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Delito de Opinião

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 15.03.23

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Hoje é O Dia Mundial dos Direitos do Consumidor

«A criação deste dia foi inspirada por uma mensagem ao Congresso dos EUA sobre os direitos dos consumidores por parte do Presidente John Kennedy, a 15 de Março de 1962. Esta data passou a ser assinalada todos os anos desde 1983.

Kennedy disse que «consumidores, por definição, somos todos nós». Assim deu nota de uma nova dimensão do cidadão comum. Nessa declaração do inquilino da Casa Branca foram enunciados os quatro direitos fundamentais do consumidor: o direito à informação; o direito à segurança; o direito a ser ouvido; e o direito de escolha.

A partir daí foi percorrido um longo caminho. A União Europeia tem constituído nesta matéria um importante baluarte de afirmação, seja pelas leis de protecção dos consumidores, seja pela criação de estruturas e instituições que os defendem. Ou seja, que nos defendem a todos.»

 

Em tempos de crise em que os preços aumentam a uma velocidade estonteante, são expostos esquemas nomeadamente nas grandes cadeias de produtos alimentares, em que nós, os consumidores, temos sido levados ao engano. Diversos produtos embalados mantiveram os preços, mas cortaram nos pesos, o que quer dizer que pagamos o mesmo pelo pacote de laranjas, por exemplo, mas em vez de um quilo tem apenas 800g. Ou colocamos no carrinho produtos em promoção, que quando passam na caixa registam o preço do costume, ou... não admira que as grandes superfícies tenham aumentado os lucros em mais de 50%, no meio da carestia provocada pelas próprias com a desculpa da guerra.

 

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Hoje celebram-se  Os Idos de Março 

«A palavra “Idos” é derivada da palavra latina “idus”, que se refere ao meio-dia de qualquer mês no antigo calendário romano. Os idos são especificamente o 15.º dia dos meses de Março, Maio, Julho ou Outubro e o 13.º dia dos meses restantes. Os idos eram os dias designados para liquidar dívidas a cada mês no império romano e geralmente incluíam os sete dias anteriores para esse fim. Sem dúvida, os devedores que não podiam pagar as dívidas consideravam os idos dias de azar.

A triste mortalha sobre os idos de Março tem um vínculo mais portentoso com a Roma antiga. Júlio César foi assassinado nos idos de Março, em 44 a.C.

Outras tradições antigas neste dia incluíam o abate de uma ovelha, a 'ovelha Ides', pelo sumo sacerdote de Júpiter; as façanhas da deusa que presidia ao curso do ano e do seu retorno perpétuo, para celebrar a primeira lua cheia do ano com bebedeiras, piqueniques e festas animadas; e na “semana santa” das festas do Período Imperial, que celebravam a deusa Cibele e o deus Átis.»

 

O meu estadista de eleição de todos os tempos, principalmente porque no seu tempo não existia o desenvolvimento de agora, e mesmo com todas as limitações, lançou as bases que edificaram um império. Infelizmente poucos eram os que viviam o suficiente para alcançar os louros de César. Para Júlio decidiram-se as parcas pelos idos de Março. Gosto bastante de ler Stephen Saylor e Lindsay Davis e também o próprio Júlio César. Li Guerra das Gálias. Creio que, dos muitos autores que li, nunca encontrei pessoa mais confiante nas próprias capacidades. Teria seguramente razão, mas talvez tenha sido o ego a não o deixar ver o negrume vermelho que despontava no horizonte.

(Imagens Google)

Havana? Caracas? Não: Lisboa

Pedro Correia, 13.03.20

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Parecia que passara por ali uma manada de bisontes. Ou que me via teletransportado para um "armazém do povo" em Cuba ou na Venezuela. Mas não: são imagens de um hipermercado num bairro residencial em Lisboa, captadas ontem, por volta das 11.30. A desenfreada corrida às grandes superfícies, como se estivéssemos na iminência de um bombardeamento aéreo, deixou neste estado as caixas e prateleiras do Continente em Alvalade. 

A população que adere com generosidade a iniciativas altruístas, como o Banco Alimentar Contra a Fome, é a mesma que vem revelando o mais desprezível comportamento, mal surgiram os primeiros temores e rumores relacionados com o coronavírus. Açambarcando o mais possível, comprando aquilo de que não necessita, acumulando víveres e produtos de higiene que ficarão esquecidos em armários e prateleiras lá de casa, usando a pandemia como pretexto para o consumismo mais obsceno e execrável.

Passei por lá e vi: os maiores estragos foram feitos nas zonas dos enlatados, cereais, bebidas, detergentes, iogurtes, rações para animais. Mas também nos frescos, sobretudo ao nível das frutas e legumes - bens perecíveis, não fazendo o menor sentido que sejam açambarcados.

Esta gente está mesmo a pedir a imposição de limites máximos de aquisição de bens por via administrativa. Ou, no limite, implora por senhas de racionamento - como aconteceu em Portugal, quando a Europa quase inteira estava mergulhada no pesadelo da II Guerra Mundial e os circuitos de abastecimento haviam sido torpedeados.

Mereciam viver em Havana. Ou em Caracas.

Dois países dentro do País

Pedro Correia, 16.08.19

Cheguei a Coimbra a hora já tardia para o almoço, cheio de apetite. Ia com vontade de matar saudades do Zé Manel dos Ossos, mas deparei com a porta fechada: está encerrado para férias.

Virei logo ali, à Rua da Sota. Eram quase 15 horas, entrei num restaurante ainda operacional que me pareceu com bom aspecto.

- O que há? - pergunto.

- Agora já só temos o menu do dia: sopa e frango.

- Venha isso.

E veio, sem demora. Comidinha caseira, como gosto. Sopa de legumes, frango na púcara (muito bem servido). Talhada de melão à sobremesa. Um jarrinho de vinho. Mais pão (que não comi) e café (que não bebi).

Tudo incluído: sete euros e meio.

Isto na baixa de Coimbra, onde por estes dias circulam muitos turistas estrangeiros. Comprovando que, a norte de Lisboa, os preços nos restaurantes caem - por vezes vertiginosamente. Enquanto a qualidade tantas vezes aumenta.

Dois países dentro do País.

DECO

José Meireles Graça, 16.07.19

Há muitos anos, frequentei um curso na Católica, em Lisboa, para “executivos”. Abominei: os testes dirigiam-se à memória (lembro-me de ser preciso empinar o “diamante de Porter”, salvo erro, mais uma data de coisas que não ganhavam em conhecer-se de cor); os professores eram da variedade doutoral, isto é, da que vomita uma receita e uma maneira de ver, aceitando mal diálogos com os alunos, que são tratados como uma massa bruta na qual é necessário gravar algumas crenças tomadas como definitivas; e a suposta disponibilidade, via internet, do corpo docente, existia muito na propaganda comercial do curso mas pouco na realidade. Numa palavra, professores de ciências sociais que tomavam por exactas, um equívoco que existe até mesmo em áreas supostamente apenas aritméticas, como análise financeira.

Numa cadeira, salvo erro de marketing, recomendava-se como leitura obrigatória o “Choque do Futuro”, de Alvin Toffler, um aldrabão que explorava a mania americana de o prever, identificando algumas tendências do presente que projectava com habilidade e falta de senso e de humildade. Este pastelão o professor tomava como ouro de lei. Hoje, se ainda for vivo e der aulas, deve recomendar o último guru que, com roupagem pseudocientífica, faz o papel dos áugures romanos. O facto de os áugures modernos se enganarem tanto como os antigos decerto não o impressionava, o que é a definição mesma de burrice – bater com a mesma cabeça sempre na mesma parede.

Aquilo era intenso, aos sábados, e a meio da manhã havia uma pausa para café. Várias mesas estavam cobertas de bolos – éclairs, tíbias, palmiers e o restante sortido das pastelarias rascas – mas de sandes honestas de fiambre ou queijo, nada.

O corpo discente era no geral de meia idade e tinha muitos licenciados de várias áreas que pouco ou nada tinham a ver com gestão. Como achasse absurda aquela dieta para quem já tinha barriguinha (não eu, por acaso, que tinha um corpo escultural) fui reclamar junto do director do curso, que abriu os olhos de espanto, não tanto pela reclamação em si mas pelo arrojo de um “aluno” se permitir, com liberdade, dizer claramente ao que vinha. Na Católica, a julgar pela minha experiência, imaginavam que o respeitinho é tão necessário como a esferográfica.

Lembrei-me desta história a propósito deste estudo da DECO – parece que as coisas não mudaram muito, excepto por agora haver maquinetas. Infelizmente, os diligentes empregados do catering foram substituídos (o que provavelmente tinha de acontecer, senão os preços ficavam incomportáveis), mas o cardápio não.

Um problema, na medida (e só nessa, a meu ver) em que haja alunos que queiram outra coisa que não seja lixo adocicado. Eu não queria, presumia que os meus colegas também não queriam, e reagi.

A DECO não acha isto bem, e pelo contrário entende (ou melhor, entende uma senhora nutricionista que tem os tiques dirigistas, autoritários e fascisto-higiénicos da espécie) que

“… seria importante regulamentar a oferta alimentar destas máquinas nas instituições de ensino, à semelhança do que já existe para as máquinas do género colocadas nas instituições do Serviço Nacional de Saúde. Era importante que a oferta alimentar fosse regulada com enquadramento legislativo porque ainda não há orientações nem nenhum documento de carácter legislativo publicado para as máquinas de venda das instituições do ensino superior”.

É fatal: Não há problema, real ou imaginário, em que a DECO não ache que precisamos de mais leis, mais orientações, mais regulamentos e, já se vê, mais coimas e mais fiscais. Como se o país não estivesse já soterrado em legislação que quem pode não cumpre, e como se houvesse algum défice de inúteis e improdutivos na função pública cuja missão é fiscalizar o próximo.

Senhora dra. Rita Luís, tenho o maior respeito pelas suas opiniões (na realidade não tenho, mas convém-me dizer que sim for the sake of the argument) mas as universidades são frequentadas por adultos e estes não precisam que lhes imponham na prática a dieta xis ou ípsilon. Mais: têm o direito de escolha. Faça V. Exª propaganda das suas certezas junto deles e dos fornecedores, convença-os e deixe o Diário da República e as polícias em paz.

Todos os maluquinhos, antigamente no café e hoje nas redes sociais, começam com frequência as frases com a expressão “se eu mandasse…” e a seguir vem a solução milagrosa para salvar o país dos seus males, ou as pessoas delas próprias.

É uma infeliz medida do nosso tempo que os maluquinhos tenham chegado ao poder.

Elefantes Brancos

Francisca Prieto, 19.05.16

As redes sociais têm sido um suporte insuperável na missão de trazer à tona episódios embaraçosos que a nossa memória selectiva já tinha atirado para o subconsciente há séculos e que agradeceríamos que por lá permanecessem. É certo e sabido que, mais cedo ou mais tarde, alguém nos adiciona a um velho grupo da faculdade e que, de repente, desatamos a ser identificados em fotografias onde nos apresentamos de franja, camisa com chumaços e rosetas estampadas nas bochechas.

Mas se é verdade que há coisas que preferíamos esquecer, também é verdade que há momentos que merecem ser relembrados.

Hoje, quando me dei conta de que andava a circular pelo facebook de sombrero mexicano, mão na anca e cara de quem já tinha dado conta de um par de tequilhas, rendi-me à nostalgia e ingressei numa viagem no tempo à Meca dos finalistas universitários – Cancún.

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A viagem há-de ter sido idêntica à de tantos outros finalistas, mas, para além dos episódios previsíveis, ficou-me na memória a relutância em comprar um sombrero. Enquanto todos os colegas escolhiam o seu exemplar, entre várias cores e modelos, alguma coisa me dizia que importar sombreros não era a melhor ideia do mundo. Tinha muita graça no local, mas não conseguia vislumbrar qualquer utilidade para um chapéu daquelas dimensões, à chegada a Lisboa. Vieram-se a confirmar os meus piores temores logo à entrada do avião, quando cinquenta viajantes tentavam, em gestos épicos, arrumar cinquenta sombreros nas bagageiras.

Depois desta aventura fiz várias outras viagens e, sempre que me sentia a ceder à tentação consumista que nos invade em terras estranhas, lembrava-me do episódio dos sombreros e resistia estoicamente.

Até que uns anos mais tarde, em Banguecoque, dei de caras com um cozinheiro de madeira maciça com uns quarenta centímetros de altura, que resolvi que era imprescindível para decorar a cozinha da nossa casa nova. Não me ocorreu que depois da visita à capital, íamos em périplo para Puket, Ilhas Pi-Pi e Krabi. De maneira que, após o entusiasmo inicial, andei a rogar pragas ao malfadado cozinheiro que foi arrastado por terras tailandesas, entre ventos e intempéries, durante mais de duas semanas. Mas o pior é que ainda hoje, volta não volta, dou com o raio do boneco numa qualquer arrecadação, de onde nunca saiu porque era um mono tão grande que nunca coube numa bancada de cozinha.

Voltei assim aos bons hábitos de viajar com pouca bagagem e de, sobretudo, não me lançar em compras estapafúrdias. Isto, claro, até me ter lembrado de comprar um poncho peruano. Dos genuínos.

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Digerindo o relatório da OMS

Teresa Ribeiro, 30.10.15

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Nada disto é novidade. Notícia foi a OMS tê-lo assumido, contra o poderosíssimo lobby dos produtores de carne. Chapeau!

Não li o relatório e através dos media não apurei o principal. E o principal seria saber quanta carne se pode consumir sem arriscar um cancro. Um bife, duas vezes por semana, pode ser? Um cozido só no pino do Inverno e de 15 em 15 dias é razoável? 

A moderação, sobretudo num tempo em que praticamente nada do que se consome para alimentação é isento de contraindicações, é tudo. 

Dito isto, o alerta da OMS pode suscitar alarmismos se não convenientemente enquadrado, mas tem o grande mérito de nos chamar a atenção para a percentagem de carne que a nossa cultura alimentar nos coloca no prato. Com ou sem cancro no horizonte, comê-la quase todos os dias é uma escolha que nos é induzida pela indústria, que está sempre atenta às nossas necessidades e fraquezas. Necessidade, temos sempre a de poupar tempo. Fraqueza temos a da preguiça de cultivarmos hábitos mais saudáveis, mas que dão trabalho. Da sandes de fiambre, à bifana, passando pela empada de galinha e o icónico hamburguer, é de carne que se fazem quase todos os expedientes a que recorremos para saciarmos a fome sem grandes maçadas.  

A Origem Transmontana

Helena Sacadura Cabral, 30.09.15
"...Uma empresa com o nome (um pouco estranho, há que dizer) de "Origem Transmontana" - e pergunto-me como foi possível ser autorizada uma designação tão enganadora como esta - foi acusada de comercializar produtos que se provou associados a uma doença derivada da cadeia alimentar, felizmente sem consequências mortais."
 
Este excerto pode ler-se no blogue - http://duas-ou-tres.blogspot.pt - do Embaixador Seixas da Costa e eu faço eco dele, porque lhe reconheço carradas de razão. 
Como é que a autoridade competente deixou registar uma marca que corresponde a uma designação de origem? E já agora como é que as autoridades locais e os concorrentes não reclamaram de tal autorização?
A região ficou com a sua imagem prejudicada, o que é profundamente injusto porque a generalidade deste género de produtos alimentares transmontanos é de excelente qualidade 
Este incidente, ao lançar um tal labéu, deveria levar à revisão da legislação que se ocupa de marcas e patentes, de modo a não permitir que tal possa repetir-se.

GOLDENERGY - Nem a morte nos separa

Teresa Ribeiro, 13.08.15

Pouco tempo antes de morrer, a minha tia Ivone, de 92 anos, achou por bem informar-me que um dia tinha sido abordada, à porta de casa, por "umas meninas muito simpáticas" que a fizeram assinar um papel. Só não sabia era dizer qual era o assunto e se tinha ficado com uma cópia.

Quando ela deixou este mundo, coube-me a mim tratar da sua ex-vidinha terrena e foi então que descobri, no meio da papelada, uma factura da Goldenergy, empresa de distribuição de gás e electricidade, ainda recente no mercado. Lembrei-me logo da conversa sobre as "meninas muito simpáticas" e imaginei como devem ter salivado ao verem diante de si uma idosa confusa e solitária, ávida de uns minutos de atenção.

Soube entretanto que a nóvel empresa está sediada em Vila Real e tem um único balcão de atendimento em Lisboa, na loja do cidadão. Assim que me foi possível entregar os documentos comprovativos do óbito rumei às Laranjeiras para cancelar o contrato e foi aí que deparei com a primeira bizarria: a bicha que aguardava atendimento superava as homéricas bichas da Segurança Social. Era um sinal inquietante, mas como o meu objectivo era rescindir, não me preocupei.

Fiz mal. Esta cena passou-se no final do ano passado e a Goldenergy não desiste da minha tia nem por nada. Consegui, depois de muita insistência, que lhe selassem o contador, mas nem assim. Não sei se no céu também se cozinha e toma duche de água quente, a verdade é que  já estamos em Agosto, o gás cá em baixo foi cortado em Março, e as contas dela não páram de crescer. Na última factura que recebi, onde a Goldenergy ameaça cortar o gás que já cortou, a conta chega quase aos 500 euros!  

O comentário da semana

Pedro Correia, 28.06.15

«Enquanto na TAP a greve prejudicou a empresa, na Carris/Metro esse tipo de prejuízo não ocorre porque os consumidores não têm mecanismos eficazes para actuar contra a quebra de contrato.
Assim, para a direcção desses monopólios uma greve é um dia de grande lucro, já que nesta bandalheira de terceira república nunca foi criado nenhum organismo que defenda os consumidores.

A DECO é apenas um dos muitos membros franchising da organização privada "Consumers International":
https://en.wikipedia.org/wiki/Consumers_International

Na prática este tipo de organizações privadas são os principais interessados em angariar sócios, que é o seu negócio, e não lhe interessa nenhuma outra estrutura que faça o serviço.
Por isso, quanto mais desprotegidos estiverem os consumidores, mais candidatos a sócios podem ganhar.
Uma das suas eficácias é na implementação de normas da treta (tal como outra fachada de lóbis que é a Quer-cus), já que normalmente há normas ou detalhes que favorecem um produto X relativamente ao Y.

Há uma série de pretensas "entidades reguladoras", que normalmente são outro nome para "grandes tachos do partido", que igualmente nada fazem, e lembro-me de terem arranjado um tacho socialista ao Acácio Barreiros como provedor dos consumidores... O que fez esse grande ex-UDP? Nada!

Pode parecer estranho, mas na prática, pela sua rotunda ineficácia, o sindicalismo de inspiração comunista tem sido um dos, senão o principal, destruidor de toda a estrutura estatal. E não é por acaso... pode ser por ignorância dos militantes e funcionários, mas não é por simples estupidez do "comité central", é por ortodoxia a um nível, e manipulação a outro.

Uma das principais degradações da sociedade actual está justamente na fragilidade do consumidor. Pressionado para contratos com cláusulas leoninas, desde o consulado de Sócrates que o consumidor passou até a arriscar-se a injunções com penhora, se não pagar logo as contas, por mais astronómicos e injustificados que sejam os valores. Casos vergonhosos são o pão-nosso de empresas de telecomunicações e serviços cabo, exploração de portagens, onde os enganos são sucessivos e sempre à conta do consumidor.
Na injunção há o requinte de ser o consumidor a ter que accionar o tribunal e pagar as despesas (muito aumentadas) se quiser se livrar da penhora. Todo o estado foi recrutado para actuar contra os cidadãos.

Conforme o Pedro bem refere, o Carris/Metro não devolve nos "passes lisboetas" o valor dos dias em que não prestou serviço.
Não precisa, porque todos, desde a DECO até às entidades reguladoras, todos se calam ou ficam apanhados de torpor, como se isso fosse normal. Pior, acresce que a Câmara alfacinha foi penalizando sucessivamente as viaturas, por ter o delírio dos ciclistas de montanha nas colinas lisboetas, e tudo isto se passa como num filme surrealista.

Quando ocorreram os aumentos exorbitantes dos preços dos bilhetes de Metro/Carris, aí não vimos os trabalhadores preocupados com os consumidores. Agora com a privatização é que os sindicatos se lembraram de invocar solidariedade com a penalização dos futuros consumidores... enfim, um espectáculo de retórica numa sociedade decadente.»

 

Do nosso leitor daMaia. A propósito deste meu texto.

A luz ao fundo do túnel

Pedro Correia, 19.06.15

Peixe fresco só no... mercado ou na lota

Teresa Ribeiro, 13.05.15

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Aprendi há pouco tempo um novo cheiro: o cheiro a peixe de hipermercado. Lembrei-me disto a propósito da campanha que tem passado na televisão sobre o "peixe fresco" de uma grande superfície. O peixe de hipermercado tem um cheiro indefinível. Não é a mar (que é ao que cheira o peixe realmente fresco), nem sequer é a peixe (que é ao que cheira o peixe que já não está assim tão fesco).

Se não cheira a podre (já me aconteceu algumas vezes ser enganada pelo brilho das luzes e do gelo e levar para casa peixe que não estava em condições), cheira a... não sei quê. Eu digo que é a "hipermercado" porque, verdade seja dita, não encontro paralelo a este cheiro a não ser noutro hipermercado. Nisto, afianço, há um padrão e que reflecte, como é óbvio, uma forma específica de tratamento da mercadoria.

Ignoro pormenores, mas um dia, quando eu passava pela peixaria de uma grande superfície à hora de chegar o peixe, fez-se alguma luz. Numa azáfama as peixeiras tiravam de caixas vindas de uma câmara frigorífica o "peixe do dia", em estado de pré-congelado. Percebi então a rotina. Diariamente e até que se venda aquele peixe quase congela em câmaras frigoríficas quando é recolhido à noite e descongela na banca durante as horas de expediente do dia seguinte. Diariamente até ao dia em que for vendido vogará nesta alternância térmica. Não por acaso cada vez são mais os pediatras que recomendam o peixe congelado para consumo das criancinhas por ser um alimento mais seguro. Percebe-se porquê.

A publicidade ao "peixe fresco" das grandes superfícies, diga-se em abono da verdade, é rigorosa. Lá fresquinho é todo ele. Os termómetros não mentem. Quanto à sua frescura, é uma questão de sorte. Se acertou em peixe com pouco tempo de casa, não terá razão de queixa, embora mesmo nestes casos do cheiro a hipermercado não se livra. Cheiro a mar, ou mesmo a peixe, só no mercado ou  na lota.

Será que a ASAE anda em cima disto?

Os "colaboradores" do Estado

Teresa Ribeiro, 21.10.14

Enquanto consumidores já todos percebemos que a idade da inocência passou e que aos balcões de atendimento público das mais variadas organizações o que encontramos são "colaboradores" cujo rendimento varia conforme as metas atingidas - nomeadamente ao nível de vendas - e que são pagos para defender os interesses da empresa que representam e não os dos clientes. Hoje em dia confiar num mediador de seguros ou num gestor de conta é tão arriscado como ir na conversa de um vendedor de pacotes de telecomunicações.

Podemos não gostar desta cultura que se instalou, mas reconhecemos que às empresas privadas lhes assiste o direito de operarem no mercado segundo as suas próprias regras, desde que não excedam limites legais. 

O que surpreende é verificar que o l'air du temps também foi impregnando os serviços do Estado, à medida que nos balcões de atendimento público foram substituindo funcionários por pessoal precário formado à pressão, sem conhecimentos adequados para prestar um bom serviço à comunidade. Nestes centros de atendimento ainda não há gente a vender por objectivos, mas quem sabe ainda lá chegaremos. O resto, ou seja a preocupação em cumprir níveis de "eficiência" como o tempo dispensado a cada utente e a incapacidade para resolver algo que ultrapasse meras questões formais, configura a nóvel cultura do "não estou aqui para te ajudar, estou aqui a zelar pelos meus níveis de produtividade".

Se em sectores mais sensíveis como a banca e os seguros faz sentido discutir os efeitos da agressividade comercial na degradação da relação de confiança com os clientes, nos serviços do Estado, onde supostamente o lema é "servir", tal discussão nem deveria ter razão de ser. Mas onde no sector privado é a concorrência feroz que dita as regras, no público a "racionalização de serviços" deve ser o que está por detrás desta "mudança de paradigma". Não se entende é porque em nome da racionalização não se pode apostar na eficiência, trazendo dos gabinetes para os balcões pessoal qualificado em vez de pescar nos centros de emprego gente impreparada cuja principal função é alindar as estatísticas do trabalho.

Há dias no Instituto de Seguros de Portugal quem me atendeu não foi capaz de me ajudar numa questão que depois um amigo, que é profissional de seguros, esclareceu em poucos minutos. Das "entrevistas personalizadas" na Segurança Social - e já fui a várias - nunca saio com os assuntos tratados, servindo as meninas que me atendem apenas como receptáculo de documentos, que depois seguem os trâmites burocráticos normais. 

Mais grave foi o que aconteceu a um pensionista meu conhecido. Ao balcão da Segurança Social de Entre-Campos uma "colaboradora" informou-o de que "é impossível requerer a reavaliação do grau de incapacidade nas reformas por invalidez". Dias depois, noutro balcão, disseram-lhe que tal não só é possível, como implica benefícios importantes nas taxas de juro de crédito bancário e em despesas várias.

Qual das informações está certa? Vai ter de investigar, com tempo e paciência, pois trata-se de um "detalhe" que tem reflexos importantes no seu orçamento familiar. Pode admitir-se este nível de incompetência  num serviço tão sensível como a Segurança Social? Não devia esta gente, que põe o atendimento nas mãos de pessoal estranho ao serviço e o vende como uma mais valia para o cidadão, ser responsabilizada pelo embuste?

Menino não entra

Rui Rocha, 02.12.12

A Honda acaba de lançar uma viatura pensada só para mulheres. O Fit She, assim se chama o bólide, não impressiona pelas acelerações ou recuperações. Em contrapartida, dispõe de um utilíssimo pára-brisas que bloqueia os raios ultra-violetas, ajudando a evitar as rugas. Conta ainda com um sistema de ar condicionado que promove a hidratação da pele, tornando-a mais suave e macia. O modelo está disponível em 5 cores, entre as quais se inclui o rosa (que surpresa, não é?) que, dizem, correspondem às das sombras mais utilizadas na maquiagem feminina. Tão atenta que está ao cliché, imagino que a Honda não se terá esquecido de incluir um sistema de ajuda ao estacionamento:

Até que a morte nos separe

Teresa Ribeiro, 03.09.12

Soube agora que só por morte podemos rescindir os contratos de fidelização por dois anos que celebramos com as operadoras de telecomunicações para instalação de telefone, internet e cabo em casa. Mesmo em caso de ausência forçada por período indeterminado, por motivo de doença ou de trabalho, não é possível pedir a cessação do serviço.

Sei de uma idosa que, mesmo depois de ter deixado a casa onde vivia sozinha para ir para um lar, foi informada pela Meo de que tinha de continuar a pagar as mensalidades até ao final do período de fidelização. O Instituto de Defesa do Consumidor lamenta, mas diz que mesmo nestas situações não se pode fazer nada. Neste país os utentes, consumidores, contribuintes e mexilhões partilham a mesma triste sina.