Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Talvez seja melhor refrear o entusiasmo

Pedro Correia, 25.07.24

kamala-trump-qe73se3h2fqp.webp

Com espanto, vejo à minha volta aqui por Lisboa vários devotos de Donald Trump seguirem com maior fervor a pré-campanha presidencial nos EUA do que alguma vez terão acompanhado uma campanha qualquer em Portugal.

Talvez isto seja sintoma de que somos já irremediavelmente colonizados pelos norte-americanos. Não apenas do ponto de vista cultural, mas do ponto de vista político. E nem falta até quem gostasse de ver transposto para este nosso cantinho ocidental da Europa o sistema eleitoral lá dos States.

Lamento, mas estou no campo oposto. Detestaria ver por cá uma lei eleitoral capaz de permitir a eleição para a Casa Branca de alguém que recolheu menos meio milhão de votos do que o rival (aconteceu com George W. Bush em 2000, contra Al Gore) ou até menos três milhões de votos (aconteceu com Trump em 2016, contra Hillary Clinton).

 

Entretanto, a esses meus amigos que andam tão entusiasmados com Trump ao ponto de jurarem que será «ainda mais fácil derrotar Kamala Harris do que Joe Biden», gostaria só de lhes lembrar o seguinte: dos 18 presidentes norte-americanos do século XX, sete foram vice-presidentes.

Eis os seus nomes:

Theodore Roosevelt

Calvin Coolidge

Harry Truman

Lyndon Johnson

Richard Nixon

Gerald Ford

George Bush.

 

Cinco republicanos, dois democratas. Equivalem a 38% do total.

Durante um século. Em número suficiente para desenhar uma tendência.

Quem pensar que é irrelevante, estará muito enganado.

Eis um tema que motivará certamente dezenas de textos no DELITO DE OPINIÃO nos próximos três meses. Ainda a procissão mal chegou ao adro.

Pensamento da semana

Pedro Correia, 21.07.24

Vucci.jfif

 

É, desde já, uma das fotografias do ano. Talvez até da década. Nem precisa de legenda: já deu a volta ao mundo.

Mas não é filha de pai incógnito: foi captada por Evan Vucci, conceituado repórter-norte-americano, há mais de 20 anos na Associated Press. Premiado com o Pulitzer.

É, no fundo, uma vitória do jornalismo. Naquele mesmo local da Pensilvânia, onde Donald Trump foi alvejado no dia 13, havia centenas de pessoas munidas de telemóvel, prontas a captar imagens a todo o momento. Algumas até talvez convencidas de que podiam assim praticar o proclamado "jornalismo de cidadania".

Mas a fotografia que se tornou emblemática e até icónica foi a de Vucci. Não há coincidências.

Duvidem quando vos disserem que "qualquer um pode ser jornalista". Pelo mais elementar dos motivos: isso não é verdade.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO DE OPINIÃO durante toda a semana

O caduco contra o proto-mártir

Pedro Correia, 18.07.24

capa.jpeg

 

Algumas capas de revista funcionam como editoriais. Sem sequer necessidade de imprimirem palavras. Esta, da Economist, surgiu a 6 de Julho com o título «Não é maneira de dirigir um país». Nela não figura o rosto de Joe Biden, nem isso é necessário: todos captam de imediato a mensagem. Cruel, sem dúvida. E dolorosa. Um andarilho com o selo presidencial dos Estados Unidos. Que andam muito desunidos. A tal ponto que não falta quem fale em guerra civil de baixa intensidade e até num novo processo separatista, semelhante ao que em 1860 levou à sangrenta secessão dos Estados sulistas. Com as armas viradas para dentro, não para fora.

É óbvio que Joe Biden deixou de reunir condições físicas e anímicas para concorrer a novo mandato de quatro anos naquele que é o mais desgastante cargo político do planeta. Já assim era antes do seu patético desempenho no frente-a-frente televisivo com Donald Trump e dos disparates em catadupa que foi debitando na recente cimeira da OTAN, em Washington. Em Novembro - mês do próximo escrutínio presidencial - terá 82 anos. Idade mais do que suficiente, em qualquer parcela do mundo civilizado, para um cidadão usufruir da reforma a que tem pleno direito. Por todos os motivos, incluindo este, é o momento de dar lugar a alguém ainda jovem. Convém recordar que até hoje o mais idoso inquilino da Casa Branca foi Ronald Reagan: tinha 78 anos incompletos quando cessou funções.

Esta reflexão, repito, já era necessária antes da tentativa de assassínio de Donald Trump, sábado passado, na Pensilvânia. Desde então, tornou-se imperiosa. Aquela saraivada de tiros de que o antecessor de Biden escapou à tangente, quase incólume, alterou todo o clima psicológico da vida pública nos EUA, com inevitáveis reflexos na pré-campanha eleitoral. O recandidato republicano beneficia agora de evidente dinâmica de vitória. Um político caduco contra um proto-mártir: o tabuleiro tornou-se muito desequilibrado. A mudança no campo democrata é quase obrigatória. As pressões nesse sentido vão-se acentuando, como ficou patente ao longo do dia de ontem.

Neste contexto, a capa da Economist, tão cruel para Biden, tem forte carácter premonitório. Antecipa o que acabará por acontecer tão cedo quanto possível. Antes que seja tarde de mais.

Trump

José Meireles Graça, 22.01.21

Anteontem, Belzebu deixou Washington e entrou o Arcanjo Gabriel, com hino de Lady Gaga, sob comedido aplauso local e entusiástico entre nós. Excepto pelo amor do cozido à portuguesa, sinto-me muito pouco irmanado com a maior parte dos meus concidadãos. Por isso, tencionava deixar consignada neste canto a minha opinião, que naturalmente respeito. Mas calhou ler um texto que apreciei e que por isso, a benefício dos leitores que não sabem inglês, traduzi. O autor chama-se John Hinderaker, e são dele portanto os méritos da opinião; e as deficiências da tradução minhas.

TRUMP LUTOU CONTRA O PÂNTANO, E O PÂNTANO GANHOU

 

Donald Trump foi facilmente, na minha opinião, o nosso melhor presidente desde Ronald Reagan. As suas realizações são impressivas: as leis sobre Cortes nos Impostos e do Trabalho, o maior esforço de desregulamentação desde sempre, a melhoria dos acordos de comércio, a baixa recorde do desemprego, o aumento substancial pela primeira vez em décadas dos salários para as famílias operárias e da classe média, o encorajar do desenvolvimento dos recursos de petróleo e gás, o recuo do politicamente correcto e da teoria crítica do racismo das instituições, etc. E, no fim, a Operação Alta Velocidade, baixando as barreiras regulamentares para acelerar o desenvolvimento de vacinas contra a Covid em tempo recorde.

O registo da política externa de Trump é igualmente impressivo: enfrentando tanto a China como a Rússia, revigorando a OTAN, destruindo o ISIS, tratando Israel como um aliado e não como um pária, e dando largos passos a caminho da paz no Médio Oriente. Tudo enquanto evitava com sucesso operações militares no exterior.

As realizações de Trump são ainda mais notáveis tendo em conta a incansável hostilidade e obstrucionismo a que foi sujeito desde o dia em que tomou posse. A peça de resistência foi, claro, a aldrabice do conluio com a Rússia, paga pela campanha de Hillary Clinton, adoptada pelo FBI e outras agências governamentais, e institucionalizada sob a forma de um procurador especial. Nunca nenhum presidente foi sujeito a nada de parecido, muito menos com bases tão ténues.

Mas isto não foi tudo: Além da aldrabice – acolitada, deve-se notar, pela comoção ucraniana e as destituições de ópera-cómica – Trump defrontou-se não apenas com oposição, mas ódio não-stop da imprensa, Grandes Tecnológicas e grandes empresas em geral, a Academia, Hollywood e o resto da indústria do entretenimento, as escolas públicas, a quase totalidade da burocracia federal (incluindo a porta giratória do burocrata/”perito”), o lobby chinês, em suma, o resto do Pântano.

Por que teve sucesso Trump tantas vezes, enfrentando tão incansável, e muitas vezes enlouquecida, oposição? Porque representava o povo americano, e as suas políticas faziam sentido. Quando Trump disse “América primeiro”, o mundo oficial desmaiou de horror. Mas, por outro lado, a maior parte das pessoas pensa que isso é a descrição da função de presidente. É um sinal dos tempos que o compromisso de um candidato presidencial de defender o povo americano, e promover os interesses da América, fosse visto por muitos como radical.

E todavia, no fim o Pântano ganhou. Há para isso, penso, duas razões. A primeira é o vírus de Wuhan. Para os Democratas, era um maná dos céus – más notícias, quando durante anos tinham sido esmagadoramente boas. A doença apresentava oportunidades sem fim para demagogia, e os Democratas aproveitaram-nas todas. No fundamental, a Covid, ou os confinamentos resultantes, privaram Trump da capacidade de concorrer com o programa de maior sucesso para todas as reeleições: paz e prosperidade.

A segunda razão tem a ver com a personalidade de Trump. Como um herói da tragédia clássica, foi derrubado em boa parte pelos seus próprios defeitos de carácter. Está muito bem dizer que Trump era um lutador e que nunca poderia chegar onde chegou se não estivesse disposto a combater a imprensa e, para repetir, os Democratas. Mas cometeu demasiados erros, e a sua combatividade impressionou demasiados eleitores como beligerância e egomania. Foi o que, no fim, o afundou.

O contraste com Reagan é instrutivo, acho. Como Trump, Reagan era detestado pelos Democratas e a maior parte do mundo oficial. Até que Trump chegou, julgava que nunca veria outro presidente sujeito a um ódio tão incessante. Também como Trump, as políticas do primeiro mandato de Reagan foram altamente bem-sucedidas. Para ser justo, os sucessos de Reagan foram argumentavelmente mais espectaculares, uma vez que começou com o país num buraco mais fundo no que toca à economia e política externa. E Reagan não teve de se defrontar com uma epidemia que descarrilou o crescimento económico.

Mesmo assim: quando Reagan se recandidatou em 1984, ganhou com uma das maiores viragens da história, vencendo em 49 estados. Os Democratas chamavam a Reagan “o presidente Teflon”, a maneira deles se queixarem de os seus ataques não pegarem. De facto, falharam espectacularmente. Uma grande parte da razão era o feitio de Reagan. A sua equanimidade nunca falhava. A sua patente razoabilidade envergonhava os ataques histéricos dos Democratas. Era evidente para a maior parte dos eleitores que ele era simplesmente melhor homem, e mais sintonizado com os seus valores, do que os dos que o queriam atirar abaixo. No fim, vulneráveis como estavam os Democratas o ano passado, e por pouco atraentes que fossem os seus candidatos, a maior parte dos eleitores não tiraram a mesma conclusão a respeito de Donald Trump.

Assim, para resumir, dou a Trump um B+. Fez um excelente trabalho para o povo americano, cumpriu as suas promessas num grau notável, tendo em conta uma completa falta de cooperação dos seus rivais políticos. Mas no fim o Pântano ganhou, e Trump carrega alguma da responsabilidade pela sua própria queda.

Donald Trump(a)

Pedro Belo Moraes, 14.01.21

Torre Trump.jfif

 

A imagem que acompanha este texto reforça o que aqui quero dizer e com urgência: de Trump só se aproveitam as piadas que dele se fazem. O todo e o resto do Donald são deploráveis. 

O legado que deixa é imensamente vergonhoso para a Nação norte-americana, toda ela, a que do mesmo é cúmplice e a que dele é vítima. A herança que deixa é preocupante, assustadora. O Donald é um cancro cujas metástases prosperam na política e na sociedade daqueles que são hoje - por enorme e afincado empenho de Don - os grandes Estados Desunidos da América.  

Já lá vai o tempo em que à antiga estrela de reality show se dava o mero e desculpabilizante rótulo de sintoma. "Ele é um sintoma, não é a causa dos verdadeiros e profundos males do mundo", disseram-me e repetiram-no vezes e vezes sem conta. Fizeram-no durante quatro anos e ainda o fazem hoje. Espantosamente há ainda quem isso afirme, passando uma esponja embebida, talvez, em hidroxicloroquina ou até lixívia sobre os quatro desastrosos anos de permanentes atropelos ao Estado de direito e de violações constantes de todas as regras do jogo democrático, que Trump inquinou, corrompeu e instrumentalizou em benefício próprio.

Não! Trump não é um sintoma do que está mal entre governos e governados. A ainda administração da maior potência do mundo depressa se emancipou da ligeira condição sintomática para se transformar numa das verdadeiras causas dos males do mundo de hoje.

Prova disso é a complacência com que o evasor fiscal é tratado e analisado depois de todos os abusos, ilegalidades e mesmo crimes cometidos sentava-se ele na Sala Oval.

Os trumpistas, os ruidosos e os serenos racionais, uns e outros, ao nomearem uma só que seja nota positiva da miserável presidência que agora finda (a económica, é sempre essa mais que discutível virtude que invocam), ao não exigirem o seu imediato afastamento da presidência e compulsivo julgamento pelos sucessivos e gravíssimos atentados à democracia, todos eles compõem afinal a deslumbrada plateia que em 2016 aplaudiu a tirada alarve e alarmante do destruidor de casinos, disparada no decorrer da primeira corrida à Casa Branca: "Podia dar um tiro em alguém na 5.ª Avenida e não perdia votos."

Ao contrário de outros assuntos, neste Trump não está mesmo nada longe da verdade: dos 75 milhões que votaram nele no último 3 de Novembro, 71% continuam ao seu lado, permanecem fiéis ao maestro, cuja batuta incitou uma multidão marioneta à insurreição, ao inédito e chocante assalto ao Capitólio, com o único e determinado propósito de impedir que o Congresso, os senadores e os representantes, uns e outros eleitos pelo povo, confirmassem a vitória eleitoral de Joe Biden, o candidato cuja maioria dos americanos escolheu para desalojar Trump da Casa Branca e desempenhar o papel de 46.º presidente dos EUA. 

"We love you!", mimou-os a figura laranja, esforçada na missão impossível de sequer aparentar estadismo. Como o cabelo e a cor da pele, tudo nele é fake, instrumental, encapotado. A declaração de amor feita ao mesmo tempo que pedia à turba cega que deixasse o edifício que invadia e destruía assegurando-lhes que "We love you!", fazendo de novo uso da ferramenta preferida dele, o dog whistle, o som soprado pelo apito que só a matilha ouve. E a matilha desembestada ladrou, mordeu e matou. Morreram cinco pessoas e a democracia ferida de morte. 

Trump tem de ser julgado e condenado no Senado mas também nos tribunais. Tem de ser destituído da presidência e também barrado, impedido com força de lei de exercer todo e qualquer cargo federal para o resto da vida. 

Aquilo que ele mais abomina nos outros é o que ele é: um loser. Perdeu tudo. A Casa Branca, a começar e a acabar, primeiro nas urnas, depois nos tribunais, passando pelos Congressos estaduais e culminando no gritinho sumido do Ipiranga berrado pelo seu vice no Congresso Federal. Mentiroso e ele sim fraudulento, em tribunal nunca provou a fraude eleitoral que alegou ter dado a vitória ao adversário e assim perdeu em todas as mais de 60 tentativas interpostas na justiça para na secretaria inverter a derrota que Biden lhe impôs.

Trump é um loser, um falhado, como é o projecto de poder que encabeçou e que culminou na revelação de outro enorme derrotado. Chama-se Partido Republicano e hoje assusta-se com a besta que alimentou para benefício maquiavélico e que agora lhe ameaça o futuro. Ao fim de quatro anos, o trumpismo devolveu a maioria da Câmara dos Representantes e do Senado aos democratas. Enfraqueceu os republicanos, portanto, e isso dividiu-os. Divisão que poderá ser larvar e que por sobrevivência de alguns poderá ditar a facada mortal nas costas de Trump como nos Idos de Março quando no Capitólio for o momento de votar o processo de destituição.

O vendedor de muros deixou de ser um trunfo para os republicanos, passou a ser incómodo.  

Desconcertantemente há por cá gente mais trumpista que o Trump. São os anti-Partido Democrata que o rotulam de feroz e perigoso esquerdista. Um quase promotor de uma nova Cortina de Ferro. Por cegueira ideológica e anti-esquerdismo primário alinham, portanto, na conveniente propaganda do empresário da construção. A esses trumpistas tenho a dizer que a dita direita moderada e liberal portuguesa está à esquerda do Partido Democrata. Veja-se como são as economias, os papéis e pesos do estado num e noutro país. O Partido Democrata é pelo capitalismo mas mais regulado, é pela iniciativa privada, nasce e cresce no caldo cultural da meritocracia avessa a amiguismos e clientelismos. Podemos dizer isto da dita direita moderada e liberal portuguesa? Não. 

Admirador dos Estados Unidos da América que sou, a Trump não lhe perdoo tê-los tornado pequenos no Mundo. O nacionalismo bacoco, o isolacionismo estéril, a rejeição do multilateralismo criaram mais desordem e incerteza no globo. Apostando naquelas máximas e comprando uma guerra tarifária com a China deixou vazios que os chineses exploraram nos bastidores, reforçando-se à conta da inépcia diplomática e geostratégica de Donald John Trump, o 45.º presidente dos Estados Unidos da América de quem nada se aproveita a não ser as piadas que dele podemos e devemos fazer.

Trump e Hitler?

jpt, 09.01.21

hh (1).jpg

Há um mês, durante a campanha publicitária do seu novo livro, o jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos falou com leviandade sobre a "Solução Final" nazi, o extermínio dos judeus (e ciganos, etc.). Gerou-se um coro indignado - ver por exemplo o artigo de Irene Flunser Pimentel; e as respostas de JRS às críticas recebidas (também eu botei sobre o assunto) - com aquela leveza, a medíocre incapacidade de perceber a especificidade de Hitler e seus milhões de sequazes, a sua "normalização" que JRS assim promovia. 

Leio agora, pois basto partilhado nas redes sociais, um texto do renomado sociólogo Boaventura Sousa Santos, "maître à penser" de vastos feixes da intelectualidade portuguesa: "Trump não tomará cianeto". Que surge imensamente mais leviano, indo muitíssimo mais longe nessa "normalização" do nazismo, na sua "banalização". No artigo vem o habitual (no autor) ditirambo contra os EUA, e para isso ali se compara - em retórica de "analogia" - Hitler e Trump, Himmler e Pence, os passos ocorridos no final do regime nazi com este final da presidência americana.

Nem vale a pena comentar o conteúdo. Mas é interessante, pois relevante, notar o silêncio crítico que uma "coisa" destas colhe. Tantos contestaram José Rodrigues dos Santos e todos se calam diante de algo muitíssimo mais intenso nesta "naturalização" do nazismo. Um silêncio que é muito significativo deste "pensamento crítico" em voga: há quem não possa espirrar que logo é apupado. E há quem diga as atoardas que quer, que logo é louvado (e "partilhado"). Chama-se a este seguidismo apatetado "epistemicídio". Pois trata-se do genocídio da análise crítica.

Adenda: A ligação entre EUA e a Alemanha nazi é um tópico nos escritos de Sousa Santos. Veja-se este texto de 2019: "Os EUA flertam com o direito názi" (sic).

Já agora, e porque este vem a talho de foice, não deixa de ser notável que o consagrado académico escreve sobre este "flertar" (de novo, sic) entre EUA e o nazismo a propósito das invenções de "inimigos internos" e não surja agora no mesmo molde a associar António Costa ao nazismo - pois também este cultor da imagem do "inimigo interno", assim tratando os sociais-democratas que lhe são críticos. É notável mas não surpreendente ...

Dia de Reis, 2021, fim de década

jpt, 08.01.21

capitoliio.jpg

Dia de Reis, 2021: Washington, parlamento.

Estes anos 10 de XXI foram, de facto, a "década chinesa" - e isso notou-se bem quando em final de 2020 se assinou o tratado de comércio livre dos 15 da Ásia-Pacífico, enquanto a semi-intelligentsia cristo-"ocidental" discutia com minúcia erotizada o iminente Brexit e as eleições americanas. Julgo que daqui a largos anos sobre esta era os vindouros afirmar-lhe-ão ainda outros dois traços centrais: a continuidade do até surpreendente solavanco indiano (pois o choque dos gigantes asiáticos será estruturante desse futuro); e - num nível que lhes será bem mais fundamental do que tanto tonto ainda grasna - a incapacidade dos países ricos em enfrentarem a reconversão industrial ecologicamente imposta.

Mas neste nosso reduto, o tal "Ocidente" - esgarçando-se como o centro do mundo, que o foi nos últimos 250 anos -, a "década" teve outros traços fundamentais muito, demasiado, marcados pelos abalos internos nos EUA, provocados pela decadência da pax americana, promovida por forças bem mais relevantes do que a óbvia incompetência externa das suas últimas presidências. Por um lado, o crisma das eunucas "agendas identitárias" - total reprise do que a lenda narra como ambiente ideológico aquando da queda de Constantinopla diante do imperialismo islâmico, aquilo da querela sobre o "sexo dos anjos" - submergiu o velho pensamento progressista, metastizado após a queda do comunismo.

E por outro lado, o recrudescer das "agendas soberanistas" - mero invés das outras, pois de facto também elas apenas "identitárias" -, de cariz ferozmente reacccionário, mesclando laivos de liberalismo económico, demagogicamente apropriados, com um conservadorismo radical. Foi esta a "década" encetada pelo movimento Tea Party, de facto um proto-fascismo teocrático. E mais perto de nós, entre outros epifenómenos na Mitteleuropa, os manobrismos de Farage, acoitados pelo paupérrimo Cameron. E tudo isto exponenciado nesta ascensão de Charles Foster Kane à presidência do país mais poderoso do mundo. 

Muito se diz que a democracia ("sempre frágil, sempre vulnerável, corruptível e muitas vezes corrupta", disse-a Bobbio, quando dela fez a apologia) é frágil. Sim, é-o, tem esse enorme vigor. O da fragilidade. No Dia de Reis de 2021 a "década" acabou - esta, que tanto demonstrou essa fragilidade. Findou de modo algo sanguinolento. Mas como farsa. Resta-nos, acima de tudo, olhar os farsantes e seus adeptos, seja lá qual for a sua "identidade", como o que são: farsantes. Alguns malévolos. A maioria apenas imbecis. E combatê-los. Com denodo, aos primeiros. E com infinita ferocidade aos outros, pois muito mais perigosos. E numerosos. Vera pandemia que são.

O Donald

José Meireles Graça, 07.01.21

Cansei-me de, durante o mandato Trump, dizer: Olhem para o que faz, não para o que diz. Isto porque ele tinha meia dúzia de ideias certas sobre a economia, a imigração e as relações com o resto do mundo, enquanto os Democratas tinham e têm meia dúzia de erradas sobre os mesmos assuntos.

A tarefa dos trumpistas (como me chamam, com finura, alguns amigos) sempre foi dificultada pelo Donald, cujas eructações no Twitter tendiam, volta e meia, a ser embaraçosas, e pelos seus discursos de improviso, confrangedores, a sua retórica de vendedor de automóveis, que não era, e a sua prodigiosa grosseria de novo-rico, que também não.

Perdeu as eleições. Não é verosímil que, dada a diferença de votos, as chapeladas (que houve, e agravadas pela quantidade de votos não presenciais e uma multiplicidade de sistemas de contagem), e não obstante inúmeras decisões judiciais que não se basearam em recontagens, o resultado pudesse ser diferente.

Nunca é suficientemente dito que o papel dos vencidos é essencial em democracia: porque sem eles não haveria vencedores e porque os vencidos de hoje podem ser, se conservarem o seu pecúlio e souberem aumentá-lo, os vencedores de amanhã.

O saldo do seu mandato é francamente positivo. Não elenco aqui os sucessos: já o fiz noutra maré e, de todo o modo, como todos os mandatos são feitos de sucessos e falhanços, acertos e erros, nunca poderia convencer senão convencidos. O previsível regresso às agendas mundialistas, como o Acordo de Paris, as pazes com a ONU e as suas agências, e a política externa titubeante, em que ditadores mal vistos pela comunicação social, como Putin ou Jong-un, são hostilizados, enquanto outros mais perigosos como Jinping ou os mullahs iranianos, são relativamente poupados, estão de regresso.

Trump poderia guardar o seu capital (teve a segunda maior votação de sempre), e administrá-lo, talvez não para si porque já está velho para novas aventuras, mas para promover outro futuro candidato.

Não fez assim. Na sua estreita cabeça quem perde é um loser, e conceder senão à 25ª hora uma atitude de fracos. A pressa em executar condenados federais nem para apoiantes da pena de morte, como é a maioria dos Americanos, pode ter deixado de parecer aquilo que é: uma vingança raivosa por a sua liderança, cruel e primitiva em matérias penais, estar em risco. E a invasão do Capitólio por uma turba alucinada, que provocou com tweets incendiários e não susteve logo que se desencadeou, deixa uma mancha indelével no seu mandato.

Talvez no meio daquela multidão houvesse provocadores do ANTIFA; não se percebe como as forças policiais no local não reagiram; e, politizadas e abaladas como estão as instituições, não é certo que as investigações venham a apurar o que exactamente se passou. Mas a ideia de que invadir o Capitólio não é diferente das  manifestações da esquerda americana, que destruíram ruas e inúmeros negócios e outros bens, e que contaram com a complacência de uma comunicação social pela maior parte democrata, isto é, de esquerda, é desvalorizar o simbolismo de atacar impunemente a casa da democracia: se nesta uma sessão para apurar o resultado das eleições pode ser suspensa por um motim apalhaçado, a mensagem a retirar é a de que a polícia é uma anedota, os senadores uns cabeças de turco, os tribunais de faz de conta e o Poder o da rua. E até o grotesco ditador da Venezuela se permitiu vir, com um comunicado, traduzir a sua barrigada de riso.  

No início do seu mandato escrevi um artigo em que previa que correria bem. Era o tempo em que se se anunciava a III Guerra Mundial e as sete pragas do Egipto que se abateriam sobre o mundo e a América.

Correu bem. E acabou mal. Donald Trump não soube estar à altura da sua obra.

Gringos

José Meireles Graça, 18.10.20

Não vi o debate entre Trump e o snowflake Biden.

Mas com relatos e comentários de amigos, desamigos e consultores de vária pinta, nacionais e estrangeiros, cujos artigos me chegam via internet, foi como se tivesse visto.

Fiz bem em entreter-me com outras coisas. Que é humano, compreensível e inevitável ligar à empatia que têm ou não os candidatos. E o meu candidato é tão transparentemente grosseiro e primário que se torna difícil defendê-lo, e um sacrifício ouvi-lo.

A famosa pergunta “compraria um carro usado a este homem?” foi, parece, usada para castigar Nixon na campanha eleitoral que levou à eleição de Kennedy. E quando muito mais tarde o mesmo Nixon chegou à presidência veio a confirmar com o caso Watergate que comprar-lhe um carro usado era um negócio de alto risco. De Trump, realmente, pode-se legitimamente suspeitar que até o seu handicap no golfe seja uma vigarice, de modo que comprar-lhe um carro também não parece uma ideia muito atilada.

Sucede que Kennedy ficou na memória como o cabeça de uma casa real que os tão igualitaristas americanos nunca tiveram, e o autor de frases grandiloquentes mas ocas (“ask not what your country can do for you – ask what you can do for your country”), ou de desafios espectaculares e empolgantes significando muito e realizando nada (“Ich bin ein Berliner”). Deixou saudades e, fossem outros os tempos, tinha perfil para um D. Sebastião americano. Já Nixon ninguém recorda com saudade, mas foi um excelente presidente.

Mas isto que nos interessa, a nós portugueses? Seja o presidente o Francisco ou o Manuel, estamos condenados a estar do lado americano porque isso é do nosso interesse, e quem quer que seja o ungido sempre as instituições americanas defenderão, com maior ou menor lucidez, o deles. Portugal, um vago país situado algures no norte de África, se é que não está lá para o meio do continente negro, ainda por cima com menos autonomia que a Lusitânia no tempo dos Romanos, significa quando muito a necessidade de insinuar aqui uma ameaça pouco discreta, e ali um aceno com uma mão-cheia de dólares. Os locais borram-se com a primeira, e são muito sensíveis à segunda.

Porém. Porém.  Trump é o candidato do anti bem-pensismo. Não dá nada para o peditório do MeToo, do Antifa, da destruição das universidades americanas pela rasoira do conformismo progressista, da importação de uma imaginária social-democracia nórdica que lhe mataria o dinamismo económico, nem das discriminações positivas que vão instalando, em nome da igualdade, um sistema de apartheid. Nenhuma dessas coisas nem das outras que compõem o ramalhete do esquerdismo travestido de progresso da humanidade que entre nós tem o seu principal representante nos dementes do Bloco e, edulcorado, no PS.

De modo que Biden é o candidato da esquerda portuguesa, acolitada no caso por uma mole de idiotas úteis que julgam que não lhe estão a fazer o jogo; e Trump, dentro do campo democrático, o contrário disso.

É assim que quem, por detestar compreensivelmente o homem, precisar de boas razões, poderá talvez lembrar-se de que: não ganhou o Nobel da Paz mas não bateu o record, que detém Obama, de assassinatos políticos selectivos em países longínquos;  não iniciou guerras nem andou pelo mundo, como os neocons, a despejar bombas com o louvável propósito de converter os bombardeados à democracia; estabeleceu boas relações com ditadores que não deixariam de o ser se as relações fossem más; identificou a ascensão da China como o principal problema do futuro, com isso alertando salutarmente as democracias; deu passos sérios para a paz no Médio Oriente e na península coreana, ignorando os avisos de peritos em geoestratégia fajuta; tentou desvalorizar a Covid, que cedo intuiu não ter a perigosidade que vários interesses racionais e medos irracionais lhe conferem, procurando evitar que os danos colaterais fossem maiores do que os propriamente ditos; e combateu o Estado regulamentar, um cancro que mina as economias.

Era melhor se abandonasse o Twitter, não falasse de improviso, contratasse uma boa equipa para lhe redigir discursos, guardasse as gabarolices para o grupo de amigos em Mar-a-Lago e jogasse mais golfe.

Mas é o que há. Podia ser pior. Como Biden, por exemplo.

"We are in great shape"

Sérgio de Almeida Correia, 20.03.20

No momento em que o Governador do Texas, Gregg Abbott, envia aos seus concidadãos a Declaration of a Public Health Disaster in the State of Texas, e acontece mais uma corrida às armas por parte dos estado-unidenses, certamente para combater a tiro o COVID-19, convém recordar o que Donald Trump foi dizendo ao longo das últimas semanas. Um verdadeiro monumento à estupidez.

We are in great shape! Indeed.

Desconstruir análises

Alexandre Guerra, 07.02.20

Meses depois do conselheiro especial da Casa Branca, Jared Kuschner, ter apresentado ao mundo árabe a componente económica do plano de paz americano para o Médio Oriente, durante um "workshop" em Manama, Bahrein, recentemente foi a vez do Presidente Donald Trump revelar os contornos políticos e mais "quentes" daquilo que ele classifica de "Visão" (Vision for Peace, Prosperity and a Brighter Future) para a resolução do conflito israelo-palestinino. Se na vertente económica já era sabido que se estava perante um potencial investimento de cerca de 50 mil milhões de dólares,  no patamar político, o documento com a "Visão" de Trump apresentado há semanas concretiza muito claramente os intentos de Washington e Telavive para a "sua" solução de "dois Estados.

Não se pretende aqui analisar em detalhe todos os contornos do plano apresentado, mas sim desconstruir as análises erradas que se fizeram na imprensa, porque aquilo que alguns comentadores vêem como (novas) consequências provocadas pelo plano de Trump, são na verdade realidades que existem "de facto" desde a intifada de al Aqsa, em Setembro de 2000: a questão da descontinuidade territorial; a criação do sistema de "apartheid"; e o isolamento dos territórios palestinianos com os Estados limítrofes. 

Com o ressurgimento da violência israelo-palestiniana, em Setembro de 2000, espoletada pela provocatória visita do então primeiro-minsitro, Ariel Sharon, ao Monte do Templo (para os judeus) ou Haram al-Sharif (para os muçulmanos), o território da Cisjordânia foi sendo asfixiado e fragmentado pela política de colonatos judaicos e de segurança israelita. São várias as localidades e cidades dentro da Cisjordânia que, desde estão, ficaram totalmente controladas pelas IDF, sendo que, em muitos casos, a liberdade de circulação está limitada pelos inúmeros checkpoints levantados pelas IDF. A intensidade desta realidade vai sempre variando e dependendo do grau de violência que se vai vivendo no âmbito do conflito israelo-palestiniano. Por exemplo, durante os anos da intifada de al-Aqsa, os checkpoints entre a capital Ramalhah e a localidade universitária de Bir Zeit, a 20 minutos de carro, eram recorrentes a várias horas do dia. 

E quando há uns analistas que falam num novo “apartheid”, estão a ignorar por completo o que se passa há vinte anos na Cisjordânia, onde existem estradas que ligam directamente Israel aos colonatos, sem que os palestinianos possam utilizá-las, apesar de atravessarem território palestiniano. Estão a ignorar que os checkpoints são impostos discricionariamente de acordo com a vontade das IDF, muitas vezes de uma hora para o outra, impedindo que muitos palestinianos regressem as suas casas ou não possam deslocar-se de um local para outro, obrigando-os a esperar horas e até dias. Estes mesmos analistas, que agora vêem nesta “Visão” a fonte de todos os males, ignoram a realidade de duas décadas, onde milhares de palestinianos ficaram impedidos de atravessar a “fronteira” em Jerusalém para irem trabalhar diariamente em Israel. Ignoram ainda que desde 2000, Israel cortou com a ligação entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, provocando, nalguns casos, a separação de famílias. Muito dificilmente um palestiniano da Cisjordânia conseguirá chegar à Faixa de Gaza através de Israel. Quanto muito, terá que sair da Cisjordânia pela Jordânia e entrar em Gaza pelo Egipto.   

Recuperemos então algumas passagens do documento apresentado por Donald Trump. Na sua introdução, é referido que: "Gaza and the West Bank are politically divided." É verdade, mas como foi acima sublinhado, é omitido que também estão fisicamente separados desde o início da intifada de al Aqsa, em Setembro de 2000, por imposição das IDF. Ainda de acordo com a mesma introdução, lê-se: "Since 1946, there have been close to 700 United Nations General Assembly resolutions and over 100 United Nations Security Council resolutions in connection with this conflict." É obra, mas é revelador da ineficácia completa da comunidade internacional na tentativa de resolução desta questão. E como é que Trump vê estas resoluções da ONU? "This Vision is not a recitation of General Assembly, Security Council and other international resolutions on this topic because such resolutions have not and will not resolve the conflict."

Sendo os “males” potenciais identificados por muitos analistas, na verdade, evidências bem reais há vários anos, não será de estranhar que o plano de paz de Washington seja uma ferramenta diplomática tendenciosa para os interesses de Israel. A determinada altura lê-se: "It must be recognized that the State of Israel has already withdrawn from at least 88% of the territory it captured in 1967." Ora, depende da interpretação que se fizer e do território em causa. É que em 1967, Israel ocupou a Cisjordânia, Gaza, Montes Golã e um enclave ao Líbano e Síria (Shebaa Farms). Entretanto, retirou as IDF de Gaza, mas manteve o controlo fronteiriço; retirou a presença militar dos Golã, mas manteve a soberania e não devolveu à Síria (tal como as Shebaa Farms). Na Cisjordânia, recuou nalgumas zonas, mas isolou outras e fragmentou o território, enchendo-o de colonatos.

Um dos pontos mais importantes deste documento e mais estratégico para a sobrevivência de Israel tem a ver com algo a que não vi qualquer analista fazer referência: “The State of Israel will retain sovereignty over territorial waters, which are vital to Israel’s security and which provides stability to the region.” Ao contrário de outras matérias em disputa, como a questão da capital em Jerusalém (mais simbólica do que estratégica) ou dos colonatos (mais ideológica do que securitária), há dois temas que ameaçam directamente a existência de Israel (não, não é o Hamas nem o Irão): o acesso à água e o factor demográfico. Este tema ficará para um próximo texto.

O tiro de partida.

Luís Menezes Leitão, 05.02.20

iowa-caucus-registration-ap-jt-200203_hpMain_16x9_

O Iowa é normalmente considerado o tiro de partida para a nomeação do candidato democrata às presidenciais americanas, podendo atribuir ao vencedor da noite um avanço considerável na corrida. Foi assim com Barack Obama que emergiu decisivamente do Iowa como o candidato presidencial dos democratas em 2008. Mas já não parece que vá ser assim em 2020. As confusões no apuramento do vencedor, com Peter Buttigieg a cantar vitória, apesar de estar taco a taco com Bernie Sanders, e o afundamento de Joe Biden não auguram nada de bom para a candidatura democrata, que aliás se afundou na tentativa desastrada de impeachment de Donald Trump. Esse foi um erro de principiante de quem pareceu esquecer que um processo de impeachment não é apenas do foro criminal, mas também eminentemente político. Neste âmbito, um processo de impeachment pode ser facilmente decretado perante um presidente que perdeu o apoio popular, como aconteceu com Dilma Rousseff no Brasil, e iria facilmente acontecer com Richard Nixon após o escândalo Watergate. Mas não haveria qualquer possibilidade de o decretar perante um Presidente que mantém intacta a sua base de apoio popular, como é o caso de Trump. Como bem disseram os senadores republicanos, isso seria visto como um golpe de Estado por metade do país, uma situação em que obviamente o Senado nunca se poderia envolver.

Restam assim as eleições de Novembro e estas manifestamente começaram mal para os democratas. Pela primeira vez em muitos anos, corre-se o risco de não emergir das primárias um candidato definido, o que deixaria a nomeação presidencial para uma convenção aberta, onde até Hillary Clinton poderia voltar a ter hipóteses de ser nomeada. Vamos ver se New Hampshire permite recuperar do cenário do Iowa. Mas manifestamente as coisas não estão fáceis para os democratas. Trump soma e segue, e a menos que de facto surja um candidato democrata forte, tudo aponta para que seja facilmente reeleito em Novembro.