Já agora, ainda gostava de saber como é que um partido cujo líder nunca aparece e que escreve missivas ameaçadoras a insultar os adversários e a enaltecer o terrorismo islâmico, não raras vezes sob pseudónimos ridículos, que organiza congressos clandestinos, que nunca atende a chamadas telefónicas nem a toques de campainha na sede, que chama "traidores" a todos os adversários e que, sendo contra a democracia e clamando pela "revolução operária", recebe mais de 180 mil euros anuais de subvenção do estado, participa nas autárquicas sem que ninguém lhes pergunte nada. Não haveria nenhum jornalista que perguntasse aos candidatos do MRPP o porquê de Arnaldo Matos se esconder, quais os seus propósitos para as autarquias, e já agora, o que era feito de tal subvenção que pelos vistos coincidiu com a tomada do poder do partido por dementes?
Eleições autárquicas (4).
Um concelho onde se verifica um verdadeiro drama político, com contornos de romance de folhetim, é precisamente o de Vila Nova de Gaia. Começou pela perda de mandato do actual Presidente, Eduardo Vítor Rodrigues, condenado à perda de mandato por peculato de uso — uso indevido do veículo de uma empresa municipal — o que o levou a renunciar ao cargo, depois de ter perdido todos os recursos, incluindo no Tribunal Constitucional, apesar de já ter voltado a recorrer para o plenário desse Tribunal. O autarca considerou ridículo o processo, referindo apenas ter feito um desvio para ir à padaria. E efectivamente, como alguns comentadores têm referido, a sanção parece totalmente desproporcionada e muito pouco conforme com o respeito que é devido ao mandato conferido pelos eleitores, que não deve ser retirado pelos tribunais por dá cá aquela palha.
Em qualquer caso, Eduardo Vítor Rodrigues não se poderia recandidatar, pois já estava no terceiro mandato, pelo que o PS apresenta João Paulo Correia como candidato a Gaia. João Paulo Correia está ligado a Gaia, tendo sido Presidente da União de Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso até 2022, sendo ao mesmo tempo deputado pelo círculo do Porto em várias legislaturas. Tal não impediu, no entanto, que tenha ocorrido a desfiliação do PS por um actual e antigo Presidentes de Junta de Freguesia em Gaia. A situação motivou a habitual troca de galhardetes, uma vez que o Presidente da União de Freguesias de Santa Marinha e São Pedro da Afurada, justificou a sua saída do PS "após mais de 30 anos de militância activa" por entender o partido se afastou "das linhas orientadoras essenciais que historicamente o definiram, deixando para segundo plano os valores e princípios que deveriam ser intransponíveis num partido com a sua história e responsabilidade". O partido em questão não partilha, no entanto, dessa visão, considerando antes a sua saída como "um acto de lamentável oportunismo e de ambição pessoal desmedida".
Perante este ambiente no PS, Luís Filipe Menezes decidiu aos 72 anos voltar a um lugar onde já foi feliz, e voltar a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal de Gaia, à frente de uma coligação composta pelo PSD, CDS e IL, sendo acompanhado por Paulo Rangel, como candidato à presidência da Assembleia Municipal. Não temos quaisquer dúvidas de que Paulo Rangel exercerá o cargo de presidente da Assembleia Municipal de Gaia com total dedicação e enorme brilhantismo, em acumulação com o cargo de Ministro de Negócios Estrangeiros em Lisboa ou em viagem pelas capitais da Europa e do Mundo. Quanto a Luís Filipe Menezes, o seu principal projecto para Gaia são as pontes para o Porto, o que me fez recordar um texto que escrevi neste blogue sobre projecto semelhante que apresentou em Junho de 2012. Em qualquer caso, acho que Luís Filipe Menezes tem fortes probabilidades de voltar a ganhar a Câmara de Gaia doze anos depois de a ter deixado e se ter candidatado sem sucesso ao Porto. O seu regresso, tantos anos depois, fará lembrar o regresso do Conde de Monte-Cristo.