Novo ciclo
(créditos: Bruno Simão/Negócios)
As eleições legislativas de ontem, 30 de Janeiro, assinalam o regresso à estabilidade governativa, o fim do diletantismo parlamentar de alguns sujeitos e, ainda, o regresso à terra do Presidente Marcelo e dos seus sonhos de se tornar imprescindível para qualquer solução de governo.
Se, por um lado, até há duas semanas, a maioria absoluta de um só partido era um cenário tão distante quanto a hipótese de uma solução governativa estável para toda a legislatura, não será hoje menos verdade a confirmação de que em democracia os resultados só surgem mesmo depois de fechadas as urnas. E isso continua a ser bom porque é pelo voto que os cidadãos têm de continuar a manifestar-se, e é a eles que tem de estar reservada a última palavra. não às sondagens. Votem "útil" ou "inútil". Ainda bem.
Neste momento, com a certeza de uma maioria absoluta do PS, aquilo que todos os portugueses temem é uma reedição, ainda que mais benigna, de um socratismo de muito má memória e com feridas ainda abertas dada a ineficiência, e não apenas por falta de meios, do Ministério Público, dos tribunais e do aparelho judiciário para contribuírem para a realização da justiça em tempo útil.
O comedido discurso de vitória de António Costa, traduzido na frase “uma maioria absoluta não é o poder absoluto, não é governar sozinho, é uma responsabilidade acrescida” pode dar alguma esperança aos portugueses e a todos os que votaram no partido vencedor, que são muitos mais do que os militantes e simpatizantes, de que não vamos assistir a partir de agora a um novo ciclo de desvario, despesismo e desresponsabilização.
Ao Presidente da República exige-se que sem deixar de exercer a devida fiscalização sobre a acção do Governo, que também está cometida com redobrada responsabilidade a todos os partidos da oposição, reduza o seu protagonismo, seja mais contido nas suas “aparições” e contribua quer para a estabilidade política e governativa, quer, igualmente, para uma redução do clima de guerrilha de sacristia em que se especializou ao longo dos anos, motivando o necessário apaziguamento social e político. Dentro de quatro anos será aos portugueses que caberá, e não a ele Presidente da República, julgar a acção do futuro Governo, os seus êxitos e insucessos.
Para já vamos aguardar os resultados dos círculos da emigração, enquanto não chegam os nomes para o novo governo. Que se esperam ser outros, sem erros de casting e com a participação de independentes qualificados, não se cingindo à "tralha do aparelho" e a um ou outro apóstolo reciclado. Qualificações, competência, bom senso e uma ética à prova de bala é o que se precisa. Para não se estatelar na rua, nem na lama.