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Delito de Opinião

O dia mais longo do ano

Pedro Correia, 05.11.24

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Imagem do único debate entre Donald Trump e Kamala Harris, em Filadélfia a 10 de Setembro

 

Nestes dias os canais televisivos foram sendo invadidos por tudólogos que a cada quatro anos se transformam em especialistas da vida interna dos EUA. Alguns saltitam do futebol para a geoestratégia mundial, passando por voos rasantes à política doméstica. Fazem aquilo que é possível esperar de um tudólogo: espreitam as tendências dominantes do eleitorado hoje disponíveis em pesquisas rápidas nos motores de busca. Com tanta ânsia de aparecer, acabam por empurrar os verdadeiros especialistas para horários impróprios, remetendo-os ao último lugar da fila. Quem perde com isso são os canais que lhes dão guarida.

Hoje é a data do escrutínio oficial na corrida à Casa Branca. Mas a eleição decorre há semanas: cerca de 78 milhões de americanos, incluindo o ainda presidente Joe Biden e a candidata democrata, Kamala Harris, optaram pelo voto antecipado. Nas semanas precedentes, esses pára-quedistas da pantalha andaram a picar sondagens, pulando desta para aquela sob o invariável signo do "empate técnico". Com as atenções centradas nos sete estados flutuantes ou oscilantes, logo crismados de swing states em "amaricano" com sotaque tuga.

Entquanto debitavam banalidades, os tudólogos mal repararam em dois aspectos cruciais na letra pequenina das pesquisas de opinião. O primeiro relaciona-se com o índice de rejeição de cada candidato: nas eleições actuais, grande parte de quem vota mobiliza-se mais contra aquilo que não quer do que a favor de alguma pessoa ou sigla. O segundo é a crescente clivagem sexual nas opções de voto: mulheres e homens tendem a dividir-se cada vez mais. Acima das diferenças raciais ou de classe social.  

Tudo isto é ignorado pelo tais especialistas em coisa nenhuma que pululam nas pantalhas, embora seja realçado por quem verdadeiramente percebe da dinâmica eleitoral nos EUA, reflexo da própria mobilidade social no país. Fica como pista de reflexão neste dia mais longo do ano, em que as atenções mundiais estão viradas para aquele que ainda é o Estado mais poderoso do planeta.

Dia tão longo que pode arrastar-se por semanas ou meses. Já faltou mais para sabermos.

"Admirável mundo novo"

Cristina Torrão, 21.10.24

EUA: as sete eleições menos fracturantes

Pedro Correia, 08.10.24

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Carter e Reagan em 1980, quando as divergências políticas não dispensavam a cortesia

 

Estas foram as sete eleições presidenciais menos fracturantes nos EUA até hoje, com vitórias esmagadoras de seis candidatos, um deles repetente aqui:

 

1804

Foi a quinta eleição presidencial norte-americana. Vencedor: o recandidato Thomas Jefferson, grande artífice da Constituição de 1789 e um dos "pais fundadores" da nação. Liderando o Partido Democrata Republicano, bateu por larga margem o antigo embaixador Charles Cotesworth Pinckney, do Partido Federalista. A sua popularidade deveu-se ao bom desempenho da economia e à expansão do país, com a aquisição do amplo território da Luisiana a França, em 1803, por 15 milhões de dólares. Foi quanto bastou para duplicar a área dos EUA, correspondente a 15 estados actuais, assegurando o domínio da cidade de Nova Orleães e do delta do Mississippi. Jefferson, que era presidente desde 1801, triunfou em toda a linha nesta reeleição: 105.524 votos contra 38.519 do opositor, 162 contra 14 delegados no colégio eleitoral, 15 estados conquistados e apenas dois perdidos. Percentagem nacional: 73,2%. 

 

1864

Abraham Lincoln, republicano, vencera a eleição em 1860. Quatro anos depois tornou-se o primeiro chefe do Executivo reeleito desde 1832. Aconteceu em plena Guerra da Secessão e o sufrágio decorreu apenas em 25 estados, sem a participação dos onze que haviam formado a Confederação sulista. Lincoln concorreu sob a sigla União Nacional, que reunia republicanos e democratas apostados em prosseguir a luta armada contra os esclavagistas. O seu opositor era o antigo general George McClellan, liderando a facção pacifista do Partido Democrata. O presidente esmagou no colégio eleitoral: 212 delegados contra 21. Venceu em 22 estados com 55,1% (percentagem global), beneficiando do triunfo unionista na Batalha de Atlanta, que assinalou uma decisiva viragem na guerra. Mas seria assassinado antes de concluir o segundo mês do novo mandato.

 

1936

Franklin Roosevelt foi o presidente que permaneceu mais tempo na Casa Branca: 12 anos, tendo iniciado o mandato em 1933. E três vezes reeleito, cenário que deixou de ser possível em 1951, quando entrou em vigor a 22.ª emenda constitucional. A sua mais expressiva votação ocorreu em 1936, numa espécie de referendo popular às medidas sociais do New Deal que puseram fim à Grande Depressão. Triunfo esmagador do democrata nesses anos que antecederam a II Guerra Mundial: 523 delegados contra apenas oito do seu rival, Alf Landon, governador republicano do Kansas. No voto popular, Roosevelt recolheu 27.747.636 boletins (60,8%), muito acima dos 16.679.543 (36,5%) do opositor. Landon, orador medíocre e sem carisma, só venceu em dois estados: Vermont e Maine.

 

1964

Os EUA viviam ainda sob o trauma do assassínio de John Kennedy, ocorrido menos de um ano antes. O sucessor, o vice-presidente Lyndon Johnson, havia sido derrotado nas primárias democratas de 1960 e enfrentava o primeiro teste nas urnas a nível nacional. Sem oposição interna e com a economia em alta, o inquilino da Casa Branca defrontou o senador Barry Goldwater, oriundo da ala mais conservadora do Partido Republicano. O desfecho não deixou margem para dúvidas: Johnson conquistou 44 estados, além do distrito federal. Goldwater venceu apenas no seu Arizona natal e noutros cinco: Alabama, Carolina do Sul, Geórgia, Luisiana e Mississippi. Em delegados, a diferença foi abissal: 486 contra 52. Em percentagem nacional também: 61,1% contra 38,5%.

 

1972

Richard Nixon chegou a ser um presidente extremamente popular. Isto ficou evidente na sua reeleição, ao tornar-se o primeiro candidato republicano a dominar todos os estados do Sul, anterior feudo eleitoral do Partido Democrata. Beneficiou do alargamento do direito de voto nos EUA dos 21 para os 18 anos, introduzido em 1971 na 26.ª emenda constitucional, e da promessa de pôr fim aos recrutamentos para a guerra no Vietname. Enfrentou George McGovern, senador do Dakota do Sul e membro da ala democrata mais esquerdista. Obteve o maior triunfo de sempre numa corrida à Casa Branca, primeiro em 49 dos 50 estados: McGovern só venceu no Massachusetts. Conseguiu 47.168.710 votos (60,7%) e 520 delegados, contra apenas 29.173.222 (37,5%) e 17 delegados do seu opositor.

 

1980

Ronald Reagan era corredor de fundo. Foi governador da Califórnia durante dois mandatos e em 1976 disputou as primárias republicanas em competição cerrada com o presidente Gerald Ford, que venceu no partido mas perdeu a nível nacional. Quatro anos depois representou os republicanos na corrida à Casa Branca. Contra o chefe do Executivo, Jimmy Carter, quando os EUA enfrentavam grave crise económica, energética e reputacional. Reagan impôs-se com 489 votos do colégio eleitoral enquanto Carter só conseguia 49. Venceu em 44 estados, com 50,7%. Pela primeira vez desde 1932 um presidente recandidato ficava pelo caminho. E desde 1888 não acontecia nada semelhante a um inquilino da Casa Branca pertencente ao Partido Democrata.

 

1984

Reagan foi reeleito por larga margem. Beneficiando da recuperação económica dos EUA e da sua mensagem de contagiante optimismo, simbolizada no slogan «Amanhecer na América». Mesmo sendo, aos 73 anos, o mais velho candidato presidencial à época. Enfrentou Walter Mondale, que fora confrontado em primárias no Partido Democrata por Gery Hart e Jesse Jackson. O desfecho pouco surpreendeu: o antigo actor de Hollywood atraiu 525 delegados e 58,8% do voto popular. Mondale, ex-vice-presidente com Carter, só obteve 13 mandatos - dez do seu estado natal, Minnesota, e três do distrito federal, praça-forte democrata. Era a segunda maior vitória de um candidato no colégio eleitoral desde 1820 - e a maior de um republicano. Reagan triunfou até em tradicionais bastiões do partido rival: Nova Iorque, Oregon, Rhode Island, Massachusetts, Washington e Havai.

EUA: as cinco eleições mais renhidas

Pedro Correia, 05.10.24

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John Kennedy e Richard Nixon: apenas 120 mil votos os separaram nas presidenciais de 1960

 

Estas foram as cinco eleições presidenciais mais renhidas nos EUA até hoje, com desfechos decididos à tangente e por vezes envoltos em enorme polémica:

 

1824

Primeira corrida presidencial norte-americana em que o vencedor acabou por não ser o mais votado. Outras quatro se seguiram: a mais recente aconteceu em 2016, quanto Donald Trump saiu eleito. John Quincy Adams - à época secretário de Estado - triunfou sem maioria nas urnas, obtendo apenas mais um delegado no colégio eleitoral. Num escrutínio inicialmente inconclusivo, com desfecho transferido para a Câmara dos Representantes, ao abrigo da 12.ª emenda constitucional, e entre alegações de fraude. O general Andrew Jackson, derrotado, viria a desforrar-se quatro anos depois, ao vencer Adams. Curiosamente, militavam ambos no há muito extinto Partido Democrático Republicano.

 

1876

Dois governadores opuseram-se nesta disputa eleitoral: o republicano Rutherford Hayes, do Ohio, e o democrata Samuel Tilden, de Nova Iorque. O escrutínio foi marcado por duras acusações mútuas de fraude e o apuramento dos votos arrastou-se de Novembro de 1876 a Março de 1877. Só ficou decidido após controversa deliberação das duas câmaras do Congresso. Tilden (50,9%) obteve maior percentagem do que Hayes (47,9%) e mais 250 mil votos populares. Mas o republicano, tendo eleito só mais um delegado (185-184), conseguiu vencer. Sem convencer.

 

1880

Foi a primeira eleição presidencial após o longo período de Reconstrução na metade Sul do país iniciado com o fim da guerra civil, em 1865, e prolongado até 1877. Numa época em que havia muito menos eleitores e até menos estados do que hoje, impôs-se nas primárias republicanas o congressista James Garfield. Derrotou nas urnas, por uma unha negra, o democrata Winfield Scott Hancock, general unionista e herói nos campos de batalha. Apenas 1898 votos os separaram na eleição directa: o vencedor recolheu 48,3% dos sufrágios, só uma décima acima do rival. Nunca houve diferença tão ínfima na história das corridas à Casa Branca.

 

1960

Depois de derrotar Hubert Humphrey e Lyndon Johnson nas primárias, o senador John Kennedy emergiu como candidato do Partido Democrata. Enfrentou nas urnas o republicano Richard Nixon, que durante oito anos fora destacado membro da administração Eisenhower, como vice-presidente. Houve apenas cerca de 120 mil votos a separá-los num escrutínio que mobilizou 68,8 milhões de norte-americanos. Kennedy (49,7%) venceu por 303-219 no colégio eleitoral. Mas Nixon (49,6%) sagrou-se vencedor em mais estados: 26 contra 22.

 

2000

Jamais uma disputa em era contemporânea foi tão acesa como a que opôs o republicano George W. Bush (47,9%), governador do Texas, ao democrata Al Gore (48,4%), vice-presidente dos EUA. A tal ponto que, tendo ocorrido a 7 de Novembro, só cinco semanas depois seria proclamado o vencedor: Bush triunfou no colégio eleitoral com 271 votos contra os 266 de Gore, registando-se imensa polémica em torno do apuramento dos resultados na Florida, estado governado por Jeb Bush, irmão de George. A questão subiu ao Supremo Tribunal, mas Gore recusou prolongá-la, reconhecendo a derrota a 13 de Dezembro. No entanto, recolheu mais cerca de meio milhão de votos: pela primeira vez desde 1888 um presidente era eleito sem maioria de apoio popular.

Opções claras: a política está de volta

Pedro Correia, 08.08.24

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Kamala Harris e Tim Walz: o duo democrata na corrida à Casa Branca

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Donald Trump e J. D. Vance: o duo republicano na corrida à Casa Branca

Anteontem fiquei algo perplexo com a escolha de Kamala Harris para seu parceiro na corrida presidencial. Tim Walz, candidato a vice-presidente oriundo do Minnesota, estado tradicionalmente fiel ao voto nos democratas e conotado com a ala mais à esquerda deste partido.

Hoje, pensando melhor, considero que faz sentido. É uma réplica à escolha do Trump. O republicano foi buscar um candidato não moderado, que reforça muito o perfil conservador da sua candidatura (ultrapassando-o até pela direita, se é que este conceito geográfico ainda faz sentido). Harris traçou uma linha simétrica: foi buscar alguém que a iguala ou até ultrapassa em "esquerdismo" (reitero a ressalva anterior).

O que teremos afinal?

Um claro debate ideológico, opções muito diferentes em confronto aberto. Sem nenhum "centrão" a intrometer-se, sem vozes moderadas a atrapalhar.

Enfim, a velha política dicotómica está de volta. Não era isso que muitos pretendiam, dentro e fora dos Estados Unidos da América?

Neste aspecto estaremos sem dúvida perante o maior confronto presidencial do século XXI até agora. Posições firmes, sem ambiguidades, muito antagónicas, tendencialmente extremadas.

Gostemos ou não, é aquilo a que alguns ainda chamam democracia.

As eleições americanas e a nossa defesa

Paulo Sousa, 26.07.24

A cada eleição presidencial nos EUA é interessante ver como deste lado do Atlântico as opiniões se inflamam e indignam com as escolhas dos americanos. Dadas as diferenças históricas e sociológicas, é comum que sejam os candidatos democratas que reúnem mais apoio entre os europeus, mas a nossa inelegibilidade para ali votar faz com que esse apoio não conte para nada.

À importância global da, ainda, maior potência da actualidade, junta-se a forma como as notícias sobre a eleição presidencial são divulgadas, em que a fronteira entre a informação e o conteúdo de entretenimento, é reduzida à escala milimétrica.

Desde o desmoronamento da União Soviética, mas especialmente desde a ascensão internacional da China, que o antigo Império do Meio passou a ser a potência desafiadora da hegemonia norte-americana. Em resultado disso, o interesse estratégico dos EUA no espaço euro-atlântico diminuiu drasticamente.

Em micro-economia existe o conceito de externalidade, que pode ser negativa ou positiva. Os exemplos são inúmeros, desde as consequências que os habitantes de uma povoação sofrem por ali se instalar uma empresa poluidora (externalidade negativa), até ao benefício substantivo no bairro onde é construída uma esquadra policial. Nenhuma destas ocorrências depende de quem delas beneficia ou por elas é prejudicado.

Durante a segunda metade do século passado, a Europa ocidental beneficiou de uma externalidade positiva, que resultava dos interesses estratégicos dos EUA. Perante tão sólido e duradouro chapéu de chuva, muita da capacidade orçamental dos países europeus foi transferida da defesa para os benefícios sociais à sua população.

É com este enquadramento como pano de fundo que assistimos à mudança geográfica da origem da maior ameaça à hegemonia americana. A sua rotação do espaço euro-atlântico para a ásia-pacifico têm consequências objectivas na segurança europeia. Regressando à comparação anterior, os EUA irão por isso transferir capacidades para outra “esquadra” devolvendo assim aos europeus parte da responsabilidade em assegurar a própria defesa.

Este facto, apesar de bastante anunciado e divulgado, deixou muitos europeus incrédulos e até chocados. No caso de uma vitória de Trump nas próximas eleições, tudo aponta para que a Nato veja reduzida a participação dos EUA, o que coloca enormes desafios aos governos europeus. Essa é a esperança de Putin e de quem lhe suceda.

Trump tem uma enorme capacidade de criar grande repulsa. Isso resulta do seu percurso pessoal e criminal, da sua propensão para o autoritarismo, do seu desprezo antidemocrático pelos adversários, da arrogância sem freio, da sua misoginia e racismo, da sua incapacidade de se rir de uma piada e da sua postura geral de pessoa desagradável. Para os europeus, a toda esta lista, junta-se o receio do anunciado enfraquecimento da Nato.

Mas como quem vota nas eleições norte-americanas são os seus cidadãos, e muitos deles são sociologicamente bastante diferentes da maioria dos europeus, não vale a pena os classificarmos como incultos, rednecks, white trash, ou o que seja, pois nada que façamos irá alterar as suas convicções, nem o seu sentido de voto. Podemos fazer figas, rezas ou desconjuros (os esconjuros já foram feitos pela nata evangélica do GOP) pela vitória da candidata democrata, mas não mais do que isso.

O que importa tomar consciência é que, sem outras mudanças, a nossa segurança actual depende de eleições nas quais não votamos. Sem Putin, ou outro ditador russo que o substitua, tal não seria um assunto de tremenda importância, mas, exactamente por isso, importa tomar consciência que nas próximas décadas a nossa relação com a defesa, o nosso empenho com as forças armadas e a relação com os nossos aliados terá de ser mais intensa e exigente. Os nossos adolescentes devem ser informados que com elevada probabilidade serão chamados para o restabelecimento do SMO. Já aqui falei sobre isso, e até já sabemos que cerca de 47% dos portugueses são favoráveis a esta ideia.

Do resultado das eleições americanas não resultará a necessidade de fazermos mudanças, mas apenas a sua urgência.

Talvez seja melhor refrear o entusiasmo

Pedro Correia, 25.07.24

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Com espanto, vejo à minha volta aqui por Lisboa vários devotos de Donald Trump seguirem com maior fervor a pré-campanha presidencial nos EUA do que alguma vez terão acompanhado uma campanha qualquer em Portugal.

Talvez isto seja sintoma de que somos já irremediavelmente colonizados pelos norte-americanos. Não apenas do ponto de vista cultural, mas do ponto de vista político. E nem falta até quem gostasse de ver transposto para este nosso cantinho ocidental da Europa o sistema eleitoral lá dos States.

Lamento, mas estou no campo oposto. Detestaria ver por cá uma lei eleitoral capaz de permitir a eleição para a Casa Branca de alguém que recolheu menos meio milhão de votos do que o rival (aconteceu com George W. Bush em 2000, contra Al Gore) ou até menos três milhões de votos (aconteceu com Trump em 2016, contra Hillary Clinton).

 

Entretanto, a esses meus amigos que andam tão entusiasmados com Trump ao ponto de jurarem que será «ainda mais fácil derrotar Kamala Harris do que Joe Biden», gostaria só de lhes lembrar o seguinte: dos 18 presidentes norte-americanos do século XX, sete foram vice-presidentes.

Eis os seus nomes:

Theodore Roosevelt

Calvin Coolidge

Harry Truman

Lyndon Johnson

Richard Nixon

Gerald Ford

George Bush.

 

Cinco republicanos, dois democratas. Equivalem a 38% do total.

Durante um século. Em número suficiente para desenhar uma tendência.

Quem pensar que é irrelevante, estará muito enganado.

Eis um tema que motivará certamente dezenas de textos no DELITO DE OPINIÃO nos próximos três meses. Ainda a procissão mal chegou ao adro.

Não é um homem vulgar

Sérgio de Almeida Correia, 24.07.24

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A decisão do presidente Biden de se retirar da corrida presidencial e desistir de concorrer às eleições de Novembro para tentar a renovação do mandato foi a todos os títulos um acto de grande dignidade e nobreza política.

Pressionado por alguns dos membros do seu próprio Partido Democrata, depois de vários deslizes, sempre vistos, tal a frequência, como mais do que simples lapsos, e na sequência de uma desastrosa prestação televisiva no debate de 28/06/2024 com Donald Trump, onde foram notáveis as suas dificuldades e se percebeu que não estava na posse de todas as faculdades de que fez uso nos últimos cinquenta anos da sua vida pública, Joe Biden fez a análise que se impunha e tomou a única decisão que um político de estatura, um homem de Estado e decente podia subscrever, renunciando à reeleição.

Como já alguém escreveu Biden não é "an average Joe". 

Com o seu gesto, old Joe relançou as hipóteses de eleição de um presidente da sua área política.

A indicação de Kamala Harris, vice-presidente, como sua escolha para ocupar o lugar mostrou ser uma jogada hábil que ficará agora dependente de confirmação com a sua nomeação como candidata pela convenção do partido e do resultado que as urnas ditarem lá mais para a frente.

A eventual eleição de Kamala, mulher inteligente, com formação académica, reputação profissional intocável e experiência política, cuja campanha para procuradora na Califórnia foi ademais, anteriormente, financiada pelo próprio Trump, que viu nela as qualidades necessárias,  pode ser o impulso decisivo para ser dada continuidade ao trabalho do velho Biden, mantendo os Estados Unidos da América nos carris do republicanismo, da herança democrática e devolvendo elevação à política interna e segurança à externa, em prol de um mundo mais justo, mais equilibrado e com menos armas.

Quanto ao mais, vamos aguardar para ver qual a disponibilidade de Trump para se apresentar em debates com Kamala. Ele que disse que seria mais fácil derrotá-la do que a Biden.

Para já, o cafre desavergonhado que irá representar o Partido Republicano deverá começar a ficar preocupado com as sondagens. O velho sem capacidades, posto que qualidades nunca as teve, passou a ser Trump.

E não lhe será fácil, desta vez, agarrar Kamala por ali, por onde ele dizia que seria mais fácil. Esta não é igual a algumas das outras, não está numa situação de dependência. E aprendeu na sua vida profissional a lidar com escroques.

O caduco contra o proto-mártir

Pedro Correia, 18.07.24

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Algumas capas de revista funcionam como editoriais. Sem sequer necessidade de imprimirem palavras. Esta, da Economist, surgiu a 6 de Julho com o título «Não é maneira de dirigir um país». Nela não figura o rosto de Joe Biden, nem isso é necessário: todos captam de imediato a mensagem. Cruel, sem dúvida. E dolorosa. Um andarilho com o selo presidencial dos Estados Unidos. Que andam muito desunidos. A tal ponto que não falta quem fale em guerra civil de baixa intensidade e até num novo processo separatista, semelhante ao que em 1860 levou à sangrenta secessão dos Estados sulistas. Com as armas viradas para dentro, não para fora.

É óbvio que Joe Biden deixou de reunir condições físicas e anímicas para concorrer a novo mandato de quatro anos naquele que é o mais desgastante cargo político do planeta. Já assim era antes do seu patético desempenho no frente-a-frente televisivo com Donald Trump e dos disparates em catadupa que foi debitando na recente cimeira da OTAN, em Washington. Em Novembro - mês do próximo escrutínio presidencial - terá 82 anos. Idade mais do que suficiente, em qualquer parcela do mundo civilizado, para um cidadão usufruir da reforma a que tem pleno direito. Por todos os motivos, incluindo este, é o momento de dar lugar a alguém ainda jovem. Convém recordar que até hoje o mais idoso inquilino da Casa Branca foi Ronald Reagan: tinha 78 anos incompletos quando cessou funções.

Esta reflexão, repito, já era necessária antes da tentativa de assassínio de Donald Trump, sábado passado, na Pensilvânia. Desde então, tornou-se imperiosa. Aquela saraivada de tiros de que o antecessor de Biden escapou à tangente, quase incólume, alterou todo o clima psicológico da vida pública nos EUA, com inevitáveis reflexos na pré-campanha eleitoral. O recandidato republicano beneficia agora de evidente dinâmica de vitória. Um político caduco contra um proto-mártir: o tabuleiro tornou-se muito desequilibrado. A mudança no campo democrata é quase obrigatória. As pressões nesse sentido vão-se acentuando, como ficou patente ao longo do dia de ontem.

Neste contexto, a capa da Economist, tão cruel para Biden, tem forte carácter premonitório. Antecipa o que acabará por acontecer tão cedo quanto possível. Antes que seja tarde de mais.

O Determismo Reducionista

jpt, 07.07.24

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Através das "redes sociais" (pérfido instrumentos de alienação, como adiante se verá) dois amigos enviam-me declarações de teor político emanadas agora por três romancistas. Um enviou-me o texto no "El País" com breve entrevista de Michel Houellebecq sobre as eleições francesas de hoje, na qual ele - enquanto, até distraidamente, deixa cair o seu sentido de voto avesso ao pacote lepenista - se declara "pessimista e resignado" e avança, ainda que num registo conversacional algo superficial, algumas causas sociológicas para a complexa deriva francesa.
 
Outra amiga, cruel, enviou-me o "Expresso", em óbvio convite para que eu lesse os artigos de Miguel Sousa Tavares e Clara Ferreira Alves, que há décadas acompanham os nichos de classe média leitora do semanário. São duas, longas (estes colunistas têm direito a página inteira), bojardas, ignaras, nisto até indignas. Pouco francesas, dir-se-ia se comparando com o exemplo anterior. Aquilo a que décadas atrás, quando se discutia o efeito do marxismo, se chamava "determinismo", "reducionismo economicista (tecnológico)". Os dois "fazedores de opiniões" dos licenciados lusos de meia-idade e seniores, abordam as eleições mundiais actuais, atribuindo a viragem "à direita" à perniciosa e malévola influência das redes sociais, à instrumentalização executada pelos seus magnatas. CFA centra-se no debate presidencial americano e vê o evidente colapso democrata como causado pelos tais magnatas - nem um caractere sobre as características do plutocrata sistema político americano, sobre a sua socioeconomia, sobre a degenerescência do partido democrata, sobre a sua incapacidade de gerar em XXI candidatos e ideários. Pois a "culpa" é das redes sociais.
 
MST insurge-se contra este generalizado "Triunfo dos ressabiados". Diante deste seu título logo me lembro de quando há uma década voltei ao país e encontrei esta constante utilização por parte dos socialistas e seus compagnons de route. Todos nós, que vozeávamos contra o miserável socratismo e a cáfila dos seus apoiantes, éramos ditos "ressentidos" e "ressabiados" - um antigo meu colega e, depois, chefe, teve até a descarada lata de cortar relações comigo, por razões "políticas", usando esses termos. Ou seja, todos os que nos opunhamos a este lamaçal antidesenvolvimentista sofreríamos de doenças de foro psicológico, por causas psicóticas (o "ressentimento") ou orgânicas (o "ressaibo"). Era - e essa escumalha socratista, estadodependente, nem o percebia - a tradução lusa, nos nossos propalados "brandos costumes", da velha prática soviética: os "dissidentes" eram doentes psíquicos e deviam ser internados em hospícios.
 
E MST vem agora preencher mais uma das suas páginas de "Expresso" com estes disparates, tão queridos dos tais leitores "classe-média". Aborda um feixe de eleições recentes (e manipula tanto que foge a referir as últimas eleições britânicas que não lhe dariam jeito ao ditirambo), funda os seus resultados no "algoritmo" das redes sociais, atribui a "viragem à direita" à ignorância dos povos, dos jovens e, claro, ... à ultrapassagem da mediação dos jornalistas. Ou seja, antes é que era bom, reinava a "iluminação" global.
 
Entretanto os imbecis, licenciados, continuam a comprar esta tralha "Expresso". E, pior, a ler estes "intelectuais" da treta. E consomem os produtos que publicitam no douto semanário.
 
E nós outros, "ressentidos" e "ressabiados", chafurdamos, orgásticos, sob o Algoritmo.

Trump

José Meireles Graça, 08.11.20

E pronto, o eleitorado americano calçou uns patins a Trump. Mesmo que este tenha razão na alegação de numerosas chapeladas (e terá, a esquerda lá e cá funda a sua legitimidade na superioridade moral das suas posições, e portanto tem um incentivo para cortar nos cantos da democracia formal em nome de um bem maior) é implausível que as aldrabices (para não falar das dificuldades de prova) sejam suficientes para obscurecer a diferença de votos, mais de 4 milhões, mesmo que nos Estados que, por terem deixado de ser vermelhos para passar a ser azuis, ela seja insignificante ou muito pequena (à volta de 0,6% no Wisconsin,  2,6% no Michigan e, sobretudo, 0,6% na Pensilvânia, que, no conjunto, representam 46 votos).

O velho Trump foi vítima do seu feitio e da sua incontinência verbal - não lhe bastava uma comunicação social hostil, que lá como cá há muito substituiu qualquer pretensão de contar histórias, relatar notícias, e guardar as opiniões para as respectivas colunas, para passar a inventar umas, seleccionar as outras, e tingir tudo com a defesa de causas que invariavelmente são as da esquerda. Foi semeando um rasto de insultos gratuitos (como o feito a John McCain) e um impressionante rol de contradições e palavreado chulo no seu meio de eleição, o Twitter, um esgoto a céu aberto para iletrados. Twitter que aliás lhe cortou com descaramento o pio várias vezes porque a plutocracia que manda nas redes entende que tem o direito de educar as multidões, um abuso que Trump, se tivesse sido reeleito, haveria de querer coarctar.

Se tivesse juízo e na sua cabeça um tanto primária coubessem muitas variáveis, já teria concedido: há guerras que, em nome de bens maiores, não vale a pena travar; e perder, quando se deixa uma herança honrosa, não transforma ninguém em loser – a democracia não é o regime em que o povo tem razão, é aquele em que tem legitimidade para dar e tirar poder a quem o entregou.

E é honrosa, a herança? Claro que sim. A ideia de que se pode ter razão, e encontrar apoios, quando se ofendem os bonzos da opinião publicada; que os consensos de especialistas em geoestratégia, imigração, clima, ambiente, economia, saúde pública e o mais que afecta a vida da colectividade podem ser ignorados quando o senso, análise de custo/benefício, detecção de interesses ocultos, e opiniões qualificadas alternativas, apontam outro caminho: é o melhor que Trump deixa. Biden é um escravo do establishment, e a sua vice, provavelmente, uma esquerdista raivosa. Quando chegar a hora de os mandar à vida o agente dessa salutar mudança terá menos problemas em dizer o que lhe vai na alma porque o gelo do conformismo já está quebrado.

Gente que precisa de descer ao concreto apreciará talvez uma lista em que tropecei por acaso, no Facebook (outra rede que precisa de uma severa vergastada pelas costas abaixo, a ver se deixa de policiar o discurso), de Bruno Gouveia. Não conferi, nem concordo com todas as medidas. Mas como herança não está mal. Donald, que passou a vida a dizer olhem para o que eu digo, não o que faço, deveria ter recomendado o oposto. E, saindo, nem por isso deixa de ser, de muito longe, o candidato mais votado de sempre: 71 milhões votaram nele e 75 milhões contra ele.

* Três projetos de lei para beneficiar os povos nativos. Um compensa a tribo Spokane pela perda das suas terras em meados de 1900, outro financia programas de língua nativa e o terceiro dá reconhecimento federal à tribo Chippewa em Montana.

* Finalizou a criação da Força Espacial como o 6º braço militar.

* Lei para tornar a crueldade com os animais um crime federal para que os abusadores de animais enfrentem consequências mais duras.

* O crime violento caiu a cada ano em que ele esteve no cargo, após ter aumentado durante os 2 anos antes de ele ser eleito.

* US $100 milhões para consertar o problema de infraestrutura de água em Flint, Michigan.

* Em 2018, os EUA ultrapassaram a Rússia e a Arábia Saudita para se tornarem o maior produtor mundial de petróleo bruto.

* Lei que impõe aos farmacêuticos a partilha de informações sobre preços de medicamentos.

* O “Allow States and Victims to Fight Online Sex Trafficking Act” (FOSTA), que inclui a “Stop Enabling Sex Traffickers Act” (SESTA), que tanto dá aos policias como às vítimas novas ferramentas para combater o tráfico sexual.

* Projecto de lei que exige que os aeroportos forneçam locais adaptados a mães que amamentam.

* Os 25% de norte-americanos com rendimentos mais baixos tiveram um aumento de rendimentos de 4,5% em novembro de 2019.

* O maior projecto de lei de protecção e conservação da natureza numa década, que designou 375.000 acres como área protegida.

* O Save our Seas Act, que financia US $10 milhões por ano para limpar toneladas de plástico e lixo do oceano.

* Projecto de lei que permitiu a importação de medicamentos do Canadá para que os preços dos medicamentos caíssem.

* Uma ordem executiva que força todos os provedores de saúde a divulgarem o custo dos seus serviços para que os americanos possam comparar preços.

* Ao assinar a ordem, Trump disse que nenhum americano deveria ser apanhado de surpresa por contas de serviços médicos com os quais nunca concordou antecipadamente.

* Os hospitais agora são obrigados a anunciar as suas taxas padrão de serviços, que incluem o preço com o desconto que um hospital está disposto a aceitar.

* Nos oito anos anteriores à sua posse, os preços dos medicamentos prescritos aumentaram em média 3,6% ao ano. Com Trump, os preços dos medicamentos registaram quedas ano a ano e em nove dos últimos dez meses, com queda de 1,1%.

* Criou uma Linha Direta de VA da Casa Branca para ajudar os veteranos e familiares directos de veteranos.

* Os funcionários da VA são responsabilizados por mau desempenho, com mais de 4.000 funcionários da VA removidos e suspensos até agora.

* Ordem executiva que exige que os Secretários de Defesa, Segurança Interna e Assuntos de Veteranos apresentem um plano conjunto para fornecer aos veteranos acesso a tratamento de saúde mental durante a transição para a vida civil.

* Por causa de um projecto de lei assinado e defendido por Trump, em 2020, a maioria dos funcionários federais verá seu salário aumentar em média 3,1% - o maior aumento em mais de 10 anos.

* Sancionou uma lei de até 12 semanas de licença parental paga para milhões de trabalhadores federais.

* Fornecimento de medicamentos de prevenção do HIV gratuitamente a 200.000 pacientes sem seguro, por ano, durante 11 anos.

* Trump assinou um pedido que permite que pequenas empresas se agrupem na compra de seguros para obter um preço melhor.

* A Lei de Prevenção de Mortes Maternas, que fornece financiamento para a redução das taxas de mortalidade, mais altas para negros americanos.

* Em 2018, assinou o inovador First Step Act, um projecto de lei de justiça criminal que promulgou reformas que tornam o sistema de justiça mais justo e ajudam ex-presidiários a retornar com sucesso à sociedade.

* As reformas do First Step Act abordaram as injustiças nas leis de condenação que prejudicavam desproporcionalmente os negros americanos e reformaram os mínimos obrigatórios para revisão de sentenças injustas.

* Mais de 90% dos que beneficiam das reduções retroactivas de penas no First Step Act são negros americanos.

* O First Step Act oferece programas de reabilitação para presidiários, ajudando-os a reintegrar na sociedade e a não retornar ao crime.

* Aumentou o financiamento para Faculdades e Universidades Historicamente Negras (HBCUs) em mais de 14%. Aliás, essa foi das suas primeiras medidas assim que tomou posse.

* Assinou legislação perdoando a dívida do furacão Katrina que ameaçava os HBCUs.

* As vendas de novas residências unifamiliares tiverem aumentos de 31,6% em outubro de 2019, inferiores aos registados apenas um ano antes.

* Tornou as HBCUs uma prioridade ao criar o cargo de director executivo da Iniciativa da Casa Branca em HBCUs.

* Recebeu o Prémio Bipartidário da Justiça numa faculdade historicamente negra, pelas suas reformas da justiça criminal.

* A taxa de pobreza caiu para um mínimo de 11,8% em 17 anos.

* As taxas de pobreza para afro-americanos e hispano-americanos atingiram os seus níveis mais baixos desde que os EUA começaram a reunir esses dados.

* Projecto de lei que cria cinco monumentos nacionais, expande vários parques nacionais, adiciona 1,3 milhão de acres de área selvagem e reautoriza permanentemente o Fundo de Conservação de Terra e Água.

* Comprometeu US $124 milhões para reconstruir a infraestrutura de água rural.

* Mais de 7 milhões de empregos criados desde a eleição.

* Mais de 400.000 empregos industriais criados desde sua eleição.

* Nomeou 5 embaixadores abertamente gays.

* Ordenou que Ric Grenell, seu embaixador assumidamente gay na Alemanha, liderasse uma iniciativa global para descriminalizar a homossexualidade em todo o mundo.

* Por meio da iniciativa Anti-Trafficking Coordination Team (ACTeam), a polícia federal mais do que dobrou as condenações de traficantes de seres humanos e aumentou o número de réus acusados em 75% nos distritos da ACTeam.

* Em 2018, o Departamento de Justiça (DOJ) desmantelou uma organização que era a principal fonte da Internet de anúncios relacionados com a prostituição resultando em tráfico sexual.

* Novas orientações anti-tráfico para combater mais eficazmente o tráfico humano.

* As Investigações de Segurança Interna da Imigração e Alfândega prenderam 1.588 criminosos associados ao tráfico humano.

* O Departamento de Saúde e Serviços Humanos forneceu fundos para apoiar o National Human Trafficking Hotline para identificar os perpetradores e dar às vítimas a ajuda de que precisam.

* A linha directa identificou 16.862 casos potenciais de tráfico humano.

* Forneceu subsídios para organizações que apoiam vítimas de tráfico humano - atendendo a quase 9.000 casos de 1 de julho de 2017 a 30 de junho de 2018.

* O Departamento de Segurança Interna contratou mais especialistas em assistência às vítimas, ajudando as vítimas a obter recursos e apoio.

* Pediu ao Congresso que aprove uma legislação de escolha de escola para que nenhuma criança fique presa a uma escola por causa de seu código postal.

* Assinou uma legislação de financiamento em setembro de 2018 que aumentou o financiamento para a escolha de escolas em US $42 milhões.

* Os cortes de impostos promovem a escolha da escola, permitindo que as famílias usem 529 planos de poupança para o ensino fundamental e médio.

* Sob sua liderança, o ISIS perdeu a maior parte de seu território e foi amplamente desmantelado.

* O líder do ISIS, Abu Bakr Al-Baghdadi, foi morto.

* Assinou a primeira reautorização CTE da Perkins desde 2006, autorizando mais de US $mil milhões para os estados a cada ano financiar programas de educação vocacional e de carreira.

* Ordem executiva expandindo as oportunidades de aprendizagem para alunos e trabalhadores.

* Ordem executiva proibindo o governo dos EUA de discriminar os cristãos ou punir expressões de fé.

* Ordem executiva que permite ao governo reter dinheiro de campus universitários considerados anti-semitas e que não conseguem combater o anti-semitismo.

* Ordenou a suspensão do dinheiro dos impostos dos EUA para organizações internacionais que financiam ou realizam abortos.

* Impôs sanções aos socialistas na Venezuela que mataram os seus cidadãos.

* Concluído acordo comercial com a Coreia do Sul.

* Acordo com a União Europeia para aumentar as exportações de energia dos EUA para a Europa.

* Retirou os EUA do acordo TPP.

* Garantiu US $250 mil milhões em novos acordos comerciais e de investimento na China e US $12 mil milhões no Vietnam.

* Concedeu até US $12 mil milhões em ajuda para agricultores afectados por retaliação comercial injusta.

* Já libertou mais de uma dúzia de reféns dos EUA, incluindo aqueles que Obama não conseguiu libertar.

* Assinou a Lei de Modernização da Música, a maior mudança na lei de direitos autorais em décadas.

* “Iniciativa Pronto para Trabalhar” para ajudar a conectar os empregadores directamente com ex-presidiários.

* A legislação histórica de corte de impostos incluiu novos incentivos para promover o investimento em comunidades mais pobres em todo o país.

* 8.764 comunidades em todo o país foram designadas como zonas de oportunidade.

* As zonas de oportunidade devem gerar US $100 mil milhões em investimentos de capital privado de longo prazo em comunidades economicamente desfavorecidas em todo o país.

* Sancionou o Fundo de Compensação de Vítimas do 11 de Setembro.

* Assinou programas de financiamento de prevenção ao suicídio de veteranos.

* O mercado de acções atingiu recordes históricos.

* O desemprego afro-americano atingiu o nível mais baixo de sempre.

* O desemprego hispano-americano atingiu o nível mais baixo de sempre.

* O desemprego asiático-americano atingiu o nível mais baixo de sempre.

* A taxa de desemprego feminino há 65 anos que não era tão baixa.

* O desemprego juvenil há 50 anos que não era tão baixa.

* A menor taxa de desemprego já registada.

* The Pledge to America’s Workers resultou no compromisso de empregadores em treinar mais de 4 milhões de americanos.

* Como resultado da lei tributária republicana, as pequenas empresas têm a taxa marginal máxima mais baixa em mais de 80 anos.

* Número recorde de regulamentos eliminados que prejudicam as pequenas empresas.

* Reforma da previdência exigindo que adultos fisicamente aptos que não têm filhos trabalhem ou procurem trabalho se estiverem na previdência.

* O FDA aprovou medicamentos genéricos mais acessíveis do que nunca na história.

* Programa reformado do Medicare para impedir que os hospitais sobrecarreguem os idosos de baixos rendimentos com seus medicamentos.

* Legislação do direito de experimentar, permitindo que pacientes terminais experimentem o tratamento experimental que não era permitido antes.

* Assegurou US $6 mil milhões em novos fundos para combater a epidemia de opioides.

* Assinou o VA Choice Act e VA Accountability Act, expandiu os serviços de tele-saúde VA, ambulatórios e atendimento de saúde mental e primário urgente no mesmo dia.

* A produção de petróleo dos EUA atingiu o máximo de todos os tempos, tornando os US menos dependentes do petróleo do Médio Oriente.

* Os EUA são exportadores líquidos de gás natural pela primeira vez desde 1957.

* Os aliados da NATO aumentaram os seus gastos com defesa por causa da sua campanha de pressão.

* Retirou os Estados Unidos do Acordo Climático de Paris e, no mesmo ano, os EUA lideraram o mundo por terem a maior redução nas emissões de carbono.

* Juízes do tribunal de circuito confirmados mais rapidamente do que em qualquer outra nova administração.

* Mudou a Embaixada dos EUA em Israel para Jerusalém.

* Concluiu um novo acordo comercial com México e Canadá.

* Chegou a um acordo inovador com a UE para aumentar as exportações dos EUA.

* Tarifas impostas à China em resposta à transferência forçada de tecnologia da China, roubo de propriedade intelectual e suas práticas comerciais cronicamente abusivas, concordou com um acordo comercial com a China.

* Legislação assinada para melhorar a Linha Directa Nacional de Suicídios.

* Legislação de cancro infantil mais abrangente de todos os tempos, que avançará na pesquisa do cancro infantil e aprimorará os tratamentos.

* A Lei de Reduções de Impostos e Empregos, dobrou o valor máximo do crédito tributário infantil disponível para os pais e elevou os limites de rendimentos para que mais pessoas pudessem reivindicá-lo.

* Sancionou a lei de um aumento de US $2,4 mil milhões no financiamento do Fundo de Cuidado e Desenvolvimento Infantil, fornecendo um total de US $8,1 mil milhões aos Estados para financiar o cuidado infantil para famílias de rendimentos mais baixos.

* O Crédito Tributário para Cuidados de Crianças e Dependentes (CDCTC) fornece um crédito fiscal igual a 20-35% das despesas com cuidados infantis, $3.000 por criança e $6.000 por família + Contas de Despesas Flexíveis (FSAs).

* Em 2019, assinou a Lei de Colaboração, Responsabilidade, Pesquisa, Educação e Apoio do Autismo (CARES) que aloca US $1,8 mil milhões em financiamento nos próximos cinco anos para ajudar pessoas com transtorno do espectro do autismo e para ajudar as suas famílias.

* Em 2019, sancionou dois pacotes de financiamento que fornecem quase US $19 milhões em novos financiamentos para programas de pesquisa e educação específicos para o lúpus, bem como US $41,7 mil milhões adicionais em financiamento para o National Institutes of Health (NIH), o maior financiamento de Lúpus de SEMPRE.

O que não fez Trump em 4 anos? Será também por isto que o odeiam?

* Não fez guerra com nenhum país, quer do Médio Oriente ou qualquer outro.

*Trump não alterou uma virgula à legislação sobre emigração existente. Limitou-se a cumpri-la.

*Quem começou a contruir o Muro, foi Clinton.

Bush e Obama continuaram e não acabaram.

* Quem primeiro separou os filhos dos supostos pais emigrantes ilegais e os instalou em jaulas foi Obama.

*. A única coisa que os EUA não cumprem do Acordo de Paris é pagarem à China e a outros para que esses possam poluir à vontade.

*Os EUA continuam a respeitar todas as regras e são os que este ano mais cumpriram.

Aliás, os EUA, que nunca ratificaram o Tratado de Kioto, foram os únicos que o cumpriram. Portugal e muitos outros países ratificaram, mas nunca o cumpriram.

* Trump não se limitou a eliminar um terrorista, eliminou mais de que um. Com pré-aviso às populações afegãs em risco, lançou a maior bomba não nuclear que existe sobre os talibãs e pôs os afegãos em negociações de paz.

* Levou ao Acordo de Paz entre Israel e a Palestina.

Acerca da dita "primeira-dama"

jpt, 07.11.20

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Abaixo botei um postal sobre Melania Trump, e provocou algum acinte nos comentários. Regresso ao tema: nada me move contra a senhora, que é, para meu gosto, muito bem apessoada, razão mais do que suficiente para o meu apreço. Apenas usei o assunto para sarcasmo. Pois muito me irrita isto das pessoas se verem como muito progressistas, atentas às boas causas - à antigamente dita "condição feminina", termo entretanto substituído por "género" , em particular - e que assaltam (ou louvam) a personalidade das esposas dos políticos de que gostam ou que repudiam. E, pior ainda, andam por aí - e quantos e quantas dizendo-se "feministas" - avaliando o desempenho das "primeiras-damas" (mulheres de presidentes da república e mesmo de presidentes de tantas outras coisas ...)

Enfim, a este propósito, e porque é fim-de-semana, aqui coloco um velho postal meu, de 13 de Abril de 2004. É sobre esse tipo de "progressistas", que seguem ufanos - tantos deles agorta muito críticos da mulher de Trump.

Cônjuges presidenciais

Quero chamar a atenção para um aspecto anti-democrático no exercício do sistema político (...)  que trai a República, provável que inconstitucional, decerto que imoral: a existência de uma chamada "primeira-dama", com direito a gabinete e a colaboradores, e de quem se espera e aceita uma actividade pública enquanto tal. Deslize monárquico, mas não sobrevivência - gostaria de ver alguém conhecedor escrever sobre as "primeiras-damas" da I República para poder sedimentar esta ideia de uma posterior, e muito contemporânea, reconstrução subreptícia de um ideal de "família presidencial". Ou seja, não se trata de uma mera continuidade da imagem do casal real, é um recurso "monarquizante" devido, muito provavelmente, às pressões do marketing político e a influências externas (First Lady americana como paradigma?).

Nunca nada me moveu contra as Senhoras cônjuges dos Presidentes da República. Mas não lhes posso aceitar nenhum papel público enquanto tal. Como cidadãs sim. Mas nunca como mulheres de (Senhoras de ...). 

Dir-se-á que têm obrigações de representação. Não é nada de natural, é uma opção política. Mas até a aceito. E também que se gaste muito e bom dinheiro com a sua representação.* Mas nada mais. Nenhum outro papel se lhes poderá aceitar. Na República vota-se num cidadão para exercer funções. Apenas isso - e é um enorme, respeitadissimo e, lembre-se em alturas de efemérides políticas, conquistado "Apenas"! Tudo o resto são desvios, graves, à lógica, à moral, à ideologia republicana.

Ainda mais me espanta a cega aceitação de que as Senhoras cônjuges dos Presidentes tenham particular atenção e acção pública em áreas determinadas: a saúde materno-infantil, os desvalidos, a segurança social, o apoio aos idosos, as catástrofes, a educação básica e, aggiornamento óbvio, as minorias étnicas. E, claro, as modas e bordados, perdão, a moda. Mas na sua (ilegítima, repito) acção nunca surgem elas ligadas à investigação científica, aos mineiros, à questão das pescas, ao desporto de alta competição, à indústria, à reforma da administração pública e eníssimos etcs.

Ou seja, no seu (ilegítimo, birrepito) papel as Senhoras cônjuges dos Presidentes nada mais fazem do que repetir a velha divisão sexual de trabalho, as dicotomias de género da família burguesa de XIX-XX: o doméstico, a socialização das crianças, os desvalidos, os doentes e idosos.

Esta é já uma dimensão sobrevivência que uma sociedade em franca transformação das relações de género assiste complacente. E nenhum(a) paladina dos fervores feministas surge reclamando contra este vero folclore. O que me não me espanta. Mas diverte, pois atento ao folclorismo maximalista dessa mole tonitruante.

Para os trinta anos de exercício democrático da República bem que se poderia romper com este atavismo de género. Mas mais do que tudo romper com esta traição ao ideal republicano.

* Li algures que é costume os costureiros portugueses emprestarem vestidos às cônjuges dos presidentes (ou pelo menos deste último: o qual muito prezo, e de quem sou eleitor, para que não se pense que há aqui qualquer ataque pessoal). Que tal acontece principalmente aquando de visitas ao estrangeiro, para divulgação da moda portuguesa. Não sei se isto é verdade. Li e espero que não seja. Porque seria semelhante ao Presidente andar a pedir roupa emprestada nos alfaiates. Ou usar t-shirts da Sumol ou Super-Bock para defesa da indústria portuguesa.

Portanto decido-me, dogmático. O que li é mentira! Se não for, pague-se, pague-se o que for preciso para que a representação do casal presidencial seja o melhor possível. Mas não os usem, nunca, para publicidade empresarial. Qualquer que seja ela.

House of Cards na eleição presidencial americana.

Luís Menezes Leitão, 07.11.20

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Discordo parcialmente desta excelente análise do Pedro. Não há qualquer dúvida de que a forma como estão a decorrer estas eleições está a pôr à prova o regime constitucional americano, do qual já ouvi alguém dizer que vive no séc. XXI com uma constituição do séc. XVIII. É de facto espantoso que um estado como o Nevada, cuja população não chega aos três milhões de habitantes, possa estar há quatro dias a contar votos, quando em Portugal, que tem dez milhões de habitantes, a contagem leva no máximo quatro horas. Desiludam-se, porém, aqueles que pensam que a constituição americana irá ser mudada por causa destas eleições.

Efectivamente, essa constituição representa um equilíbrio entre estados muito diversos e que não é fácil alterar. Na verdade, as emendas à constituição americana necessitam de aprovação nas duas câmaras do Congresso e ratificação por três quartos dos estados e em caso algum a maioria dos estados aceitará a modificação deste sistema eleitoral, mesmo que ele permita que o candidato com menos votos populares ganhe a presidência. Na verdade, a maioria da população americana concentra-se em onze estados, os quais chegariam sempre para eleger um presidente, e nunca os outros 39 estados aceitariam que isso acontecesse. Por isso, ou se ganha no colégio eleitoral, ou não há hipótese de conseguir a presidência. Al Gore e Hillary Clinton sentiram essa dura realidade, quando tiveram mais votos na população eleitora, mas foram logo a seguir relegados para o esquecimento.

É um facto que este sistema abre as portas à fraude, pois não é necessário falsificar as eleições em todo o país, bastando que a falsificação ocorra nalguns estados decisivos, que até podem ter sistemas de controlo eleitoral muito frágeis. Consta que foi isso que ocorreu na eleição de Kennedy contra Nixon, em que a Máfia, liderada por Sam Giancana, que chamava a Kennedy "o nosso homem na Casa Branca", poderá ter despejado sacos de votos nalguns distritos eleitorais, suficientes para que Kennedy conseguisse a vitória. É verdade que Nixon reconheceu imediatamente a derrota, mas apenas porque foi aconselhado a fazê-lo. Ao que consta o partido republicano ter-lhe-á dito: "Toda a gente sabe que tu ganhaste e que esta eleição te foi roubada mas, se não reconheces a derrota, não terás qualquer futuro político, pois ficarás para sempre com a imagem de mau perdedor. Se, no entanto, reconheceres a derrota, como o partido sabe que ganhaste, poderás voltar a concorrer". E assim Nixon tornou-se o único candidato derrotado a concorrer de novo, tendo em 1968 finalmente sido eleito Presidente.

Neste caso, porém, não há qualquer fraude eleitoral em curso, mas apenas uma estratégia de Trump que na noite das eleições percebeu perfeitamente que tinha perdido nos estados decisivos pois, embora estivesse à frente no voto presencial, não tinha margem suficiente para evitar a previsível viragem quando fossem contados os votos por correspondência. Por isso anunciou que iria recorrer aos tribunais para parar a contagem. Não se pense, porém, que essa é uma estratégia inconsequente, uma simples birra de mau perdedor, pois se Biden não conseguir, devido a processos, impugnações, etc, por parte de Trump, que os estados reconheçam que teve 270 votos no colégio eleitoral, não será considerado como Presidente eleito, mesmo que tenha mais delegados do que Trump. Nessa altura a eleição do Presidente será feita pela Câmara dos Representantes e a do Vice-Presidente pelo Senado. Só que, embora os democratas tenham maioria na Câmara, a Constituição estabelece que, para efeitos da eleição do Presidente, a votação é feita por Estados, tendo apenas um voto os representantes de cada Estado. Como os republicanos têm mais estados do que os democratas, poderia assim Trump ser eleito por esta via.

Não julgo que isso vá acontecer, uma vez que era preciso que os tribunais não resolvessem adequadamente as impugnações que Trump irá lançar e acho que o farão rapidamente e de forma muito eficaz, pelo que o colégio eleitoral acabará por ter maioria suficiente para votar a eleição de Biden. Agora, que a estratégia de Trump é essa, julgo ser evidente. Parece-me que estamos a assistir a um episódio da célebre série House of Cards, só que desta vez não é ficção, é realidade.

A pressa do Público

João Sousa, 07.11.20

O Público de hoje tem isto na primeira página:

publico 20201107 - recusa de trump.jpg

A minha questão é só esta: os votos já foram todos contados? A CNN, quando publico isto, ainda mostra os resultados em 253/213 a favor de Biden (são necessários 270). Porque raio há-de o Público querer apressar a coisa só porque tem um feeling (por mais bem suportado que seja nos dados já conhecidos)?

A primeira-dama

jpt, 06.11.20

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Cada vez mais parece possível que o actual presidente americano perca estas eleições. Deixo aqui o meu elogio à Senhora de Donald Trump, actual Primeira Dama: pela sua beleza e impecável elegância. E porque sempre incansável no zelo pelos desvalidos - doentes, empobrecidos -, pelos idosos, pelas crianças, no âmbito da nobre missão que lhe coube abraçar. Foi, é, e decerto continuará a ser um símbolo da feminilidade. Uma verdadeira "european queen". Fará falta!

«Para eles, Trump é um Messias»

Cristina Torrão, 28.10.20

Excertos de uma entrevista dada pelo sociólogo norte-americano Philip Gorski, Professor na Universidade de Yale, à edição de 11 de Outubro de 2020 do Jornal Católico da diocese alemã de Hildesheim, em que se analisa o apoio incondicional dado a Trump pelos evangélicos norte-americanos:

Qual a razão de muitos evangélicos serem apoiantes incondicionais de Trump?

Para eles, o essencial é a condenação do aborto e do casamento entre homossexuais. Até podem criticar a política migrante de Trump, ou não aprovar o comportamento pessoal do Presidente - no fim, tudo isto é secundário. Aqueles dois temas estão acima de quaisquer outros.

Porque consideram eles esses temas tão mais importantes do que outros temas cristãos, como a justiça social, o clima, ou a proteção dos refugiados?

Isso explica-se, em parte, do ponto de vista psicológico. Muitos temas políticos permanecem abstractos para certos conservadores norte-americanos, como impostos, alianças internacionais ou protecção do ambiente. Têm dificuldades em estabelecer uma relação com questões desse tipo. Já no que concerne ao aborto ou ao casamento homossexual, estabelecem, de imediato, uma ligação emocional, porque vêem aí uma ameaça aos seus valores familiares tradicionais. O casamento monogâmico e heterossexual é, para eles, muito central - pretendem manter a sociedade limpa de todos os comportamentos que não se coadunem com estes seus valores. Os Republicanos vêm propagando a ameaça a estes valores familiares nos últimos anos, a fim de espetar uma cunha entre os conservadores católicos e o Partido Democrata.

Como se explica que especialmente os evangélicos brancos se sintam ameaçados?

Para eles, os Estados Unidos da América são uma nação branca e cristã, fundada por Protestantes brancos e prósperos. Sentem esta identidade ameaçada pela secularização, pela imigração e pelos não-cristãos. Sentem-se realmente como o grupo mais ameaçado e perseguido dos EUA. E consideram necessitar de um protector forte e impiedoso, que os defenda a todo o custo.

E esse protector é Trump?

Exactamente. Muitos acreditam mesmo que Trump é um enviado de Deus, um instrumento de Deus. Trump é, para eles, um Messias. Comparam-no ao rei Ciro do Velho Testamento, que libertou os israelitas do cativeiro babilónico. Muitos evangélicos leva a Bíblia à letra e estabelecem permanentemente paralelos entre a política actual e o Apocalipse. Consideram estar no meio de uma luta entre o Bem e o Mal. Eles, os evangélicos, estão naturalmente do lado do Bem - os seus opositores políticos e culturais corporizam o Mal.

E Trump fomenta essa sua crença?

Sim, ele vê o mundo tal como eles: divide-o entre amigo e inimigo, Bem e Mal. O seu princípio é olho por olho, dente por dente (…) Ficaria surpreendido se me dissessem que ele, em toda a sua vida, tivesse mais de uma hora de leitura da Bíblia. Mas, como todos os demagogos, ele possui grande capacidade de sentir como o público reage à sua pessoa e de escolher os temas que provocam a reacção mais forte.

Quão importante é para os eleitores cristãos a manutenção da democracia?

Não tão importante como se possa pensar. Sobretudo os brancos evangélicos e muitos católicos conservadores vão tomando uma direcção cada vez mais autoritária. Eles consideram inclusive a democracia ser um obstáculo que os impede de alcançar os seus fins políticos. Muitos dizem abertamente desejarem uma ditadura.

As eleições americanas

jpt, 24.10.20

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Ralf Dahrendorf, François Furet, Bronislaw Geremek conversaram sobre o futuro da Europa após a queda do comunismo, durante o Inverno de 1991/1992, com a moderação de Lucio Caracciolo. Trinta anos passados é interessantíssimo (re)ler este "A Democracia na Europa" (Presença, 1993), recordar as perspectivas sobre o remoldar da União Europeia e da Europa, sobre o papel dos intelectuais, da cultura na construção e manutenção da democracia, etc. É notável a clarividência e a densidade destes três enormes intelectuais liberais (aqui, aos seus  nomes juntei ligações para artigos elucidativos sobre a dimensão de cada um deles). E será também importante recordá-los para comparar com os dislates constantes que se vêm lendo nos últimos largos anos, largados por "liberais" lusos, meros idólatras do mercado e de um profundo autoritarismo (reaccionarismo, dizia-se), que não passa de afascistada aversão à democracia. E, sempre, à cultura e aos intelectuais. Quem leu blogs ditos "liberais" saberá do que aqui falo, desse boçalismo inculto.

Mas o que trouxe este livro ao blog foi estar a folheá-lo no dia do último debate das campanha eleitoral americana, que encheu as estações televisivas nacionais e internacionais. Pois atentei neste meu velho sublinhado.  O qual, mutatis mutandis, muito descreve o que se passa naquele país. 

Abordando a queda do comunismo soviético e europeu disse Geremek (pp. 47-48): 

"Gorbachev é um dos factores decisivos para se compreender a implosão do império soviético. Um dia, estava eu a falar com Jakovlev, conselheiro e amigo de Gorbachev e considerado o pai espiritual da perestroika. Perguntei-lhe: "Como é possível que, a um dado momento, você e Gorbachev tenham decidido empenhar-se numa empresa tão perigosa?" "Trata-se de um facto biográfico", respondeu-me, "eu tinha dito certas coisas que não agradavam aos meus camaradas, que me mandaram para o exílio no Canadá, como embaixador. Um dia, Gorbachev foi visitar o Canadá. Fomos passear para o campo para podermos falar livremente, sem sermos controlados pelos microfones da KGB. E vimos que estávamos de acordo. A crise do nosso país era muito grave, e o contacto com a realidade do Ocidente, com as suas proezas económicas, tinha-nos convencido de que era necessário reformar profundamente o nosso sistema."

"No entanto, depois disso, houve sobretudo um facto que nos fez compreender a necessidade da perestroika. No Comité Central do PC havia um dirigente particularmente imbecil, que não sabia nada de nada, e que era utilizado quando não havia nada de importante a fazer. Chamava-se Chernenko. Ora, depois da morte de Andropov, é ele, Chernenko, que é eleito para secretário-geral do partido. Um homem como Chernenko à cabeça de uma das duas superpotências do mundo! Era intolerável! Se um sistema coloca um homem como Chernenko no seu topo, isso significa que esse sistema está muito doente. E foi por isso que nós, Gorbachev, eu e alguns outros, decidimos que chegara a altura de reagir."