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Delito de Opinião

Quando se troca a táctica pela estratégia

Paulo Sousa, 09.02.24

Era uma vez uns inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) que ao cometerem um crime de homicídio no aeroporto deixaram um ministro embaraçado. Dizem que já havia vontade de reformular os serviços, mas, tacticamente, entendeu-se que a extinção do SEF seria uma boa válvula de escape. Sempre que o primeiro-ministro, ou ministro, fossem confrontados com a inexplicável demora na tomada de uma posição sobre o crime ocorrido, entenda-se que rolassem cabeças, o fim do referido organismo seria a forma de baralhar para dar de novo, evitando assim os pingos da chuva. O beneplácito da imprensa faria o resto.

Entenderam então distribuir as competências deste Serviço por diversos organismos públicos, sem outro critério que não fosse o “parece-me que”. Como alguns agentes do então já extinto SEF tinham uma remuneração superior aos da Polícia Judiciária, órgão policial onde alguns foram colocados, o governo decidiu aumentar toda a PJ. Nessa data, a demissão de António Costa já tinha ocorrido, havia eleições à vista e não há nada como um generoso aumento salarial antes de eleições.

O resto da história, a escusa do governo em alargar o referido aumento às restantes forças policias (com a desculpa da demissão de António Costa que não impediu o aumento da PJ) e os protestos que se seguiram, são mais recentes e, à primeira vista, nada têm a ver com o crime ocorrido no aeroporto.

Esporadicamente fala-se na fusão da GNR e PSP, mas isso é um tema muito delicado que obriga a mexer nas patentes dos oficiais, assim como a acertos salariais entre as duas forças. Se tivesse havido uma visão reformista no governo talvez esta história pudesse ter começado pelo fim, sendo que o crime nunca deveria ter acontecido.

A incompetência de António Costa

jpt, 15.01.22

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Estamos a quinze dias das eleições, em plena campanha eleitoral. Nos últimos dias o ex-ministro da Administração Interna, Cabrita, é constituído arguido naquele processo de atropelamento, no qual teve, pelo menos, uma prática discursiva patética (o que será uma avaliação universal, independente das simpatias políticas de cada um), para além de uma atitude moralmente condenável (o que já dependerá do ponto de vista de cada um. Mas, caramba, é preciso ser muito faccioso para não lhe apontar o dedo...). E agora o tribunal absolve o ex-ministro da Defesa, Lopes, no grave caso do roubo de armamento militar, por o considerar incompetente para o exercício de funções governamentais (e já nem falo da atitude do ex-ministro ao aceitar essa argumentação para se libertar do processo que lhe fora colocado, uma evidente falta de auto-respeito). Ou seja, ao absolver Lopes o tribunal exara uma clamorosa censura a quem o escolheu para ministro, António Costa.
 
Ambos os ex-ministros foram muito criticados por parte da opinião pública e por alguma imprensa. Mas foram também veementemente defendidos pelos "fazedores de opinião" (comentadores, jornalistas) e pelo PS. E, acima de tudo, pelo Primeiro-Ministro Costa, que os sustentou até ao limite do politicamente possível.
 
Se o primeiro governo de Costa foi muito criticado pela sua "endogamia" (até literal), pelo seu ensimesmamento em torno de um pequeno núcleo socialista, este segundo que agora terminou tentou limpar-se dessa imagem, pelo menos abdicando de integrar relações familiares. E as opções de Costa deram nisto: para pastas fundamentais teve uma confiança total num mero "passageiro" que acaba arguido, imoralizado num acidente mortal decorrido em matéria da sua tutela; uma confiança total num juridicamente considerado inimputável, por incompetência intelectual, para exercer a tutela sobre as matérias que lhe competiam.
 
E é absolutamente inenarrável que a mole de apoiantes do PS, militantes, simpatizantes, avençados, meros eleitores flutuantes, face a isto tudo não encarem Costa com, pelo menos, uma estupefacta suspeição sobre a sua competência para chefiar governos. Ainda por cima, repito, porque estamos a apenas quinze dias de eleições.
 
(Mas, estou certo, muitos deles andarão para aí a botar a conversa sobre a competência e legitimidade do P-M da longínqua e pérfida Albion que deixa o seu gabinete fazer festas durante o Covid. Às vezes é uma desgraça ser... compatriota desta gente).

Com seis meses de atraso

Pedro Correia, 06.12.21

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Na semana passada ficámos a saber que Sara Carreira, morta num desastre rodoviário a 5 de Dezembro de 2020, seguia num veículo em transgressão: ia a 128 km/h na A1. Ficámos também a saber que a viatura oficial que atropelou mortalmente o trabalhador Nuno Santos a 18 de Junho de 2021 seguia igualmente em velocidade excessiva: circulava a 163 km/h na A6.

No primeiro caso, ocorrido numa tarde chuvosa e de visibilidade reduzida, ia ao volante o jovem actor Ivo Lucas, namorado da infeliz cantora. No segundo caso, ocorrido num final de manhã soalheira, quem guiava era o motorista às ordens do ministro da Administração Interna. Eduardo Cabrita foi forçado a demitir-se na sexta-feira por mensagem telefónica recebida do chefe do Governo. Com António Costa talvez já esquecido de que em Maio o considerava «excelente»

 

Ao tomar conhecimento da acusação deduzida pelo Ministério Público ao seu condutor por homicídio negligente, o governante agora afastado tentou lançar culpas para cima da vítima («têm de ser esclarecidas as condições de atravessamento de via não sinalizada») e descartou-se de qualquer responsabilidade alegando que apenas seguia a bordo enquanto «passageiro».

Como se o BMW do ministro fosse um táxi ou ele tivesse apanhado boleia ali à beira da auto-estrada.

Como se os condutores das viaturas atribuídas aos membros do Governo andassem em roda-livre, circulando à velocidade a que muito bem entendem.

Como se o ministro da Administração Interna - condição agravante neste trágico acontecimento - não tutelasse a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, à qual compete «a aplicação do direito contraordenacional rodoviário» nos termos da lei.

Como se Portugal não fosse um país com um número inaceitável de óbitos no asfalto: 5072 vítimas mortais em desastres rodoviários entre 2011 e 2020.

Como se as estradas não continuassem a ser túmulos para pessoas tão diversas como Sara Carreira e Nuno Santos - desaparecidas cedo de mais pelo motivo de sempre: a irresponsabilidade ao volante. No segundo caso, registou-se também uma chocante irresponsabilidade política: o ministro acabou exonerado com quase seis meses de atraso. Quando devia ter tomado a iniciativa de renunciar ao cargo naquele dia fatídico em que Nuno Santos saiu de casa para nunca mais voltar.

Reflexão do dia

Pedro Correia, 04.12.21

«Eduardo Cabrita sucumbiu à palavra. É o problema de uma comunicação de improviso. Pode tornar-se sempre numa armadilha. Quando disse que era "apenas o passageiro" do carro que, em excesso de velocidade, esteve envolvido no acidente que matou um trabalhador na autoestrada, o ministo traçou o destino que tanto procurou adiar. É que, de facto, Cabrita não era apenas o passageiro que comprara um bilhete para apanhar o autocarro. Era o patrão do motorista que não iria tão depressa só porque queria chegar cedo a casa.»

Vítor Serpa, n' A Bola

Adeus Cabrita

jpt, 03.12.21

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Depois de inaceitáveis delongas, meses de insinuações procurando responsabilizar o trabalhador mortalmente atropelado e a empresa para a qual aquele trabalhava, mentindo ao afirmar não estarem aquelas obras sinalizadas, o ministro responsável pela Segurança Rodoviária foi demitido, ou seja, obrigado a pedir a demissão. De manhã ainda tentou, mais uma vez, desculpabilizar-se, num abjecto "sou só um passageiro" - nisso remetendo a totalidade da responsabilidade do acontecido para o seu motorista - mas à tarde foi-lhe dito da insustentabilidade da sua imoral deriva.

Termina Cabrita (decerto que um "Super-Eduardo" para os sabujos socratistas), já esta tarde após ser obrigado a demitir-se, a sua lamentável e asquerosa sucessão de dislates ministeriais com esta tirada repugnante, inaceitável: "...a viatura que me transportava foi vítima de um acidente no qual se viu envolvida". Ou seja, mesmo agora continua a clamar ter sido, ele, a viatura e decerto que o motorista ao seu serviço, a "vítima".

É uma postura nojenta. Mas não pessoalizemos. É uma atitude altaneira, menosprezadora das gentes, que vigora num nicho político português. Há uns anos, logo após um fogo que matou 65 pessoas, dezenas delas queimadas numa estrada, um jornalista perguntou a António Costa - o actual chefe desta clique - se o governo (que decidira imensas mudanças nas cadeias de comando do controlo florestal e nas comunicações adjacentes) tinha responsabilidades no acontecido. Costa respondeu-lhe, em cima do acontecido: "Não me faça rir". Assim mesmo, sem qualquer pudor, sem pingo de humanidade.

Há os avençados, os "jugulares" sabujos e isso, os administradores não-executivos e por aí abaixo, que propagandeiam em prol destes tipos. Mas há ainda pior: os adeptos desta corja.

«A viatura foi vítima de um acidente»

Pedro Correia, 03.12.21

«Como sabem, no dia 18 de Junho a viatura que me transportava foi vítima de um acidente no qual se viu envolvida e que tragicamente determinou a perda de uma vida.»

Eduardo Cabrita, há pouco, ao anunciar a tardia demissão de ministro da Administração Interna após «o mais longo mandato em democracia», conforme fez questão de assinalar

And now for something completely different

João Sousa, 07.09.21

Sucederam-se semanas generosas para as capas de jornais e aberturas de telejornais. Foram vacinas que não são aconselhadas para jovens esperem que afinal já são, bazucadas de dinheiro que estão para chegar, festas de um partido, congressos norte-coreanos de outro, recordes e regressos de Ronaldo, livros de Balsemão, derrocadas de regimes no Afeganistão, magalhãezices do deputado Magalhães, cartazes e campanhas e debates para autárquicas... Neste maelstrom mediático, é demasiado fácil que algumas pequenas questões vão passando ao esquecimento. Como, por exemplo: quase três meses depois, já se sabe a que velocidade ia o carro de Eduardo Cabrita? Será que ainda vamos descobrir primeiro, para lá de qualquer dúvida, se Camarate foi acidente ou atentado?

Transparência zero

Pedro Correia, 29.07.21

Nuno Santos foi atropelado mortalmente no dia 18 de Junho por uma viatura ministerial. Quarenta dias depois, subsistem várias questões por explicar. Continuamos sem saber, por exemplo, a que velocidade seguia o automóvel e se a GNR fez - como se impunha - um teste de alcoolemia ao motorista. Questiono-me se haveria tanto silêncio em torno deste caso se o atropelado tivesse sido um turista norte-americano em vez de um trabalhador português.

Entretanto o Governo, instado uma vez e outra acerca da perigosa velocidade a que seguia o automóvel, continua firme na recusa em responder - tal como guarda silêncio sobre a autorização dada por Eduardo Cabrita à celebração do título do Sporting em Lisboa, a 11 de Maio. Ao ponto de o primeiro-ministro ter ordenado ao grupo parlamentar do PS para chumbar a audição do titular da Administração Interna na Assembleia da República - comportamento próprio de regimes proto-ditatoriais.

Como se estivessem em causa segredos de Estado. Como se o Governo não devesse prestar contas ao Parlamento.

Ainda Cabrita?

jpt, 08.07.21

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(Postal de 5.7.2021)
 
O ministro da Segurança Rodoviária - que tem acumulado dislates políticos - atropela um trabalhador na auto-estrada quando vogaria a cerca de 200 à hora numa zona de trabalhos sinalizados. Na sequência os seus serviços emitem declarações falsas, tentando imputar responsabilidades ao patrão do falecido. 3 semanas depois nada mais se sabe - para além de uma grotesca história sobre a propriedade do carro oficial -, uma delonga que apouca a estabilidade política no sector tutelado.
 
Entretanto, e ainda que atarefados com múltiplas tarefas (o governo está a violar a Constituição, o que não é normal em democracia, e fá-lo de "modo intempestivo" devido a uma "irrelevância estatística", após ter celebrado a rentrée dos Reis Magos turistas), os habituais publicistas da "situação" desunham-se nas teclas, invectivando de "oportunistas" os condoídos com o "estado da arte", e um deles, Marques Lopes, segue a via socratista e clama que o problema são as "perguntas do Correio da Manhã". Um antigo ministro socialista enche o peito e proclama que todos os governantes violam os limites das velocidades rodoviárias, nisso querendo ilibar politicamente o prócere Cabrita - mas "esquece-se" de referir que este é, e repito, o ministro da segurança rodoviária e que os seus serviços já mentiram à república sobre esta matéria. Matéria essa que implicou uma morte. Pormaiores que seriam letais se houvesse um minimo de... decência.
 
Enfim, lembro que a semana passada o ministro da Saúde inglês se demitiu, apesar da intensa demonstração de apoio que recebeu da sua rainha (basta ver o pequeno filme para tal perceber). Pois foi filmado a beijar uma amiga de longa data e, malvado tóxico que é, também a acariciá-la abaixo das costas. Entenda-se que não caiu devido a moralistas invectivas dada aquela infidelidade conjugal. Mas porque sendo ministro da saúde violou as regras de "distância social" naquela beijoquice com a amiga. Ou seja, e ainda que a patética argumentação demonstre como o puritanismo correctista se multiplicou neste Covidoceno, Hanckock caiu porque violou os ditames impostos pelo Estado no âmbito da sua tutela.
 
Percebe-se que os publicistas avençados nem queiram saber disto, pois as respectivas tenças têm como termos de referência (ToRs) o ecoar da cartilha semanal. Mas que um gajo que foi ministro não queira perceber isto? Isto é o descalabro do PS. E cada vez mais cheira a fim de festa. Mal, mesmo, já fedor.

Segurança Rodoviária

jpt, 08.07.21

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(Velho postal de 30.6.2021)
 
A gentrificação da esquerda portuguesa, com a "colarinhização" do operariado remanescente e o avençamento dos antigos "intelectuais orgânicos", nunca se terá visto tanto como agora: o Ministro da Administração Interna, detentor da tutela sobre a segurança rodoviária, transitando em excesso de velocidade numa zona sinalizada atropela mortalmente um operário não-especializado, ali a trabalhar. O governante alija-se de quaisquer responsabilidades. A família enlutada cai na ruína.
 
E a "esquerda" - sindicatos, partidos, associações, publicistas - cala-se. O ministro? Duas semanas passadas continua em funções.
 
(Já agora, e porque é a única moeda de que estes trastes percebem: sabem para onde depois vão os votos?)
 
Adenda: A tentativa de ministro e governo se eximirem à responsabilidade relativamente a "contrapartidas" financeiras (com as aspas necessárias diante do termo utilizado para um seguro devido à família amputada do seu pai) é uma coisa inenarrável. Mas a isso soma-se a atitude, que me narram, do ministro Eduardo Cabrita nem sequer ter tido a humanidade de se inteirar no local - por frémito solidário que fosse - do acontecido com o sinistrado, mantendo-se com o seu ministro encerrado na viatura. Algo que mostra, grita, o tipo de homem que ali está, evidentemente depois tentando-se escapulir à assumpção de responsabilidades, políticas, morais, financeiras.
 
Neste caso não há muito a escalpelizar: um carro de ministro em excesso de velocidade atropela um trabalhador em área laboral sinalizada. Grande borregada do condutor, total responsabilidade política do ministro. Um infelicidade absoluta para o falecido, um drama para a sua família. E um infelicidade muito relativa, ainda assim, tanto para o motorista como para o seu mandante. Que deverão arcar com as suas pesadas responsabilidades e, apesar de tudo, seguir com as suas vidas. Mas como esperar isso quando o PM Costa, interrogado sobre hipotéticas responsabilidades num incêndio que causou 60 e tal (65?) mortos, tantos deles numa estrada, teve o desplante de responder "Não me faça rir". "Não me faça rir"!!!..-
 
E tudo se torna ainda mais pérfido se pensarmos não só que Cabrita é o responsável pela Segurança Rodoviária. Mas também no facto de que - na sequência das críticas à "endogamia" do governo passado, pejado de relações conjugais e filiais - a sua mulher deixara de ser ministra. Para agora, dois anos depois, ser "repescada" para um posto muitíssimo bem remunerado (16000 euros mensais, mais ou menos). E que é o de Autoridade de Mobilidade e Transportes, o que imediatamente - mesmo se for algo incorrecto - faz remeter para este acontecimento infausto. Ou seja, o governo (mesmo que Cabrita seja, como é, um péssimo ministro) tem que tentar calar isto. E os avençados, jornalistas, universitários, colunistas, velhos bloguistas do "Jugular" e Câmara Corporativa e actuais Adões e Silvas, têm de redobrar o afã na constante felação ao poder, socorrendo o governo nesta abjecta vergonha.

O Crime no Aeroporto da Portela

jpt, 13.12.20

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Durante estes longos meses nem o presidente Sousa - no seu histrionismo "camp", sempre ávido de roçagar cidadãos e assuntos - abordou o assassinato estatal de Ihor Homeniuk, apesar do seu hábito em comentar investigações judiciais em curso. Ou fez mera menção solidária junto da família vitimada, ele que tão lesto é em abraços e beijos, e mesmo não se coíbe em telefonemas saudando estreias de programas televisivos, nisso abrindo (publicitárias) excepções.

O MNE Silva diz que contactou a embaixada ucraniana, do modo "habitual nestes casos", como se haja "habitual" para uma situação destas. O ministro Cabrita - cujo presença no governo, e na Administração Interna ainda por cima, é, e muito para além deste caso, o sinal da total amoralidade do actual poder - diz de si próprio que é exemplar (e o ministro Silva sublinha-o). A Assembleia da República leva nove meses a convocá-lo para que fale sobre um horror destes. Nove!, decerto que com desculpas formalistas - pois diante de um escândalo destes o inenarrável Rodrigues não se importa de andar mascarado de formalista. Entretanto, a directora do SEF, Gatões, esteve oito meses calada e a primeira vez que falou - sobre um assassínio cometido em grupo pelos seus funcionários no aeroporto da Portela - usou máscara diante das cameras dos jornalistas, demonstrando total insensibilidade, até simbólica (E parece que segue para quadro diplomático bem pago, isto é um ultraje ...). E é agora demitida, nem sequer teve a dignidade de se demitir, nove meses após este horror ...

Foi então noticiado que um médico acompanhou as sevícias cometidas, na própria sala de médicos: a Ordem dos Médicos pronunciou-se? Nada, que eu saiba .... A família pagou o retorno à Ucrânia do assassinado - nem uma igreja, católica ou outra, nem uma ong, nem uma organização assistencialista, nem um filantropo, nem uma dessas "fundações" das grandes empresas ou dos grandes escritórios de advogados-comentadores televisivos, se disponibilizou para colmatar a imoralidade estatal. Mas agora, de repente, pois "investigação terminada", "botão de pânico" proposto, muitos uivam e bramem. E leio mesmo que, também, os esquerdalhos do costume invectivam o silêncio, o do "governo" (desfeita que vai a geringonça) e o da "direita". Este desgraçado caso mostra o descalabro generalizado em que seguimos.

Em início de Junho 2020 muito me irritei com a pantomina histérica, desonesta e demagógica, que correu em Portugal devido à morte de um americano em Minnesota. Abjecto desatino geral, esse de andarem por aí aos guinchos, abanando os rabos e as mamas, por causa da morte americana enquanto nada se dizia sobre o que se passara na Portela de Sacavém. Que gentalha, servos dos sôfregos demagogos socratistas, de vestes "sociais-democratas", no gargarejo da "causa" racialista. É certo que Moreira levantara o assunto em Abril. Mas sem a ênfase nem a indignação que lhe é constante aquando cheira a "raça".

Muito me irritou tudo isso e por isso escrevi sobre Ihor Homeniuk - ou seja, também o fiz apenas de modo reactivo, e como tal não sigo cidadão eticamente incólume com tudo isto. Então googlei em busca da grafia correcta do nome do assassinado. E tirando textos noticiosos daquele Março/Abril quase nada mais se encontrava. De tal forma isso me surpreendeu que fui até à página 3 da "busca google", para sedimentar a apreensão do silêncio social. Depois de eu blogar (no meu Nenhures e no colectivo Delito de Opinião) surgiram outros textos, um pouco na mesma linha (reactiva) de reflexão - um dos quais de Zita Seabra (publicado no mesmo dia), de outros autores não me recordo.  Não me venho armar em "influencer" ou em precursor ou "consciência". Sou só um bloguista desconhecido - um bocadinho lido porque publico no Delito de Opinião que ainda tem audiências. Não estou a dizer que tive qualquer primazia. O que quero assinalar é que tendo escrito no 1 de Junho um texto sobre esta situação encontrei, reflectido na internet (imprensa/redes sociais), um generalizado silêncio, quase universal, sobre este inenarrável assassinato.

Ou seja, é o ministro Cabrita execrável? É! O ministro Silva é melífluo? É! O presidente Sousa é o presidente Sousa, agora em crassa mentira? Ui, se o é! O SEF será irrecuperável? Sim. O silencioso médico que tudo testemunhou deveria ser empalado? Sim. A dra. Gatões deve ir para a prateleira e não para Londres? Óbvio. 

Mas, e sem qualquer dúvida, precisamos do agora célebre "botão de pânico". Não por causa dos tipos do SEF. Mas para nos defendermos de nós-próprios. Que gente somos!