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Delito de Opinião

Prevejo que vão falhar mais previsões

Pedro Correia, 10.12.22

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Os especialistas em prever alterações climáticas justificam as suas chocantes falhas de antevisão da chuva torrencial em Lisboa, no fim da tarde de quarta-feira, devido... às alterações climáticas.

Pela mesma lógica, prevejo desde já que os reputados técnicos do IPMA irão continuar a falhar previsões. Socorrendo-se sempre da mesma desculpa. Como uma rábula do Ricardo Araújo Pereira em sessões contínuas.

Quando as previsões metem água

Pedro Correia, 08.12.22

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Vale a pena acompanhar com atenção as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Eu nunca perco uma.

Em Setembro, puseram-nos de prevenção: vinha aí um Outono quente e seco: «Vai voltar a verificar-se uma conjugação de anomalia positiva na temperatura e negativa na precipitação.»

Soaram os alarmes, desataram os badalos do catastrofismo milenarista, já nos imaginávamos como beduínos entre camelos nas areias do deserto.

Afinal era rebate falso. A chuva desse início de Outono «foi 158% superior à normal». Mais: este foi «o quarto Setembro mais chuvoso» do século em Portugal.

Em Outubro, as previsões voltaram a acertar ao lado: choveu imenso. A tal ponto que, segundo o próprio IPMA, esse período «correspondeu a 123% do valor da norma climatológica 1971-2000»

E em Novembro? Todos sabemos como foi. Mas nada melhor do que registar o vocabulário científico. Ei-lo, com a devida vénia ao mesmo instituto público: «A situação de seca meteorológica desagravou-se em Portugal continental.» Eufemismo que significa: choveu durante quase todo o mês. Dois meses de chuva até «conseguiram transformar a cor de Portugal visto a partir do espaço».

Poiso o guarda-chuva, dispo a gabardina e recordo com alguma melancolia o boletim meteorológico do final do Verão que parecia formulado pelo Professor Karamba: «Outono será mais seco do que devia. A seca veio para ficar.»

E apetece-me deixar uma singela recomendação ao IPMA: prognósticos, a partir de agora, só no fim.

A ignorância climáxima

João Pedro Pimenta, 21.10.22

O JPT já tinha mencionado neste post, mas estas novas “acções climáticas” têm-se multiplicada de forma particularmente aberrante. Já havia uma líder espiritual, Greta Thunberg, que sabia melhor como governar os povos do que todos os líderes eleitos, conforme se viu naquela reunião da ONU, que a tantos deixou embevecidos (apesar da própria já estar a crescer nalguns aspectos). O seu exemplo de não ir à escola tem feito escola, se me permitem o contrassenso.

Há dias, num especial creio que da RTP, assisti a um conjunto de jovens “activistas” e às suas ideias para aplacar a crise climática. Diziam os frequentadores do ensino secundário que iam fazer jornadas de greve às aulas e exigiam nada menos que a proibição de uso de combustíveis fósseis, imediatamente. Em paralelo, diziam que se o Mundo não tinha futuro, então de nada lhes servia aprender, daí a greve às aulas. E também que o voto era uma coisa desnecessária, que mais importante para a cidadania era “o activismo de rua”. E quando surgiam os seus nomes, reais ou “de guerra”, aparecia também por baixo, à laia de profissão, a palavra “activista”.

Isto preocupou-me, confesso. Sei que dementes, seitas e figuras auto-messiânicas sempre as houve. Como a natureza humana não muda de um século para o outro, a actualidade não havia de ser diferente. A diferença é que a comunicação e as formas de propaganda são hoje infinitamente maiores. E permitem que qualquer grupelho radical espalhe as suas mensagens com o beneplácito de algumas instituições.

Devo desde já dizer que não sou um céptico de mudanças climáticas (embora pense que as previsões a longo prazo são problemáticas e que o homem não é necessariamente o seu único causador) e muito menos da protecção do ambiente. Fiz parte de várias associações ambientalistas e das listas do MPT, justamente o único partido ecologista português sem radicalismos urbanos. Por isso mesmo, sei que as ideias mais nobres redundam normalmente em fanatismos aberrantes. É o caso.

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Temos, portanto, jovens do ensino secundário a fazer o elogio da ignorância, da não aprendizagem e da recusa da democracia, ou pelo menos a defender uma espécie de “democracia de rua”. Coisas tão importantes, como o direito ao voto e à escolaridade, pelas quais tantos se bateram, são postas de lado por imberbes que têm tudo por adquirido. Talvez por isso alguns atentam contra obras de arte com perguntas estúpidas como “o que é que vale mais, este quadro ou o ambiente”, como se fossem comparáveis e a destruição da arte de alguma forma ajudasse o clima, mas perguntar isso seria demasiado complicado a semelhantes amibas. E também querem acabar de imediato com os combustíveis fósseis, ou seja, parar por inteiro a sociedade. Como se deslocariam? Como se aqueceriam? Quem lhes traria os seus produtos vegan? “Ah, mas para se deslocarem há as bicicletas, as trotinetes e o metro”. Brilhante, da parte de quem vive nas cidades com alguma dimensão. Vão perguntar aos agricultores de Trás-os-Montes ou do Alentejo se não se querem deslocar dessa forma. Transportar produtos agrícolas de trotinete em Vimioso deve ser espectacular. E também lhes podiam relembrar que existe uma penosa guerra na Ucrânia que está a conduzir a uma crise energética, económica e financeira. Não se terão dado conta disso? Talvez fosse bom olhar para fora da bolha.

Ainda um efeito nefasto destas novas seitas climáticas: o fanatismo vai levar muitos a afastar-se e a recusar práticas mais favoráveis ao ambiente. Numa altura em que pululam as teorias da conspiração de toda a ordem, já se fala da farsa do ambientalismo”, do “great reset climático”, etc. Esta gente, com as suas acções cretinas que apenas prejudicam, ou visam prejudicar, a vida de tantos, só vai dar mau nome à ecologia, afastando potenciais defensores criando novos inimigos e polarizações. Um enorme tiro de canhão no pé. E, no entanto, são razões de magna importância, que não mereciam ser prejudicadas pelos fanáticos climáticos sem mais nada para fazer (ou por oportunistas conhecidos para fazer aproveitamente político, mal começam a fazer misturas com o anticapitalismo, antiracismo, etc). Mas, quem sabe, mais do que proteger o ambiente, a ideia deles seja mesmo causar polarização extrema, ainda mais. Parece que está na moda. E agora noto que utilizei uma palavra, “ecologia", que passou de moda. E é pena, grande pena.

Da «seca extrema» ao «mau tempo»

Pedro Correia, 20.10.22

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Os canais de televisão que passam meses a fio soltando angustiados sinais de alarme sobre a «seca severa» ou a «seca extrema» em Portugal são os mesmos que, ao fim de um banal dia de chuva, desatam a aludir ao «mau tempo» - precisamente como sinónimo de clima chuvoso.

Voltou a acontecer ontem. Sem qualquer surpresa minha, devo confessar. Devia haver limites à hipocrisia, nem que fosse no plano atmosférico e em nome da mais elementar coerência jornalística. Mas pelos vistos não há.

Parem as máquinas: há calor no Verão

Pedro Correia, 21.07.21

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Está cientificamente demonstrado: o medo é dos ingredientes que colam mais as pessoas aos ecrãs. E nada suscita tanto medo como as catástrofes naturais. Isto reflecte-se nos telediários portugueses, quase despojados de notícias fora do perímetro nacional. O que sucede no resto do mundo só nos aparece à frente quando ocorrem cheias, ciclones, sismos, maremotos, avalanches, erupções, tufões, trovoadas, secas extremas. Sobretudo se ocorrer nos EUA. Nos últimos dias, algumas horas de chuva intensa em Nova Iorque mereceram mais destaque nos noticiários cá do burgo do que o assassínio do Presidente do Haiti.

O alarmismo fomenta audiências. E nada melhor – ou pior – para ampliar o alarmismo do que falar do clima. Vivemos apavorados pelas condições atmosféricas. É um medo irracional, fomentado pelo pensamento mágico de pseudo-cientistas com lugar cativo nos meios de comunicação. O tema recebe prioridade absoluta na hierarquia informativa, chegando a inverter o paradigma da notícia: em vez de ser o homem a morder o cão, aqui é mesmo o cão a morder o homem. Destaca-se o mais banal, conferindo-lhe aura de sensação.

Há frio no Inverno e calor no Verão? Isso acontece nos Estados Unidos, pátria suprema das teorias da conspiração? É garantido que terá destaque, o Presidente assassinado no Haiti pode ser empurrado para o fim da linha. Noutros tempos, mais serenos e com menos histeria à solta, só seria novidade se fosse ao contrário: Inverno tórrido e Verão gelado.

 

À nossa escala, com o tépido estio que nos vai calhando, para desespero dos alarmistas de turno, não há notícia climática digna desse nome. Mas se for preciso dá-se um jeito: é preciso manter os espectadores grudados ao rectângulo televisivo.

Aconteceu quarta-feira da semana passada, à hora do almoço, na RTP. Às 13.23, surgiu o aviso, proclamado em voz solene: “Prepare-se para o calor. O Verão chega em força esta semana. Em algumas regiões do país as temperaturas podem chegar aos 40 graus.” Se o Artur Albarran ainda pontificasse em antena acrescentaria: “O drama, a tragédia, o horror!”

Era apenas um teaser – como agora se diz na gíria mediática, sempre pronta a acolher qualquer americanismo linguístico. Dezasseis minutos depois, o que parecia escaldante tornou-se temperado: “As temperaturas começam a subir hoje e podem chegar aos 40 graus no fim de semana em Évora e Beja. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera diz que não está prevista uma onda de calor, mas o tempo quente vai manter-se em todo o território continental. (…) Alguns sites de meteorologia falam de uma onda de calor, mas o IPMA garante que não.”

 

Reparem: bastou que os tais sites não especificados aludissem a uma putativa “onda de calor” para a expressão vingar, mesmo com desmentido formal da autoridade científica. E logo uma jovem repórter compareceu numa aldeia alentejana, interrogando uma senhora sobre tão magna questão. Ouviu esta resposta: “Toda a vida apanhei calor, apanhei sol. Na hora dos 30 graus, estou eu em casa.”

Não havia notícia, mas havia sabedoria antiga. A repórter ficou a ganhar. E nós também.

 

Texto publicado no semanário Novo

Ciclo de inundações, meteorologia, clima e mais catástrofes

João André, 19.07.21

Como será do conhecimento geral, na semana passada a Alemanha, a Bélgica e a Holanda sofreram chuvas intensas que levaram a inundações causando imensos danos e várias mortes. Estas inundações foram bastante intensas também na região onde vivo, sul de Limburg, onde fica Maastricht. Felizmente nada sucedeu no meu caso. O rio Maas subiu bastante, o passeio pedonal alo lado do rio ficou inundado, mas isto é também a intenção da sua existência, dado que existe mais uma barreira antes que atinja a rua. O local onde vivo fica a cerca de 50 metros do rio, mas o único risco que corri foi uma inundação da garagem pública onde deixo o carro.

Não foi assim em todo o lado. Em Maastricht 3 bairros tiveram que ser evacuados por receio de inundações depois de um dique ter ficado com um buraco. Segundo entendo, acabou por não haver problemas e as pessoas puderam regressar a casa depois de menos de 24 horas. Um pouco mais a norte houve outras roturas de diques que causaram inundações de algumas aldeias, onde os danos foram mais substanciais. Perto de Maastricht, em Valkenburg, uma vila muito popular para turismo na Holanda, o rio subiu imenso e inundou parte da localidade, causando danos a muitos cafés, restaurantes, lojas e várias residências.

Claro que isto não foi nada comparado com a Alemanha e Bélgica. Na Bélgica uma amiga teve as águas a parar a 10 metros de casa. Outra família de amigos teve de evacuar por dois dias enquanto esperavam. Felizmente voltaram para casa sem mais que um pequeno filme de água na garagem, sem danos importantes. Na Alemanha, uma colega teve sorte na aldeia onde vive porque tem a casa numa elevação, mas ficou sem água, luz e gás por 3 dias. E foi quem teve sorte, pois vários vizinhos ficaram sem casa. Ela tem agora em casa dela uma família de amigos, incluíndo um bebé de 10 meses, que ficou na prática sem casa, dado que a água rompeu pela parede do 1º andar e levou quase tudo, inclusive os que havia nos quartos. Várias pessoas morreram, presas nas caves e garagens (a tentar salvar pertences) e muitas outras estão desaparecidas (certamente que haverá mais mortes). Outro colega está desde quinta feira a "viver" num pavilhão porque a água atingiu metro e meio no rés do chão e ainda não recuou o suficiente.

E há ainda as muitas pessoas que morreram noutras zonas da Bélgica e, especialmente, da Alemanha. Parte do problema foi que o sistema de prevenção e comunicação não funcionou (as autoridades irão diagnosticar as falhas durante meses) e não se tomaram as medidas necessárias a tempo. Algo que não se pode dizer com certeza é que estas chuvas foram resultado das alterações climáticas. Houve vários aspectos que tiveram que suceder para estas chuvas acontecerem da forma que aconteceram, nomeadamente a acumulação de humidade no ar, a permanência das nuvens sobre uma região deliminatada durante muito tempo, etc, mas é impossível, pelo menos para já, dizer com elevado grau de certeza que estas cheias específicas foram resultado das alteações climáticas (AC) causadas pelo aquecimento global (AG).

Isto é porque certos eventos não podem ser relacionados especificamente com certas causas. Da mesma forma que não se poderá necessariamente apontar uma estrada deteriorada como causa de um acidente (o condutor poderá não tomar atenção, o carro poderá ter travões em mau estado, poderá haver excesso de velocidade e/ou álcool, um acontecimento imprevisto, etc), um evento meteorológico não pode ser apontado como consequência de uma situação climática. No entanto há já muito que se apontam chuvas intensas mais fortes e frequentes (causando inundações) como uma das consequências das ACs. Há várias causas, mas uma delas é que o aumento das temperaturas levará a um aumento evaporaçã e da capacidade do ar para absorver humidade, o que faz com que quando as chuvas sucedam, sejam mais intensas. Este mês de Junho foi o mais quente na Holanda desde que há registos.

Aquilo que esta situação está a fazer pensar é que as consequências que os cientistas previram para começar por meio do século XXI não estarão já a aparecer. Sejam estas chuvas na Europa, sejam as ondas de calor na América do Norte e norte da Rússia. Isto poderá indiciar que o complexo sistema que é o clima da Terra já estará desestabilizado o suficiente para causar já eventos extremos. Isto é algo que é comum ver em sistemas complexos, sejam eles de que tipo forem. Quanto maior for o sistema, maior pode ser a variação em relação ao ponto equíibrio quando este desaparece. Isto poderá estar agora a acontecer. Durante muito tempo, os oceanos absorveram grande parte do calor e do CO2 que foram gerados pela nossa actividade. Se atingiram a sua capacidade máxima de absorção, a energia poderá agora estar a ser libertada novamente e, se isso suceder, teremos talvez os chamados feedback loops em que cada nova consequência poderá ampliar o problema (exemplo: derretimento de permafrost na tundra canadiana ou siberiana libertando metano que vai exacerbar o efeito de estufa).

Vi várias vezes duas opiniões qeu acabam no mesmo: i) que a catástrofe deveria ter sido evitável, e ii) que estas situações não deveriam acontecer em países desenvolvidos (como Alemanha, Bélgica e Holanda). Que a catástrofe poderia ser evitável, parece claro. Acidentes podem sempre aocntecer, mas melhor coordenação evitaria pelo menos a perda de vidas e talvez muitos dos danos. Já que estas situações não deveriam acontecer nos países desenvolvidos é mais complicado. A Natureza acaba sempre por poder sobrecarregar quaisquer medidas que tomemos. A Holanda, mesmo com a sua maravilha de engenharia que são as Deltawerken, poderá um dia ser esticada para lá do seu limite. Não é preciso ir para o Burundi ou as Honduras para descobrir desastres naturais. E, co o caminho que o planeta está a seguir, esses serão cada vez mais parte do dia a dia.

Que diferença

Pedro Correia, 23.06.21

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No final do mês de Junho de 1962, esteve um calor de rachar em Lisboa. Como comprova este relato de primeira página do Diário de Notícias sobre esse início da época estival, faz agora 59 anos. 

«Ontem, primeiro domingo de Verão, Lisboa ficou deserta e as praias estiveram à cunha...», titulava o jornal na edição de 25 de Junho, ao estilo peculiar daquela época. Era um jornal de grande formato e com títulos quilométricos.

Na foto principal via-se a praia de Carcavelos, repleta de banhistas. 

«O lisboeta aligeirou o traje, abriu as janelas de par em par, sorveu gelados e refrigerantes», especificava o jornal. 

Reparo nisto e penso: que diferença em relação ao que se passa nestes dias. O Verão entrou tristonho e enevoado, com aguaceiros, quase a imitar Outono. 

E no entanto em 1962 ainda não tinha sido "inventado" o aquecimento global, ao contrário do que sucede agora.

A chuva e o bom tempo

Pedro Correia, 25.01.20

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Lembram-se do "risco de seca severa e extrema" que ainda há pouco nos gritavam ao domicílio de telediário em telediário? Lembram-se dos desesperados alertas para as "barragens em mínimos históricos de água", entre outras mensagens de igual teor apocalíptico?

Foi há pouco tempo. Trombeteado pelos mesmos órgãos de informação que agora lançam uivos de advertência contra o "mau tempo". E o que é afinal o "mau tempo"? Simplesmente a boa e velha chuva invernal, acompanhada do inevitável e velho frio e por vezes da pura, alva e velha neve. Tudo próprio da estação. A mesma chuva pela qual as tais trombetas do Apocalipse imploravam para encher barragens e pôr fim à seca.

Um final feliz é uma chatice quando se desespera por cliques em tempo de escassez. Não de chuva, mas de leitores e audiência.

E quando tinhas 16 anos?

João André, 20.12.19

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A Time escolheu Greta Thunberg como pessoa do ano. Penso que ela não liga muito a isso e que se ligar será só pela forma como irão falar da sua causa.

Haverá muitas pessoas, incluindo neste blogue, que menorizarão a escolha. Falarão em como ela é obcecada, ou que devia ir para a escola, ou que isto ou aquilo.

A única coisa que lembro é: começando por se sentar no passeio com um cartaz, esta miúda de dezasseis (16!) anos colocou milhões de jovens envolvidos numa causa que lhes é importante: o seu futuro. Falou com líderes políticos, económicos e discursou, fluentemente, nas Nações Unidas. Conseguiu ainda atrair o ódio dos ogres políticos deste mundo (sim, como Trump ou Bolsonaro - os Putins ou Kims são piores).

Para quem ainda lhe cause urticária o que Thunberg conseguiu, deixo a pergunta: e tu, o que fizeste aos 16 anos?

Chove sem parar

Pedro Correia, 18.12.19

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Raio de chuva, raio de frio: ela e ele não desgrudam. Andamos há dois meses nisto. Só vejo uma vantagem: por estes dias continuamos sem ouvir alarmantes prédicas sobre o «risco de seca extrema» nem inflamados pregões de alerta contra o «aquecimento global».

Os pregadores devem estar à lareira, de mantinha nos joelhos. Zeus os conserve assim. Para sossego deles - e nosso.

Diálogos gretados

Pedro Correia, 03.12.19

 

Ela - Gostaste de ver a Greta em Lisboa?

Ele - Não. Esta Greta não tem garbo.

Ela - Ela é determinada e fofinha. Gosto muito dela. Miúda voluntariosa e bem intencionada. Luta por uma causa que devia ser de todos.

Ele - Eu vejo-a como uma ignorante que se destaca por faltar à escola.

Ela - Incomoda e mobiliza os outros jovens para uma causa justa.

Ele - Apela aos miúdos para fazerem greve às aulas a pretexto da defesa do clima. Assim é fácil ser popularíssima. Qual o miúdo que não sonha ser liderado e manipulado por alguém assim?

Ela - A Greta não sabe o que é ser falso ou dissimulado ou manipulador. Ela é genuína, autêntica.

Ele - O problema nem é ela, mas os oportunistas que a manipulam para se tornarem "celebridades". Como estes velejadores ricaços que lhe deram boleia durante semanas no Atlântico e deliram por terem "milhões de seguidores" nas redes sociais. E os políticos que se vergam à miúda porque assim ficam bem vistos nos meios de comunicação.

Ela - O que ela diz e faz só pode incomodar negacionistas como tu e quem se sente posto em causa como cidadão por não fazer nada ou quem é de direita e imagina que os activistas pró-ambiente são todos de esquerda. Ela é um exemplo para os da geração dela, que vivem alheios a tudo e todos, sempre ligados ao telemóvel.

Ele - Os alarmistas como tu podem achar muito gracinha, mas o lugar de uma miúda como ela é na escola, na universidade. Tem de aprender, estudar, investigar. Aos 16 anos ninguém dá lições ao mundo.

Ela - A geração dela é que levará em cheio com as consequências das alterações climáticas. Portanto tem toda a legitimidade para se manifestar pois quem está no poder não faz nada. Ou não faz o suficiente. Que moralidade tem alguém para criticar a causa destes miúdos? Em última análise estão a lutar pela vida.

Ele - Quem lutou e luta pela vida não é a Greta: é a Malala, que arriscou tudo na defesa do direito das miúdas paquistanesas em frequentar as escolas quando eram perseguidas ou até mortas por quererem instruir-se. Ela levou em 2015 o Governo a aprovar a primeira lei que reconhecia o direito universal à educação lá no país. Foi gravemente ferida, esteve quase à morte, mas não desistiu. Enquanto a Malala defende as meninas nas aulas, a Greta quer tirá-las de lá. Se admiro uma, não posso admirar a outra.

Ela - Que argumento mais manipulador e demagógico! Assim não dá para manter uma discussão com pés e cabeça.

Ele - Deixemos então de discutir. Queres vir ao cinema comigo? Apetecia-me ver O Irlandês.

Ela - Não está no cinema, só dá para ver na Netflix. Vai ser o meu programa para esta noite, mas sem ti. Passa bem.

Está de chuva

Pedro Correia, 20.11.19

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Raio de chuva, raio de frio: ela e ele não desgrudam daqui desde o início do mês. Só vejo uma vantagem: por estes dias não ouvimos alarmantes prédicas sobre o «risco de seca extrema» nem inflamados pregões de alerta contra o «aquecimento global».

Os pregadores devem estar à lareira, de mantinha nos joelhos. Zeus os conserve assim. Para sossego deles - e nosso.

Aqua alta

Paulo Sousa, 14.11.19
O debate já tem várias décadas, mas a conclusão é clara. O aquecimento global levará ao desaparecimento das principais cidades costeiras e obrigará ao deslocamento de milhões de pessoas.
 
A única forma de interromper, ou pelo menos atrasar, o anunciado fim do mundo passa por:
1 - comprar um carro de mais de 50.000€ equipado com baterias de litio, explorado nos Andes
2 - acabar com o consumo desenfreado do sistema capitalista
 
Quem tiver dúvidas desta verdade já confirmada por 5.500 cientistas (escolhidos um por um de acordo com as suas convicções climatéricas) veja com atenção o que está a acontecer em Itália:
 
Veneza está alagada!!
 
 
PS: Qual terá sido a explicação para este fenómeno em 1966?

Sobre a greve pelo clima

Paulo Sousa, 01.10.19

Com a devida vénia a estes senhores que vinte anos depois continuam actuais. Souberem captar o espírito dos estudantes e das suas motivações. Reparem só na letra:

Escola boa, escola má
Quem está livre, livre está
Passará, não passará
E quem não passa fica cá

Ficam cá os radicais
Violentos marginais
Que se baldam às propinas
E às provas globais

E é uma fezada
A escola está fechada
Hoje há manifestação!
Aulas não! Aulas não!

E é p'ra palhaçada
A malta está animada
Pode vir a intervenção
Que nós estamos cá para...

Copiar o TPC,
Estudar livros de BD,
Decorar o pavilhão
P'ra festa da associação.

No pátio da C+S
Estudar nunca apetece
E no bar da faculdade
Vai-se o resto da vontade

E é uma fezada
A escola está fechada.
Hoje há manifestação
Aulas não! Aulas não!

E é p'ra palhaçada
A malta está animada
Pode vir a intervenção
Que entramos noutra dimensão

Bué da baldas
Bué da baldas
Bué da baldas

Bué da baldas
Bué da baldas
Bué da baldas

Muita falta, muito estrilho
Muito chumbo, que sarilho
Já mandaram os postais
Para a reunião de pais

Bué da baldas, muita nega
Bué da Mega Drive da Sega
Entrei noutra dimensão
Bué da faltas, aulas não

E é uma fezada
A escola está fechada
Hoje há manifestação
Aulas não! Aulas não!

E é p'ra palhaçada
A malta está animada
Pode vir a intervenção
Aulas é que não!

E é uma fezada
A escola está fechada
Hoje há manifestação
Aulas não! Aulas não!

E é p'ra palhaçada
A malta está animada
Pode vir a intervenção
E entramos noutra dimensão

Bué da baldas
Bué da baldas
Bué da baldas

Pra salvar o planeta
E às aulas baldar
Até escutamos a Greta
Ao Guterres ralhar

Foi de barco a bolinar
Veio de avião a planar
Para fuel poupar
E pró mundo não acabar

(modesta adenda em itálico deste fã dos Despe e SIga)

 

Fiel a si própria

Cristina Torrão, 15.08.19

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Fonte: Stina Stjernkvist/imago images

 

Com esta greve dos motoristas de matérias perigosas, os portugueses acabaram por descurar algo que, não fosse a dita greve, provocaria discussões acaloradas nas redes sociais: Greta Thunberg iniciou ontem a sua viagem a Nova Iorque, a fim de participar numa cimeira das Nações Unidas.

Afinal a mocinha sempre vai poluir os céus. Que alívio, pensarão os críticos, podemos atacá-la como a qualquer outro ambientalista de pacotilha.

Não, não podem! Greta não vai de avião. Esteve meses à procura de uma alternativa e a escolha acabou por cair na embarcação Malizia II, equipada com painéis solares e turbinas submersas que geram electricidade sem emitir dióxido de carbono. A viagem durará cerca de duas semanas. O barco é dirigido por um velejador alemão.

Greta Thunberg continua fiel a si própria. E, não obstante todos os seus admiradores e apoiantes, há muita gente a odiá-la. Gente que critica os tais “ambientalistas” que passam a vida a cruzar os céus, de cimeira em cimeira. Em relação a Greta, a crítica não chega, passa-se ao ódio. Apenas por ela se manter fiel às suas convicções. É perverso, mas é a realidade.

Ulrich Wagner, psicólogo social e Professor de psicologia na Universidade de Marburg, dá a sua explicação para este tipo de comportamento:

Muitos consideram que o aquecimento global não é um problema. Outros consideram que é, mas que não podemos fazer nada contra ele, ou seja, mudar o nosso estilo de vida não faz sentido. Por isso, não aguentamos bem que haja alguém que ponha os nossos comportamentos básicos em questão.

A intervenção de Greta Thunberg, a sua postura, obriga as pessoas a pensarem em si próprias, a fazer uma análise crítica de si. Gera-se um conflito interior, coisa que não apreciamos.

Quando nos vemos em conflito com o mundo, tendemos a procurar explicações simples para isso. Pomos então a responsabilidade em pessoas concretas. Rejeitar pessoas é sempre muito fácil. É o que se chama “piscologiar”: os que destoam e assumem posições polémicas são apelidados, em casos extremos, de doentes mentais.

Outra técnica é a desacreditação: tenta-se desacreditar Greta Thunberg, acusando-a, por exemplo, de servir de propaganda a terceiros, em vez de defender convicções próprias. É um comportamento habitual. Pessoas que trazem inovações não são apreciadas.

Pois é, gostamos mais de fracos, de vira-casacas, de hipócritas. Esses, sim, mostram-nos que afinal ainda há quem possamos censurar, quem nos eleve a modelos de virtudes.

 

Nota: o segundo link é alemão; a tradução é livre, de minha autoria.

 

P.S. O pai da Greta acompanha-a. Grande Pai!