meu General". Eanes diz-lhe então: "Pois olhe que acabou de sair daqui agora". Sousa e Castro, perplexo, responde: "Então o meu General já está reeleito, como é por de mais evidente!". Era de facto evidente para todos excepto para Sá Carneiro, que respondia a quem o criticava pela sua escolha que de um mau candidato iria fazer um bom Presidente. O problema é que numa eleição presidencial por sufrágio universal não se vota por recomendação partidária. E só pode ser um bom Presidente aquele que conseguir ser eleito para o cargo.

 

Passos Coelho ignorou esta verdade elementar e resolveu fazer aprovar uma moção no PSD contra a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, num claro intuito de lançar Durão Barroso. A razão era a de temer a imprevisibilidade dos jogos políticos de Marcelo em Belém enquanto que Durão Barroso lhe daria a mesma tranquilidade que hoje lhe dá Cavaco Silva, que até foi capaz de dar seguimento ao mais disparatado referendo alguma vez proposto. A estratégia só peca por um pequeno pormenor não despiciendo: É que depois da sua saída precipitada para Bruxelas e dos desastrosos mandatos à frente da Comissão Europeia, Durão Barroso não tem qualquer hipótese de ganhar uma eleição presidencial nos tempos mais próximos.

 

Perante o ataque de Passos Coelho, Marcelo decidiu imediatamente pôr as cartas na mesa, anunciando a sua retirada da corrida e denunciando o óbvio: que Passos Coelho queria apoiar Durão Barroso. Lançado para o olho do furacão antes da altura que esperava, Durão percebeu que ia ser transformado no Soares Carneiro de Passos Coelho, pelo que fugiu a sete pés desse destino. Pelo contrário, Santana Lopes multiplicou ataques a Marcelo demonstrando que ainda não desistiu do seu velho sonho de ser candidato presidencial. Só que, depois do seu desastrado governo, as hipóteses de Santana ganhar ainda são menores do que as de Durão Barroso, para além de em Belém Santana Lopes ainda ser provavelmente mais imprevisível do que Marcelo Rebelo de Sousa.

 

Passos Coelho ficou assim de um momento para o outro sem candidato presidencial para o PSD, e com uma ridícula moção que no Congresso vai cair no vazio. Não admira por isso que tenha vindo a correr dar o dito por não dito, dizendo para quem quiser acreditar que nunca pensou em Marcelo Rebelo de Sousa quando falou num candidato "catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político". Já Marcelo assumiu a divergência, anunciando que nem sequer vai ao Congresso, deixando Passos lá a falar sozinho. Marcelo colocou-se assim claramente ao lado da oposição interna a Passos Coelho, e tudo fará para o derrubar, contando que uma nova liderança do PSD lhe dê o apoio que exigiu para as presidenciais.

 

Temos então o seguinte resultado prático desta brilhante manobra de Passos Coelho: enquanto o PSD tritura sucessivos candidatos, António Costa iniciou já a campanha. Ou não foi isso o Prós & Contras de ontem?

A escolha do perfil presidencial adequado.

Luís Menezes Leitão, 20.01.14

É evidente que Passos Coelho está muito satisfeito com o desempenho presidencial de Cavaco Silva que, com excepção de um pequeno amuo subitamente no Verão passado, tem primado pela ausência total, reduzindo a Presidência ao vácuo político e deixando o Governo em roda livre. Precisamente por esse motivo o maior pesadelo para Passos Coelho era ter na Presidência Marcelo Rebelo de Sousa que usaria Belém para a criação permanente de factos políticos, deixando o Governo constantemente em estado de choque. Por esse motivo a moção de estratégia aprovada esclarece que o candidato presidencial não pode ser um "catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político". Essa moção poderia ser designada através das letras TMMRS (todos menos Marcelo Rebelo de Sousa). 

 

Como se viu nas recentes e constantes peregrinações a Bruxelas ou à cerimónia de entrega de prémios europeus, Passos Coelho está a todo o custo empenhado em promover a eleição de Durão Barroso, que apresenta como currículo ter igualmente reduzido a influência da Comissão a zero, obedecendo totalmente a Angela Merkel. Passos está convencido que Durão Barroso adoptará o mesmo comportamento em Belém, deixando-o igualmente em roda livre, desde que o seu grupo mantenha alguma influência política. Precisamente por esse motivo muitos barrosistas já têm sido chamados ao Governo, como é o caso paradigmático de Miguel Poiares Maduro.

 

No fundo Passos Coelho está a adoptar a estratégia de Salazar nas eleições de 1958 quando propôs Américo Thomaz como candidato. Quando ele foi eleito o New York Times de 10 de Junho limitou-se a escrever: "O nome do vencedor é por acaso o do almirante Américo Tomás, mas isto não tem qualquer importância. Este não terá qualquer poder e o Dr. Salazar bem podia ter escolhido o primeiro polícia de trânsito que lhe aparecesse".

 

O problema desta estratégia é que vai conduzir a um desastre político. Depois do que fez na comissão europeia Durão Barroso tem tantas hipóteses de ser eleito presidente como a Torre Eiffel de dançar o samba. É por isso que espanta a forma como Marcelo se retirou imediatamente da corrida dizendo que não queria ser o Manuel Alegre do PSD. A verdade é que Manuel Alegre teve 20% dos votos e Mário Soares apenas 15%. As candidaturas presidenciais entre nós não costumam ser partidárias. Jorge Sampaio candidatou-se sem o PS, que só aceitou apoiá-lo depois de muito estrebuchar. Não se percebe por isso porque Marcelo não faz a mesma coisa.

 

Em qualquer caso, acho que a decisão de Passos Coelho acaba de significar a derrota da direita nas presidenciais. António Costa é o principal beneficiado. Tem, em primeiro lugar, uma excelente imprensa como se viu pelo episódio recente da Bragaparques. O que não se diria de Santana Lopes se tivesse anunciado publicamente um acordo que afinal não existia? E, em segundo  lugar, não está comprometido com a crise. Em política os disparates pagam-se caro.