Um futuro sem história
(créditos: Leonardo Negrão/Global Imagens/DN)
Com directas marcadas para Dezembro, congresso para Janeiro e eleições legislativas em Março de 2024, toda a casta de dependentes do patriarcado socialista começou a movimentar-se para segurar o melhor lugar junto às diversas manjedouras que os senhores do Largo do Rato têm espalhadas pelo país.
É isso que neste momento justifica a corrida desenfreada do eterno jovem fedayin, Pedro Nuno Santos, e da sua trupe, perante a perspectiva de faltarem acólitos, de os fiéis necessários ainda não estarem garantidos, e a tão desejada entronização acabar num rodízio para sambistas de fio dental.
O andor não saiu da igreja para chegar ao adro e o candidato a papa da seita já envergou o pluvial e saiu porta fora para ver quantos são os fiéis que aguardam a passagem do cortejo.
Foi por essa razão que o ouvimos dizer, naquele estilo que o tornou célebre de terrorista a ameaçar banqueiros, ter num curto espaço de tempo reunido o apoio de “199 coordenadores concelhios socialistas em território continental, num total de 277, o que representa cerca de 77%”. Notável.
Para quem a arrumação das contas sempre foi uma versão do inferno, uma coisa que só atrapalha a acção da comissão de festas e a organização do arraial dos santos populares, não deixa de ser curiosa a sua recente preocupação com os números.
Ao invocá-los, Pedro Nuno Santos (PNS), que na verdade aspira a ser o novo Kim Jong-un do socratismo kimilsunguista, mais não está do que a apelar às células prenhes de gula de alguns camaradas que ainda com o prato cheio de lentilhas se apressam a ver como hão-de garantir a próxima ração, não vá antes sair-lhes um carneiro na rifa que lhes dê cabo do pasto.
O candidato PNS está convencido de que é por reunir muitos apoios fora do templo e nos seus anexos que vai ser o sacerdote-mor, esquecendo-se de que Sócrates em 2004 conseguiu quase 80% dos votos, em 2006 foi reeleito com 95%, quando nem adversários tinha nas Federações, em 2009 obteve 96,43%, sendo de novo reeleito em 2011 com 93,3%, isto exactamente antes de lhe oferecerem um ábaco, o fulano ficar sem rebanho, se dedicar à ciência, começar a encomendar teses e a pedir que lhe esgotassem os livros nos escaparates.
Esses apoios são, aliás, muito enganadores, bastando para tal ouvir o pregador Assis e recuperarmos, igualmente, o que aconteceu com Vítor Constâncio, eleito com 83% dos votos, e com Seguro, de quem diziam ter o apoio da maioria das distritais e se fez eleger com 70% dos votos dos militantes. De que lhes serviu? Veja-se o que fizeram com tanto apoio, como fizeram, e o que no fim lhes fizeram os apoios dos gangues que os rodeavam.
O jovem fedayin estará, apesar disso, ignorando a história a que apela para reerguer o templo e dar asas à imaginação, entusiasmado como está a iniciar a sua subida vertiginosa debaixo de tanto holofote, empurrado por milhares de cavalos, não tanto por uma rampa em cujo cimo encontrará um olimpo recheado com dezenas de virgens à espera de uma boleia na desengonçada traquitana a vapor em que se faz transportar, e com que se propõe reformar a geringonça do antecessor e assim dar boleia aos pastores reconvertidos de outras seitas que o aguardam na berma da estrada, à sua esquerda, mas para o inevitável espalhanço que se segue a quem vai atestar o depósito e, à semelhança de um genial Bava, se esquece de engatar a máquina e puxar o travão de mão enquanto vai receber a comenda que ostentará na descida.
É, pois, verdade ser ainda muito cedo para se perceber quem no fim rirá melhor, qual dos candidatos chegará ao altar com as vestes inteiras.
Mas de uma coisa, estou já convencido, poder-se-á PNS com razão orgulhar na contabilidade que faz: é que em matéria de sacristãos, vendilhões e arguidos, se a minha contagem não estiver errada, pelo menos em relação aos que recusando de Conrado o prudente silêncio, entretanto, se manifestaram em praça pública, é ele quem segue à frente. Muito à frente.
E isto não é de todo despiciendo – para quem torce o nariz às contas – na hora de se preparar o orçamento para a forragem que o Presidente Marcelo quer que se distribua antes do final do Inverno.
Nessa altura ainda os prados não terão voltado a estar verdes, floridos e cheirosos, com pasto suficiente para todo o gado que haverá que alimentar e que, com IVA, sem IVA, com caixas de vinho cheias de notas, às cavalitas do Moedas ou à pendura do Mais Habitação e das argoladas dos videntes do Ministério Público, vem a reboque da traquitana.