(regressei. habitualmente regresso sempre. não reli este texto. perdoei-me qualquer coisa. sou apenas mortal)
Deveria haver um compartimento no nosso corpo reservado apenas para a saudade. Não teria de ser grande, porque a saudade no geral já é algo que aperta. Aperta o coração.
Deveria ser proibido sentir uma angústia que não se pode resolver. Proibido não por lei constitucional, mas por alguma regra incutida na infância. Sei lá. Deveria chegar-nos uma carta em casa com um comprimido que resolvesse esse nó.
Deveria ser possível fechar os olhos e encontrarmo-nos com pessoas em sonhos. Num mesmo sonho. Ao invés de sonharmos com alguém que, por sono pesado ou morte prematura, não se lembra do que sonhou.
Deveria ser fácil gostar das pessoas. Na realidade, é. Mas tal como sucede com todos esses outros "simples" sentimentos, complicamos um pouco, sofremos um pouco. Talvez para moldarmos os nossos caminhos mortais um pouco mais à semelhança das trágicas epopeias gregas.
Deveria ser tudo perfeito. Mas o “quase” é a palavra que mais se adequa ao ser humano. A única coisa “total” é o sentimento. Não se pode “quase” sentir.
No fundo, os nossos sentimentos são a única coisa que fazem de nós deuses. Mesmo que apenas por um segundo. E as palavras dos outros fazem de nós mortais. Porque não as podemos controlar.