O comentário da semana
«Controlar o que nos rodeia é parte do que nos faz humanos. Controlar é colocar o racional acima do irracional, o (neo-)córtex primeiro que o cerebelo. A questão aqui é controlar o quê e para quê.
O instinto natural do ser humano (todos os seres, aliás) é egoísta. Rosseau estava errado com o "bom selvagem" e William Golding correcto com o "Senhor das Moscas". Quem tem filhos pequenos e os vê crescer rapidamente se apercebe que o desenvolvimento da personalidade e a educação faz-se, em grande parte, a contrariar desejos, a minimizar egocentrismos.
No entanto, socialmente, a nossa sociedade infantilizou-se. Trocou-se o fazer o que é correcto pelo fazer o que nos (aparentemente) faz feliz. Quando os "Founding Fathers" dos Estados Unidos da América escreveram a declaração de independência face ao Reino Unido e incluíram esta famosa frase
"We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness."
foram efectivamente longe de mais (se não em espírito, pelo menos na letra) e essa ideia, que fez caminho pelo liberalismo de John Stuart Mill, acabou por ter alguns efeitos perniciosos ao centrar tudo, excessivamente, no individuo.
Esquecemos que estamos aqui para fazer o que é correcto, o que é adequado, para viver uma vida boa (εὐδαιμονία) e não para ser animalescamente felizes. Porque a felicidade animal é comparativa e passageira (somos felizes em comparação com a infelicidade e, ao contrário do que diz, não existe nem pode existir "felicidade plena"), enquanto uma vida bem vivida, preenchida, com alegrias e mágoas, é absoluta e ficará marcada nos que cá deixamos quando partimos.»
Do nosso leitor Carlos Duarte. A propósito deste texto da Joana Nave.