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Delito de Opinião

Os críticos também se enganam

Pedro Correia, 28.12.19

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A crítica influencia o público. Mas o público também pode influenciar a crítica – e de que maneira. Há um exemplo já considerado clássico no cinema – o de Psico, de Alfred Hitchcock. Quando se estreou, em 1960, os críticos de serviço nos Estados Unidos zurziram sem piedade esta longa-metragem atípica do mestre do suspense. «Uma mancha numa carreira honrosa», houve quem escrevesse. E não faltou quem comparasse esta obra-prima do cinema de terror a «um daqueles espectáculos de televisão feitos para preencher duas horas».

O New York Herald Tribune publicou uma das críticas mais ambíguas: «É bastante difícil divertirmo-nos com a forma que a insanidade mental pode assumir.» Podia estar a referir-se a Norman Bates, a personagem desempenhada pelo actor principal, Anthony Perkins. Mas também podia estar a referir-se ao próprio realizador.

O mais prestigiado crítico norte-americano dessa época, Bosley Crowther, não fugiu ao tom geral. «Horrível» – foi o termo severo que usou na sua análise à película, publicada em 17 de Julho de 1960 no New York Times.

Algum desses textos influenciou o público? Aparentemente, não. Psico foi um sucesso de bilheteira desde o primeiro instante. Não só nos Estados Unidos, mas também no Canadá, na América do Sul, na França, no Reino Unido e até no Japão. Tornou-se um dos filmes a preto e branco com mais lucro de sempre e fez de Hitchcock um multimilionário. 

 

O retorno das bilheteiras pareceu ter influenciado os críticos, que passaram a ver o filme com outros olhos. A revista Time, que na estreia acolhera Psico com palavras duras – «Hitchcock tem a mão demasiado pesada» – passou a chamar-lhe «superlativo». E até o exigente Crowther deu o braço a torcer, mencionando-o, no fim do ano, na sua lista dos dez melhores filmes de 1960. A obra era a mesma: só os olhos que a viam tinham mudado.

Assim se iniciava uma consagração canónica que chegou até hoje. Psico, a tal peliculazinha equiparável a uma série televisiva, figura em 18.º lugar na lista das cem melhores longas-metragens de sempre do Instituto do Filme Americano. Só outras duas se integram no género terror e figuram em lugares bem mais recuados: O Silêncio dos Inocentes (65.º) e Frankenstein (87.º).

 

500x500[4].jpg«Os filmes de Hitchcock lidam com o mal sob a forma de ganância, violência, ocorrências naturais destruidoras e guerra. (...) Em Psico não nos deparamos com um ou dois apontamentos de terror – o filme inteiro é construído em torno do terror», sublinha Philip Tallon no ensaio "Terror, Hitchcock e o Problema do Mal", inserido no livro A Filosofia Segundo Hitchcock (Estrela Polar, 2008).

Hoje pode escrever-se isto sem receio de contraditório. Por alturas da estreia, estas linhas arriscar-se-iam a ser ridicularizadas pelos mais exigentes críticos de cinema.

Nenhum deles tinha razão. O público é que estava certo. 

A epifania

João Campos, 27.09.17

No Público, a propósito da muito oportuna reedição de The Dispossessed de Ursula K. Le Guin pela Saída de Emergência (com o título Os Despojados), escreve o crítico Luís Miguel Queirós:

Ao contrário da ficção policial, onde para cada Raymond Chandler se arranjam com facilidade três ou quatro Agatha Christie, Margaret Millar ou Patricia Highsmith, a ficção científica é ainda hoje, em boa medida, um mundo de homens. No alto firmamento dos Ray Bradbury, Stanislaw Lem ou Philip K. Dick, uma só autora brilha praticamente isolada: Ursula K. le Guin. E tal como os melhores do género, talvez de qualquer género, os seus livros não são verdadeiramente catalogáveis e podem ser apreciados por leitores sem nenhuma predilecção particular pela ficção científica. O que vale também para a sua incursão na chamada ficção fantástica, a pentalogia de Terramar, que se recomenda sem reservas a leitores que já não conseguem suportar nenhum dos incontáveis descendentes de J. R. R. Tolkien, George R. R. Martin (bastante) incluído. 

 

Só neste primeiro parágrafo teríamos pano para muitas mangas. Poderíamos, se quiséssemos, falar do desconhecimento que o crítico demonstra quando à ficção científica contemporânea (os três autores citados já morreram, e, polémicas à parte, uma leitura na diagonal dos títulos nomeados aos prémios Hugo e Nébula dos últimos seis ou sete anos seria talvez esclarecedora quanto a questões sobre o género de quem escreve o género). Ou mesmo da sua ignorância quanto à ficção científica dita "clássica" - Le Guin será um dos maiores vultos do género, sem dúvida, mas nunca terá ouvido falar de Alice Sheldon (mais conhecida por James Tiptree Jr.), de C.J. Cherryh, ou de Octavia Butler? Ou até, caso nos quiséssemos aventurar noutros territórios, demonstrar como a "chamada ficção fantástica" [sic] não se resume a Tolkien e aos seus discípulos, e de caminho recomendar, sei lá, Neil Gaiman ou Terry Pratchett. Enfim, o tempo é escasso, pelo que me vou ficar pela frase que destaquei a negrito.

 

Imagino que quando o crítico literário médio se vê obrigado a ler um bom livro de ficção científica, seja um texto contemporâneo ou a reedição de um clássico, a epifania seja inevitável: afinal, isto não tem nada que ver com Star Wars ou Star Trek ou aquelas merdas comerciais e vagamente infantis de que os nerds parecem gostar! Afinal há aqui um questionar da natureza da realidade, uma exploração das questões de género, um olhar crítico ao sistema capitalista / comunista / anarquista! E, logo de seguida, chega o orgasmo, o clímax do pretensiosismo: afinal, aquele outro livro desta senhora até vem n' O Cânone Ocidental do Harold Bloom! Como é evidente, ao crítico literário médio nunca irá ocorrer que talvez as suas premissas estivessem erradas, e que talvez a ficção científica enquanto género literário não se resuma apenas às talking squids in outer space com que Margaret Atwood enfureceu meio mundo há trinta anos, Ursula K. Le Guin incluída, a propósito de The Handmaid's Tale (excelente, já agora) ter ganho o prémio Arthur C. Clarke. Nada disso. Se a realidade não se ajusta aos preconceitos, é mais fácil negar a realidade e manter os preconceitos (uma atitude muito em voga, admita-se). Dito de outra forma: se aqueles livros são bons, então não podem ser ficção científica - serão "fábulas", talvez, porventura "parábolas", quiçá "metáforas" (as definições não são muito criativas). Ou então até são ficção científica, sim, mas são tão bons que "transcendem o género". Ou, como diz o crítico, "não são catalogáveis", podendo até - pasme-se! - "ser apreciados por leitores sem nenhuma predilecção particular pela ficção científica". É de ir às lágrimas ou ao vómito, conforme a disposição.

 

A crítica acaba por ser positiva - spoiler alert, o livro levou "quatro estrelas" -, mas em 2017 já não há paciência para o snobismo literário para com a ficção dita "de género" (já escrevi longamente sobre o tema aqui). No cinema, pelo menos, alguns críticos já perceberam (não todos, mas o caminho faz-se caminhando) e são capazes de apreciar um filme de ficção científica sem vergonha e sem necessidade de recorrer à referência highbrow, aos clichés corriqueiros e às desculpas esfarrapadas. Mas na crítica literária publicada pelos vistos ainda há um longo caminho a percorrer. O que não surpreenderá quando reparamos que esses críticos parecem ter parado no tempo em 1994. Ou, se as referências que Luís Miguel Queirós tem da ficção científica literária servem de exemplo, algures entre as décadas de 50 e 60. Alguém se compadeça e lhes envie um DeLorean. 

 

(Aos leitores, recomendo  pouco a crítica e muito The Dispossessed. É um livro notável.)

Os críticos que odeiam cinema

Pedro Correia, 01.02.17

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 La La Land, de Damien Chazelle

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 Manchester by the Sea, de Kenneth Lonergan

 

Há um género de críticos de cinema imensamente elitistas que no limite adorariam não encontrar ninguém numa sala. Por isso desaconselham fortemente as pessoas a ver filmes.

Estes críticos são todos homens (questiono-me por que motivo, num tempo em que a igualdade de género e a paridade são bandeiras sempre desfraldadas, a crítica de cinema continua a ser uma coutada masculina). Só atribuem cinco estrelas a alguns filmes portugueses e franceses, imunes à menor contaminação do chamado cinema “comercial”. Se pressentem que as películas podem atrair público, ei-los a desancá-las com bolas pretas ou uma estrelinha (em cinco). Nos casos limite, nem sequer se dão ao incómodo de visualizá-las, o que constitui a mais aberrante demonstração de elitismo: já sabem que não gostam mesmo sem necessidade de ver.

Vem isto a propósito da classificação atribuída pelos críticos do jornal Público a dois excelentes filmes que vi nos últimos dias e vivamente recomendo aos meus leitores sem precisar do aval de crítico algum: Manchester by the Sea, de Kenneth Lonergan, e La La Land – Melodia de Amor, de Damien Chazelle. O primeiro é um fabuloso melodrama, o segundo é uma vibrante homenagem aos musicais da época áurea de Hollywood. Estão nomeados para as principais categorias dos Óscares: melhor filme, melhor realização, melhores interpretações. Ambos funcionam como demonstração viva de que a tão propalada crise do cinema não passa de um mito: a Sétima Arte está bem e recomenda-se.

Isto devia ser uma boa notícia para todos os amantes de filmes. Receio, no entanto, que os tais críticos elitistas não se incluam nesta categoria: porque eles não gostam de celebrar a festa do cinema nem de se misturar com o povoléu nos espaços comerciais onde se projectam filmes. Longa-metragem boa, para eles, é apenas a que afugenta os espectadores.

Críticos como os tais do Público, sobretudo dois deles: Luís M. Oliveira arrasa La La Land com uma estrela e não concede mais de duas a Manchester By the Sea. O seu colega Vasco Câmara vai ainda mais longe, atribuindo uma estrelinha a cada película. O que significa uma estrela? “Medíocre”, segundo a chave de leitura que o jornal fornece.

Pudessem eles vedar-nos a entrada nas salas de espectáculo e certamente não hesitariam. Sem pensarem sequer que, se o conselho deles fosse escutado, lá teriam de encontrar uma ocupação alternativa. Porque um mundo sem cinema seria um mundo que os excluiria. Sem distribuição cinematográfica, sem receita de bilheteira, com todas as salas encerradas por absoluta falta de espectadores, para que serviria um crítico?

 

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Não é o país dela, nem o meu, mas duvido que ele tenha percebido

Sérgio de Almeida Correia, 08.04.14

"Eu gostava de dizer ao actual Presidente da República, aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do governo do seu partido. É do arquitecto Álvaro Siza, do cientista Sobrinho Simões, do ensaísta Eugénio Lisboa, de todas as vozes que me foram chegando, ao longo destes anos no Brasil, dando conta do pesadelo que o governo de Portugal se tornou: Siza dizendo que há a sensação de viver de novo em ditadura, Sobrinho Simões dizendo que este governo rebentou com tudo o que fora construído na investigação, Eugénio Lisboa, aos 82 anos, falando da “total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página.” - Alexandra Lucas Coelho

O melhor crítico é o tempo

Pedro Correia, 21.12.13

Uma vez mais, reflicto sobre os juízos críticos. Ao ver na televisão um velho filme português: Nazaré, de Manuel de Guimarães, com Virgílio Teixeira e Artur Semedo. Quando este filme estreou no cinema Eden, em 1952, uma grande parte da crítica portuguesa celebrou-o como marco da Sétima Arte à escala nacional. "É tão bom que nem parece português", entusiasmou-se o crítico de turno no vespertino República.

Intelectuais cotados não regatearam elogios ao jovem cineasta, que com esta obra e Saltimbancos (do mesmo ano) trazia o neo-realismo para o cinema português, rompendo com a chamada comédia pequeno-burguesa de Lisboa. Alves Redol proclamou: "É um primeiro passo para um cinema melhor." Fernando Namora deixou-se de contenções, exclamando em título de crónica: "Bravo, Manuel de Guimarães!" E José Cardoso Pires, também rendido, não fez a coisa por menos: "Fica na história do cinema como o primeiro filme inteiro, de intenção firmemente honesta e nada transigente, que se produziu em Portugal."

 

Não vejo Saltimbancos há muitos anos. Mas este Nazaré é um dramalhão intragável e previsível, recheado de lugares-comuns sobre a faina dos pescadores e os seus dramas cíclicos, associados ao capricho das marés. É uma tentativa, sem dúvida louvável mas inegavelmente frustrada, de importar para Portugal a escola cinematográfica italiana, então muito em voga com filmes como La Terra Trema, de Luchino Visconti, e Stromboli, de Roberto Rossellini.

O resultado, visto a esta distância, é confrangedor: todo o filme peca por amadorismo. Já dizia o outro: faz-se péssima arte com excelente intenções.

 

O que sobrevive do cinema português dessa época é precisamente aquilo que os críticos de então - incluindo os tais intelectuais cheios de pergaminhos - mais detestavam: as comédias protagonizadas por Vasco Santana, António Silva, Maria Matos, Beatriz Costa, Ribeirinho, Costinha, Laura Alves, Artur Agostinho, Milu, Curado Ribeiro, Barroso Lopes, Teresa Gomes e tantos outros nomes dessa geração de ouro da comédia portuguesa, caldeada no teatro de revista e logo transposta para o celulóide. Filmes como a Canção de Lisboa, O Pai Tirano, O Pátio das Cantigas, O Costa do Castelo, A Menina da Rádio, O Leão da Estrela e O Grande Elias nunca perdem o interesse nem deixam de conquistar novas camadas de espectadores.

Enquanto só pretendia brincar, o cinema português era um caso sério. Quando começou a ficar sisudo, tornou-se involuntariamente risível. Durante décadas, não houve sorrisos num filme português. Ao longo de todo esse tempo, o público divorciou-se do cinema nacional, que não soube aproveitar duas gerações de actores cómicos - mal ou bem, os melhores que tivemos e ainda temos.

Lidas à distância, aquelas críticas motivadas por "solidariedade" de doutrina estética parecem tão deslocadas e soam tanto a falso como alguns dos diálogos de Nazaré. O melhor e mais implacável juízo crítico é sempre o que surge do transcorrer do tempo.

A crítica que apenas sabe elogiar

Pedro Correia, 03.07.12

A falta de exigência de muita da nossa "crítica", nas mais diversas especialidades, chega a ser quase chocante. Este é um tema recorrente nas minhas reflexões e regresso hoje a ele a propósito de uma "crítica" gastronómica que acabo de ler. Como vem sendo costume com excessiva frequência, nem sombra de reparo crítico nesta prosa: só elogios. Mas elogios a quê? Ao inusual, ao raro, ao criativo, ao extraordinário? Não: um elogio à febra grelhada. Sim, ao mais banal e desinspirado prato do nosso quotidiano alimentar. Daqueles que comemos em casa e que de modo algum justificam uma deslocação ao restaurante.

O artigo espraia-se em elogios aos maiores lugares-comuns da gastronomia portuguesa, com recurso a adjectivos tão banais como os pratos que descreve. Diz o articulista que o estabelecimento onde mastigou justifica a "sua inclusão entre os bons restaurantes" de uma certa cidade. Cozinha "simples, mas cuidada e de bom gosto". O enchido é "saboroso". O entrecosto grelhado é "excelente". Comem-se por lá "dois bons pratos" de bacalhau. Quais são? Se apostaram na banalidade, uma vez mais, acertaram: frito e à Brás.

E chegamos às febras, "talvez o prato mais emblemático" do restaurante. "De textura e sabor cativantes". Grelhadas só com sal.

Um interminável bocejo, esta prosa. Uma confrangedora pobreza estilística e conceptual, esta "crítica" que apenas elogia. Um significativo sinal dos tempos, esta elementar falta de vontade de ultrapassar o lugar-comum.

Da originalidade da música actual (ou: copy/remix/rec) e da forma como é criticada (ou: hemorragia de referências)

José António Abreu, 09.04.12

Reveladas nessoutro momento seminal do hip-hop deste princípio de década chamado Black Up, dos Shabazz Palaces, as THEESatisfaction são tão hip-hop quanto são soul ou jazz. Ocupam um território onde antes já foram avistados os Floetry ou por onde Erykah Badu e Ursula Rucker por vezes ainda param para abastecer, mas a verdade é que não são nada disto. […] Stasia e Catherine permitem-se igualmente ir a um experimentalismo claustrofóbico que mais facilmente associaríamos à troca de ideias dos Anti-Pop Consortium com o pianista Matthew Ship (God, Enchantruss), ao mesmo tempo que se percebem nas entrelinhas Q-Tip, os De La Soul ou os Handsome Boy Modeling School.

Da crítica de Gonçalo Frota a awE naturalE, das THEESatisfaction, no Ípsilon de Sexta-Feira passada. Cinco estrelas.

  

Dr John encontrou em Dan Auerbach, dos Black Keys, o parceiro no crime perfeito. Não porque este lhe tenha mostrado um novo caminho ou promovido uma modernização (expressa pavorosa) da música do homem que nos deu Gris Gris e que se moldou enquanto personificação do espírito musical dopado, assombrado, miscigenado de blues e funk, de jazz e Mardi-Gras de Nova Orleães. […] A banda reunida por Auerbach não dá tréguas. […] São aqueles metais (senhores, aqueles metais!) que emergem das profundezas de um sonho africano (etíope como Mulatu Astakte?, nigeriano como Fela Kuti?) para transformar Dr John no nosso soberano incontestado.

Da crítica de Mário Lopes a Locked Down, de Dr John, no Ípsilon de Sexta-Feira passada. Cinco estrelas.

 

O arranque, The Whip Hand, é uma das melhores peças da sua discografia, colocando-nos na inimaginável pista do que poderiam ser os N.E.R.D. se a sua fórmula de R&B/funk mais rock tivesse nascido na cabeça destes dois e não nas de Chad Hugo e Pharrell Williams.

Da crítica de Gonçalo Frota a Noctourniquet, dos Mars Volta, no Ípsilon de Sexta-Feira passada. Três estrelas.

 

Camp é hip hop pós Kanye West, ou melhor, é hip hop à Kanye West. […] Camp ouve-se sem sobressaltos e com curiosidade. Porque Childish tem bom flow e porque vemos nele algo como que a versão hi-tech de Tyler The Creator. […] Mas Camp, por outro lado, tem um grande contra si. Kanye West. O Kanye West do hip hop sintético de 808 & Heartbeat. […] Uma sombra da qual Childish Gambino não se liberta.

Da crítica de Mário Lopes a Camp, de Childish Gambino, no Ípsilon de Sexta-Feira passada. Três estrelas.

 

Cada um destes elementos podia estar no museu, há tanto tempo que as subespécies a que pertencem foram reconhecidas e etiquetadas. Mas posto sob esta ordem, com esta reverberação nas guitarras e este timbre de voz, quase parece que é novo. […] Com uma variante: é possível que apreciemos mais quando essa repetição não se esgota na simples emulação, quando há um miligrama não de originalidade mas sim de individualidade. […] E que tem atrás de si uma banda que percorre todos os truques da cartilha R&B parecendo estar sempre a descobri-los pela primeira vez. […] A soul conhece isto desde os tempos em que os pretos eram só pretos e a mulata não era a tal. […] os truques estão aqui todos […] Parece pouco, né?

Da crítica de João Bonifácio a Girls & Boys, dos Alabama Shakes, no Ípsilon de Sexta-Feira passada. Quatro estrelas e meia.

 

Havia um sexto álbum em análise mas era de música clássica.

Os filmes da minha vida (21)

Pedro Correia, 28.10.10

 

NUNCA HOUVE UM ANO ASSIM

  

Foi um ano mágico para Hollywood. A sisuda Greta Garbo soltou pela primeira vez umas sonoras gargalhadas em Ninotcha, de Ernst Lubitsch – um filme que passou logo a ser conhecido pelo slogan publicitário: “Garbo ri.” John Wayne protagonizava o “primeiro western adulto”, como lhe chamou Peter Bogdanovich – era Cavalgada Heróica. James Stewart ascendia ao estrelato num papel inesquecível em Peço a Palavra (Mr. Smith Goes to Washington), de Frank Capra, pelo qual a exigente Associação de Críticos de Nova Iorque lhe deu o prémio de melhor actor. O produtor David O. Selznick trouxe de Estocolmo uma actriz muito jovem e muito tímida, a quem os jornais, com aquelas fórmulas demasiado fáceis a que gostam de recorrer, não tardaram a chamar “nova Garbo”. À beira do fim do ano, o mesmo Selznick estreou aquilo a que os mesmíssimos jornais se apressaram a intitular “filme da década”: E Tudo o Vento Levou.

O ano era 1939 – não houve outro assim na meca do cinema. Um ano em que as obras-primas se sucediam numa vertiginosa sucessão de estreias. Foi o ano em que William Wyler – ainda com o dedo de Selznick – mostrou ao mundo que o universo romanesco de Emily Brontë era filmável, dirigindo Laurence Olivier e Merle Oberon em O Monte dos Vendavais. O ano em que George Cukor (que liderou as filmagens de E Tudo o Vento Levou antes se incompatibilizar com o protagonista, Clark Gable) rodou Mulheres, só com papéis femininos. O ano em que Bette Davis, ferida no seu amor-próprio por não ter sido escolhida para o papel de Scarlett O’Hara, rapou as sobrancelhas para protagonizar Isabel de Inglaterra, de Michael Curtiz. O ano em que Henry Fonda fez de Abraham Lincoln em A Grande Esperança, de Ford. O ano em que Humphrey Bogart se firmava definitivamente no cinema, ao lado de James Cagney, em Heróis Esquecidos, de Raoul Walsh. Um ano em cheio para Judy Garland, que passou De Braço Dado (Babes in Arms, de Busby Berkeley) com Mickey Rooney e foi visitar O Feiticeiro de Oz (de Victor Fleming, o realizador de E Tudo o Vento Levou).

 

Ford rodou o seu primeiro filme a cores (Ouvem-se Tambores ao Longe). Marlene Dietrich parodiou a personagem que a tornou célebre, a Lola d’ O Anjo Azul, num western genial – A Cidade Turbulenta, sob a direcção de George Marshall. George Stevens realizou um modelar filme de aventuras com Cary Grant e Douglas Fairbanks Jr – Gunga Din. Grant, grande isco de bilheteiras, protagonizou Paraíso Infernal, de Howard Hawks, contracenando com uma estreante chamada Rita Hayworth. Ingrid Bergman, a tal caloira sueca que afinal era superior à Garbo, comoveu as plateias pela sua actuação em Intermezzo, de Gregory Ratoff. Carole Lombard casava com James Stewart em A Vida Começa Amanhã, de John Cromwell. E Bette Davis, recuperadas as sobrancelhas, fez chorar as pedras da calçada em Vitória Negra, de Edmund Goulding.

“Foi um ano extraordinariamente vigoroso para o cinema americano”, viria a sublinhar Bogdanovich, ele próprio nascido em 1939. A indústria cinematográfica americana estava no auge, a guerra desencadeada por Hitler ainda não ultrapassara o solo europeu, a máquina de sonhos estava bem oleada (nesse ano estrearam-se 476 filmes norte-americanos), estúdios como a MGM gabavam-se de ter mais estrelas sob contrato do que as existentes no firmamento. “Imaginem um realizador do calibre de Ford – mesmo que houvesse algum – hoje estrear três filmes por ano. E ninguém deu grande importância a isso nesses dias misericordiosamente naturais. Era apenas uma ‘missão cumprida’, como diria Ford.”

 

São ainda palavras de Bogdanovich, que nos lembra a forma como a chamada “imprensa de referência” ridicularizara um ano antes o filme As Duas Feras (Bringing Up Baby), de Hawks. O crítico do conspícuo New York Times chamou-lhe “fita tonta”, desaconselhando os espectadores de a verem por se tratar de “uma perda de tempo”. Foi preciso esperar duas décadas e o reconhecimento de respeitáveis críticos franceses como André Bazin e François Truffaut para que Hawks fosse enfim celebrado nos Estados Unidos como o grande autor que sempre foi e As Duas Feras ser enfim reconhecido em Nova Iorque como uma das mais geniais comédias de todos os tempos. Ninguém é profeta na sua terra...

Quantas obras-primas não passam hoje pelos nossos olhos sem estarmos preparados para as reconhecermos? E quantos críticos, munidos com arsenais de bolas pretas, chamarão hoje “fitas tontas” às obras-primas de amanhã?

Política de galinheiro

João Carvalho, 22.02.10

Quando alguém se atreve a criticar o que o chefe diz ou faz, há um costume muito curioso: saltam logo as galinhas a cacarejar "ó-da-guarda", "aqui-d'el-rei". Trata-se daquilo a que muitos chamam "política de galinheiro". Eu prefiro chamar-lhe "política de aviário", que é onde as galinhas acabam por nunca ficar muito tempo.

Em Portugal é que esse costume não anda a atravessar os seus melhores dias. Talvez porque há cada vez mais pintos do que galinhas nos poleiros. É só a gente bater-lhes o pé que eles saltam logo para debaixo das asas do galo.

Os críticos também se enganam

Pedro Correia, 02.01.10

 

A crítica influencia o público. Mas o público também pode influenciar a crítica – e de que maneira. Há um exemplo já considerado clássico no cinema – o de Psico, de Alfred Hitchcock. Quando se estreou, em 1960, os críticos de serviço nos Estados Unidos zurziram sem piedade esta longa-metragem atípica do mestre do suspense. “Uma mancha numa carreira honrosa”, houve quem escrevesse, enquanto não faltou mesmo quem comparasse esta obra-prima do cinema de terror a “um daqueles espectáculos de televisão feitos para preencher duas horas”. O New York Herald Tribune publicou uma das críticas mais ambíguas: “É bastante difícil divertirmo-nos com a forma que a insanidade mental pode assumir.” Podia estar a referir-se a Norman Bates, a personagem desempenhada pelo actor principal, Anthony Perkins. Mas também podia estar a referir-se ao próprio realizador.
O mais prestigiado crítico norte-americano dessa época, Bosley Crowther, não fugiu ao tom geral. “Horrível” – foi o termo severo que usou na sua análise à película, publicada em 17 de Julho de 1960 no New York Times.
Algum desses textos influenciou o público? Aparentemente, não. Psico foi um sucesso de bilheteira desde o primeiro instante. Não só nos Estados Unidos, mas também no Canadá, na América do Sul, na França, no Reino Unido e até no Japão. Tornou-se um dos filmes a preto e branco com mais lucro de sempre e fez de Hitchcock um multimilionário. 
 
O retorno das bilheteiras pareceu ter influenciado os críticos, que passaram a ver o filme com outros olhos. A revista Time, que na estreia acolhera Psico com palavras duras – “Hitchcock tem a mão demasiado pesada” – passou a chamar-lhe “superlativo”. E até o exigente Crowther deu o braço a torcer, mencionando-o, no fim do ano, na sua lista dos dez melhores filmes de 1960. A obra era a mesma: só os olhos que a viam tinham mudado.
Era o início de uma consagração que chegou até hoje. Psico, a tal peliculazinha equiparável a uma série televisiva, figura em 18º lugar na lista das cem melhores longas-metragens de sempre do Instituto do Filme Americano. Só outras duas se integram no género terror e figuram em lugares bem mais recuados: O Silêncio dos Inocentes (65º) e Frankenstein (87º).
«Os filmes de Hitchcock lidam com o mal sob a forma de ganância, violência, ocorrências naturais destruidoras e guerra. (...) Em Psico não nos deparamos com um ou dois apontamentos de terror – o filme inteiro é construído em torno do terror’», sublinha Philip Tallon no ensaio ‘Terror, Hitchcock e o Problema do Mal’, inserido no livro A Filosofia Segundo Hitchcock (Estrela Polar, 2008). Hoje pode-se escrever isto sem receio de contraditório. Por alturas da estreia, estas linhas arriscar-se-iam a ser ridicularizadas pelos mais exigentes críticos de cinema. Nenhum deles tinha razão. O público é que estava certo. 

Os gurus devem estar loucos

João Carvalho, 29.11.09

Ainda no início de Outubro passado, os celebrados gurus do mercado automóvel norte-americano colocavam o Smart ForTwo na posição de topo dos piores carros da década. De repente, no mesmo mercado e neste final de Novembro, o simpático Smart é apontado como o quinto automóvel mais popular do ano, à frente de muitos veículos fabricados nos EUA.

Por estas e por outras é que hei-de continuar a dar imenso valor ao que os norte-americanos pensam (pensam?). É de loucos.

Os parvos do costume

João Carvalho, 07.10.09

Smart cars (AP file photo)

 

Críticos de automóveis acabam de determinar o top 10 dos piores carros da década. Em primeiro lugar entre os piores (imagine-se!) está o conhecido Smart ForTwo. A classificação, claro está, só podia ser de experts norte-americanos. Quem mais poderia apontar defeitos como "sacrificar um monte de lugares para passageiros a troco de atingir uma velocidade pouco expressiva" e "ter  tendência para capotar como um SUV"? Ainda por cima (vejam só!) "vem equipado com uma caixa de velocidades manual". E ainda avisam: "O carro parece engraçado, mas assim que começa a ser conduzido apaga-se de vez o sorriso de quem se sentiu tentado."

Digam-me lá se isto não é uma parvoíce. Eleger o coitado do Smart original como o pior carro da década, só mesmo do outro lado do Atlântico. Afinal, para os europeus, o único defeito dele é ser caro para carro de bolso.

Encore fou, le mec

Ana Vidal, 18.04.09

 

«Escrever mal faz com que uma pessoa fique com os nervos em franja. Impede de ler. É como se uma pessoa, ao falar, em vez de formar as frases e de fazer um encadeado de palavras, gemesse, gritasse, se interrompesse, se levantasse e se fosse embora. Distrai porque estamos sempre a ver os erros. É o equivalente em sintaxe a escrever com erros de ortografia.»

 

Este é um excerto da última entrevista do Miguel Esteves Cardoso à Ler, que vale a pena ler na íntegra. O eterno enfant gaté da nossa praça volta em força, com a crítica mordaz e desassombrada a que sempre nos habituou. Eu confesso-me fã, desde já e desde sempre. O que não significa que concorde com ele incondicionalmente, ou que lhe dê sempre razão. Por conta da graça, da acutilância e da ausência de teias de aranha, perdoo-lhe muitas vezes os excessos, as vaidades indisfarçáveis e até as crueldades desnecessárias.

 

Está mais velho, mais volumoso e compreensivelmente mais quebrado, ou não seria o  Hotel Palácio um dos cenários escolhidos para a entrevista. Mas reparem na malícia que o olhar ainda conserva, como que a medir o alcance das provocações sobre alguns dos intocáveis nacionais...

 

O nosso duplo prejuízo (2)

João Carvalho, 05.03.09

Confirmadíssimo na Assembleia da República: «O PCP pediu uma audição ao presidente da Galp Energia para dar explicações sobre os lucros da energética apresentados ontem, em particular o aumento de quase 200 por cento nos resultados do quarto trimestre do ano passado face ao período homólogo de 2007.» Os comunistas dizem que já nessa altura tinham alertado para a «lentidão inaceitável» do acompanhamento dos preços no mercado externo e acrescentam agora que os lucros obtidos pela Galp «confrontam-se de forma escandalosa com as brutais dificuldades económicas que a generalidade dos portugueses e das pequenas empresas atravessam».

É este papel do PCP de intervenção social que marca a diferença, quando óbvio e realista, como no caso. E é também este o papel social de que o PS de Sócrates se distanciou: o governo não pode interferir na gestão e blá-blá-blá-blá.

Ora, o governo não pode interferir na gestão de empresas em que o Estado tem o peso de ser accionista, mas pode interferir junto dos privados para ter aos seus pés o que lhe convém, através do «clima de medo» de que se fala e que muitos sentem na pele, calados.

Em suma: a política social deste governo é a de deixar alastrar o incêndio, para depois vir acudir feito bombeiro com as televisões atrás. E com a mangueira curta, para que não haja abusos.

Assim, em matéria de combustíveis não interfere nos preços da Galp, mas pode distribuir depois uns subsídios. Só para alguns. Do que resulta o nosso prejuízo passar a ser triplo: pagar preços inflacionados, pagar com eles mais impostos e taxas e ainda suportar a distribuição de subsídios...

O nosso duplo prejuízo

João Carvalho, 05.03.09

Confirmado: «O lucro de 478 milhões de euros que a Galp Energia obteve em 2008 beneficiou da lentidão com que a petrolífera acertou os seus preços pelos valores internacionais nos últimos três meses do ano passado.» Um lucro que corresponde ao nosso duplo prejuízo: pagar preços inflacionados e, com eles, pagar mais impostos e taxas.

Toda a gente o sabia, toda a gente o dizia. Mas o governo garantia não poder interferir nos preços da Galp — como agora diz não poder interferir nos negócios da Caixa e só sabe das coisas pelos jornais!

Já para a gestão da Galp, a política de preços dos combustíveis tem sempre uma explicação simples e clara que todos temos obrigação de entender: é porque-sim-e-porque-mais-e-tal-e-coisa...

Os críticos que odeiam cinema

Pedro Correia, 22.02.09

 

Um dos melhores filmes em cartaz neste momento é Revolutionary Road, de Sam Mendes, com um papel fabuloso de Kate Winslet. Basta o impressionante desempenho desta actriz para justificar a deslocação ao cinema. Acreditem: é um daqueles papéis que nos fazem crer na superioridade da arte de representar. À medida que a acção se desenrola e que a protagonista feminina (interpretada por Winslet) evolui com ela, vemos essa transformação estampada no rosto progressivamente dolorido desta actriz transbordante de talento, candidata a um dos Óscares mais merecidos dos últimos decénios. Pois folheio o Expresso - e o que leio? Um tal Francisco Ferreira, "crítico" de cinema, lá concede duas estrelas ao filme, que o terá feito bocejar, rematando assim a prosa com que nos brinda: "Não fossem os actores, 'Revolutionary Road' não seria muito mais do que um telefilme, competente e sem interesse."

Espantosa frase. Como se a qualidade dos actores fosse um pormenor de somenos. Como se assistir a um desempenho magnífico, como este de Kate Winslet, não fizesse toda a diferença. Como se a representação não fosse vital num filme - em qualquer filme.

Anda assim, envolta nesta confrangedora pobreza argumentativa e neste desamor pela Sétima Arte, a crítica de cinema em Portugal.

Toma lá bola preta

Pedro Correia, 21.02.09

 

I 

Cada vez me convenço mais que a grande maioria dos críticos de cinema não gosta de ver filmes. Só assim se compreende que façam tudo para afugentar ainda mais os espectadores das salas. Um rápido vislumbre por dois jornais permite-me reforçar esta ideia. O Público, diário que se dá ao luxo de ter quatro críticos de cinema, é talvez o caso mais flagrante desta péssima relação entre um filme e quem o vê. Dois destes críticos classificam Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen, com uma estrela – que significa “medíocre”, de acordo com a chave de leitura que o próprio jornal fornece. Mensagem óbvia aos leitores: fujam deste filme, evitem-no, Allen deixou de saber filmar.
É puro disparate, claro. Tal como é absurda a classificação atribuída também por dois dos quatro críticos a O Estranho Caso de Benjamin Button, de David Fincher: uma estrela cada. Mais escandaloso ainda o veredicto a respeito de Quem Quer Ser Bilionário?, de David Boyle: duas bolas pretas (o que significa “mau”), havendo um terceiro crítico que nem se deu ao incómodo de ver a película, talvez para resistir à tentação de dizer bem dela. Avaliando os dez filmes em apreciação, apenas um justifica a ida aos cinemas, segundo o critério deste magnânimo quarteto: Milk, de Gus Van Sant. Interrogo-me qual terá sido o motivo desta excepção à regra…
Um destes críticos, chamado Vasco Câmara, distribui assim as classificações: um filme com quatro estrelas (precisamente Milk, que ainda não vi), outro com três (Valquíria, de Bryan Singer), quatro com uma estrela e uma bola preta, tendo ficado três destas dez longas-metragens por ver. Nada de classificações intermédias, com duas estrelas, por exemplo: há um filme muito bom e tudo o resto é porcaria.

II

Na mesma linha está o Expresso, que já teve a melhor crítica de cinema em Portugal. Quem Quer Ser Bilionário? é contemplado também com bola preta por um tal Vasco Marques. O filme, por acaso, é candidato aos Óscares de Hollywood – talvez seja esse o seu maior pecado aos olhos desta “crítica” que gostaria de proibir os espectadores de verem quase todas as películas que estão em cartaz, sobretudo as que parecem ter obtido mais sucesso nos EUA.

O que escreve o tal Marques? “Boyle nem sequer conhece a distância que permite criar uma verdadeira perspectiva sobre as coisas e limita-se aqui a oferecer-nos o Outro (o Oriente) como travesti do Mesmo (o Ocidente).” Perceberam? Eu também não. Toma lá bola preta. Refiro-me ao pseudo-crítico, não ao filme.