Assim se vê a força do PC*
(*PC como Personal Computer. CP seria um acrónimo bastante encalhado)
“Avó, sabes de uma novidade?” "Se é nova, certamente que não sei.” "Que tola, Avó, novidades são sempre novas, até lhes chamam boas novas!" ”Mas para isso têm de ser mesmo boas, verdade?“ "Pronto, está bem, apenas quero contar-te que a minha mãe vai hoje à Escola Azul buscar o meu computador! E ainda bem, porque tenho um projecto e uma pesquisa em curso sobre tubarões e eu escolhi o tubarão branco, mas estava limitada pelas pesquisas dos meus colegas e agora posso fazer o trabalho num ápice." Não consigo deixar de sorrir à fluência da pequena. “Então e o computador é bom? Funciona bem?” "O Wi-Fi não trabalha, mas posso ligar a caixinha – o pai diz que também se chama router, mas não é como o da sala. Ligo-a por cabo e conecta à Internet.” "Muito bem. Fico contente por estares entusiasmada com o projecto."
Em conversa com a minha filha, fiquei sabedora de que todos os meninos da escola que a minha neta frequenta, e cujos pais foram à Escola Azul buscar a mochilinha do PC, têm computador. Não sei o que acontece no resto do país, mas segundo dizem estão a envidar esforços para que todas as crianças tenham o seu PC quando chegar a altura das famigeradas Provas de Aferição. Seria louvável pensar que o estado está a dar o seu melhor para criar oportunidades iguais para todas as crianças do país, mas a agenda não deve ser assim tão linear.
E depois vem a parte em que se fica a saber que estas versões actualizadas e funcionais do Magalhães, que até vêm com Windows e Office pré-instalado, são cedidas aos alunos, neste caso apenas até ao 4.º ano, não antes porém de os encarregados de educação assinarem um termo de responsabilidade que visa danos e avarias, pelos quais terão de pagar, sem que haja sequer um qualquer valor indicado na documentação. Têm de preencher e assinar ou não levantam o material. Não discordo do cuidado a ter com o equipamento, até porque todo o material escolar não deve ser para tratar com desleixo, mas qualquer acidente, porque não se pode rejeitar a hipótese, pode resultar em mais de uma centena de euros em reparações, que mais tarde, nas furnas de um qualquer centro comercial manhoso, depois de recondicionado, custará meia dúzia de patacas.
“No início do ano lectivo, o Governo já tinha comprado a totalidade dos computadores para distribuir por alunos, cerca de um milhão de equipamentos pagos através do Plano de Recuperação e Resiliência, no âmbito da Escola Digital." Tudo para que crianças do 2.° ano, crianças com 7 e 8 anos, possam fazer as malfadadas Provas de Aferição online, uma completa aberração, na minha opinião, ou também para as introduzir (mais ainda) ao adicto mundo digital, ou estaremos a entrar numa outra embrulhada governativa, num PCgate que, apesar de sermos contra poderá muito bem acontecer, e iremos mais uma vez acabar por pagar?