D. Leonor de Portugal, Rainha da Dinamarca
À semelhança de sua tia D. Berengária, a infanta D. Leonor de Portugal foi igualmente rainha da Dinamarca, embora o marido nunca tenha reinado por conta própria. Valdemar the Young foi uma espécie de “rei júnior”, ao lado do pai. Era o filho mais velho, fruto do primeiro casamento de Valdemar II com Dagmar da Boémia. Dois anos depois de enviuvar, Valdemar II casou com D. Berengária de Portugal e teve mais três filhos e uma filha.
Em 1215, Valdemar II reuniu-se com os seus magnatas, que juraram fidelidade ao seu filho homónimo e, passado pouco tempo, o jovem Valdemar foi eleito rei, ao lado de seu pai, um estatuto estranho, mas que parece ter sido usado noutras monarquias europeias. Seria a fim de assegurar o seu futuro como rei da Dinamarca, já que o pai casara pela segunda vez? O certo é que, três anos mais tarde (já tinha nascido, pelo menos, um dos seus meios-irmãos), em nova cerimónia, que reuniu quinze bispos e três duques, o jovem Valdemar foi untado com os santos óleos e coroado “co-rei”.
D. Leonor de Portugal, rainha da Dinamarca
António de Holanda, Public domain, via Wikimedia Commons
Interessante é verificar que Valdemar II escolheu, para sua nora, uma sobrinha da sua segunda esposa: a infanta D. Leonor, única filha de D. Afonso II. É possível que o consórcio tenha sido negociado em Paris. A infanta D. Leonor talvez tenha ido com o irmão D. Afonso para a corte francesa, onde este se faria conde de Bolonha, graças à tia materna Branca, rainha de França. D. Afonso acabaria por se tornar rei de Portugal, como Afonso III, por suposta incapacidade do irmão Sancho II, ficando conhecido por o Bolonhês.
D. Leonor casou com Valdemar the Young no dia de São João Baptista de 1229. No entanto, o matrimónio pareceu amaldiçoado quase desde o seu início: no ano seguinte, houve um eclipse solar, logo seguido de uma epidemia pestilenta, o que causou grande impacto numa sociedade supersticiosa, como o era a da época medieval. E, passado mais um ano, a maldição parecia confirmar-se: D. Leonor morreu de parto, em Maio de 1231, e o bebé também não sobreviveu. Como se tudo isto não bastasse, o jovem Valdemar foi ferido por uma flecha, numa caçada, acabando por sucumbir ao ferimento, com apenas vinte e dois anos, escassos seis meses depois da morte da esposa. Na historiografia, ele é, por vezes, referido como Valdemar III (assim está escrito no seu epitáfio, em latim), mas nunca chegou a reinar sozinho, pois morreu antes do pai. E a designação Valdemar III é também usada para designar um outro rei que viveu no século XIV (1314–1364).
Igreja de São Bento, Ringsted, Dinamarca By Mariusz Paździora - Own work, CC BY-SA 3.0
Assim como a tia Berengária, D. Leonor de Portugal ficou sepultada como rainha da Dinamarca, na Sankt Bendts Kirke (Igreja de São Bento), em Ringsted, perto de Copenhaga. Porém, segundo Anabela Natário, ela está identificada como tendo sido «filha do rei de Espanha» (p. 204)! Devia o governo português solicitar a correcção deste epitáfio? Ou será por estar escrito em latim, referindo Hispânia, em vez de Espanha? Há uma grande diferença entre os dois termos, mas não me parece que os dinamarqueses a conheçam.
Placa com a lista de reis e rainhas sepultados na Igreja de São Bento, em Ringsted, Dinamarca. Berengária surge como Beengjerd, falecida 1220; Leonor surge como Eleonora, falecida 1231.
Imagem CC BY-SA 3.0