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Delito de Opinião

Bom Dia de Portugal

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

Maria Dulce Fernandes, 10.06.24

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"Eis aqui se descobre a nobre Espanha,

Como cabeça ali da Europa toda,

Em cujo senhorio e glória estranha

Muitas voltas tem dado a fatal roda;

Mas nunca poderá, com força ou manha,

A Fortuna inquieta pôr-lhe noda

Que lha não tire o esforço e ousadia

Dos belicosos peitos que em si cria.”

“Eis aqui, quase cume da cabeça

Da Europa toda, o Reino Lusitano,

Onde a terra se acaba e o Mar começa

E onde Febo repousa no Oceano.

Este quis o Céu justo que floreça

Nas armas contra o torpe Mauritano,

Deitando-o de si fora; e lá na ardente

África estar quieto o não consente.”

“Esta é a ditosa pátria minha amada,

À qual se o Céu me dá que eu sem perigo

Torne, com esta empresa já acabada,

Acabe-se esta luz ali comigo.

Esta foi Lusitânia, derivada

De Luso ou Lisa, que de Baco antigo

Filhos foram, parece, ou companheiros,

E nela antão os íncolas primeiros.”

Desejo a todos um dia excelente e o discernimento necessário para  contextualizar o trecho do poema na época em que foi escrito.

Viva Portugal🇵🇹

Ó glória de mandar, ó vã cobiça

Pedro Correia, 10.06.24

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Ao tomar posse como primeiro-ministro do XVIII Governo Constitucional, em Outubro de 2009, José Sócrates retomou uma antiga tradição da política portuguesa citando um verso de Camões que andava um pouco esquecido: «Esta é a ditosa pátria minha amada.»  Vem n’ Os Lusíadas, um clássico que ainda seduz políticos contemporâneos da mesma forma que seduziu o Rei D. Sebastião quando, segundo se julga, Luís de Camões lho leu pela primeira vez, no início da década de 1570, no paço real.

«Esta é a ditosa pátria minha amada, / À qual se o Céu me dá que eu sem perigo / Torne com esta empresa já acabada, / Acabe-se esta luz ali comigo», escreveu Camões no canto III, 21.ª oitava, d’ Os Lusíadas. É uma das mais belas quadras desta obra matricial da língua portuguesa cujo grau de popularidade se afere bem pela presença de muitos dos seus versos na nossa linguagem de todos os dias.

Com efeito, é vulgar aludirmos à «ocidental praia lusitana» (canto I-1), àqueles que foram «dilatando a fé e o império» (I-2), aos que «se vão da lei da Morte libertando» (I-2), ao «engenho e arte» (I-2) ou ao «peito ilustre lusitano» (I-3). São igualmente familiares, até a quem não leu uma só linha do vasto poema, versos como estes: «Cesse tudo o que a Musa antiga canta, / Que outro valor mais alto se alevanta!» (I-3); «Vós, poderoso Rei, cujo alto Império / O Sol, logo em nascendo, vê primeiro» (I-8); «(...) julgareis qual é mais excelente, / Se ser do mundo rei, se de tal gente» (I-10); «Duma austera, apagada e vil tristeza» (canto X-145).

 

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Os Lusíadas é uma obra marcante também pelas figuras que cria ou recria.

As Tágides («E vós, ó Tágides minhas, pois criado / Tendes em mim um novo engenho ardente» (I-4); Vasco da Gama, o «forte capitão» (I-44); a deusa Vénus, defensora dos portugueses, que «novos mundos ao mundo irão mostrando» (canto II-45), pois «se mais mundo houvera, lá chegara» (canto VII-79); Inês de Castro, aquela «que depois de ser morta foi rainha» (III-118); o Velho do Restelo com as suas imprecações («Ó glória de mandar! Ó vã cobiça / Dessa vaidade a que chamamos fama», canto IV-95); ou o sinistro Adamastor («Cheios de terra e crespos os cabelos, / A boca negra, os dentes amarelos», canto V-39).

Já para não falar das incursões autobiográficas do autor no seu poema, como aquela em que se retrata como alguém que tem «numa mão sempre a espada e noutra a pena» (VII-79). Ou, projectado em interposto navegador no célebre episódio da Ilha dos Amores, nos ensina que «Melhor é experimentá-lo que julgá-lo / Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo» (canto IX-83).

  

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Camões - nascido há 500 anos - foi um mestre na arte do aforismo em forma de verso, como Os Lusíadas bem testemunham.
 
Eis alguns: «É fraqueza entre ovelhas ser leão» (I-68);«Sempre por via irá direita / Quem do oportuno tempo se aproveita» (I-76); «Quanto mais pode a fé que a força humana» (III-111); «Um baixo amor os fortes enfraquece» (III-139); «É grande dos amantes a cegueira» (V-54); «Contra o Céu não valem mãos» (V-58); «Quem não sabe a arte, não na estima» (V-97); «Fraqueza é dar ajuda ao mais potente» (IX-80).
 
Não admira que o nosso maior poeta continue a seduzir políticos: foi ele quem ensinou que «toda a terra é pátria para o forte» (canto VIII-63). Foi ele que tão bem soube cantar essa «ínclita geração» (IV-50) que se aventurou no ponto exacto «onde a terra se acaba e o mar começa» (VIII-78)".
 
Foi no entanto também Camões quem ensinou – aludindo a D. Fernando I – que «um fraco rei faz fraca a forte gente» (III-138). Este é um verso que não imaginamos em nenhum discurso de posse. O que não quer dizer que não seja igualmente digno de reflexão.
 
Texto reeditado

Portugal

jpt, 11.06.22

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Vieram do (magnífico) mercado vizinho, a 5 euros o quilo. Foram assadas com a consabida arte do mestre, sempre cioso das suas funções. Cruéis, durante o labor das brasas, rimo-nos dos turistas na própria terra que pagam, lá na capital, 2 euros por cada peixe esturricado. Depois saímos à mesa, com apetite patriótico. Também foram presentes os pimentos, oriundos das mesmas brasas, e outras saladas bem apepinadas. Acompanharam vários vinhos frios (mas jamais "catembes", sangrias e afins). O Dia de Portugal é quando um homem quiser...

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 10.06.22

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Hoje celebra-se O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas 

"O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas é assinalado anualmente a 10 de Junho, data da morte de Luís de Camões. Este dia presta homenagem a Portugal, aos portugueses, à cultura lusófona e à presença portuguesa por todo o mundo.

O 10 de Junho começou por ser um feriado municipal em Lisboa, dedicado a Camões. Foi elevado pelo Estado Novo a feriado nacional, como «Dia de Camões, de Portugal e da Raça». Com o 25 de Abril, passou a ter a actual designação"

.

O 10 de Junho era o dia do piquenique da família. De toda a família, aquela em que nascemos e aquela que escolhemos. Conforme o tempo que fazia, decidíamo-nos entre o Parque das Merendas de Sintra, o Parque de  Cascais (Ribeira dos Mochos), a Lagoa de Albufeira ou a Figueirinha. Era obrigatório todos os participantes contribuírem com um prato cozinhado, pão, água e vinho, levarem mantas, copos e talheres. A minha mãe levava galinhas pré-cozinhadas, uma caixinha com sangue, o pacote de arroz, um garrafão de água e um Campingaz. Depois era a magia da colher de pau e zás! Lumus! E a cabidela era de chorar por mais. A galinha macia, o arroz malandro, o sabor um regalo.

Um dos meus maiores desgostos, culinariamente falando, é não ter "mão" para misturar o sangue e muitas vezes fica talhado. Sabe bem, mas não é a mesma coisa. Imperdoável.  

Camões tinha olho para as coisas. Sabia das voltas que a vida dá e que quanto maior é a subida, maior é o trambolhão.  

Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.

Perdigão que o pensamento
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar,
Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
Não há mal que lhe não venha.

Quis voar a u~a alta torre,
Mas achou-se desasado;
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
Lança no fogo mais lenha:
Não há mal que lhe não venha.

 

Um abraço para as comunidades portuguesas por esse mundo fora, especialmente Rio de Janeiro, Luanda, Amsterdam e Geilenkirchen na Alemanha.

 

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A 10 de Junho celebra-se O Dia dos Alcoólicos Anónimos

"Foi a 10 de Junho de 1935, nos EUA, que se realizou a primeira reunião em que alcoólicos procuraram ajudar-se mutuamente. Desde então a mensagem de esperança da recuperação do alcoolismo expandiu-se, chegando a mais de 180 países e ajudando mais de dois milhões de mulheres e homens alcoólicos, em mais de 109 mil grupos que se reúnem regularmente.

Em Portugal, Alcoólicos Anónimos tem uma estrutura consolidada, mantendo activos 85 grupos e realizando perto de 190 reuniões semanalmente, distribuídas pelo continente e regiões autónomas, levando ao alcoólico que ainda sofre uma mensagem de esperança. Além das reuniões destinadas exclusivamente a alcoólicos, são organizadas regularmente reuniões abertas a não-alcoólicos, familiares, técnicos de saúde e outros profissionais e entidades."

Trabalhar com álcool ali à mão e não poder beber é um suplício tantálico para quem procura a resposta a todos os problemas existenciais no fundo de uma garrafa de vinho. É uma luta diária e são mais os dias em que se perde. Vejo-os lutar e cair e erguer-se para mais um dia, que em sendo bom, pode durar dois ou três. Alguns há cujo funcionamento já depende da ingestão da bebida e sabem que se o fizerem com conta peso e medida vão enganando os menos atentos e passam pela chuva sem grande molha, mas se chega a recaída sabem que a encharcada é difícil de reabilitar. É um dos grandes males da nossa era, mas não é recente e não irá desaparecer facilmente. 

 

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No 10 de Junho celebra-se O Dia do Ice Tea

"As origens do Lipton Chá Gelado remontam ao nosso estimado Sir Thomas Lipton. Após abrir a primeira mercearia em Glasgow em 1871, onde vendia chá aos seus clientes, viu o potencial que existia na aromática bebida e decidiu comprar várias plantações de chá no Ceilão (hoje, Sri Lanka). Foi o início de uma revolução que o levaria a democratizar o acesso ao consumo de chá, acreditando que o chá deveria ser desfrutado por toda a gente, e não apenas pelas classes mais ricas. Sir Thomas encontrou formas menos dispendiosas de embalar e transportar o chá, tornando-o disponível às pessoas comuns. O chá Lipton revelou-se um sucesso imediato, chegando rapidamente ao mundo inteiro. Hoje é apreciado por milhões de pessoas.

A grande oportunidade para o Chá Gelado chegaria 25 anos depois, durante a Feira Mundial de St. Louis em 1904. O tempo quente inspirou Richard Blechynden, dono de uma plantação de chá, a juntar gelo às amostras de chá que distribuía aos visitantes. O resultado refrescante e surpreendente foi um êxito imediato. Esta oferta promocional colocou o Chá Gelado no topo das preferências"

Caseiro, gelado, com limão e hortelã! Há lá coisa melhor para acompanhar a leitura, numa espreguiçadeira à sombra com o mar a brincar ali em baixo? Sou fã!

 

(Imagens do Google)

Palavras dos leitores

Pedro Correia, 11.06.20

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Sobre a minha proposta aqui expressa ontem, de alteração da letra do Hino Nacional, substituindo os versos de Lopes de Mendonça por um poema de Camões, houve quem concordasse e discordasse.

Fica um resumo.

 

«Nos dias que correm, o que faria sentido seriam versos de Bocage.»

Sampy

«Não sei se há textos de Camões cujo ritmo e métrica acertem com o ritmo e métrica da música de Alfredo Keil. Os textos de Camões já musicados, de Os Lusíadas ou quaisquer outros, não tiveram muita sorte quanto a música...»

JAB

«Excelente sugestão. Tudo o que nos livrasse desta cópia bera da Marselhesa (a música também não é a ideal, mas a coisa de "marchar contra os canhões" é bem pior).»

JPT

«Seria também pertinente e justo conter passagens de Pessoa... e, premiando a justiça da coisa, de Saramago. Poderá alguém achar que estarei a desprestigiar o poeta [Camões], mas acho que estou a elevá-lo, colocando-o com uma importância semelhante àqueles dois personagens das artes e de valor incomensurável.»

El Profesor

«Assim em abstracto, sem uma proposta concreta de quais os versos a utilizar, e a que passo da música, o pensamento do Pedro Correia de nada vale. Mais valera não o exprimir.»

Luís Lavoura

Hino, Camões, 10 de Junho

Pedro Correia, 10.06.20

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Penso há muito que o Hino Nacional devia ter versos de Camões. Sendo o Dia de Portugal assinalado a 10 de Junho, em evocação da data da morte do nosso maior poeta, faz todo o sentido.

Não desfazendo, claro, no vate Lopes de Mendonça, autor da letra do presente hino. Mas entre Camões e Mendonça, prefiro o primeiro.

A música de Alfredo Keil, naturalmente, deve manter-se.

Aprender Mar, aprender Portugal

Maria Dulce Fernandes, 10.06.19

Quando eu era pequenina, a Avó ninava a canção do Barquinho e eu choramingava: Pobre barquinho, que fez chape!!  no mar… 

 Mal damos pelo tempo passar e já estamos a aprender. Aprendemos a sorrir, a comer, a gatinhar, a falar... 

Num ápice, estamos a juntar números e letras, a aprender o B + A = BA e o 1 + 1 = 2.  

Aprendemos sobre Portugal, sobre os Primitivos, os Bárbaros, os Gregos, os Romanos, os Arabes e o al Andalus, osCristãos, o Condado Portucalense e a Reconquista

Aprendemos que do tempo das trevas nasceu uma luz imensa. 

Aprendemos principalmente sobre o mar e os marinheiros que montados em cascas de noz com mastros com as velas da Cruz de Cristo, cavalgavam as ondas por esses mares fora, sem medo do desconhecido, rasgando horizontes, enfrentando tempestades, colhendo para Portugal os frutos da imortalidade histórica. Aprendemos que não há vento que nos desvie nem onda que nos afunde. Aprendemos que o homem do leme nos levaria sempre a bom porto, enfrentando intrepidamente todos os mostrengos que lhe quisessem obstruir passagem:.

Não sei se é por estar a ficar (mais) velha, que me sinto nostálgica e derrotista, mas tem dias que estou a ver as notícias, sempre más, só tristezas, crimes, desgraças e corrupção e me pergunto por onde andará o Homem do Leme, um Homem do Leme. 

Temos andado á deriva por tanto tempo e não há ninguém com vontade e pulso firme para conduzir este barco através deste negrume de incontrolável turbulência, através deste mar de despudor e ignomínia.  

O Homem do Leme tornou-se no D.Sebastião da era moderna e voltará talvez numa manhã de nevoeiro. Só espero que ainda tenha visibilidade e visão para poder encontrar Portugal, mas tenho em mim que destas trevas não sairá qualquer faúlha, desde que a imoralidade a desvergonha e a incorrecção  se tornaram parte integrante da cultura moderna  

"... 

Dar-te-ei a nau Catrineta 

Para nela navegar. 

Não quero a nau Catrineta 

Que a não sei governar. 

Que queres tu, meu gajeiro, 

Que alvíssaras te hei-de dar? 

"Capitão, quero a tua alma 

Para comigo a levar 

...". 

 

Bom Dia de Portugal.