Dia Mundial da Poesia
O Dia Mundial da Poesia já passou, foi no dia 21 de Março, um dia meio cinzento, pouco primaveril, mas que teve outros encantos. Um dia que começou com uma caminhada junto ao rio, com o vento a bater na cara e a levar para longe as palavras da boa conversa que preencheu este hiato de tempo. O dia seguiu o seu rumo, entre risos e leituras, entre devaneios e tormentos, e chegou ao fim com o desejo insistente de ir à pequena Feira do Livro da Poesia. Meia dúzia de barraquinhas de madeira, edificadas num dos vértices do jardim do bairro e onde, pousando o olhar sobre vários títulos e autores, haveria eu de escolher o que me traria as memórias quentes dos poemas lidos num Agosto longínquo, era eu então uma adolescente fervorosa e ávida de grandes romances, daqueles que causam dor pela profundidade que alcançam.
Deixa-me ser tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.
Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!
Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...
Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei prà minha boca!...
in Sonetos, Florbela Espanca