de mãos dadas
Há uns tempos circulava pela net um cartaz sobre o destino final das escolhas dos clientes. No pequeno comércio tradicional, local, familiar, as receitas geradas pelas escolhas dos clientes seriam gastas nos projectos de uma família, nas aulas de piano da filha mais nova do dono da loja, nas férias com que sonhavam há muitos anos, no quarto que o filho mais velho precisava para poder estudar na universidade. Pelo contrário, preferir comprar num centro comercial, numa loja de uma cadeia internacional de uma marca global, teria como consequência gerar mais receitas para o prémio bilionário do CEO da respectiva marca. Sendo uma imagem demasiado simplista, acaba por ter uma base real.
Usando uma linguagem mais politizada, ao se preferir o pequeno comércio, está-se a evitar transferir ainda mais energia para o chamado “grande capital”. Todos concordamos que escolhas têm consequências e a sensibilidade a estes temas de cada comprador poderá determinar o local onde prefere consumir os seus recursos. Talvez por preconceito meu, imagino que quem se encontre mais à esquerda no espectro político, seja exactamente quem se sinta mais perturbado com o fulgor do chamado “capitalismo selvagem” e por isso evite o apelo consumista das marcas internacionais.
Tal como o comércio local, o alojamento local é a expressão de menor dimensão do respectivo sector de actividade. Escolher o alojamento local, e permitir que ele exista, além de alimentar os tais projectos pessoais e familiares numa escala de pequena economia, mantém alguma concorrência ao “grande capital” que neste sector é consubstanciado pela hotelaria.
Já aqui escrevi sobre isto, mas o assunto voltou à baila depois da aprovação pela Assembleia Municipal de Lisboa de um referendo sobre o alojamento local neste concelho. Segundo ouvi, este referendo está enfermo de inconstitucionalidade, pois levaria a que o direito à propriedade diferisse de município para município, mas isso a seu tempo e nos órgãos próprios será esclarecido.
O que os promotores deste referendo fingem ignorar é que, juntamente com eles, a sua conquista (temporária, atrevo-me a dizer) foi igualmente celebrada pelo sector da hotelaria, o “grande capital”.
Quase ao mesmo tempo, soubemos que as grandes cadeias (de hotéis) norte-americanas estão a apostar forte em Portugal e que nos próximos quatro anos Portugal irá ter mais 100 novos hotéis, num total de 10 mil novos quartos.
E é nesta altura que vejo a esquerda colorida, de mãos dadas com o grande capital, a caminharem felizes rumo ao pôr do sol.
PS: Encontrei o cartaz.