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Delito de Opinião

Monólogos dialogados

Maria Dulce Fernandes, 21.06.22

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- Já viste que tempo estúpido, este que faz?

- O ser humano é muito inconstante, bolas! Passo o raio do Verão todo a queixar-me do tempo, e porque está quente, e porque tenho afrontamentos, e porque não aguento, e porque suo como um cavalo, e porque raios partam a porcaria do calor, e porque nunca mais acaba esta bodega e vem o frio… sim, porque o frio é bom e sempre se controla o frio com a roupa, enquanto o calor é incontrolavelmente sufocante e não dá para andar nua. Ainda matava alguém do coração e nunca me almejei serial killer...

- Então não me dizes porque é que tenho os ossos húmidos, os olhos fechados de inchados que estão e o nariz a pingar? Então não é o frio que é 5 estrelas? Parece-me é que já não sei bem o que é que quero!

- Sabes, duma coisa tenho a certeza: sou seguramente uma reclamante profissional. Passo a vida a reclamar de tudo e de todos. Passo a vida a reclamar da própria vida e nunca estou satisfeita com coisa alguma. Reclamo do tempo, do trabalho, das pessoas, do governo, da casa, dos gatos, dos achaques da idade, do barulho, do silêncio, reclamo porque sim, reclamo porque não, reclamo porque… reclamo.

- Tu sabes bem, passas tempo suficiente comigo para me conheceres de ginjeira... sabes que eu sou assim, só desabafos, muita parra e pouca uva, fogo de vista, muito barulho por nada... 

- Achas que estou a ficar uma chata?… É que por vezes dou pelos meus interlocutores a responderem-me com monossílabos ou simplesmente sons… Sintomático, não achas? Penso que me estou a tornar na minha Mãe muito mais depressa do que gostaria… Não me interpretes mal! A Mãe era uma querida, adorá-la-ei sempre, mas era tão chatinha. Olhando bem p'ra mim, que não devo estar muito aquém! Provavelmente já há quem se benza quando me telefona e reza para que a seca seja levezinha…

- Amiguinho, tem lá paciência, mas uma pessoa tem dias (até tem muitos) em que está um bocado desanimada e precisa de desabafar. És um bom ouvinte, eu sei. É por isso que falo tanto contigo… nunca me fica aquele amargo de boca, aquela sensação desagradável de quem esteve horas a fio a falar para o boneco. 

Conversa portuguesa, com certeza

Pedro Correia, 29.04.21

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- Como vai?

- Assim-assim.

- E a família?

- Mais ou menos.

- E lá no emprego?

- Uns dias melhor, noutros dias pior.

- Deixe andar, que as coisas melhoram.

- Talvez sim, talvez não. E você e os seus?

- Cá vamos andando, como Deus manda.

- Vou pôr-me a caminho. Desejo-lhe muita saúde, que é o que é preciso...

- Até um dia destes. Gostei de conversar consigo.

Elas, eles e as máscaras

Pedro Correia, 01.09.20

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Diálogo entre duas mulheres em férias algarvias:

- A minha máscara cheira a merda.

- Credo! Porque é que não a deitas fora?

- Era o que faltava, andar a comprar máscaras. Tenho muito mais em que gastar o meu dinheiro.

 

.....................................................................

 

Diálogo entre dois homens em férias algarvias:

- Ontem, ali no urinol, mijei na máscara. Levava-a na mão, estava distraído e não reparei.

- E o que fizeste?

- Tive que a pôr na cara mesmo assim. Sabes que eles não nos deixam andar sem máscara aqui no hotel.

- Mas não a lavaste antes?

- Olha, nem me lembrei disso.

Diálogos gretados

Pedro Correia, 03.12.19

 

Ela - Gostaste de ver a Greta em Lisboa?

Ele - Não. Esta Greta não tem garbo.

Ela - Ela é determinada e fofinha. Gosto muito dela. Miúda voluntariosa e bem intencionada. Luta por uma causa que devia ser de todos.

Ele - Eu vejo-a como uma ignorante que se destaca por faltar à escola.

Ela - Incomoda e mobiliza os outros jovens para uma causa justa.

Ele - Apela aos miúdos para fazerem greve às aulas a pretexto da defesa do clima. Assim é fácil ser popularíssima. Qual o miúdo que não sonha ser liderado e manipulado por alguém assim?

Ela - A Greta não sabe o que é ser falso ou dissimulado ou manipulador. Ela é genuína, autêntica.

Ele - O problema nem é ela, mas os oportunistas que a manipulam para se tornarem "celebridades". Como estes velejadores ricaços que lhe deram boleia durante semanas no Atlântico e deliram por terem "milhões de seguidores" nas redes sociais. E os políticos que se vergam à miúda porque assim ficam bem vistos nos meios de comunicação.

Ela - O que ela diz e faz só pode incomodar negacionistas como tu e quem se sente posto em causa como cidadão por não fazer nada ou quem é de direita e imagina que os activistas pró-ambiente são todos de esquerda. Ela é um exemplo para os da geração dela, que vivem alheios a tudo e todos, sempre ligados ao telemóvel.

Ele - Os alarmistas como tu podem achar muito gracinha, mas o lugar de uma miúda como ela é na escola, na universidade. Tem de aprender, estudar, investigar. Aos 16 anos ninguém dá lições ao mundo.

Ela - A geração dela é que levará em cheio com as consequências das alterações climáticas. Portanto tem toda a legitimidade para se manifestar pois quem está no poder não faz nada. Ou não faz o suficiente. Que moralidade tem alguém para criticar a causa destes miúdos? Em última análise estão a lutar pela vida.

Ele - Quem lutou e luta pela vida não é a Greta: é a Malala, que arriscou tudo na defesa do direito das miúdas paquistanesas em frequentar as escolas quando eram perseguidas ou até mortas por quererem instruir-se. Ela levou em 2015 o Governo a aprovar a primeira lei que reconhecia o direito universal à educação lá no país. Foi gravemente ferida, esteve quase à morte, mas não desistiu. Enquanto a Malala defende as meninas nas aulas, a Greta quer tirá-las de lá. Se admiro uma, não posso admirar a outra.

Ela - Que argumento mais manipulador e demagógico! Assim não dá para manter uma discussão com pés e cabeça.

Ele - Deixemos então de discutir. Queres vir ao cinema comigo? Apetecia-me ver O Irlandês.

Ela - Não está no cinema, só dá para ver na Netflix. Vai ser o meu programa para esta noite, mas sem ti. Passa bem.

Postal de Natal II

Teresa Ribeiro, 20.12.18

No supermercado, secção de chocolates:

- Ajuda-me lá a escolher.

- Olha, estes são óptimos.

- Ah, nem pensar! São muito caros. 

- E estes?

- Está melhor, mas mesmo assim não quero gastar tanto.

- Ehehe! Forreta!

- Ouve, afinal qual é a relação que eu tenho com os filhos do Jaime? Nenhuma! Os miúdos não querem saber de mim para nada. Vejo-os só no Natal! Para que hei-de então gastar dinheiro com eles? Levo um chocolate para cada um, só porque parece mal não lhes dar nada! 

"Tu tens cara de ser rico"

Pedro Correia, 04.12.18

Estou na paragem do autocarro, chega o pedinte e atira sem rodeios:

- Tu és rico, dá-me dinheiro.

- Não tenho dinheiro nem sou rico - respondo-lhe de imediato.

Mira-me de alto a baixo, com ar intrigado, antes de repetir a frase - desta vez em tom menos imperativo.

Chamo-lhe a atenção:

- Se fosse rico, andava de Mercedes. Não estava aqui à espera do autocarro.

Ele afasta-se. Mas, depois de dar uns passos, vira-se para trás e faz questão de encerrar assim o breve diálogo:

- Olha que tu tens cara de ser rico.

Trota passeio adiante sem aguardar mais réplica, cravando outra pessoa logo a seguir.

Códigos

Pedro Correia, 30.11.18

Vou ao balcão da pastelaria, peço para me embrulharem um croissant misto (sem manteiga) e um sumo. 

O empregado pergunta:

- Quer palhinha?

Detesto palhinhas. Respondo:

- Não. Palhinha está no Braga.

Ele ri, percebendo de imediato o trocadilho. Saio do estabelecimento a pensar como seria mais cinzento e baço o nosso quotidiano sem estes pequenos códigos de comunicação que tanto nos ajudam a colorir os dias.

O Verão em que liguei para a linha da Via Verde

Rui Rocha, 19.12.17

- Estou sim?
- Boa tarde. Estou a falar com o Senhor Rui Rocha?
- O próprio...
- Boa tarde, Senhor Rui Rocha. O meu nome é ***** ******* e estou ligar-lhe para efeitos de controlo de qualidade da linha da Via Verde.
- ...
- O Senhor Rui Rocha ligou para a linha da Via Verde em Agosto. Está recordado?
- Bem vê, estamos em Dezembro. Passaram três ou quatro meses...
- Então o Senhor Rui Rocha não se lembra?
- Lembro, claro. Estava a brincar consigo. Nunca me esqueço das chamadas que faço para a linha da Via Verde. Era só o que faltava.
- Nesse caso, vou pedir-lhe que responda a algumas perguntas.
- Muito bem. Mas vou precisar que aguarde uns momentos para eu consultar o meu caderninho onde aponto as coisas importantes que me acontecem na vida por ordem cronológica. Não desligue.
- Er... muito bem Senhor Rui Rocha.
(2 minutos)
- Senhor Rui Rocha?
- Sim.
- Estava só a confirmar que continuava aí. Já tem as informações?
- Ainda não. Acabei de passar Novembro. Estou mesmo a entrar em Outubro. Menos mal qua a chamada não foi em Maio ou em Fevereiro. Mantenha-se em linha.
- (2 minutos)
- Senhor Rui Rocha?
- Sim.
- O Senhor Rui Rocha não está a consultar um livrinho, pois não? Está só a gozar connosco, não está?
- Estou. Mas vocês é que começaram.
- Muito obrigado, Senhor Rui Rocha.

Sede interminável

Pedro Correia, 20.03.17

- E para beber, o que deseja?

- Uma cola.

- Não temos. Só Pepsi. Pode ser?

- Pode. Pepsi também é cola.

- Como disse?

- Nada...

- E deseja a Pepsi fresca?

- Claro.

- Gelo e limão?

- Limão, não. Só gelo.

- Não deseja limão?

- Não. Só gelo.

- E quantas pedras?

- Duas ou três.

- Uma palhinha?

- Não é preciso. Detesto palhinhas.

- Como disse?

- Nada...

Assim feia é que eu gosto de ti

Pedro Correia, 28.12.15

- Toma cuidado com os piropos: podem dar-te o passaporte para três anos no chilindró!

- Ficas descansada. Nunca me passaria pela mona gastar o meu dicionário de piropos numa abécula como tu.

- Olha quem fala! Já te viste ao espelho? Caganda frasco me saíste...

- E tu? És mesmum coiro...

- Quem desdenha quer comprar, ó boi-cavalo!

- É isso mesmo. Tens troco, trinca-espinhas?

- Vai-te catar, filho dumaganda égua! O que tu queres sei eu...

- Eheheh. Dá-me pica.

- Dá-te pica o quê, rafeirote?

- Seres tão... feia. Mas assim mesmo é que eu gosto de ti.

Os coentros

Helena Sacadura Cabral, 20.12.15
 

Eu tinha organizado a minha vida toda para não ter que andar na rua nestes dias. Mas, azar dos Távoras, a minha plantação de coentros não chegava para as necessidades e resolvi dar um pulo ao supermercado mais perto de casa, visto que na zona onde vivo foi morrendo de morte lenta tudo o que era comércio de bairro. Agora existem cinco restaurantes, quase pegados uns aos outros, e a única mercearia que sobreviveu pratica preços de monopólio.
O meu problema foi mesmo ter ido ao super porque antes de chegar aos coentros fui "atacada" por uma pessoa que só reconheci quando me disse o nome. E que ficou atónita por eu não me lembrar dela, que não via há cerca de vinte e cinco anos.
Além de me brindar com um "estás na mesma, rapariga", perguntou-me pelo Natal, se continuava a ir para a neve, se estava só ou acompanhada, se agora estava mais cá ou em França, se, se, se. Tive de cortar o inquérito pessoal, mas fiz mal, porque se lhe seguiu a sua história que eu não tinha pedido para ouvir e em que os "ses" de que dependia o seu Natal - eu diria mesmo a sua vida - eram tantos, que nem consigo enumerá-los. E os ditos pareciam, de facto, estar a dar-lhe cabo da existência. 
Quando pude finalmente falar, tentei explicar-lhe que não adianta nada sofrer por antecipação e que, possivelmente, nada do que ela estava a imaginar iria acontecer. Atrevi-me, até, a sugerir-lhe que fizesse o raciocínio ao contrário, ou seja que pensasse na alegria que ia ter porque, "se" Deus quisesse nenhuma das suas pessimistas previsões iria acontecer.
Quando, por fim, cheguei aos coentros já só havia salsa e hortelã...

a vida com os adolescentes

Patrícia Reis, 21.07.15

Frase do dia: "Eu é que sou teu filho a sério, não é ela!", ou seja, Micas e Madalena a tentar perceber, há uma hora, quem é que tem razão e quando eu desempato é nisto que dá!  Micas e Madalena, vocês são o meu orgulho, mas, francamente, estão ligados à corrente.

"Ó mãe, dás razão à Madalena porquê?"

Resposta: "Porque ela é minha filha durante uma semana!"

Micas reclama, virado para a Madalena: "Admite que eu tenho razão, admite".

E ela? "Não."

Para fazer as pazes, o Micas pergunta a coisa do Forrest Gump:

"Mãe, achas que a vida é como uma caixa de chocolates?"

Dizemos a frase do filme em coro e pronto, acho que vão ver a Brave e falam em surdina:

"Vais parar com essa merda? acabou a brincadeira, se faz favor, sempre a insinuar, tens noção de que me imitas bué mal, não, por acaso imito bem, capto toda a tua essência, vai bugiar, chega para lá..."

Amanhã eles continuam o drama class, dentro e fora da escola, e eu estarei agarrada a mais um livro novo da Carolina. Life is like a box of chocolates, you never know what you are going to get.

 

P.S.: O Micas diz, depois de uns minutos de silêncio:

"Olá pessoa sem razão!"

Entre homens...

Helena Sacadura Cabral, 15.06.15

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Eles estavam no bar de um bom hotel. Já tinham falado de tudo e mais alguma coisa. Ambos empresários, criticavam a política como se dela fizessem parte. Um, situacionista, ainda não estava contente com a TSU e defendia que a mesma teria de descer mais. O outro nem queria ouvir falar da dita embora não se percebesse porquê. Finalmente falaram de mulheres.

- Tu já viste a sorte do Zé?
- Sorte porquê?
- És parvo ou quê? Então o gajo não anda com a Marta?
- É pá, mas a Marta é casada com o teu sócio.
- Por isso mesmo. Aquela já tem editor responsável...
- Ah! De facto, é um ponto de vista. Não tinha pensado nisso.
- Pois é. Ele é que a sabe toda. Assim alarga o negócio!

Diálogos dominicais

Helena Sacadura Cabral, 15.06.15

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Era Domingo e na praia o sol estava insuportável. Manuel e Maria abrigavam-se debaixo de um chapéu de sol. A geladeira estava à sombra, mas um pouco distante. O Zezinho brincava a fazer castelos de areia.

- Maria, dá-me uma cervejola.
- Estou muito cansada. Vai tu buscá-la.
- Ó Zezinho, traz uma cerveja ao Pai.
- Agora estou a fazer castelos, não posso.
- Traz já a cerveja se não queres apanhar uma nalga...

Diálogos ideológicos

Pedro Correia, 22.07.14

 

Ela - Nada é mais natural do que a defesa dos mais fracos.

Ele - Discordo. Eu defendo os mais fortes e os mais aptos.

Ela - Que é isso?! Eu sou defensora dos fracos e dos oprimidos. E com muita honra, ficas a saber!

Ele - Dos fracos não reza a história. Os fortes é que têm de ser defendidos.

Ela (cantarolando) - "Avante camarada, avante / junta a tua à nossa voz."

Ele - Cala-te. Odeio isso! Quase tanto como odeio o direito à igualdade.

Ela - Não me mandas calar! Os direitos são iguais.

Ele - Não existe igualdade. Não existe fraternidade. Não existe sociedade. Só existe indivíduo. Cada um por si. Este é o conceito que nos une, a nós, neoliberais.

Ela - O conceito que vos une, o caraças! Tu vais acabar por sair da caverna, seja a bem seja a mal. E sou eu que te vou reabilitar para a sociedade.

Ele - Na caverna é que os homens eram iguais. Esse é o problema da esquerda: nunca saiu da caverna.

Ela - Vocês é que são homens das cavernas. Todos uns trogloditas! E o vosso pensador de cabeceira chama-se Fred Flintstone.

Ele - A desigualdade é o motor do mundo.

Ela - 'Tás-me a irritar. Hei-de evangelizar-te, nem que seja à porrada.

Ele - Hum. Dessa linguagem já estou a gostar. Vê-se que começas a assimilar as minhas lições.

Ela - Há-de haver sempre desigualdades, a esquerda democrática assume isso. O nosso objectivo não é acabar com as desigualdades, mas diminuí-las.

Ele - A esquerda, se fosse verdadeiramente pela igualdade, seria igual à direita, que chegou primeiro.

Ela - Mas a direita nem quer ouvir falar em igualdade de oportunidades!

Ele - Quem chega primeiro dita as regras. Se vocês defendem a igualdade, então tornem-se iguais a nós.

Ela - Iguais a vocês? Nem penses, meu reaccionariozinho fofo.

Ele - Não me chames isso!

Ela - Reaccionariozinho?

Ele - Não: fofo. Para mim reaccionário é elogio.

Diálogos futebolísticos

Pedro Correia, 17.01.14

 

Ela - Tens pensado muito em mim?

Ele - Já pensei mais. Ando a enfastiar-me.

Ela - Que é isso?! Não tens nada de deixar de pensar em mim, ouviste? Isso é influência daquele teu amiguinho que não resiste a um rabo de saias...

Ele - Influência, não: inveja. Ele tem um verdadeiro harém.

Ela - E tu achas o máximo, não achas?

Ele - Qualquer homem acha.

Ela - As namoradas do teu amigo não têm nomes: têm números (de anca, cintura e mamas).

Ele - Isso agrada-me.

Ela - Idiota! Comunista!

Ele - Não admito que me chames comunista!

Ela - Cavaquista! Esclavagista! Ferreiraleitista!

Ele - Pior só se me chamasses benfiquista.

Ela - Tomaras tu que eu te chamasse benfiquista, ó seu lagarto encardido. E não voltes nunca mais a dizer que te sentes enfastiado comigo! Fiquei chocada com a forma como me disseste isso.

Ele - Estava na brincadeira. Achas que eu falaria assim se fosse verdade?

Ela - Estúpido! Não consigo viver sem ti.

Ele - Só viverás sem mim se quiseres.

Ela - Não quero. Nunca.

Ele - Vivò Sporting!!!

Ela - Vivò Sporting?! Eu declaro-me a ti e tu respondes-me uma coisa dessas?!!!

Ele - Isto anda tudo ligado.

Ela - Parvalhão. Se continuares com essa conversa ainda acabas por marcar golos só na própria baliza.

Diálogos televisivos

Pedro Correia, 16.01.14

 

Ele - Não podes estar um dia sem mim... Hoje não pareces nada bem humorada.

Ela - Pois. O dia de ontem foi para esquecer. O meu momento alto aconteceu às 11 da noite, quando vi O Sexo e a Cidade.

Ele - Detesto que vejas essa série.

Ela - Porquê?

Ele - É uma série feminista, não é? Nunca vi...

Ela - Nunca viste?! Não acredito... A um título destes a tua curiosidade não resiste.

Ele - Espreitei uma vez. Eram umas dondocas que só pensavam em compras e em ser sustentadas por gajos ricos. Uma merda. O que eu nunca vi foi as Donas de Casa Desesperadas. Confundo sempre essas duas.

Ela - São ambas séries de gajas. Mas não és tu que gostas de decifrar o cérebro feminino?

Ele - Não preciso de ver séries americanas para entrar na cabeça das mulheres europeias. As que me interessam.

Ela - Devias ver. É pedagógico.

Ele - A série das dondocas, nem pensar. Assisti a uns minutos do filme na televisão e achei-o pavorosamente mau. Apenas pretexto para vender marcas. Como podes seguir aquilo?

Ela - O filme não tem nada a ver. A série é muito melhor.

Ele - Mas não é com as mesmas actrizes? Aquela baixinha e nariguda irrita-me.

Ela - E do meu nariz gostas?

Ele - Não conheço nenhum outro tão parecido com o da Cleópatra.

Ela - Hum... Se há coisa que aprecio em ti é isso.

Ele - Isso o quê?

Ela - A tua cultura clássica.