Delito de Opinião

Encontro? Sorriu. Já cá faltava. Levantou-se, voltou a sentar-se e releu a mensagem. Pronto, o período higiénico terminava ali. Poderia entretê-lo, inventando as desculpas do costume, mas sabia por experiência que o prazo expirara.

Segue-se uma carga de trabalhos. O que vestir, o cabelo, o peso, a conversa, a despesa, uma trabalheira cujo resultado não compensa o esforço. Hesitou, com a mão suspensa no teclado, mas o indicador adiantou-se e clicou com o rato em "responder": "No sábado para mim está bem", escreveram os outros dedos enquanto se recriminava.

Antes de enviar a mensagem  acrescentou-lhe um smile para ficar mais cool.

O empreendedorismo não é uma qualidade, é um slogan.

Ganhar eleições é, seguramente, um dos méritos mais relativos.

A honestidade em política não é uma qualidade, é uma disfunção.

A frontalidade não é uma qualidade, é um estilo.

A inteligência não é uma qualidade, é uma responsabilidade.

A sensibilidade não é uma qualidade, é uma textura.

A cortesia não é uma qualidade, é um anacronismo.

A ambição não é uma qualidade, é uma ambiguidade.

A riqueza não é uma qualidade, é uma fonte de stress.

A elegância não é uma qualidade, é uma despesa.

A disponibilidade não é uma qualidade, é um luxo.

A proactividade não é uma qualidade, é uma moda.

A experiência não é uma qualidade, é um activo (por vezes tóxico).

O optimismo não é uma qualidade, é uma fé.

O cinismo não é uma qualidade, é um defeito de culto.

A juventude não é uma qualidade, é uma oportunidade.

A beleza não é uma qualidade, é uma ferramenta.

Escolher os amigos entre os mais influentes não é uma qualidade, é uma habilidade.

Ser-se competente quando se tem vocação natural para o que se faz não é uma qualidade, resulta de uma feliz coincidência.