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Delito de Opinião

Eu dou. Tu dás. Mas ele dá?

Ana Lima, 05.11.11

Quando ouvi falar desta iniciativa pareceu-me bastante interessante. Agora, que sabemos que um dos responsáveis tem tanta dificuldade em conjugar o verbo dar, sobretudo na primeira pessoa do singular, fiquei com algumas dúvidas. Parece que a grande contribuição do senhor para a plataforma nacional de doação de objectos reutilizáveis não são bem objectos. Ou as dívidas também entram nessa categoria?

Subsídios para um tratado de psiquiatria

Ivone Mendes da Silva, 27.08.11

Padeço de um distúrbio da personalidade ainda não descrito, julgo eu, na literatura especializada: excesso de confiança em pequenos espaços fechados.

Descobri-o ontem em mim e para a sua manifestação concorreram dois factores:

 

A- Deito-me tarde e levanto-me cedo. Faço sempre um esforço para vir a casa durante a hora do almoço de modo a dormitar uns instantes. Bastam-me quinze, vinte minutos: mergulho funda e rapidamente no sono e venho logo à tona, devagarinho. Fico pronta para o resto do dia.  Quando tal não acontece, tenho um momento difícil por volta das seis da tarde. Eu devia ser declarada inimputável entre as seis e as seis e meia nos dias em que não tenha sido possível reclinar-me para o meu fugaz repouso pós-prandial. 

 

B- Os elevadores do meu prédio não têm quaisquer problemas. Têm, todavia, alguns caprichos. Alturas há em que se recusam a abrir a porta. Já aprendi que, pressionando a porta num determinado sentido, ela abre. Outras vezes não abre. Quando não abre, é ir carregando, com fé, nos botões que indicam os andares. Às vezes cedem e retomam a sua actividade normal. Fazem-no, igualmente, se alguém os chamar de outro piso.

Já me aconteceu, num desses momentos de birra ascendente ou descendente e após conseguir abrir a porta, dar de caras com uma parede.  Ninguém me respondeu quando chamei a assistência técnica, de modo que pensei que já tinha visto muitos filmes e que, bem no fundo de mim, havia de haver uma Clarice Starling, uma agente da Mossad,  ou qualquer coisa intermédia. Investiguei e lá consegui chegar com a ponta dos dedos a uma reentrância que me permitiu voltar a fechar a porta. E ele moveu-se.

 

Observação de sintomas - Ontem, não me deitei durante a tarde e tinha dormido pouco na noite anterior. Seriam seis e pouco quando desci para verificar se, na caixa de correio, estaria uma correspondência esperada. Não estava. Voltei para trás. Entrei no elevador e lá fui eu. Quando o gongo avisou a chegada ao meu andar, ignorou-o e permaneceu de porta cerrada. Tentei abri-la mas não consegui. Tentei as várias manobras já usadas em situações que tais e nada. Assistência técnica de ouvidos moucos e nem adiantaria ter o telemóvel comigo porque não há rede lá dentro. Pensei que alguém o havia de chamar e ele responderia solícito como é sua obrigação. Resolvi sentar-me no chão de pernas cruzadas que nem uma deusa hindu. Encostei-me e esperei.

É ainda Agosto, ainda há gente de férias:  este prédio era, ontem, um veleiro quase deserto a flutuar sobre a avenida. Acordei com um solavanco de movimento e só tive tempo de me alinhar para aparecer sorridente e composta perante a minha vizinha do 4º andar. Pelas minhas contas,  dormi uns três quartos de hora.

 

Conclusão - Isto não é normal. Quod erat demonstrandum.

Um Polvo no País das Maravilhas

Carlos Barbosa de Oliveira, 02.11.09

No caminho de regresso a Lisboa  fico a saber do mais recente escândalo de corrupção, envolvendo nomes que abandonaram a política, para exercer cargos bem remunerados no sector privado.  De imediato sou forçado a recordar os casos que no último ano  têm animado a comunicação social e ajudado a vender alguns jornais:  o BPN e o Freeport. Não posso evitar a  recordação de outros casos ainda mais antigos, como o Portucale que continua, como tantos outros, a marinar nas malhas das investigações ou da justiça.
A comparação com a rapidez do julgamento de Madoff foi inevitável. Por cá espera-se que as coisas caiam no esquecimento.
Nesta associação de pensamentos recordo um amigo chinês que, há meses, foi acusado de tentativa de corrupção. Era visto no seio das comunidades portuguesa  e chinesa, de Macau, como uma pessoa honesta. Trabalhei com ele no Conselho de Consumidores, acompanhei-o  em diversas viagens de trabalho e a sua conduta sempre me pareceu irrepreensível .
A suspeição foi levantada pelo Comissariado  da Corrupção e nunca chegou ao Ministério Público, nunca foi constituído arguido, nem viu formulada qualquer acusação. Talvez por não suportar ver o seu nome arrastado na lama, Alexandre Ho  foi até à vizinha cidade chinesa de Zuhai, alugou um quarto num hotel e suicidou-se.  Era acusado de ter recebido 20 mil patacas (cerca de dois  mil euros)
Por cá os arguidos, mesmo condenados em primeira instância, proclamam inocência, declaram ser vítimas de “linchamentos”, recusam abandonar os seus cargos públicos e esperam deixar de ser notícia, quando vier à baila o caso seguinte. Este sentimento de impunidade, a quase certeza que todos têm de que nunca serão condenados, não é só preocupante. É nojento! 

Há coisas estranhas, há

J.M. Coutinho Ribeiro, 23.01.09

O nome de José Sócrates aparece, finalmente - ainda que por interposto tio - envolvido no caso Freeport. E que nos diz o nosso engenheiro? Que espera que a justiça esclareça rapidamente o assunto e que estranha que o tema tenha sido agitado em 2005 (ano de eleições) e seja recuperado em 2009 (também ano de eleições). E é de estranhar. Mas mais estranho, ainda, é que entre 2005 e 2009 não se tenha ouvido falar no assunto, até ter ressurgido, há dias, através da tal investigação britânica.