O Tiago Moreira Ramalho, num bravo post, acusa de “mentalidade mesquinha” os que não gostam de bufos, grupo em que orgulhosamente me incluo. A terminar declara: “ … não acho admissível que se venha com o discurso dos bufos, como faz a Ana Gomes e subscreve o Carlos Barbosa Oliveira, apenas porque não nos convém a denúncia em questão”.
Pensei não responder mas, depois de reflectir um pouco, admiti que talvez valesse a pena esclarecer o TMR que, sendo eu um troglodita, não opino ou reajo em função de conveniências ou interesses, mas sim por convicções. Admito que o TMR não saiba o que isso é, mas está sempre a tempo de ir ao dicionário.
Não conheço Lopes da Mota, não sou simpatizante deste governo, mas não gosto de pelourinhos. Subscrevo, por isso, integralmente, as palavras de António Vitorino esta noite no “Notas Soltas”: “Neste momento e até conclusão do processo disciplinar, a demissão de Lopes da Mota depende apenas da sua consciência”.
Correndo embora o risco de o desiludir, não resisto a explicar ao TMR que os bufos existem mesmo, não são figuras mitológicas do Estado Novo, nem se extinguiram com os cravos de Abril. Aparecem sob diversas formas e sofrem de metamorfoses constantes. Deixo aqui, com todo o gosto, a identificação de algumas classes em que se dividem:
Bufo pé de cabra- Actua normalmente nos locais de trabalho. Insinua-se junto do chefe e quando percebe que um colega vai ser nomeado para um lugar importante, inicia o processo de destruição. Põe a circular notícias falsas sobre o visado ou deixa cair junto do chefe alusões a factos da sua vida pessoal.
Bufo profissional- Vive do mexerico. A sua frase preferida: “Eh pá, se eu fosse jornalista tinha muitas coisas para contar sobre aquele tipo”. Há quem lhes dê muita importância e goza de popularidade por estar sempre a par das últimas fofocas. Normalmente, o que tem para revelar é falso ou não vale um caracol, mas é disso que se alimenta.
Bufo-osga- É um sedutor. Faz amizades facilmente. Procura cultivar a amizade de jornalistas e pessoas influentes, insinuando-se com uma ou duas histórias verdadeiras. Ganha a confiança, a falta de material atractivo leva-o a inventar histórias. Quando percebe que já não tem crédito, procura outro hospedeiro. Tanto pode ser outro jornalista, como uma pessoa influente, ou do “jet-set”, disposta a fornecer-lhe novas histórias que depois utiliza para se insinuar junto de outro jonalista.
Bufo-oportunista- É o maior inimigo dos locais de trabalho. Não faz nenhum. Anda sempre à espreita, para saber o que corre mal. Assim que obtém informação suficiente, mesmo sabendo que o assunto já está resolvido, lança a notícia cá para fora. O último ataque deste exemplar foi detectado hoje. Ia a sair do IEFP.
Bufo-saudosista- Vive no tempo do Estado Novo. É um agente da PIDE falhado. Se pudesse, escreveria no BI - Profissão: delator. Prolifera nos partidos políticos, mas mais nuns que noutros.
Bufo de sacristia- Resulta do cruzamento do bufo-osga com o oportunista. Videirinho, procura passar despercebido, mas está sempre atento a tudo o que se passa à sua volta. Recolhe um conjunto de elementos que parecem encaixar e passa a informação para os jornais. Gosta de viver em tribunais.
Bufo - cordeiro- Dizem-me que vive na madeira e é uma espécie de bicho do caruncho. Só denuncia quando a vítima está longe. Assim que ele se aproxima, torna-se um cordeiro. Dizem que está em vias de extinção, mas eu não acredito
Como vê, TMR, bufos não faltam, é apenas uma questão de escolha. Como TMR acha que a “denúncia é do mais saudável que pode haver” eu até lhe apresentava alguns exemplares, mas acontece que não sou bufo e esses animais não gostam de ser desmascarados. Pessoalmente, continuo a preferir as fontes credíveis que não me engrominam e a acreditar que o “mais saudável que há” é uma democracia sã. Coisas de velho sonhador. Quem me manda a mim ler o Luís Sepúlveda?