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Livro divertidíssimo, construído numa lógica epistolar dos nossos dias. A história é contada através de emails, recibos, notas em post-its e suportes parecidos.
Não será um candidato ao Booker, mas desencadeia uma vontade incontrolável de ir a correr comprar outro título da autora.
Para ler durante umas férias ligeirinhas, uma viagem de avião ou numa noite de insónia.
Este livro é um conjunto de relatos de viagem do Sr. Bowles, tão interessantes e tão bem escritos que até irrita.
Para quem não tem o prazer de o conhecer, Paul Bowles foi um viajante dos anos 30/40 que, depois de muita deambulação, se apaixonou por Marrocos e por aí viveu uma data de anos. O livro é escrito a partir das notas das suas viagens, que poderiam ser datadas, ou banais e, por isso desinteressantes. Só que não é o caso, porque era um homem que via as coisas com lentes peculiares.
Conta, por exemplo, como nessa época, na medina de Fés, se alugavam chupa-chupas e os miúdos pagavam consoante o tempo que tivessem o chupa na boca. Ou como na Madeira, em vez de conversar com os seus conterrâneos nos hotéis coloniais, ia tagarelar em castelhano com um pastor – que descreve como tendo “um rosto cubista”- e o pastor achava ele estava a falar português. Ou como era Paris em casa de Gertude Stein, com todos os pormenores pícaros. E por aí fora.
Um gozo tremendo, este livro.
Com este livro regressei ao prazer incomensurável de encontrar uma nova voz. Não são histórias que se recomendem a qualquer pessoa. Junot Díaz é desconcertantemente desbocado e toda a sua linguagem é uma enxurrada que nos faz resvalar pelas páginas fora, quase a perder o fôlego.
Num registo autobiográfico e através da personagem que se tornou transversal às suas histórias – Yunior – Díaz põe-nos a fazer parte da vida dominicana nos Estados Unidos, temperando o texto com palavras castelhanas salpicadas a seu bel prazer. O efeito desta espanholada, para além de divertido, é poderosíssimo, como se pode perceber pela frase “ainda não tinha cinquenta anos, mas já era uma dueña”.
Muito, mas mesmo muito bom, até três quartos da história. Lá pela página quinhentos dá a sensação de que Adichie tinha uma data de notas em arquivo que não queria deixar de aproveitar para o livro e, já desgastada pelo cansaço de tanta página, desatou a enfiar tudo a martelo.
É um interessantíssimo tratado sobre raça, que aborda de forma prosaica questões sobre as quais nós, ocidentais brancos, nunca tínhamos pensado, começando pela perspectiva da personagem principal que afirma que só quando chegou à América é que tomou consciência de si própria enquanto negra.
Um bom (e até simples) trabalho de edição teria levado este livro para outro patamar literário. De qualquer forma, recomenda-se com convicção.