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Delito de Opinião

Cultura em Maputo, Política aqui

jpt, 31.07.24

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1. Um amigo, camarada de anos a fio em Moçambique, e que comunga o meu interesse pelo país e pelo que faz o nosso Estado nas relações bilaterais, e em particular nas questões culturais, avisa-me desta notícia: a nomeação de um novo adido cultural para a embaixada de Maputo, José Amaral Lopes, antigo secretário de Estado da Cultura e antigo presidente do Conselho de Administração do D. Maria II, deputado, entre várias outras posições de destaque. Dado o seu perfil "alto" é surpreendente a sua indicação para este posto, até modesto. Mas para todos que se interessam por estas matérias - a mescla entre "acção cultural externa" e "cooperação" - uma nomeação de alguém com este peso biográfico tem um significado: denota um grande e assisado interesse governamental no desenvolvimento destas relações culturais, decerto articulado com alguma capacidade para reforçar os  meios, materiais e humanos, dedicados a essas interacções. Fica-se assim - e mesmo que sem "pedir a Lua" - na expectativa de um período de grande desenvolvimento nas conjugações culturais entre ambos os países. Possamos nós fruir disso!

 

2. Paralelamente - mas sendo, de facto, uma irrelevância - a notícia desta nomeação tem um factor denotativo da mesquinhez intelectual dos mecanismos partidários, em particular os do PS. Amaral Lopes exerce actualmente as funções de presidente de junta de freguesia, eleito pelo PSD. Abandonará o posto para assumir estas novas funções.

O dirigente lisboeta do PS, David Amado, critica-o por ter abandonado a freguesia, dela fugido. Deixando assim até implícito um elogio ao actual presidente, dado que considera gravosa a sua substituição. Mas é a demonstração da total impudicícia desse dirigente socialista. Pois há poucos meses, nesta mesma sua concelhia partidária, um também presidente de junta de freguesia, o socialista Costa, abdicou das suas funções, indo (sem currículo que o justificasse) liderar um mecanismo televisivo de produção de opinião pública. Amado então nada contestou. Entretanto, aqui nos Olivais a socialista presidente de Junta, Rute Lima, aquando reeleita logo se foi a trabalhar para a nova Câmara PS de Loures, e vem por cá "exercendo" funções em regime "parcial". E Amado ficou mudo.

E já agora, até porque o postal é sobre "cultura"  e nisso "bibliotecas" - a do Camões em Maputo é muito relevante na cidade - convém relembrar que a biblioteca da Junta de Freguesia dos Olivais, a antiga Bedeteca, sita no Palácio do Contador-Mor (sempre associado aos Olivaes de "Os Maias") está fechada há mais de três anos. Devido a umas obras não estruturais, que se diz terem sido cabimentadas 2 vezes (!!!), e que se vieram arrastando por incúria da junta - estando agora aparentemente culminadas sem que a biblioteca reabra. Diz-se no bairro, e quem sabe, que esteve prevista a reabertura para o início deste Verão, transitando depois para Outubro. Mas que deverá acontecer apenas cerca do Ano Novo - para agitar as águas em ano de eleições autárquicas. Sobre tudo isto - e tanto mais - não fala o tal David Amado. Nem as hostes socialistas.

ISCTE Bring Us Together

jpt, 14.11.13

Alguns amigos, sabendo-me antigo aluno do ISCTE, uma das mais prestigiadas instituições universitárias portuguesas, enviam-me a notícia de que nos próximos dias decorrerá em Maputo um evento sob a sua égide, julgo que organizado em conjugação com a Universidade Politécnica. Neste sítio, perdão, neste site está a informação sobre o evento ISCTE Estamos Juntos, perdão, ISCTE Bring Us Together. Para além do convívio, perdão networking, dos antigos alunos, desculpem-me, alumni, acontecerá uma conferência que antevejo muito  interessante, em consideração pelo tema: "Potencial Energético de Moçambique – desafios para a criação de um bloco energético da CPLP/ Macau-China". E ainda, no dia seguinte, uma oficina, perdão, workshop em Balanced Scoreguard.

 

Iscteano que fui desejo os maiores sucessos a esta iniciativa. e um bom momento de trabalho e de aprendizagem a todos os participantes. Que os alumni se alumiem, se me permitem usar a língua portuguesa.

 

Português que sou, da geração iscteana de 1980s, tremo, furibundo com este anglês. Não por qualquer purismo linguista, vade retro (latim) satanás! Mas porque nele habita a ideologia yuppista cristalizada, essa dos tais anos 80s. Que escavacou (sem malícia) a economia e a sociedade portuguesa, como se vê agora. É mais ou menos para isto, ou deveria ser, que servem os antropólogos (os brotados no ISCTE e noutros locais). Para irem dizendo que o economês vai nu. E o globalês cheio de arestas, enferrujadas. E até mais coisas. Que não pagam propinas. Mas poderão alumiar alguns alumnis. E fazer um mundo melhor. Ou, pelo menos, não pior. Perdoe-se-me o intermezzo (italiano) iluminista.

Sobre a antiga "cooperação" (espécie em via de extinção)

jpt, 05.11.13

 

Desde 2011 que recebo imensos pedidos de informação de compatriotas desejando trabalhar em Moçambique (muitos devem estar agora aliviados ...). Não terei sido útil à esmagadora maioria, por vezes terei parecido antipático, mas sempre procurei seguir a máxima de nunca menosprezar quem necessita de procurar trabalho. Por compatriotismo mas também porque se houve algo em que Marx acertou foi no "Proletários de todo o mundo uni-vos!", mesmo que agora tenhamos colarinhos brancos e os capatazes sejam "doutores" das administrações públicas. No meu perfil da rede social Academia.edu tenho deixado textos antigos, aqueles que não cabem em blog pois nele não se justificam. Lembrei-me agora do texto mais pessoal que já escrevi, apesar da retórica quase-académica. Tem onze anos, então um período profissional terrível para mim (mas pessoalmente glorioso). Está velho, que muito no mundo mudou. Mas fica para os compatriotas que ainda buscam trabalho algures: para isso nunca confiem no vosso Estado (e tantos ainda me falam nas possibilidades da "cooperação"). Não por causa dos políticos. Mas mesmo por causa da "administração pública". Que é gente, de corpo e (sem) alma.

 

Fica aqui a ligação para o "Antropologia de um Projecto de Cooperação. (Auto)História de Vida de um Candidato a Cooperante". É um texto meio maluco, iradíssimo. Nota-se na forma. Mas não no conteúdo, "cristalino como o cristal". Custa-me a memória de tê-lo escrito. Ainda bem que o escrevi.

 

Este é um postal escrito para o ma-schamba, o texto referido (que não é nada blogal, ainda para mais com vinte e tal páginas) pouco poderá interessar à maioria do público do DO, dirá mais a quem acompanha as coisas de África (e das relações portuguesas com os países africanos) mas deixo a referência. Até para quando lerem ou ouvirem prosápias da política portuguesa em África. Desconfiem sempre. Normalmente é gente tralha que se ocupa disso.