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Delito de Opinião

Tudo na mesma

Sérgio de Almeida Correia, 06.08.18

Em 2009 escrevi que a "culpa pelo mau serviço que presta ou é do frio, ou do calor, ou do vento, ou de uma cegonha irresponsável que pousa onde não deve e dá cabo da rede". 

Volvidos estes anos a história repete-se, os apagões continuam.

E, de novo, a culpa é do calor: "O calor é muito, existe uma sobrecarga da rede muito grande, mas estamos em regime de alerta e conseguimos mobilizar muito rapidamente uma equipa para o local, que resolveu o problema com a maior celeridade, apesar de ser um problema de grande dimensão”.

Se quando regressar a casa o frigorífico estiver de novo avariado e os demais equipamentos emudecidos já sei qual a razão. E a quem pedir responsabilidades. 

Os anos passam, tudo continua na mesma. Com calor ou sem calor. A EDP é como a CGD, o país e os partidos: irreformável.

Lá no bairro

Rui Rocha, 28.11.17

Isto é uma merda. A Mariana Mortágua esfrega o chão, faz o comer, trata dos filhos, passa a roupa do Costa a ferro, dobra-lhe as camisolas interiores, arruma-lhe os peúgos brancos na gaveta de baixo da mesa de cabeceira. E depois, o gajo anda na rambóia com a EDP. A Mortágua esbraceja, grita, ameaça, diz que faz e acontece. Mas no dia seguinte lá está outra vez com a esfregona na mão ou a coser-lhe as trusses enquanto o fulano vai ter com a outra. Na rua, a Mortágua anda com a cabeça muito direita, caminha muito digna. Mas todo o bairro vê o que se passa. O bardina sabe que é bonito e aproveita-se da fraqueza dela.

Teias

Sérgio de Almeida Correia, 23.06.17

"Segundo o The New York Times, por trás do Grupo HNA, ac[c]ionista da TAP por via do consórcio Atlantic Gateway – e da companhia brasileira Azul – estará Wang Qishan, dire[c]tor do órgão máximo de combate à corrupção na China. O mesmo, aliás, que alegadamente domina a Capital Airlines, segundo denúncia de Guo Wengui, bilionário chinês exilado nos Estados Unidos."

 

O extracto é deste editorial. O artigo do New York Times está aqui.

Convém que em Portugal não falte a luz. É que não se perde nada em ir lendo e acompanhando. Por causa das surpresas.

O final esperado

Sérgio de Almeida Correia, 27.03.14

"China's Three Gorges Corp, which built the world's biggest hydropower scheme, has replaced its chairman and general manager, the company said, in the latest major reshuffle of a state-owned firm as the government steps up a fight on graft.

Some officials of Three Gorges, set up in 1993 to run the hydropower scheme, were guilty of nepotism, shady property deals and dodgy bidding procedures, the ruling Communist Party's anti-graft watchdog found in February.

The scandal has reignited public anger over the $59-billion dam, which was funded by a special levy paid by all citizens.

Chairman Cao Guangjing has been removed from his position and would be assigned another job, the company said in a statement on Tuesday. It named Cao's replacement as Lu Chun, but gave no further details." - NBCnews

Ainda há coisas que o dinheiro não compra

Sérgio de Almeida Correia, 19.02.14

Não sei se em Portugal, a começar pelo gabinete do primeiro-ministro, se terá a exacta percepção do que está a acontecer na China aos "camaradas" do dr. Catroga na EDP, mas quando a imprensa de Hong Kong dá conta de que o órgão disciplinador do Partido Comunista Chinês enviou um aviso para os gestores da China Three Gorges, entre outras razões, devido à evidência de práticas nepotistas, favorecimento de familiares, gastos excessivos em veículos, falta de transparência na tomada de decisões e extravagâncias várias (estarão aqui incluídas ofertas distribuídas em Lisboa?), é sinal de que a gestão não será a mais ortodoxa. Avisos destes na RPC, vindos de onde vêm, com a chancela do PCC e do seu comité de disciplina e inspecção, que por regra não brinca em serviço, normalmente querem dizer muita coisa.

Depois da forma como se processaram, na sequência da privatização, as nomeações dos amigos do dr. Passos Coelho para a EDP, designadamente para o órgão consultivo, em óbvia distribuição de favores políticos, o que se está a passar com o presidente executivo da empresa que detém mais de 20% da EDP faz-me temer pela forma como também esta empresa estará a ser gerida.

Se perto de Pequim foi como foi..., pelo sim pelo não, o melhor será estarmos todos alerta.

Terceiro mundo?

João André, 21.01.13

Portugal foi assolado pela tempestade e o caos apareceu. Pelas redes sociais notei que muitos começaram a dizer que era um país do terceiro mundo, que bastam umas chuvas e um vento mais forte e a infraestrutura vai abaixo. Discordei sempre que vi essas opiniões. Qualquer país sofreria com mau tempo extremo. Há uns anos caiu aqui na Holanda um nevão forte seguido de um degelo parcial e de novo congelamento e neve. Devido a isso ficaram algumas localidades sem água, luz e gás. Terceiro mundo? Não, apenas clima.

 

Aquilo que foi do terceiro mundo, no entanto, foi a informação. Se houver corte de luz, telecomunicações ou outra coisa qualquer, posso ir à página da net da empresa e ver qual é o problema e quais são as previsões para a resolução do mesmo. Em Portugal nada disso estava disponível. Estive desde sexta-feira à noite até ontem às 23:00 sem nada saber da família. Nem deles nem das previsões. A EDP, REN ou a ERSE nada diziam. A TMN, Vodafone ou PT estavam mudas. Procurar informações nas páginas dos jornais, rádios ou televisões era esforço em vão. A única fonte de informação foi um jornal regional ou as informações de amigos que se iam ligando à internet a espaços usando os telemóveis.

 

Não, Portugal não é um país do terceiro mundo. Mas os responsáveis de muitas das suas empresas bem para lá podiam ir.

EDP de Verão

João Carvalho, 23.07.12

EDP Cool Jazz, Festival EDP Paredes de Coura, EDP Festival de Música daqui e dali, EDP festivais de música de norte a sul, etc., etc., etc., não é? Pois é. É, mas não vem nas facturas. Afinal, qual é a percentagem de tanta música de Verão que andamos a pagar nas facturas da luz? Alguém sabe?

Mexia é um mãos largas. E nós — que remédio — também somos. Como se não houvesse muito mais gente a precisar de ajuda.

EDP, uma empresa cada vez mais humanizada

Rui Rocha, 11.04.12
 

 

A EDP podia limitar-se a promover o seu produto. Não é difícil imaginar mensagens adequadas para campanha: dê às suas tomadas uma energia rica em cargas eléctricas (campanha tipo ração para cães), a energia eléctrica da EDP tem uma fina camada de electrões que prolonga a vida útil dos electrodomésticos (tipo detergente), o vento utilizado pelos nossos parques eólicos é 100% natural (tipo sumo de laranja) e por aí fora. Mas não. A EDP não quer apenas promover o seu produto. A EDP é tão extraordinária como as suas (dela) rendas. Por isso, quer-nos vender valores. Para tal, na nova campanha institucional, recorre a filhos de trabalhadores (diz-se colaboradores em edepês) que são quase todos loiros. Como era de esperar numa empresa com operações na Península Ibérica e no Brasil. O nome da campanha é “Pela Energia de Amanhã” e demonstra, dizem, o que a empresa é hoje. E o que é hoje a EDP? Pelo visto, é uma empresa com posicionamento global, postura inovadora e cada vez mais humanizada (sim, alguém pagou a outrem para escrever isto). Meras intenções? Nada disso. A EDP não deixa para amanhã o que pode fazer hoje. Por isso, cortou o fornecimento de energia eléctrica ao Centro de Saúde de Meadela. Que serve cerca de 3.500 seres humanos. Se não fosse cada vez mais humanizada, a EDP poderia ter provocado um pico de tensão de que resultasse o estoiro do frigorífico onde se guardam as vacinas para as crianças ou da máquina de raio X com que se avalia a evolução da osteoporose das velhinhas. Mas a EDP limitou-se a cortar a corrente. Poupou, assim, os utentes ao susto, à comoção e, quem sabe, às quebras de tensão. Se dúvidas houvesse, estão definitivamente afastadas. A EDP é uma empresa coerente com os valores que nos quer vender. O Emerson é o melhor jogador da equipa da Luz. E o Mexia e o Catroga são uns génios. Da lâmpada.

 

Oposição fundida

Helena Sacadura Cabral, 14.03.12

 

A propósito da saída do Secretário de Estado da Energia, o Partido Socialista afirmou que a "demissão é descoordenação do ministro da Economia". A frase, de facto, tipifica bem uma "oposição fundida", como diz Ferreira Fernandes na sua crónica de hoje. Haja paciência para estas escuridões!

Não se pode matá-las?!

Helena Sacadura Cabral, 02.02.12

 

A Standard & Poors, vulgo S&P, reduziu a notação da EDP para BB, um nível de lixo. A agência justifica a medida pela "elevada exposição" da empresa energética aos riscos associados ao país.

A inoportunidade da decisão só pode ter que ver com a sua falta de inocência...

E não se podem matar as agências de notação? Estão à espera de morrer para fazer alguma coisa?

O perigo chinês.

Luís Menezes Leitão, 17.01.12

 

O Governo desmentiu energicamente ter alguma coisa a ver com as nomeações para o Conselho Geral e de Supervisão da EDP. Já Miguel Sousa Tavares, no Expresso do passado fim-de-semana referiu não acreditar que tivessem sido os chineses a dizer que "pala o conselho de supelvisão da EDP, não vemos ninguém melhol do que o Catloga, o Blaga de Macedo e a Celeste Caldona”. Pois eu acredito piamente na versão do Governo. E digo mais. Começa a tornar-se claro para mim que, depois da aquisição de uma empresa estratégica portuguesa, a estratégia dos chineses passou por lançar a confusão total em Portugal através das nomeações para a EDP. Se não vejamos. Em primeiro lugar, Eduardo Catroga, que é suposto encabeçar uma lista para um órgão social da empresa, vem dizer que não sabe como é que certos membros aparecem na lista e até diz que nem é do PSD, apesar de ter sido Ministro das Finanças de Cavaco Silva e ter negociado em nome do partido com o Governo anterior. Já Celeste Cardona, que segundo a Wikipédia é uma "política portuguesa" que foi "Ministra da Justiça no XV Governo Constitucional", vem agora esclarecer que não foi ministra nem está na política. Já sabemos que a Wikipédia também se engana, mas esta situação parece-me uma constrangedora falta de memória colectiva, a que provavelmente não serão estranhas as conhecidas técnicas chinesas de reeducação. Anteriores Ministros das Finanças e da Justiça em governos do PSD já viram apagados da sua memória esses cargos ministeriais. E ainda havia quem julgasse que não era perigoso os chineses tomarem conta da EDP?

O adiantado mental, a filha dele e o avô dela

Rui Rocha, 13.01.12

  

Invistamos então um par de minutos na leitura do próximo parágrafo que aqui transcrevo com uma vénia que praticamente me faz tocar com o nariz na tijoleira e que acumulo com a devida genuflexão (posição que, como compreenderão, é assaz incómoda e não poderei manter durante muito tempo):

 

"O Dr. José Brissos, testamentário do homenageado, apresentou a exposição depois de enaltecer a "cultura de lembrança" e o papel decisivo que nela tem a universidade. Agradeceu à artista "pelo seu ousado exercício de decifração do mundo humano de Jorge Borges de Macedo, através da lente performativa - como hoje se diz - da obra de arte" acrescentando que a presença enigmática do mocho, escolhido como símbolo da Exposição, proscreve qualquer ideia convencional e constitui uma espécie de advertência de complexidade, muito eficaz e sintomática para a leitura de imagens indiciais que nos é oferecida." Afirma ainda estar certo que o homenagenado reagiria a esta leitura socorrendo-se "do lado caústico do seu humor, para nos convidar a olhar para o mundo em que viveu, de modo a enquadrar o homem no seu tempo."

 

Tomemos uns momentos para nos recompormos, situemo-nos e vejamos então quem é quem. Jorge Borges de Macedo foi Jorge Borges de Macedo e até aí tudo bem. A exposição referida no emotivo parágrafo evoca-o e chama-se Jorge Borges de Macedo Privado e Público. Foi promovida pelo IICT (Instituto de não sei quê e Investigação Tropical). O Instituto tem como missão dedicar-se ao Saber Tropical,  desenvolvendo investigação científica tropical nas áreas das Ciências Humanas e Naturais, aumentando a capacitação científica e técnica dos países com que coopera e promovendo a preservação do Património. Este laboratório de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros (sublinhado meu) tem por missão trabalhar em prol dos países das regiões tropicais, em particular, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

 

Uns quantos, com os nervos já em franja, perguntarão, neste momento, qual a especial relação de Borges de Macedo com o Saber Tropical. Deviam ter mais calma. Isso agora não importa nada. O que está em causa é a preservação dos laços familiares. E isso foi conseguido. O Presidente do Conselho Directivo do Instituto que promoveu a exposição é Jorge Braga de Macedo, filho de Borges de Macedo. A artista plástica responsável pela instalação é Ana Macedo, filha de seu pai, que calha ser Braga de Macedo e neta do seu avô que... pois. O sucesso foi tão grande que a exposição teve derivações para outros espaços e conceitos. Por esta altura, já todos podemos imaginar qual a dimensão pública da exposição Jorge Borges de Macedo Privado e Público.

 

É claro que podíamos falar da instalação que Ana Macedo fez em Moçambique com o apoio do Instituto dirigido pelo filho do avô. Mas, o JPT já o fez aqui com toda a propriedade e o assunto foi também abordado pelo Daniel Oliveira. Pela minha parte, prefiro realçar a importância pública de homenagearmos os nossos pais e avós. Posto isso, agora que Jorge Braga de Macedo foi escolhido pelos accionistas privados da EDP, sem nenhuminha intervenção do governo no assunto, resta-me esperar que Ana Macedo seja convidada para, com a sua lente performativa, embelezar as facturas da electricidade. Entretanto, confesso que me continua  a inquietar a presença enigmática do mocho.

De olhos em bico

José António Abreu, 10.01.12

Em princípio, estou-me nas tintas para a composição dos órgãos sociais de uma empresa privada. Mas não se essa empresa for a EDP. Por quatro razões:

- Estamos num país em que nenhuma empresa privada de grandes dimensões pode agir independentemente do Estado;

- O sector da energia tem graves deficiências de concorrência e não é provável que, mantendo ligações entre o Estado e a empresa quase monopolista, elas sejam combatidas;

- Como a troika tem avisado, há contratos referentes a compensações tarifárias que deveriam ser renegociados. A menos que Catroga, Cardona et al sejam uma lança em África – ou melhor, na China –, as coisas não ficam mais fáceis;

- Por causa da crise, das medidas de austeridade que impôs (e irá continuar a impor) e do discurso que fez desde muito antes da campanha eleitoral, este governo destrói gravemente a sua credibilidade de cada vez que algo deste género ocorre (relembre-se que, no Verão passado, já houvera a Caixa Geral de Depósitos). Por causa da crise, o país precisa mesmo de um governo em que possa confiar.

Pontos nos is (7)

João Carvalho, 23.12.11

ANEDOTÁRIO

I

«No contexto desta privatização» da EDP, o primeiro-ministro «foi visitar a sede de uma das empresas que agora é concorrente e foi, muito pouco tempo antes, com o Financial Times a dizer que o senhor, a mando da senhora Merkel, lá terá ido promover a participação desta empresa no concurso da privatização». Estas palavras datam de há poucos dias e são do coordenador do BE. Foram proferidas durante o recente debate quinzenal na Assembleia da República, com a presença do Governo no hemiciclo.

Francisco Louçã entendeu desferir assim a acusação implícita de que Pedro Passos Coelho estaria a apadrinhar a entrada dos alemães na EDP. Passos Coelho tinha ido antes à Alemanha e Louçã achava que ele fôra visitar a E.On, interessada na privatização da EDP. Por isso, acusava o primeiro-ministro de se ter prestado a «promover a participação» alemã e desafiava-o a esclarecer, «perante o Parlamento e os portugueses, o que é que foi fazer à sede da E.On, que é agora uma das concorrentes à privatização da EDP».

Na resposta, o primeiro-ministro desmentiu Louçã ao garantir que nunca visitara a sede da E.On e explicou: «É público, porque a reunião foi pública, que quando estive na visita bilateral que realizei a Berlim, ao Governo alemão, o presidente da E.On pediu para ser recebido por mim e eu recebi-o, de resto, numa audiência pública, que conteve comunicação social, em que o presidente da E.On me quis manifestar o interesse directo da empresa na privatização da EDP.»

Referindo-se à apreciação do processo de privatização, Passos Coelho adiantou´que «a decisão que o Governo vier a tomar será tomada em conselho de ministros, depois de receber o relatório que será feito pelos assessores financeiros que estão como advisers da operação a fazer a apreciação das propostas e a negociação que deve ser realizada». E aproveitou para acrescentar frontalmente a Louçã que não devia alimentar «qualquer equívoco» sobre o assunto, porque «não há nada mais transparente do que isto».

II

Na verdade, a decisão foi tomada ontem em conselho de ministros e nada transpirou sobre ela até o Governo a comunicar. A candidata vencedora, como é público, foi a China Three Gorges. Portanto, tal como as restantes concorrentes, também a alemã E.On ficou afastada.

Igualmente afastado ontem esteve Francisco Louçã. Nem uma palavra sobre a lisura do processo que tanta gente se apressou a reconhecer, nem um pedido de desculpas pelas afirmações desbocadas contra Passos Coelho no Parlamento. Nada. Emudeceu repentinamente.

O efeito anedótico dos golpes da retórica de Louçã são ainda mais hilariantes quando nos lembramos da fórmula que ele utiliza sempre: aquela já gasta técnica discursiva da colocação de voz à pároco-de-aldeia-a-fazer-um-sermão-num-funeral, em tom macio e aveludado para não perturbar o sono dos justos, mas acentuando de modo arredondado certas palavras-chave aqui e ali, que parece elevarem-se-lhe da alma em falsa surdina.

Fica-lhe mal, apesar da risota, o triste exemplo de desferir insinuações e acusações que a realidade desmente e depois pôr-se a assobiar para o lado.

Quanto à entrada cíclica do coordenador-mor do BE no anedotário nacional, resta notar que isso só não o afastou (ainda) da coordenação do partido por um motivo: é que cada vez tem menos partido para coordenar.