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Delito de Opinião

Bruxelas e arredores

jpt, 27.08.19

Elisa Ferreira.jpg

Em Bruxelas, da qual parti, vão agora confluir os três primeiros da lista europeia do PS, todos antigos governantes de Sócrates (Pereira, seu braço-direito, e ao que parece também usufruindo dos serviços do "chófer", e os dois Marques). E agora também esta Ferreira, feita Comissária Europeia, que foi ministra do Sócrates secretário de estado, quando tudo começou para ele. Maternal, chocou o ovo da mamba, por assim dizer. E fê-lo tão bem que ele, já PM, década e meia passada até a lançou para a Câmara do Porto.

Costa continua a "narrativa" de que não havia indícios sobre algo errado. Alguns amigos meus, daqui a uns anos, vir-me-ão, pesarosos, repetir o choradinho "Eu não vi". Mas não. Percebem, sabem. Vivem nisto porque vivem disto. E por isso, nos pequenos jeitos que vão tendo, sufragam esta gente.

Adenda: 

eu já nem me lembrava mas vejo ecos disso. Esta mulher - para além de complicadas relações matrimoniais com um enorme rombo na Caixa Geral de Depósitos, que me parecem pelo menos moralmente duvidosas - tem esta concepção política: "O dinheiro é do Estado, é do PS!". Ou seja, diz ao eleitorado que o dinheiro que a administração pública gasta, o sempre respeitável erário público, é do partido que está no poder. E, lembremo-nos, para além das complicadas relações matrimoniais com um enorme rombo na banca pública, Ferreira clamou ao seu eleitorado que "o dinheiro é do Estado, é do PS!", quando o seu antigo secretário de estado José Sócrates era o primeiro-ministro. Uma quase infinita desfaçatez.

E é esta mulher, é esta prática da política e é esta visão do mundo, que Costa envia para Comissária Europeia. E é esta mulher que os painelistas avençados e administradores não executivos do costume, mais os dêénes e públicos, irão agora gabar em uníssono.

Mais uma adenda: Henrique Pereira dos Santos teve a gentileza de comentar este texto no meu mural do Facebook . E julgo curial trazer esse comentário para aqui, até porque discordante do teor do postal (ou de parte dele): "acusar Elisa Ferreira de ter chocado maternal ente o ovo, suando foi a primeira vítima de Sócrates (eu estava lá) não é rigoroso. Sobre o resto não tenho nada a dizer, mas sobre o período em que Sócrates se chamava a si próprio o Zé das Sobras por causa da contenção com que Elisa Ferreira o tentou manietar sei o que vi de camarote." Muito lhe agradeço o comentário. E o esclarecimento. 

 

Uma figura ridícula.

Luís Menezes Leitão, 27.09.16

Se há coisa que acho que não deve preocupar um único português é a "discriminação" de que Durão Barroso diz ser alvo pelo tratamento que a Comissão Europeia lhe passou a dar depois de ter ido para a Goldman Sachs. Durão Barroso está habituado a assumir as consequências das decisões de carreira que toma. Ele próprio tem consciência de que o povo português nunca lhe perdoou o ter abandonado o barco do governo para ir para Bruxelas, com as consequências que se sabe e que o país pagou muito caro. Não é de estranhar por isso que na Comissão Europeia também não lhe perdoem mais esta estranha transição.

 

Não é o facto de outros membros da Comissão terem anteriormente estado na Goldman Sachs que justifica alguma vez a atitude de Barroso. A indicação de exemplos de anteriores comissários que também se albergaram na Goldman Sachs só me faz lembrar aquele programa cómico brasileiro, em que quando alguém era criticado por alguma coisa, desatava a berrar: "Mas sou só eu? Cadê os outros?".

 

Mas António Costa, que tem feito tantas malfeitorias nos últimos tempos, resolveu aproveitar este assunto para fazer uma bravata nacionalista, e resolveu pedir esclarecimentos a Juncker "sobre a decisão tomada relativamente ao Dr. Durão Barroso, comparativamente a outros antigos membros da Comissão", uma vez que era "necessário assegurar e garantir que nenhum português é objecto de qualquer tipo de atitude discriminatória". Parece assim que a Comissão Europeia responderia perante o Primeiro-Ministro português e que qualquer funcionário português, desde o varredor das escadas ao ex-Presidente da Comissão, poderia contar com a intervenção marialva do Dr. António Costa para o proteger, se alguma vez se sentisse discriminado.

 

Mas, como não poderia deixar de ser, a Comissão Europeia já respondeu a António Costa que tivesse juízo e que trataria desse assunto directamente com Durão Barroso. Quanto a António Costa, há apenas duas perguntas a fazer: Primeira, ele não tem consciência da figura ridícula que fez? Segunda, não há assuntos na Europa mais preocupantes para o Primeiro-Ministro de Portugal do que o tratamento que a Comissão Europeia decide dar ao seu ex-Presidente?

Das eventuais sanções a Portugal

José António Abreu, 05.07.16

Considerando as estimulantes e mui coerentes políticas implementadas, a recusa maníaco-patriótica em - apesar de já nem Centeno acreditar nas próprias previsões - ouvir os alertas da Comissão Europeia, do Eurogrupo, do BCE, do FMI, da OCDE, do Conselho das Finanças Públicas, da UTAO e do Banco de Portugal (um tipo até fica sem fôlego...), e ainda as variadas e folclóricas encenações de ultraje prévio, que incluíram animosas resoluções parlamentares, é apenas justo reconhecer: com a inestimável ajuda de Catarina Martins, inventora de última hora da oh-tão-intimidante proposta de um referendo, o governo fez tudo o que podia para que elas sejam aplicadas.

Demasiado óbvio.

Luís Menezes Leitão, 18.05.16

Nos últimos dias houve uma verdadeira choradeira nacional para que não fossem aplicadas sanções a Portugal, que praticamente uniu Governo, Oposição e Presidente da República. Todos eles apelaram à complacência de Bruxelas, chamando a atenção para a injustiça das sanções. Pessoalmente nunca tive grande esperança nesse método. Embora o povo costume dizer que quem não chora não mama, a verdade é que esse ditado é para aplicar a bebés. Dos adultos espera-se em princípio outro tipo de comportamento, e não me parece que uma choradeira fosse impedir as instituições comunitárias de aplicar as regras com que nos comprometemos para entrar no euro. Já se devíamos ter entrado, é outra conversa.

 

Mas como o mundo funciona com base na Realpolitik, a Comissão Europeia acaba de dar a sua resposta: Portugal e Espanha continuam no procedimento de défice excessivo, mas a decisão sobre as sanções é adiada para Julho. Obviamente que isto nada tem a ver com o facto de a Espanha ir ter eleições no fim de Junho e de as sanções aplicadas serem um excelente tema de campanha eleitoral. Será que julgam que somos todos parvos?