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Delito de Opinião

Dia de Raiva

Maria Dulce Fernandes, 28.07.22

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Nasce contigo, visceral, repugnante, perversa, permanece dormente nas entranhas como um gémeo parasita, pronta para sair, subir à garganta e transformar-te num monstro, numa gárgula aberrante e disforme que te corrompe, que te altera, que te faz vociferar dejectos incongruentes num tom estonteado e vil que faz tremer as paredes, que faz tremer as pessoas, que te agita de alto a baixo até sair por completo, projectada no ar com o efeito duma bomba avantajada, porque no fundo fez vítimas e os estragos são desmesurados e incontáveis, irreparáveis até.
Clímax de segundos e regressa ao antro, deixando-te esmagada, desfeita, só.
Não consegues varrer os cacos porque há coisas que, depois de ditas e feitas, não têm retorno e tu sabes, porque durante toda a tua vida te debateste com a besta. Desta vez levou-te a melhor e tu tens de aprender a viver com isso... mais uma vez.
 
(Imagem Google)

Dies Mundi

Maria Dulce Fernandes, 02.03.22

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O mundo é aqui é agora, na porta ao lado, na próxima esquina. O mundo é a realidade que engoles ensonado, a fumegar, que empurra a panaceia matinal contra as maleitas do tempo.

O mundo é a atmosfera saturada que respiras ofegante através do trapo que te oferece fraco consolo como filtro das pestilências que te envolvem, as físicas, porque para as outras não há filtro nem machado.

O mundo é tudo o que sentes e pensas que sabes. Não sabes se sabes tudo ou se apenas sabes a realidade que te envolve e que te ilude.

O mundo é o lento girar das sombras que vês passar até ao regresso da luz que cada vez mais tarda em chegar.

O mundo é vida e palpitante . Podes nada entender da realidade do mundo, mas  sabes que mordaças e grilhões aguardam na parda antecâmara da morte de todas as mortes, aquela que deixa para trás o corpo vazio de alento de quem a alma se apagou nas chama da desolação e do terror.

O mundo é o espelho do medo.