Creio que nenhuma outra palavra tem tantos sinónimos na língua portuguesa como dinheiro. Sinónimos cultos, populares, de jargão profissional, de regionalismos ou coloquialismos diversos.
Deixo o desafio aos leitores. Para que escrevam aqui os primeiros cinco sinónimos que lhes ocorrerem. Pelo mesmo só cinco de cada vez, não para despejarem listas de vinte ou trinta palavras copiadas de dicionários digitais.
Nos últimos meses, muito se tem falado de dinheiro. Do nosso dinheiro que é sempre curto para fazer face às despesas, do dinheiro que se gasta e se não tem, dos valores rídiculos pagos em indemnizações burlescas, dos prémios em pecúlio atribuídos aos vencedores e nas fortunas ainda maiores, com que ímpios do Oriente aliciaram derrotados e pelas quais, diz quem sabe (e por cá sabe-se muito), aqueles venderam a alma. Muito dinheiro. Valores pornográficos, falam as gentes sobre o mar de dinheiro que tem estado em alta, mas apenas nos noticiários e nas redes sociais.
Esta semana as notícias escandalosas chegam-nos da Altice Arena e das conversas motivacionais que por lá têm lugar, subordinadas ao tema "Como deixar de ser pobrezinho rapidamente".
Nós, os habitantes desta terra quase insular, somos pequenos e mesquinhos. Invejamos sempre o quintal do vizinho porque é mais verde e florido. Os nossos únicos vizinhos são os espanhóis, pelo que nem jeito temos para invejar com rigor. Somos sim mestres a apontar dedos, mas curiosamente acabamos por ser maus apontadores. Identificamos a fonte de todos os males, passamos anos a apontar-lhes o dedo e acabamos por premiá-los com o duplo zero, 00 como nos filmes de Bond. Damos-lhes toda a licença para liquidar o que ainda resta do acervo do país, se é que realmente algum valor ainda sobeja.
Voltando ao Parque nas Nações, no antigo Pavilhão Atlântico (um nome augusto, muito mais imponente do que a ridicularia que alude a façanhas tauromáquicas), com casa cheia, num belo sábado de Janeiro, pela modesta quantia de 19,00€, o povo foi ouvir a filosofia de uma das maiores oradoras nacionais e aprender "Como deixar de ser pobrezinho rapidamente". Pessoalmente, palestras motivacionais dizem-me rigorosamente zero. Não tentam sequer incutir valores e defendem apenas a força de vontade para vencer na vida com subtil inferência às máximas do caro Niccolo, persuadindo os ouvintes de que de tudo serão capazes, basta querer. E pelo visto muitos há que querem, ou não estariam quase dez mil pessoas naquela espécie de culto em alucinação colectiva. Não me compete julgar, apenas opino, porque em democracia tenho esse direito e porque desta vez a moral da história se resumiu a um par de calcantes de sola vermelha.
Vá la saber-se porquê, tudo isto me transporta aos anos oitenta, àquelas bandas de música ruidosa e de batida imutável, que não dizem grande coisa e que com um único hit tentam explorar ao máximo um filão de pirita. Tolos... são os outros.
Na sequência do meu postal sobre este cartaz, esta imagem será a mais definitiva confirmação da desonesta deturpação do sentido deste provérbio por parte do BE.
O sentido deste provérbio popular, que explica que sem trabalho não se consegue nada, foi desonestamente deturpado na última campanha do BE. Assim, este partido da esquerda aburguesada pretende defender a criminalização do enriquecimento ilícito. Até aí tudo bem, mas em vez de meter a foice em seara alheia, que é como quem diz, em vez de deixar os provérbios populares para o seu Mestre Jedi, o camarada Jerónimo, devia apostar naquilo em que os seus criativos são bons, e que é em produzir soundbites sonantes, e isto não é soundbite sonante, mas apenas um provérbio corrompido.
Nesta infeliz campanha, de forma a transmitir que por de trás do dinheiro há sempre ilicitude, o BE faz por ignorar a possibilidade de se ter dinheiro como resultado de trabalho, esforço ou talento. Esta é a forma enviesada como vêem o mundo.
Este provérbio seria uma óptima resposta a muitas das medidas que defendem e que se encaixam na velha política de querer acabar com os ricos. Quisessem antes acabar com os pobres e não teríamos um quinto da nossa população abaixo do limiar da pobreza, nem aceitaríamos que um terço dos pobres tenha trabalho regular. E tudo por não se querer olhar para o que é bem feito noutras paragens, onde o dinheiro também não cai do céu, mas as políticas públicas permitem que a riqueza cresça e quando o bolo é maior há mais para dividir.
Assim, governados por esta visão deturpada, faz-se por ignorar que para demasiados portugueses a prosperidade só é possível pela emigração.
Neymar ruma do Barcelona ao PSG por 222 milhões de euros: a transferência mais cara da história do futebol. Estas cifras milionárias, pornográficas num mundo cheio de carências básicas, já não têm nada a ver com desporto. Temos de chamar-lhe outra coisa, embora eu não saiba ainda bem o quê.
De acordo com uma investigação desenvolvida pela revista ‘Spears' e pela empresa WealthInsight - cujo objectivo principal era analisar a igualdade entre géneros, relativamente à riqueza pessoal - 23% das pessoas mais ricas no nosso país são do sexo feminino.
Para Josh Spero, editor da citada revista, no topo da lista estão os países asiáticos. Esta conclusão é igualmente partilhada por Oliver Williams, da WealthInsight.
Para além de Portugal, nos primeiros dez lugares surgem as Filipinas, o Peru, Hong Kong, a Turquia, Israel, Singapura, a Tailândia, Espanha e Itália.
Ao invés, entre os países com menos mulheres milionárias, contam-se a Holanda, Rússia, México, Arábia Saudita e Japão.
A ser verdadeira a informação, ela não me surpreende. E reflecte a tendência de que na gestão da riqueza o género contará cada vez menos.
O saque a Chipre, está mais que dito, é um roubo completo e se continuar será apenas o início do fim. As consequências serão imprevisíveis. Já quando Portugal foi "resgatado", tratei de tirar o dinheiro que lá tinha no banco. Não queria, mas tinha que acautelar uma expulsão do Euro (ou um desmoronamento do mesmo). Este risco ainda não passou, especialmente devido aos senhores de Bruxelas e Berlim que insistem em querer desfazer toda a gente que não viva para norte dos Alpes.
Ainda assim, até há pouco pensei que ter o meu dinheiro no banco na Holanda seria seguro. Sendo que também a Holanda está a impôr austeridade, que os depósitos bancários não estão seguros e que poderá não fazer sentido guardar Euros ou dólares (talvez yuans?) não sei se não deva antes usar as minhas poupanças para comprar alguma "commodity". O ouro está caro, o petróleo sabe-se lá o que fará. Em tempos vi num "comic" a solução: comprar drogas. Cocaína, heroína ou outras não perdem o valor em crise. Antes poderão ganhar, como forma de escape. Creio que não seria o primeiro. Quem sabe, até chego depois do fim da crise a primeiro-ministro.
Quando regressava hoje a casa, no final de um mês em que, em anos anteriores, a minha conta bancária estava um pouco mais aliviada, ouvi uma notícia extraordinária. Pois parece que o governo teve que alargar o prazo para os contribuintes portugueses, com contas no estrangeiro não declaradas em Portugal, regularizarem a sua situação tributária. Isto porque, a "corrida" ao RERT (Regime Excepcional de Regularização Tributária) registou uma afluência tal nos últimos dias que os próprios serviços "entupiram".
Ora sendo o RERT um regime especial de incentivo à regularização de dívidas fiscais relativas a contas e participações financeiras não declaradas por contribuintes portugueses, sedeadas fora da União Europeia (paraísos fiscais incluídos), ele permite também a "Exclusão da responsabilidade por infracções tributárias que resultem de condutas ilícitas que tenham lugar por ocultação ou alteração de factos ou valores que devam constar de livros de contabilidade ou escrituração, de declarações apresentadas ou prestadas à administração fiscal ou que a esta devam ser revelados, desde que conexionadas com aqueles elementos ou rendimentos", ou seja uma espécie de amnistia fiscal aos contribuintes com património não declarado no estrangeiro. O regime impõe uma taxa única de imposto de 7,5% sobre os valores, não faz qualquer pergunta sobre a sua origem e não implica o seu repatriamento.
O que eu considero extraordinário nem é o facto deste regime existir. Ele é mais favorável ao Estado que o anterior, que previa uma taxa de apenas 5%, e o valor do imposto pago até agora, segundo as Finanças, supera já os 150,1 milhões de euros, sendo a receita superior à acumulada nos dois regimes de regularização anteriores. Boas notícias para os cofres do estado, portanto.
Mas o que não deixa de me espantar é a existência de tanto dinheiro nesta situação. Se 150,1 milhões de euros são 7,5% há, por esse mundo fora, muito dinheiro que, se tributado cá, seria certamente uma grande ajuda. E estes milhões dizem apenas respeito aos pagamentos de quem quis regularizar a situação. Imaginemos os outros...
Não pude deixar de me lembrar desta canção da Gal Costa que deixo aqui. Outro país, outros tempos. É verdade, mas, não estamos assim tão longe e, tal como na canção, assim não se pode (mesmo) ser feliz.
Lições de rico dá-as quem pode, de facto. Ou seja quem tem pilim, muito pilim, e não sabe o que será viver de salários mínimos. Mas há sempre quem esteja disposto a ouvi-los.
Na revista francesa Le Point da última semana, uma pequena notícia dá conhecimento que Carlos Slim, mexicano de 72 anos e tido pelo homem mais rico do mundo, terá explicado, no forum da ONU, a sua visão do futuro.
Para ele, os países em crise deverão aumentar os impostos, reduzir as despesas públicas, vender todos os activos - aeroportos, auto estradas, energia - e organizar o sector produtivo com três dias de trabalho por semana e quatro para a família, a educação e o descanso.
Preconiza, igualmente, a utilização da alta tecnologia informática e coloca nos setenta anos, a idade para a reforma, à excepção dos trabalhos mais duros.
O mundo organiza-se a partir do princípio da simplicidade. E os instrumentos que permitem concretizar a simplicidade são uma classificação bipolar e um lápis. O lápis serve-nos para desenhar um risco. A classificação bipolar serve para situar a realidade face ao risco que desenhámos. Bom e mau, esquerda e direita, branco e negro, norte e sul, pobre e rico e tantos outros pares que nos são úteis na nossa relação com o mundo. Ora, o movimento Ocuppy Wall Street utiliza também este método de abordagem. O lápis do OWS desenhou a fronteira: 99% de um lado, 1% do outro. Simples, não é? É. Depois, é só distribuir os americanos pelo lado do risco que lhe corresponde. Simples, não é? É. E assim se fez. Michael Moore, o conhecido documentarista, colocou-se, naturalmente, do lado bom do risco. O dos 99%. Simples, não é? É. Pois, e participou nas manifestações e tudo. Então a história acaba aqui. Grato pela V/ atenção. Aum... o quê? O Michael Moore tem rendimentos e património que o colocam do lado do risco que corresponde ao grupo do 1%? A sério? Ah, negou que assim fosse. Então está tudo bem. Aum... o quê? Ah, acabou por admitir. Pois, pois, pois. E os seus rendimentos colocam-no no grupo restrito dos 10% mais ricos dentro da malta do 1%? Bem, bem, bem. Ah, mas já fez um post a explicar tudo que até já foi traduzido no Esquerda.net? Então, tudo está bem quando acaba bem, não? Ufa! Óptimo. Já agora, vamos só ver o que ele diz. Ah! Vendeu à Warner Bros. os direitos de distribuição de um filme por 3 milhões de dólares. Boa camarada. E o que fez com o dinheiro? Muito bem. Pagou impostos, pagou dívidas, criou uma fundação, deu algumas prendas a familiares e amigos, fez ofertas meritórias, comprou uma moto e um apartamento em Manhattan... Espera, isto parece uma fábula do capitalismo, caramba, cruzes credo. Não? Ah, pois. Também doou mil perus no dia de Acção de Graças. Pronto, assim já fica tudo muito mais claro. Jamais um capitalista faria uma doação de mil perus. E, embora o post de Michael Moore não esclareça, é certinho que, a partir daí, fez exactamente o mesmo sempre que recebeu dinheiro pelos seus direitos de autor (que são, como se sabe, uma genial invenção socialista). Claro, claro, claro. Pois, enfim, não sei camaradas. Mas, confesso que, apesar de tudo, estava muito mais entusiasmado quando comecei a escrever o post. Parecia-me tudo tão simples. Mesmo com a coisa dos mil perus, confesso que isto já não me parece tão claro como fazer um risco no chão e colocar as pessoas de um lado ou do outro. Bom, mesmo bom, era que o Michael Moore fosse realmente pobre. Ou, quando muito, remediado.
Primeiro, ignorei. Depois, preocupei-me (estouvadamente e em abstracto).
Pouco depois, acossada, tirei-o do banco e meti-o no secreto caseiro, concebido ardilosamente desde a construção do refúgio, para os bules e os brincos de arrecadas.
A seguir, comecei a desconfiar da segurança do reservado (se aquele homem que vinha ler o contador da luz me rouba às descaras, o que não faria em manobras?). Meti-o então, derrotada, no colchão, sentindo o peso, envergonhada, do retrocesso civilizacional.
(Avô, como te compreendo). Dentro de muito pouco tempo posso não ter nada: nem para devaneios, nem para livros, nem para iogurtes, nem para patavina. E tenho (isso sim) a quem alimentar debaixo do meu tecto.
Perante a gravidade da situação do país e das medidas anunciadas por Pedro Passos Coelho há um conjunto de reacções e ilusões que são completamente despropositadas. Aqui vão algumas:
1 - Discussão entre austeridade e estímulo económico: num país em que o Estado está sem dinheiro para pagar salários, absolutamente dependente do financiamento estrangeiro, pretende-se investir exactamente o quê? E, já agora, não foi um certo tipo de investimento que, em boa parte, nos trouxe até aqui? O certo é que o dinheiro que temos não é nosso, é emprestado, e fazemos com ele o que nos mandam. Assim, o único investimento que pode chegar à nossa economia é o investimento directo estrangeiro. De empresas que se queiram instalar no nosso país. Se o conseguirmos tornar atractivo. Impedidos de responder no imediato com alterações estruturais (justiça, qualificação), resta-nos intervir nos custos do factor trabalho (diminuição dos feriados ou aumento do horário de trabalho são exemplos, porventura de eficácia reduzida). No mais, falar de investimento do Estado nas actuais circunstâncias é completamente irrealista.
2 - Ilusão de que os funcionários públicos são os grandes sacrificados: sim, é verdade que vão perder poder de compra. Mas, vão, até ver, manter o emprego. No privado, a crise pagar-se-á com falências e desemprego maciço. Alguém no sector público estará interessado em trocar?
3 - A ideia de que os sacrifícios têm de valer a pena: na medida em que está implícita a possibilidade de, algum dia, num futuro mais ou menos próximo, podermos regressar aos níveis de consumo dos últimos anos. Nada mais falso. Depois do túnel, se houver alguma coisa, será frugalidade e contenção. E já não será nada mau.
Posto isto, há algumas interrogações que são, essas sim, pertinentes. E todas têm dimensão ética. A primeira diz respeito à avaliação das promessas e compromissos eleitorais de Passos Coelho. Está a violar aquilo a que se vinculou e, em casos afirmativo, tem para isso justificação? A resposta é fundamental para percebermos da viabilidade do vínculo de confiança que deve existir entre eleitores e governantes. A segunda coloca-se ao nível da repartição dos sacrifícios. Está a classe média a ser a única sacrificada ou aqueles a quem chamamos ricos estão também a ser chamados a participar no esforço nacional? Existe um esforço sério para combater a corrupção e a utilização abusiva de dinheiros públicos? Está a ser percorrido caminho no sentido de assegurar a frugalidade e equilíbrio nas remunerações dos titulares de cargos públicos? E responder a isto é fundamental para percebermos da viabilidade da manutenção da paz social.
Todos os limites máximos foram aumentados. A taxa do crédito pessoal, por exemplo, foi revista para uns tímidos 20,2%. A única excepção ao aumento dos limites registou-se nos cartões de crédito, mantendo-se nestes a razoabilíssima taxa máxima de 34,1%
A imposição de limites máximos é uma prática adoptada pelo BdP desde o final do ano passado. A aplicação de taxas superiores aos referidos limites é considerada usura. A aplicação de taxas inferiores não.