Talvez a melhor foto desta campanha
Legislativas 2024 (14)
Lamento desconhecer o nome do autor desta excelente imagem, para mim a melhor da campanha eleitoral para as legislativas do próximo dia 10. Fotojornalismo é isto.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Lamento desconhecer o nome do autor desta excelente imagem, para mim a melhor da campanha eleitoral para as legislativas do próximo dia 10. Fotojornalismo é isto.
Aqui de Nenhures ocorre-me, em versão corporativa: é sempre agradável ver uma antropóloga contratada por uma instância estatal... Ou, se mais literato, ocorre-me: "A Filha do Edil" daria um bom título para uma noveleta... Ou ainda, numa abordagem mais comparativa (antropológica, por assim dizer): eis a Rita Rato de Setúbal.
Há coisa de duas semanas, uma empresa de "investigação e estudos de mercado" (a Pitagórica) veio aqui ao bairro fazer uma sondagem sobre as autárquicas: se eu ia votar, se não ia votar, em votando se iria manter o sentido de voto, se eu pensava que o partido vencedor seria o mesmo ou um diferente, coisas do género. Isto pode não significar nada, mas a verdade é esta: nunca, desde que eu moro aqui, alguma empresa de sondagens alguma vez mostrou interesse em qualquer um dos meus votos. Sondagens sobre os meus hábitos de leitura, o meu consumo televisivo, a minha vida sexual, isso é mato: raro é o trimestre durante o qual não recebo o telefonema da praxe. Mas questões relacionadas com política - nunca.
Durante esta semana, o bairro foi regularmente sujeito aos raides de uma viatura de propaganda do PS. Na quarta-feira, a traquitana chegou mesmo a estacionar durante meia-hora aqui no cruzamento central, infernizando-nos o almoço com o altifalante. Além disso, no dia anterior, alguém encheu-me a caixa de correio com um jornal de campanha do PS: 24 páginas (que seguiram imediatamente para o Ecoponto) de conversa fiada que superavam, na quantidade, o próprio Boletim Municipal.
Este bairro não passa de quatro ruas, nenhuma delas com mais de trezentos metros, que se cruzam duas a duas numa espécie de jogo do galo. Raro é o prédio que tenha mais de três andares. É estranho tal investimento propagandístico do PS aqui. Aliás, a campanha do PS em todo o concelho tem sido bastante sobredimensionada, exibindo em largos cartazes o apoio de figuras mais ou menos públicas como um cozinheiro assíduo das televisões.
E o PS, por acaso ou talvez não, é cliente da Pitagórica.
O PS pode até admitir, como dizem nos jornais, perder 10 a 15 autarquias nestas eleições - mas estou convencido de que o PS tem genuínas esperanças de ganhar a Câmara do Seixal à CDU.
Não é incomum, quando digo a alguém que moro no Seixal, esse alguém fazer uma piada como "Eh pá, tu moras na terra vermelha". É uma certa ideia feita, esta, a de que o Seixal é um antro de comunistas. Acontece que não é, de todo, verdade. A autarquia, sim, tem sido comunista desde (talvez) sempre. Mas é-o em largo contraste com as eleições nacionais onde, desde pelo menos 2009 (não recuei mais, por falta de tempo, nas minhas investigações), o concelho é uma espécie de socialistão:
2009
PS: 34,82%
CDU: 19,17%
2011
PS: 28,72%
PSD: 24,87%
CDU: 18,86%
2015
PS: 34,09%
PSD: 23,14%
CDU: 17,85%
2019
PS: 38,80%
CDU: 15,13%
Nas autárquicas, apesar da manutenção do PCP no poder, é notório um contínuo encurtar da distância do PS:
2005
CDU: 44,74% (24.293 votos)
PS: 23,85% (12.950 votos)
2009
CDU: 47,85% (27.949 votos)
PS: 22,41% (13.090 votos)
2013
CDU: 43.42% (22.658 votos)
PS: 23,78% (12.409 votos)
2017
CDU: 36,87% (21.901 votos)
PS: 29,60% (17.582 votos)
O PS deve estar a sentir o cheiro de sangue na água. Acredito haver o sério risco de uma "vitória surpresa" do PS no Seixal que até serviria para atenuar o impacto mediático de algumas derrotas noutros locais. As mudanças demográficas aqui do concelho não estão, de todo, a ajudar a CDU - mas isto será (talvez) assunto para uma outra ocasião.
COLIGAÇÃO DEMOCRÁTICA UNITÁRIA: TRÊS PROPOSTAS
A CDU ganhou mais umas eleições.
«Vereador da CDU diz que é necessário disciplinar decoração dos túmulos no Cemitério de Monchique». É certo que o executivo camarário de Monchique é socialista, mas não parece que a decoração de túmulos seja matéria inegociável. Que tal sentarem-se à mesma mesa e tentar um acordo? Em vez de andar a fazer queixinhas, aquele vereador tem de saber aproveitar a maré: embora a custo, o PS abriu a temporada dos acordos. Mas convém não esquecer a máquina fotográfica.
Os Verdes, numa tentativa de provar que existem, emitiram um comunicado em que lamentam a perda para o PS de alguns municípios, como o de Beja, "nem sempre de forma democraticamente leal". Não percebo o que significa esta insinuação do leal parceiro do Partido Comunista. Eu, por mim, considero que é algo 'democraticamente desleal' um partido político nunca concorrer a uma eleição sem ser como muleta de outro.
PCP: SAUDADES DO COMECON
Li o programa do Partido Comunista Português às eleições europeias.
Principais propostas:
- Defesa de uma Europa de estados soberanos e iguais em direitos
- Rejeição do Tratado de Lisboa
- Suspensão imediata do Pacto de Estabilidade
- Medidas contra a deslocalização de empresas
- Direito de veto de cada país membro no Conselho Europeu
- Controlo por parte de cada estado do banco central nacional e da política monetária
- Orçamento comunitário reforçado
- Profunda reforma da Política Agrícola Comum
- Adopção de todas as línguas nacionais como línguas oficiais de trabalho na UE
- "Rejeição da militarização da UE"
Comentários:
1. O PCP peca por excesso onde outros pecam por defeito. Só por devoção comunista alguém lerá as 23 compactas páginas deste programa eleitoral (eu sou a excepção que confirma a regra). Um manifesto exagero.
2. Dei-me ao trabalho de contar: os comunistas mencionam 25 vezes o termo soberania neste programa. Uma expressão em tudo contrária ao internacionalismo de que o PCP se reclama.
3. O PCP proclama reiteradamente a sua aversão ao 'federalismo' europeu. É curioso: no tempo da defunta URSS, que aglutinava cerca de duas dezenas de repúblicas espalhadas por um sexto da superfície terrestre do planeta, jamais me apercebi de que os comunistas fossem contra o 'federalismo'.
4. Usa-se e abusa-se aqui do jargão próprio para arengar aos convertidos - 'políticas de direita', 'crise do capitalismo', 'recuperação monopolista', 'natureza de classe', 'ofensiva neoliberal' - que nada diz à generalidade dos eleitores, eternamente por converter.
5. O PCP não esconde a sua profunda aversão ao projecto europeu em que Portugal se integra. E chega ao ponto de considerar que "a adesão de Portugal à CEE/UE foi e é uma peça fundamental no processo contra-revolucionário português". Apetece perguntar se os dois deputados que o partido mantém no Parlamento Europeu também se inserem neste "processo contra-revolucionário". Já agora, outra perguntinha: em 1986, em vez de termos aderido à 'capitalista' CEE, deveríamos ter antes aderido ao Comecon?
6. Os comunistas insurgem-se contra a "utilização e produção de armas nucleares". Estarão a pensar na Coreia do Norte?
7. Em momento algum deste extenso programa o Partido Comunista justifica aos portugueses a manutenção da sigla CDU, fruto da 'coligação' com o inexistente partido Os Verdes, que jamais concorreu de forma autónoma a uma eleição.