Dia do Chato
Por falta de data celebratória, que é uma falha imperdoável, resolvi criar um dia, para todos os amigos, que na sua candura de tudólogos especialistas produzem mais zoada do que dez enxames de vespas asiáticas. Criei então "O Dia do Chato."
Há já muitos anos fui com o meu pai ao cinema ver um filme espectacular com o Jacques Brel e o Lino Ventura, chamado "L'Emmerdeur ", traduzido ad lib como "O Chato". O filme contava as desventuras de M. Milan, um temido hitman low profile, depois de travar conhecimento com Pignon, um fatigante e inoportuno maçador da pior espécie, daqueles tipo cola, que não despegam nem se calam. A fita vem-me à ideia bastas vezes, não só pela companhia do pai, por recordar o seu riso e por "M. Milan" ter ficado na família como private joke e sinónimo de chato, quando afinal o chato era o outro, mas também pela mensagem do filme de que no good deed goes unpunished. Dias há, quando a paciência é posta à prova horas a fio e é absolutamente necessário manter a calma porque é imperativo estar-se concentrado e atento, em que fecho os olhos e vejo o meu pai a sorrir e a dizer-me "M. Milan, M. Milan!!", e eu respondo "Chiça, este é mil vezes pior, pai", mas pronto, gaja que é gaja com pelo na venta, se não tem a capacidade de desligar, está desgraçada, por isso vou mentalmente até aquele disjuntor que as mulheres possuem, baixo uma fase e continuo a minha vida, ciente que continuarei com o chato em música de fundo e que a opereta que interpreta dia após dia ainda vai só no primeiro acto, só que eu já desliguei.
A esta hora, penso que já estarei off e por tal incapaz de aprovar ou responder a comentários, mas como diria o outro, I'll be back. Pelo menos espero que sim.