Segundo o que aqui se diz mais de 700 alunos desisitiram este ano do programa Erasmus por dificuldades finaceiras. Segundo esta notícia há mais alunos do Ensino Superior a desistir por causa da crise. Segundo esta no pasa nada.
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Segundo o que aqui se diz mais de 700 alunos desisitiram este ano do programa Erasmus por dificuldades finaceiras. Segundo esta notícia há mais alunos do Ensino Superior a desistir por causa da crise. Segundo esta no pasa nada.
Nem 8 nem 80
Tantas vezes injustamente acusado de promover o facilitismo, o GAVE parece ter levado a coisa a mal e, nos testes intermédios deste ano, desatou a exigir, não diria o impossível, mas o improvável: que os alunos saibam alguma coisa.
Mas no teste de Ciências Físico-Químicas do 9º ano terá ido longe de mais, exigindo a jovens de 15 anos que, entre outras coisas, saibam contar até 8. É certo que a prova permitia o uso de calculadora mas afigura-se um exagero supor que, ao final de 9 anos de escolaridade, os alunos já tenham aprendido a carregar 8 vezes na tecla 1 e, depois, na tecla "Total". Se não, veja-se a pergunta de abertura do Caderno 2: "O sistema solar é constituído pelo Sol e pelos corpos celestes que orbitam à sua volta. Actualmente, considera-se que os planetas que fazem parte do sistema solar são Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno. Em 2006, Plutão deixou de ser classificado como um planeta, embora continue a fazer parte do sistema solar. [Pergunta] Actualmente, considera-se que o sistema solar é constituído por quantos planetas?
Manuel António Pina (o resto aqui)
Quando estava a vigiar a prova, tive de reler a questão. Felizmente, na sala ouviu-se o comentário: há aqui uma pergunta bué estúpida.
Depois de o Tribunal Constitucional se ter recusado a aceitar o pedido de todos os partidos com assento na Assembleia da República, à excepção do Partido Socialista, para apreciar alguns artigos do Decreto que regulamenta a avaliação de professores, uma vez que "não lhe compete, no âmbito da fiscalização sucessiva abstracta, conhecer de eventuais vícios de desconformidade entre regulamentos e actos legislativos" foi a vez do Governo cantar vitória. Tal como qualquer outro texto, tudo se presta a múltiplas interpretações, só assim se compreende que Valter Lemos tenha concluído ufano através da recusa do Tribunal Constitucional que “não existe nenhuma inconstitucionalidade e ilegalidade na questão da avaliação dos professores”. José Sócrates, contudo, não partilha a opinião de Valter Lemos, já que admite que “existem 'discrepâncias' entre o decreto regulamentar e as disposições contidas no Estatuto da Carreira Docente”. Resta saber o que pretendem fazer relativamente às “discrepâncias", já que o modelo transitório foi prolongado por mais dois anos e que quando o foi já havia "discrepâncias". Não constituem pois qualquer novidade. Foi o Governo de Sócrates que as criou e teima em manter. Entendam-se. Há um país cá fora à espera que se decidam. Em Setembro decidiremos nós.
Se isto não é para constar nos recordes do Guinness não sei exactamente para que será. Aguarda-se ansiosamente a próxima tentativa de bater este recorde absoluto. Ainda sobram cinco disciplinas.
Nada como uma derrota nas eleições europeias para surgirem as alterações que hipoteticamente granjearão mais votos. Esta é um bom exemplo. Ou admitimos isso ou teremos de admitir que o Ministério da Educação não sabe o que faz e nos andou a enganar a todos com a verborreia do mérito.
Há dias, referi-me aqui às provas de aferição de Língua Portuguesa, de modo igualmente válido para as provas de aferição de Matemática que hoje tiveram lugar. Os alunos voltaram a dizer que foi tudo fácil. Podemos, pois, estar tranquilos: é natural que continuemos a subir nas respectivas estatísticas.
Só falta começarmos a saber mais qualquer coisinha de Língua Portuguesa e de Matemática e a exigir programas de ensino decentes. Não é grave. É apenas urgente.
Aposto que os resultados das provas de aferição de Língua Portuguesa de ontem, destinadas aos alunos do 4.º e do 6.º ano, vão ser óptimos pelo segundo ano consecutivo. Os próprios alunos acharam as provas fáceis e fizeram-nas com uma perna às costas.
É natural: cada vez se fala melhor a nossa língua e a ministra não só pacificou o ensino como ignorou as estatísticas europeias e concluiu uma reforma educativa de se lhe tirar o chapéu. Ah! Já me esquecia: os habitantes da Lua andam a dizer que a Terra é que gira à volta deles.
Convivo numa base diária com um desses seres extraordinários que encontram uma explicação esotérica para todos os fenómenos que nos rodeiam, pessoal ou profissionalmente. Naquilo que uns vêem coisa nenhuma ou apenas uma grande acaso ou uma fortuita coincidência, este ser de luz e mezinhas encontra desígnios e caminhos de uma grande ordem esotérica que, felizmente, escapa à maioria – mal de mim se tivesse de aturar isto sempre. Admito que a espaços até lhe acho piada. Sei pelo olhar ou sorriso que foi encontrada uma explicação para o perfume que se pôs no ar, a corrente de ar que atravessou a sala ou para os energúmenos – e quantos – que se atravessam nas vidas comuns de gente comum, na minha inclusive. Sabendo de antemão a teoria, as dificuldades surgem para que cresçamos, evoluamos e percorramos esse calvário de vidas passadas, o karma que se nos agarrou à nascença e que só percorrido nos libertará, ou coisa que o valha, prevejo com relativa facilidade – será porventura o meu karma?- a resposta adequada.
E assim vou vivendo tranquila, sem lhe dar grande crédito, confesso, nem sempre tenho paciência para estes devaneios onde os insubordinados e mal-educados me foram postos no caminho para que eu evolua. Ficaria eternamente grata se fossem fazer progredir ou evoluir outros necessitados seres e me deixassem cá sossegada, de preferência, sem ter de me irritar frequentemente e chamar a atenção para tudo e mais alguma coisa. Se viram A Turma sabem exactamente do que falo.
Mantenho um amigo desde a juventude. Casou, tem dois filhos e continuo amigo deles todos. Um dos rapazes anda actualmente pelos 20 anos. É disléxico. As primeiras dificuldades notaram-se desde tenra idade e os primeiros tempos de escolaridade confirmaram uma dislexia profunda na leitura e na escrita.
A luta dos pais, a boa formação e educação do agregado, foram sempre essenciais. Encontraram muita gente compreensiva e colaborante, mas tiveram de lutar contra muitos professores e contra o Ministério da Educação vezes sem conta, ao longo dos anos. Apesar de o Jorge ser inteligente e ter sido sempre muito esforçado, não faltaram docentes (imagine-se) a defender a ideia de que, tal como os deficientes motores não se movem como as pessoas saudáveis, também os disléxicos têm de encarar deixar o ensino pelo caminho!
A verdade é que lá foram vencendo cada luta travada e cada processo a reivindicar direitos óbvios. Hoje, o Jorge aceita muito bem a sua fragilidade. Tem sido um estudante bem sucedido, graças à família, aos professores (de português, designadamente, que o foram dando como apto para poder progredir) e ao seu próprio esforço. Está numa faculdade, a caminho de obter um curso de que gosta, certo de que o seu futuro profissional nunca passará pelo domínio de outras línguas.
O Jorge tem uma bolsa de estudo, claro, para a qual foi fazendo prova anual do seu problema limitador e do rendimento académico. O actual governo, que tenta cortar quaisquer benefícios a todo o custo, quis que ele fosse avaliado este ano por uma junta médica. E ele lá foi cumprir a determinação do Ministério da Educação.
Entrou e o primeiro dos cinco médicos presentes a abrir a boca perguntou-lhe:
— Então tem dislexia, não é verdade? E como é que apanhou isso?...
A conversa começou com uma das perguntas mais triviais que se pode fazer a uma estudante do secundário: "Então, como está a correr o ano?" E desembocou numa avaliação extraordinária da professora de Matemática que lhe coube em sorte, uma disciplina fundamental para o curso que ela quer seguir: A professora é boa, o problema é que só sabe tirar dúvidas relativamente aos problemas que apresenta na aula. Se lhe mostramos um exercício novo, já não é capaz de nos dizer como se faz.
Perguntei-lhe porque considerava então que aquela professora era competente. Sorriu-me com uma ponta de comiseração, a trair nas comissuras dos lábios o pensamento clássico adolescente: "Vê-se mesmo que não percebes nada disto!": E respondeu-me num tom didáctico: É que esta, comparada com outros professores que eu tive, ao menos explica bem o que consegue explicar.
Ainda tentei objectar, mas não se impressionou com a minha argumentação. Era o discurso típico de quem não sabe o que se passa hoje nas escolas para o qual obviamente a miúda já não tinha pachorra...