Frases de 2015 (52)
«Estaremos perdidos se a coligação continuar à frente do País.»
Bispo Januário Torgal Ferreira
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«Estaremos perdidos se a coligação continuar à frente do País.»
Bispo Januário Torgal Ferreira
Digamos que do ponto de vista católico, D. Januário considera algumas das práticas deste governo "anticonstitucionais".
Por muito menos, este senhor proclamou-se vítima de um linchamento. Agora, estando sob mira pública um irmão na fé, e sem o menor assomo de caridade cristã, ei-lo a acender a fogueira num tema onde todas as precauções são devidas sendo a natureza humana o que é e tendo provocado os assassínios de carácter que já provocou. Repare-se no nível intelectual desta argumentação: "Ouvi que ele tinha tido um comportamento dessa ordem." E desta, que inverte o ónus da prova: "Não possuo quaisquer elementos que provem que isso não é verdade."
Se não é linchamento, imita bem. Sobretudo após o categórico desmentido do visado, a quem não pode ser negado o direito à defesa. E do louvável acto de contrição já assumido por outro interveniente na polémica.
Merece forte penitência por tão ruim pecado, senhor bispo.
É lamentável que o espaço de oposição ao governo esteja a ser ocupado por D. Januário Torgal Ferreira e por Mário Soares. E isto é assim pelas pessoas em si, pelo que representam e pelo tipo de discurso que protagonizam. A democracia deve ser o espaço da solução e da sua alternativa. Ora, o bispo das Forças Armadas e o ex-presidente não são solução para o que quer que seja. E muito menos estão em condições de apresentar qualquer alternativa.
Mário Soares é um político reformado e irreformável, dono de algumas poucas virtudes sobrevalorizadas pelo próprio, às quais uma parte significativa dos portugueses foi sensível numa determinada fase e a que se tornou indiferente depois, e de um conjunto razoável de vícios que são, em boa medida, partilhados pelo próprio sistema (o amiguismo, a ideologia balofa, o empurrar os problemas com as bochechas, etc.). Por seu lado, D. Januário acumula, ironicamente, a condição de representante de duas instituições, o Exército e a Igreja, que enquanto tais e tal como acontece com os árbitros no futebol, são tanto mais úteis ao país quanto menos se notar a sua presença em campo. Para além disto, o discurso de um e de outro constituem o exemplo acabado do mais profundo espírito anti-democrático.
O problema essencial das afirmações de D. Januário não é o de ele ser bispo ou major e de nessa qualidade, ou na de simples cidadão, criticar o governo. É de apostar em acusações gravíssimas, generalizadas a um órgão de soberania democraticamente eleito e de não as fundamentar. Com tal comportamento, ofende, antes de mais, os portugueses. A raiva e o excesso quando se aliam à vacuidade não só não atingem o alvo a que se dirigiam, como retiram credibilidade a quem profere as acusações. No mesmo plano se colocou Mário Soares. Defender que os portugueses querem um novo governo revela, antes de mais, a ambição de falar em nome de quem já não lhe reconhece autoridade para isso. Para além do mais, trata-se mais da expressão de um desejo do que do diagnóstico da realidade. Excesso e falta de sustentação de afirmações que só não surpreendem porque ao contrário do próprio, já todos percebemos que o papel político de Mário Soares é meramente decorativo.
O problema deste estado de coisas é que o país precisa de oposição ao governo. Forte, credível, sustentada, com propostas que possam constituir-se como alternativa. Com D. Januário e Mário Soares a ocupar o espaço mediático não é só o discurso populista ou radical de Louçã e Jerónimo que perdem palco e oportunidade. É também a incapacidade de Seguro se afirmar como alternativa moderada que se torna mais evidente. Tudo em benefício de um governo que se encontrava há uns dias atrás em grandes dificuldades e com acelerado desgaste e que pode, agora, respirar um pouco e até apresentar-se como vítima de ataques desvairados, com isso reforçando a credibilidade da tese da conspiração de interesses. Repito, tudo em benefício de um governo que estava contra as cordas, mas não necessariamente em benefício do interesse do país.
Já há muito tempo que nos habituámos a ouvir D. Januário Torgal Ferreira e saber que a sua posição é muito desalinhada da da Igreja Católica. D. Januário não se coíbe de criticar as posições da sua própria Igreja, como se vê aqui e aqui, sendo por isso natural que a hierarquia da Igreja se demarque das suas posições.
Também já não são novidade os ataques violentíssimos de D. Januário Torgal Ferreira a este governo. Aquando dos cortes dos subsídios D. Januário já tinha aqui qualificado a medida como uma inventona, típica da Inquisição, um acto de terrrorismo, e que faria Sá Carneiro revolver-se no túmulo. Depois comparou as posições de Passos Coelho sobre a paciência dos portugueses às de Salazar, dizendo que lhe "parecia que estava a ouvir um discurso de uma certa pessoa há 50 anos" e que "o povo tinha que ir para a rua fazer a democracia". Não por acaso, surgiu logo a seguir uma notícia sobre os vencimentos que o bispo ganha, o que pelos vistos não o intimidou. O último ataque ao Governo é, porém, de uma violência extrema, falando o bispo em corrupção, em gangues, em diabinhos negros, etc., etc. O que espanta, no entanto, é que o Governo tenha decidido reagir em coro, quer por Paulo Macedo, quer por Aguiar-Branco.
Essas reacções permitem, no entanto, a D. Januário alimentar ainda mais a polémica, chegando a pôr em causa a autoridade de Aguiar-Branco. Ora, se há coisa que um Ministro da Defesa não pode ter é a sua autoridade posta em causa nas Forças Armadas, mesmo que a contestação venha apenas de um capelão.
Comparada com estes ataques de D. Januário, a oposição de António José Seguro parece a de um menino do coro. O bispo está em clara posição de xeque ao governo. Ou o governo se cuida ou arrisca-se a cair em xeque-mate.