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Delito de Opinião

O comentário da semana

«A mensagem do cristianismo foi a revolução mais revolucionária de todas»

Pedro Correia, 02.10.24

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Crucificação Branca, de Marc Chagall (1933), um libelo anti-totalitário

 

«Nem engenharia social inflamada por cartilhas ideológicas nem por cartilha de espécie nenhuma: bem pregou Cristo a evidente lógica da irmandade básica dos homens e da impossibilidade de servir ao mesmo tempo o deus dinheiro e o deus amor ao próximo, fazendo mesmo milagres para não ser apenas mais um profeta na sua terra, que ninguém escuta; bem se esforçou Paulo por explicar, com absoluta clareza, que não há diferença entre judeu e gentio, escravo ou senhor, homem ou mulher, pois todos são um em Cristo.

A mensagem de Cristo foi sem dúvida escutada e compreendida, pois que resistiu até hoje. Mas, logo desde o início, inquinada pelo tal "cerne da natureza humana", que a impediu, e continua a impedir, de florescer como a Verdade anunciada.

Uma mensagem que constituiu, na minha opinião, a revolução mais revolucionária de todas, e cujos valores, de forma manifesta, vieram fundamentando o progresso humano. Há que distinguir os valores cristãos em sentido absoluto da religião que, bem de acordo com a "natureza humana", se impôs num papel de intermediário ritualista, de que nunca mais saiu. É como a "ditadura do proletariado" do marxismo: de fase transitória, passou a ser o fim em si mesmo da revolução.

E Cristo não é a Inquisição ou os orfanatos de má memória: Cristo é a fraternidade, solidariedade e igualdade que as outras revoluções iriam apresentar como suas. Mas não são os anões que trepam aos ombros dos gigantes outra conhecida característica da "natureza humana"?

 

De qualquer maneira, estou em crer que é às revoluções de índole humanista, começando pela do cristianismo, que devemos o progresso que, apesar de tudo, conseguimos ir alcançando. Muito devagar, estupidamente devagar, com legiões de sacrificados, estupidamente sacrificados, mas avançando: se não tivéssemos progredido em termos de fraternidade, solidariedade e igualdade, nem saberíamos falar de direitos, liberdades e garantias, que estão normalizados no nosso quotidiano de "ocidentais"- apesar de termos que os defender com unhas e dentes, se quisermos mantê-los e desenvolvê-los. A "natureza humana" é, por definição, contra-revolucionária, no sentido de egoísta, belicosa e anti-progressista. Por mais que tenha, nunca nada lhe chega e tudo lhe é devido.

Cada revolução teve o seu papel nesse lento progresso, sempre alguma coisa útil deixou na História comum, apesar das tragédias dos povos e das distorções das ideologias originais, de que se destaca a inicial, a do cristianismo. E terá sido esta, gigante a cujos ombros as outras treparam, a ideologia revolucionária que deixou as marcas, os valores, que continuam a orientar-nos, por imperfeitamente praticados que (ainda) sejam.

 

Da nossa leitora Gracinha. A propósito deste meu texto.

O comentário da semana

«Ronaldo é genial, mas fez muito por si a partir de quase nada»

Pedro Correia, 26.06.24

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«A inveja é mesmo o mais rasteiro, o mais ranhoso dos sentimentos. A imagem mais comovente que guardo de Ronaldo é a de um rapazinho tímido, a entrar sozinho no enorme autocarro que o levaria de volta ao centro de treinos, creio eu, depois de um jogo da selecção para o campeonato da Europa, se não estou em erro, em que se entrevira já o talento que era seu. E onde estavam os outros, que tinham vindo com ele? Era madeirense, possivelmente viera sem família, os outros tinham ido para as suas casas, voltariam no dia seguinte, disse o meu marido.

Desde aí segui Ronaldo, e a mim, que nem costumo ver futebol, quantas alegrias me deu, a que verdadeiras obras de arte sublimemente efémeras assistimos em quase todas as suas exibições. Além do mais, um exemplo, num tempo em que o trabalho e a persistência parecem ter deixado de ter lugar e, a existirem, não andam bem considerados. O talento é uma coisa, o génio outra, mas sem muito trabalho o talento morre como rosa sem ser regada.

Ronaldo é genial, mas fez muito por si a partir de quase nada, só que o nada era esse talento imenso de que incansavelmente se ocupou. Por mim, tenho orgulho em que ele seja português, conto que continue a sê-lo, e espero que por muito tempo nos continue a dar alegrias como tem dado, desta ou de outras formas - no futebol há muitas casas e ele saberá reinventar-se.

Tem defeitos, mesmo na sua imagem pública? Decerto que tem, mas subam ao Olimpo e vejam os terríveis, crudelíssimos defeitos dos deuses que por ali moram. Cristiano vive por lá, mas é apenas um homem, para sossego nosso. Quando de lá desce, não será um santo... E que santos somos nós?

É afinal um homem do tempo e do mundo em que vivemos, das suas circunstâncias, e há indícios de ser boa pessoa... Quanto ao resto, à mesquinhez não se liga, pois mina tudo à sua volta. E quanto à inveja, diz o povo que nem o invejoso medrou nem quem ao seu lado morou.

Viva Cristiano Ronaldo! Deus o abençoe.

 

PS - Para que saibam, se quiserem saber:

Nunca vi o Cristiano Ronaldo, vejo futebol na televisão só quando o Sporting joga com o Benfica ou quando há jogos da selecção, nunca leio nada sobre futebol, escrever então... enfim, hoje deu-me para isto.»

 

Da nossa leitora Margarida Palma. A propósito deste texto da Maria Dulce Fernandes

O comentário da semana

«O meu pai costumava dizer que a preguiça é mãe de todos os males»

Pedro Correia, 18.06.24

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«Sou filha, neta, bisneta e trineta (daqui para a frente não sei...) de emigrantes. Os meus avós maternos conheceram-se na Argentina, ambos emigrantes, voltaram à Galiza com a grande depressão, perderam tudo; um bisavô desapareceu no Amazonas, era seringueiro (tenho esperança que tenha ficado por lá com uma índia); o meu pai foi um desses rapazinhos, posto fora de casa aos 14 anos para vir trabalhar com o avô que veio a Lisboa para apanhar o barco para a América, mas teve um acidente e ficou por Portugal onde montou um negócio. Com o meu pai vieram meia dúzia de miúdos da aldeia dele. O meu "papá" morria de saudades da terra, mandou-me estudar para lá para manter a ligação. Estou-lhe muito grata, fiquei com duas mães, a minha e a irmã dele, com quem vivi enquanto estudei. E cinco primos-irmãos. E uma ligação muito forte com a família. E amigos do peito em dois países, ainda vou aos jantares do colégio.

E era, o meu pai, entre muitas coisas boas (estudou ao mesmo tempo que trabalhava, e era todo virado para o espírito e coisas que agora são moda: pilates, yoga, alimentação natural, gestão de recursos humanos, um sem-fim de prafrentix que a minha mãe rotulava de maluqueiras), um convicto crente na ética do trabalho - a preguiça é a mãe de todos os males, dizia - e desde muito nova, tipo 11 anos, que nas férias tinha de trabalhar.»

 

Da nossa leitora Marina. A propósito deste texto da Maria Dulce Fernandes.

O comentário da semana

«As ideologias unanimistas ameaçam a diversidade cultural da Europa»

Pedro Correia, 11.06.24

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«A invasão islâmica constitui um problema grave, sobretudo quando se alia ao revisionismo comunista e woke. Essas ideologias unanimistas são uma ameaça directa à diversidade cultural da Europa e devem ser combatidas e, se possível, destruídas.

A Europa tem uma raiz pagã que transformou uma religião poeirenta e patriarcal do Médio-Oriente em cultura renascentista e, mais tarde, abriu caminho para a solidificação do espírito científico (o que não aconteceu em mais lado nenhum a não ser quando foi copiado pelos asiáticos). Na verdade, tratou-se de knowledge transfer tal como foi programado no Tratado de Roma e nas cimeiras de desenvolvimento. É nesse espírito que radica o sentimento de liberdade — radicalmente diferente das vozes autoritárias das potências continentais como a Rússia e as ideologias teocráticas. E é preciso inteligência, cultura e resiliência para manter esse espírito aceso, que todos os dias os nossos inimigos que são serventes do pensamento único lutam para destruir.

E estão a conseguir destruir muita coisa, como as línguas europeias, com a ajuda de uma massa de gente ignorante e servil que defende os revisionismos.»

 

Do nosso leitor V. A propósito deste meu texto.

O comentário da semana

«A economia de mercado precisa com urgência de moralização»

Pedro Correia, 05.06.24

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«Não sejamos ingénuos, e não descuremos outra dimensão assustadora, que também alimenta a "ameaça do aço e da força": as máfias financeiras, nas suas desastrosas vertentes virtuais e de casino, que delapidam a riqueza criada pelo esforço dos povos; e que apostam também em investimentos concretos, que muito passam pela criação de 'necessidades' de guerra que não apenas as da justa protecção. A economia de mercado precisa com urgência de moralização, sob pena de se tornar disfuncional, com crises atrás de crises que atropelam cruelmente o homem comum.

A Europa precisa de indústrias de defesa próprias, muito fortes, que garantam a dissuasão e enfrentamento desses, os tais já ultrapassados pela história, que têm tudo a perder, e por isso se tornam ainda mais perigosos - pelo menos até, por fim, desaparecerem de todo, o que também acredito que acabará por acontecer, se não nos arrastarem com eles antes para o inferno. Mas restarão as armas, sobretudo as nucleares, na prática indestrutíveis, que haverá que gerir fora das mãos das tais máfias, para quem tudo é jogo e negócio; e as necessidades de bem-estar dos povos, que também haverá que gerir muito mais eficazmente do que até agora, aproveitando os ensinamentos do passado, para evitar o ressurgimento desses perigosos messias que vampirizam o voto.

Em conclusão: o poder político tem de recuperar o controlo da governação, os cojones que lhe vêm faltando, para que o impulso da humanidade para a liberdade enfim se cumpra. Sem isso, nada feito, é só esperar pelo próximo homem forte, sempre grande cliente de armas e de contas na Suíça.»

 

Da nossa leitora Gracinha. A propósito deste meu texto.

O comentário da semana

«Num certo sentido, a Suíça é a verdadeira Europa»

Pedro Correia, 28.05.24

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«A Suíça formou-se tardiamente, nas zonas mais ricas e mais requintadas de quatro países — e que sintetizou as melhores experiências de todos eles. E foi sempre tida como neutra, porque no meio das guerras é preciso um porto seguro, para onde pessoas e riquezas possam escapar.

Nesse sentido, a Suíça é a verdadeira Europa.

Se não estivessem agrilhoados pelo esquerdismo internacional, mais países (os que não são centrais no desenvolvimento tecnológico) poderiam ter-se aproximado desse estatuto de paraíso financeiro e de serviços e produtos de alta qualidade.

Portugal não, porque tem comunistas e brutamontes a mais para que qualquer coisa resulte — mas a Irlanda e o Benelux estão lá perto e a Islândia tentou-o até 2011. Esta gente ainda não percebeu que, para haver riqueza e os países serem dinâmicos, e haver menos corrupção, o lugar do dinheiro é na rua, não é em aforros nem nos cofres dos estados. Quando oiço Bugalho defender que "nós no PSD sempre defendemos maior transparência financeira e não somos favoráreis a off-shores" (hum... ele entrou lá ontem, 15 dias atrás afirmava que tinha escolhido o jornalismo e não a política... mas okay...), começo logo a ranger os dentes.

Um dos maiores problemas à sustentabilidade da Europa é a complexidade da sua construção. Começa a fazer falta uma revisão, uma reforma de toda aquela papelada infernal que cria o espaço para que só "especialistas" dominem na realidade os mecanismos políticos. Apesar de manter ainda os seus princípios de transparência e de segurança para com os seus cidadãos, a Europa à medida que se expande para Leste começa a ter velocidades diferentes a mais e a perder eficácia perante as possiblidades crescentes que a complexidade legislativa fornece aos corruptos. Um corrupto não é mais do que aquele que "simplifica" a vida a alguém.»

 

Do nosso leitor V. A propósito deste meu texto.

O comentário da semana

Pedro Correia, 07.11.21

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«E tudo isto é essencialmente imaterial, frágil, potencial e perigosamente efémero, à mercê de um desastre informático - acidental ou não tanto - ou da deliberada acção de um qualquer guardião dessa inclusividade cancelatória que por aí recrudesce e decerto não desperdiçará o momento em que, dotada do poder para tanto, zelosamente possa exercer a sua acção civilizacional. E, temo, nem um nem outro cenários será assim tão rebuscado.

De muito não se sentiria verdadeiramente a falta (e isso de se ser irrelevante não é necessariamente insultuoso; até porque talvez nem uma linha desses mais de 600 mil blogues seja verdadeiramente irrelevante: antes uma útil fonte para o estudo da pequena história, da vida familiar e doméstica, da existência "comum" de uma época). Mas muito, se perdido, seria uma verdadeira perda.

O papel, no seu lugar na estante (ou até escondido como tesouro precioso - ou perigoso), está longe de ultrapassado. Por alguma razão aqui já há uma antologia (virá outra?).»

 

Do nosso leitor Costa. A propósito deste meu texto.

O comentário da semana

Pedro Correia, 31.10.21

«A geringonça ou coligação ou o que for falha a partir do momento em que dois dos participantes recusam qualquer responsabilidade na governação. Foram quatro anos em que PCP e Bloco foram responsáveis por tudo de bom que aconteceu, e alheios a tudo o resto. Acordo escrito ou não, PS governou e os colegas iam aprovando ou reprovando consoante o Limiano dado em troca. Aliás, foram quatro anos de limianismo, por mais que se tente disfarçar com uma governação coligada de esquerda.

Costa pensou poder gerir mais uma legislatura assim, mas foi confrontado com covid, e Bloco e PCP perceberam que a sua postura não liga com o seu eleitorado, que é pura e simplesmente de protesto. Ou seja, um PCP que não vote contra o Governo de Direita (PS) e que não ande nas ruas via sindicatos, é inútil. O mesmo para o Bloco, serve para legalizar brocas e perseguir Rendeiros, uma Catarina ao lado do Costa vale zero.»

 

Do nosso leitor Anonimus. A propósito deste texto do JPT.

O comentário da semana

Pedro Correia, 03.10.21

«Preciso da bicicleta para ir tratar de tretas burocráticas ao Campus da Justiça.
Ir e vir a pé demora um bocado.
Se for para passear faço nas calmas 13 kms seguidos e vou passear até Belém.
Eu passeio a pé (...) . A defesa de bicicletas e trajectos pedestres para mim é uma questão de higiene e saúde pública.

Sempre me fez impressão gente ainda muito nova e obesa e que só consegue sair de casa enfiando-se no carro.

É a geração "labrega-à-amaricana-rica". Julgam-se sempre a conduzir em L.A.»

 

Da nossa leitora Zazie. A propósito deste meu postal.

O comentário da semana

Pedro Correia, 08.08.21

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«"A rasoira da mediocridade nivelou a seara numa pequenez outoniça. Não se ouve uma voz singular no murmúrio colectivo, nenhum grito se sobrepõe ao coaxar monótono do charco. As conversas são ladainhas que um ora pro nobis resignado remata ritualmente.

Pede-se a salvação a Deus e a alimentação ao Estado, de rastos, a lamber os degraus do altar e as escadas dos ministérios."

Coimbra, 4 de Setembro de 1956

Miguel Torga

 

Não me parece que o problema esteja nos telejornais, nem no governo, nem na oposição.

O problema é genético, está no ADN do português.

Porque é que me vou chatear, assim como assim não muda nada. Eles é que mandam, eles que resolvam.»

 

Do nosso leitor Carlos Sousa. A propósito deste meu texto.

O comentário da semana

Pedro Correia, 11.07.21

«A pandemia introduziu um novo conceito de democracia em Portugal.

A nossa democracia é uma democracia medicinal.

O nosso povo é livre de fazer o que a direcção-geral de saúde mandar.

Será que também será preciso mostrar um certificado covid ou fazer um teste quando formos votar em Setembro?

E porque não aproveitar os restaurantes para administrar as vacinas? Assim, quem não tivesse o certificado, levava a vacina enquanto esperava pela sobremesa.»

 

Do nosso leitor Carlos Sousa. A propósito deste texto da Maria Dulce Fernandes.

O comentário da semana

Pedro Correia, 04.07.21

«O liberalismo pode ser político e/ou económico enquanto o neoliberalismo é apenas económico.

O liberalismo aparece no séc. XVIII como oposição ao mercantilismo. O neoliberalismo aparece na segunda metade do séc. XX como oposição ao Keynesianismo.

Mas a diferença principal é que o neoliberalismo está comprometido com a globalização: livre circulação de capitais estrangeiros, eliminação de pautas ou entraves ao comércio mundial, favorecimento de empresas multinacionais.

Parece-me equilibrado dizer que o actual liberalismo em Portugal tem pouco de neoliberalismo, maioritariamente defende o liberalismo político e nasceu como reacção ao socialismo "grosso modo" entendido como estatismo (50% ou mais da economia nas mãos do Estado).

Simplificadamente (muito) o liberalismo nasce com Adam Smith e tem como referências modernas a escola austríaca (Ludwig v. Mises e Friedrich v. Hayek) enquanto no neoliberalismo a referência é Milton Friedman e a escola de Chicago.

 

Entendo que se pode ser liberal e não ser neoliberal. O neoliberalismo pode e muitas vezes é perverso. Por exemplo a aposta nas empresas multinacionais sem as defesas do liberalismo político que ignora, pode pôr e está a pôr em causa a própria liberdade.

Veja-se o que está a acontecer com as grandes empresas digitais que sistematicamente violam direitos individuais.

Pior ainda, a pretexto de justas tributações sobre essas empresas, os Estados estão a adquirir mais poder e esse maior poder vai necessariamente reduzir a liberdade individual.»

 

Do nosso leitor Francisco Almeida. A propósito deste texto do Paulo Sousa.

O comentário da semana

Pedro Correia, 27.06.21

«O desgoverno é uma forma de governo. Não há nada de mal na declaração de Ferro Rodrigues, a não ser que a consideremos no contexto do desnorte sobre o tema cansativo da covid.

Em boa verdade as duas mais altas figuras do estado já nos vieram dizer por actos e por declarações públicas que estão cansadas de manter esta canga sobre os cidadãos e que a acham injustificada. Demoraram para evidenciarem aquilo que é um sentimento generalizado, mas que ainda não conseguiu romper a subjugação pelo medo a que o povo tem sido sujeito de maneira laboriosa e planeada fará dois anos não tarda.

A covid tornou-se um óptimo negócio. Os bons negócios que dão dinheiro e poder sobre as pessoas são obviamente para manter. Quanto maior for a destruição, mais generosa pode ser a bazuca. E 80% dela vai direitinha para o estado.

Trabalhar para quê? O problema já não é o vírus, é a virose.»

 

Do nosso leitor João Gil. A propósito deste meu texto.

O comentário da semana

Pedro Correia, 13.06.21

«Anteontem a minha filha mais nova apareceu com febre. Para não ficar doente e sozinha em Lisboa (o irmão tem que trabalhar) fez um teste rápido que deu negativo e pediu-me para a ir buscar (vivo numa quinta a 75 km de Lisboa). No caminho parámos no Centro de Saúde onde conseguiu uma consulta de urgência por causa da baixa mas a médica mandou-a fazer um teste PCR. Como tinha um casamento amanhã e hoje era feriado não havia laboratórios disponíveis e lá fomos à CUF de Santarém. Esta manhã veio o resultado: positivo.

Ainda tive esperança que fosse um falso positivo, frequente nos testes PCR com ciclos altos mas dois outros amigos que estiveram com ela noutro casamento no sábado passado informaram que também estavam infectados.

Como o irmão tinha vindo passar o feriado connosco - tranquilizado pelo teste rápido negativo - agora estamos os quatro na trampa. A minha mulher foi vacinada há dias (ainda não pode estar imunizada) eu vou (ia?) receber a segunda dose daqui a uma semana, o meu filho ainda não está agendado e tem trabalho com prazos. Eu e a minha mulher fazemos anos para a semana e lá se foi o programa. Para complicar estamos a meio de uma remodelação com duas pessoas a trabalhar mais uma mulher-a-dias imprescindível pela porcaria feita nas obras.

Pouco tem a ver com o postal. Nem festejos futebolísticos nem noitadas de copos mas a base é semelhante: gente nova saturada a conviver em casamentos que estiveram adiados. E lá aumentam os números de Lisboa e Vale do Tejo.»

 

Do nosso leitor Francisco Almeida. A propósito deste meu texto.

O comentário da semana

Pedro Correia, 30.05.21

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«Como houve, há, pandemia, a final foi em Portugal. País que pelo futebol e pelo turista reles, em quem apostou como alvo principal do seu mercado de turismo, se sujeita a qualquer abuso, a toda a humilhação. E trata os seus nacionais, os portugueses, como verdadeiros imbecis. Há uns dias, na final da taça de Portugal, nem pensar em público; hoje, diz-se num canal de televisão, foi negada a autorização para quinhentas pessoas assistirem a uma final nacional de râguebi. Porque, parece, não se podia então garantir a "bolha" que agora estava mais que garantida. Viu-se e vê-se.

Até a UEFA manda nesta soberana república. E uma vez mais, sob o manto protector da toda-poderosa bola, organizações e indivíduos estão arrogantemente acima da lei. O secretário de estado do Desporto seguirá presumivelmente o seu percurso; a DGS, idem. O desgoverno da nação, idem. O que aliás será muito natural. Governados por um PS mais e mais voltado à esquerda, acolitado por dois partidos de extrema-esquerda, é suposto que o povo esteja como está: amedrontado, calado, obediente, sem discutir, aceitando submisso o que a vanguarda revolucionária entende impor-lhe. E hoje, o proprietário de um café, no Porto, fechava o estabelecimento bem mais cedo do que aquilo a que a lei (ela própria o disparate que se sabe) o obrigaria, por ter esgotado horas antes os mil litros de cerveja de que dispunha. No estrito plano do negócio imediato, portanto, um sucesso. Sob os esforçados e patrióticos auspícios do partido socialista.

Um sucesso em que o português cumpriu o seu papel: o de empregado de mesa. E empregado de mesa de um cliente rasca, bêbedo compulsivo, sem modos. Mas o português gosta disso.

Está tudo bem assim e não podia ser de outra forma.»

 

Do nosso leitor Costa. A propósito deste texto do João Pedro Pimenta.

Os comentários da semana

Pedro Correia, 23.05.21

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«Foi a época da energia abundante ao preço da chuva, dos herdeiros do Infante D. Henrique, do Colombo e do Far West. Esse optimismo expirou por volta de 1970 com a divulgação do Relatório Meadows, conhecido erroneamente como relatório do clube de Roma (na verdade, foi produzido por malta do MIT a pedido do clube de Roma). É de notar que os redactores desse relatório não fizeram previsões para a evolução da sociedade, pois isso é impossível e eles sabiam-no muito bem. Eles estudaram cenários hipotéticos, o mais plausíveis à época.

 

A traço grosso, as conclusões do estudo desses cenários foram:

1- As modalidades de crescimento indefinido (demográfico, consumo energético e de matérias-primas) levam ao esgotamento irreversível dos recursos (energéticos, mas não só) não-renováveis (o que constitui uma conclusão evidente, uma mera tautologia) e a uma degradação prejudicial à produtividade dos ecossistemas resultante da poluição e sobre-exploração crescentes;

2 - Extrapolando a partir dos ritmos observados em 1970, o colapso do sistema seria de esperar, não para daqui a milénios, mas já em meados do século XXI (esta foi a surpresa, mas mesmo essa surpresa é indevida pois já no século XIX os ingleses estavam cientes da inevitabilidade do esgotamento do carvão extraído na Grã-Bretanha, e nisso foram corroborados durante o século XX).

 

Hoje toda a gente sabe isto, mesmo os que o negam. Consumimos mais do que o planeta produz (estamos a esgotar as nossas "poupanças no banco"), já passsámos o pico do petróleo convencional e, por issso, o rátio entre energia extraída e energia consumida durante a extracção é uma função monótona decrescente (e quando descer abaixo de um acaba o jogo).

O consumo de combustíveis fósseis estagnou na Europa já há uma década e é essencialmente por isso que o crescimento económico gripou. Quando o consumo de combustíveis atinge um planalto, o número de máquinas a trabalhar atinge outro que lhe corresponde (o padeiro já não tem espaço no forno para tirar mais croissants para alimentar mais) e a economia que roda à custa das máquinas estagna também. À estagnação seguem-se as narrativas apocalípticas.

 

Ah, resta-nos desvendar o enigma da esfinge: a criatura capaz de reconhecer a sua própria natureza quando ela lhe é ensinada, mas que soçobra presa de pulsões niilistas quando ela lhe é ocultada.»

 

Do nosso leitor Miguel. A propósito deste meu texto. 

 

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«Cinquenta anos de optimismo e felicidade de plástico prometida nos spots publicitários. A crença absoluta no domínio do homem sobre a natureza. Tão desajustada quanto o entretenimento e a ficção sórdida que procura colmatar desejos de negritude e alegado realismo na vida dos derrotistas.

Uma população ocidental a viver grosso modo em melhores condições físicas do que há cinquenta anos - e uma opinião pública educada há décadas no facilitismo e na falta de juízo crítico. Não é de educação formal nem de erudição que falo; essa preocupa-me bastante menos, mas da falta de noção do comezinho. Da falta de consciência do peso de cada um na sociedade, da sua responsabilidade, das suas obrigações. Já que dos direitos a maioria dos cidadãos ocidentais parecem bastante conscientes. A desejável reivindicação de maior justiça social e respeito pelos direitos fundamentais foi desvirtuada e transformada em fonte inesgotável de egoísmos e bandeirinhas folclóricas. Conduziu também à necessidade de sempre culpar o outro, por total incapacidade de reconhecer a própria responsabilidade ou pela crença na inexistência de razões naturais e fortuitas – não assacáveis aos homens.

A ressaca do confronto com a realidade origina tremendas frustrações que conduzem a um chinfrim contestatário onde ninguém se entende, à falta de autoridade dos Estados, aos radicalismos e à proliferação dos distúrbios mentais – é uma maçada, mas nem sempre há outros disponíveis para o sacrifício, para assumirem a culpa que não é sua. Nem a natureza se comove (sempre) perante os caprichos humanos: igual a si própria dizima mais de três milhões de seres humanos de uma assentada, como se dissesse "presente, estou aqui" perante um mundo distraído entre contabilizar o número ou as razões aparentes para tantas mortes e o desejo de retoma à "normalidade" e às catadupas de slogans inconsequentes.

 

Da nossa leitora Isabel Paulos. A propósito deste meu texto.

O comentário da semana

Pedro Correia, 16.05.21

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«Há dias li, numa entrevista, uma frase do escritor timorense Luís Cardoso a propósito de um seu livro O Plantador de Abóboras:

"O passado é um lugar estranho quando se sai dele como se nunca lá tivesse entrado."

Para lhe dizer que guardo do Belenenses bonitas recordações. A família era vermelha na sua maioria, havia um tio belenenses, havia um tio sportinguista. O meu avô, tirando ele, apenas permitia que o tio do Belenenses me levasse à bola. Os jogos eram no velho Estádio das Salésias e metiam lanche.

Um ano, tão longe esse ano, fui com o meu avô ver o Benfica-Atlético. Ao mesmo tempo, nas Salésias, o Belenenses preparava-se para vencer o seu segundo campeonato. Bastava o empate. Diz a lenda que José Pereira, o pássaro azul, terá dito ao Martins, avançado-centro do Sporting: "Eu saio daqui em ombros, tu sais de carroça." É quando, quase no tombar do jogo, Martins faz o segundo golo do Sporting e impede o Belenenses de ganhar o campeonato.

No estádio da Luz, nos rádios a pilhas ouviu-se o golo do Martins, apenas dois anéis, não estava cheio, mas o relvado foi invadido e ouviram-se foguetes lançados por aqueles que acreditam sempre. Lembro-me do Germano central do Atlético, que na época seguinte iria para o Benfica, a ajudar a pôr aquela gente fora do relvado para que o jogo tivesse um fim. Lembro-me do meu avô perguntar porque não estava contente e o meu silêncio a marcar a tristeza do meu tio Belenenses, Carlos de seu nome. Ainda o meu tio sportinguista, Angelino de seu nome, a dizer ao meu avô: "O pai nunca se esqueça que o Sporting deu-lhe este campeonato!"

O passado é mesmo um lugar estranho.»

 

Do nosso leitor Orlando Tavares. A propósito deste texto da Maria Dulce Fernandes.

O comentário da semana

Pedro Correia, 25.04.21

«Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho é glorificado. Ele que falou pelos Profetas.

Assim a profética judaica está incorporada no cristianismo, sendo quase universal pois esta parte do Credo é, no geral, comum a católicos, protestantes (a grande maioria), ortodoxos e orientais.

 

O cristianismo, antes de chegar a Roma, expandiu-se na Grécia. Os evangelhos, como os conhecemos, foram escritos em grego e o mesmo se diga das epístolas de S. Paulo. Grega era igualmente a cultura dominante das romanos.

Esta dominância grega foi contestada em ramos originários cristãos no Médio Oriente que a consideravam uma deturpação do verdadeiro cristianismo e, por maioria de razão, contestaram a versão romana estabilizada em concílios depois de Constantino. Esses ramos na maioria extinguiram-se mas alguns foram depois declarados hereges e subsistiram, como, por exemplo os Nestorianos dos quais um monge foi uma das grandes influências de Maomé.

Também não é exacto que a cultura grega só se tenha tornado conhecida no Renascimento. A filosofia e a literatura, com destaque para o teatro e os diálogos, foi conservada e copiada nos mosteiros durante toda a Idade Média e estava acessível aos estudiosos. Os grandes Doutores da Igreja foram influenciados pela cultura grega. Pedro Julião, depois Papa João XXI cuja obra Summulae Logicales foi o livro de estudo de filosofia em toda a Europa por cerca de três séculos *, era um Aristotélico.

No Renascimento o que se deu foi a expansão do saber, acompanhada da secularização do ensino nas Universidades. Também se expandiu o saber científico, que tinha sido ignorado nos mosteiros, e que foi recuperado dos árabes que o conservaram: matemática, física, biologia, medicina, astronomia e geografia foram conservados e desenvolvidos pelos árabes e alguns judeus e só tiveram intercâmbio com europeus nos muito raros períodos áureos em que um líder esclarecido conseguiu a colaboração das três religiões: Abd el-Rahman III em al-Andalus, Rogério II na Sicília, Alfonso X de Castela e, menos significativo, D. João II, cuja Junta de Matemáticos integrava pelo menos um judeu e um árabe.

* Algum tempo depois de Pedro Julião, Pedro da Fonseca (1528-1599) um jesuíta, produziu uma obra filosófica que dominou o estudo na Europa por dois séculos. É para mim motivo de imenso orgulho que, durante quase cinco séculos, quem sabia pensar (ou pelo menos quem sabia Lógica) tenha estudado por livros de um português.»

 

Do nosso leitor Francisco Almeida. A propósito deste texto do José Meireles Graça.

O comentário da semana

Pedro Correia, 18.04.21

«Eis a minha tentativa de moderação:

- as caixas de comentários são, a meu ver, um bem precioso.

- as caixas de comentários são como a farmácia: há de tudo.

- quem entra numa caixa de comentários deve saber ao que vai; afinal, o futebol é desporto de contacto e num estádio os palavrões são património imaterial da humanidade.

- tal como noutras situações, também nas caixas de comentários o negativo salta mais à vista que o positivo, mesmo que aquele seja ínfimo; e pior ainda se nos toca pessoalmente ou mexe com assunto que nos é querido.

- tal como noutras situações, também nas caixas de comentários os maus expulsam os bons. E compreende-se que os bons acabem por se retirar. Todavia, sempre que alguém bom desiste, o mal ganha.»

 

Do nosso leitor Sampy. A propósito deste meu texto.

Os comentários da semana

Pedro Correia, 04.04.21

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«Não mudei de opinião sobre a vacina da Astra-Zeneca.

Ainda que os nove mortos da Alemanha tenham sido causados pela AZ o que não está demonstrado, ainda que tenham sido 30 na Europa, como disse um comentador mas não vi em mais nenhum lado, não havendo outras vacinas disponíveis em quantidade suficiente, o número de infecções previsível se se suspender a vacinação conjugado com a mortalidade estatística por infecção nova, ainda que mitigada por estarem vacinados grande parte dos mais idosos, conduziria a um maior número de óbitos que os 30. É assim que se estabelece uma relação custo-benefício.

Acrescem vários factores de que listo:

- O número de tromboembolias pulmonares, antes da Covid era muito mais elevado que o de tromboembolias cerebrais (em Portugal vi noticiados dois casos, ambos não graves (recuperáveis) de tromboembolias pulmonares ou seja, bem abaixo da média ante-Covid).

- Os números mundiais dão mais mortes de homens por Covid do que de mulheres.

Assim as oito mulheres em nove que morreram na Alemanha por tromboembolias cerebrais são duplamente fora do esperado. Acresce que, de mortes em outros países apenas foram identificadas uma enfermeira austríaca e dois italianos, ambos homens, um militar. E ainda que sejam 30, será muito abaixo do esperado cotejado com as nove alemãs.

Acrescem algumas questões especulativas:

- A AZ custa cinco vezes menos do que a Pfizer;

- Tem menos exigências de frio pelo que a logística é mais fácil;

- Há uma tremenda má vontade da UE contra a Grã-Bretanha, quer pelo Brexit, quer pela vantagem que conseguiu dos negociadores (na minha opinião incompetentes) da UE quer pelo alegado desvio de vacinas para quem pagar melhor do que a UE (incidentalmente os israelitas nem sequer foram caso único e compraram à Pfizer). Além da rivalidade histórica entre França e Inglaterra (que acho esteve de certa forma presente no negociador do Brexit) França está com uma aguda "dor-de-cotovelo" porque o Instituto Pasteur já desistiu de produzir uma vacina e a Sanofi espera os primeiros ensaios para o início de 2022.


Não sou grande adepto de teorias da conspiração mas não posso alhear-me do facto de que a maioria dos peritos admite que o efeito das vacinas será limitado no tempo, sendo previsível a necessidade de revacinação. Ou seja, estão e estarão em jogo milhares de milhões.

Por último, mas "the last but not the least", quer a Pfizer quer a Moderna são vacinas pioneiras pois interferem no ADN provocando o fabrico de uma proteína específica. Bem sei que não penetram o núcleo e que se autodestroem depois mas o que é facto é que ninguém pode saber com certeza se além da proteína não produzem qualquer outro efeito que só se revele mais tarde. Se houvesse motivos para esperar os habituais 5-10 anos para aprovar uma vacina, esses aplicavam-se à Pfizer e à Moderna, enquanto a AZ é uma vacina clássica de inoculação de uma pequena quantidade do vírus e problemas que se possam esperar terão a ver com o veículo, que no caso é um adenovírus o que nem é inovador em vacinas

Por mim, se tivesse podido escolher, esperava pela Jannsen. Método clássico, um frigorífico caseiro é suficiente e uma única inoculação.»

 

Do nosso leitor Francisco Almeida. A propósito deste texto da Cristina Torrão.

 

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«O governo moçambicano está a pagar 2.520 milhões de euros anuais à DAG (ficaram conhecidos pelas operações de resgate na Rodésia) para manter a segurança naquelas zonas norte do país. Não é a polícia ou o exército moçambicano que estão lá a defender o território, é uma empresa britânica que recebe mais de dois mil milhões de euros anualmente para tratar desses assuntos.

O exército chegou 5 (CINCO) dias depois e nem combustível tinham para os camiões, tendo sido emboscados, com toda a facilidade, pelos mercenários da Zâmbia e da Somália.

Em 2019 os mesmos grupos tentaram fazer o que estão a fazer actualmente, só que os EUA usaram as suas forças especiais para matar mais de 2500 combatentes islâmicos (uma das centenas de operações foi pública, por ter falecido um militar americano) e impedir a sua expansão para sul.

Será coincidência que a expansão avançou agora quando antes tinha falhado?»

 

Do nosso leitor Manuel da Rocha. A propósito deste texto do JPT.