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Delito de Opinião

Semana de reflexão

João Sousa, 24.09.21

Há coisa de duas semanas, uma empresa de "investigação e estudos de mercado" (a Pitagórica) veio aqui ao bairro fazer uma sondagem sobre as autárquicas: se eu ia votar, se não ia votar, em votando se iria manter o sentido de voto, se eu pensava que o partido vencedor seria o mesmo ou um diferente, coisas do género. Isto pode não significar nada, mas a verdade é esta: nunca, desde que eu moro aqui, alguma empresa de sondagens alguma vez mostrou interesse em qualquer um dos meus votos. Sondagens sobre os meus hábitos de leitura, o meu consumo televisivo, a minha vida sexual, isso é mato: raro é o trimestre durante o qual não recebo o telefonema da praxe. Mas questões relacionadas com política - nunca.

Durante esta semana, o bairro foi regularmente sujeito aos raides de uma viatura de propaganda do PS. Na quarta-feira, a traquitana chegou mesmo a estacionar durante meia-hora aqui no cruzamento central, infernizando-nos o almoço com o altifalante. Além disso, no dia anterior, alguém encheu-me a caixa de correio com um jornal de campanha do PS: 24 páginas (que seguiram imediatamente para o Ecoponto) de conversa fiada que superavam, na quantidade, o próprio Boletim Municipal.

Este bairro não passa de quatro ruas, nenhuma delas com mais de trezentos metros, que se cruzam duas a duas numa espécie de jogo do galo. Raro é o prédio que tenha mais de três andares. É estranho tal investimento propagandístico do PS aqui. Aliás, a campanha do PS em todo o concelho tem sido bastante sobredimensionada, exibindo em largos cartazes o apoio de figuras mais ou menos públicas como um cozinheiro assíduo das televisões.

E o PS, por acaso ou talvez não, é cliente da Pitagórica.

O PS pode até admitir, como dizem nos jornais, perder 10 a 15 autarquias nestas eleições - mas estou convencido de que o PS tem genuínas esperanças de ganhar a Câmara do Seixal à CDU.

Não é incomum, quando digo a alguém que moro no Seixal, esse alguém fazer uma piada como "Eh pá, tu moras na terra vermelha". É uma certa ideia feita, esta, a de que o Seixal é um antro de comunistas. Acontece que não é, de todo, verdade. A autarquia, sim, tem sido comunista desde (talvez) sempre. Mas é-o em largo contraste com as eleições nacionais onde, desde pelo menos 2009 (não recuei mais, por falta de tempo, nas minhas investigações), o concelho é uma espécie de socialistão:

2009
PS: 34,82%
CDU: 19,17%

2011
PS: 28,72%
PSD: 24,87%
CDU: 18,86%

2015
PS: 34,09%
PSD: 23,14%
CDU: 17,85%

2019
PS: 38,80%
CDU: 15,13%

Nas autárquicas, apesar da manutenção do PCP no poder, é notório um contínuo encurtar da distância do PS:

2005
CDU: 44,74% (24.293 votos)
PS: 23,85% (12.950 votos)

2009
CDU: 47,85% (27.949 votos)
PS: 22,41% (13.090 votos)

2013
CDU: 43.42% (22.658 votos)
PS: 23,78% (12.409 votos)

2017
CDU: 36,87% (21.901 votos)
PS: 29,60% (17.582 votos)

O PS deve estar a sentir o cheiro de sangue na água. Acredito haver o sério risco de uma "vitória surpresa" do PS no Seixal que até serviria para atenuar o impacto mediático de algumas derrotas noutros locais. As mudanças demográficas aqui do concelho não estão, de todo, a ajudar a CDU - mas isto será (talvez) assunto para uma outra ocasião.

Europeias (9)

Pedro Correia, 19.05.19

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COLIGAÇÃO DEMOCRÁTICA UNITÁRIA: TRÊS PROPOSTAS

 

  • Dissolução da União Económica e Monetária e fim do Pacto de Estabilidade, substituído por um pacto para o emprego e o desenvolvimento.
  • Combate à deriva neoliberal de uma União Europeia dominada pelos mais fortes, onde coesão e solidariedade são apenas palavras vãs.
  • Combate decidido às forças de extrema-direita, nacionalistas e xenófobas, incluindo grupos fascistas e até nazis, que alastram pela Europa.

Novo acordo é preciso

João Carvalho, 01.11.10

«Vereador da CDU diz que é necessário disciplinar decoração dos túmulos no Cemitério de Monchique». É certo que o executivo camarário de Monchique é socialista, mas não parece que a decoração de túmulos seja matéria inegociável. Que tal sentarem-se à mesma mesa e tentar um acordo? Em vez de andar a fazer queixinhas, aquele vereador tem de saber aproveitar a maré: embora a custo, o PS abriu a temporada dos acordos. Mas convém não esquecer a máquina fotográfica.

A leal muleta

Pedro Correia, 14.10.09

Os Verdes, numa tentativa de provar que existem, emitiram um comunicado em que lamentam a perda para o PS de alguns municípios, como o de Beja, "nem sempre de forma democraticamente leal". Não percebo o que significa esta insinuação do leal parceiro do Partido Comunista. Eu, por mim, considero que é algo 'democraticamente desleal' um partido político nunca concorrer a uma eleição sem ser como muleta de outro.

Europeias (40)

Pedro Correia, 03.06.09

 

PCP: SAUDADES DO COMECON

 

Li o programa do Partido Comunista Português às eleições europeias.

 

Principais propostas:

- Defesa de uma Europa de estados soberanos e iguais em direitos

- Rejeição do Tratado de Lisboa

- Suspensão imediata do Pacto de Estabilidade

- Medidas contra a deslocalização de empresas

- Direito de veto de cada país membro no Conselho Europeu

- Controlo por parte de cada estado do banco central nacional e da política monetária

- Orçamento comunitário reforçado

- Profunda reforma da Política Agrícola Comum

- Adopção de todas as línguas nacionais como línguas oficiais de trabalho na UE

- "Rejeição da militarização da UE"

 

Comentários:

1. O PCP peca por excesso onde outros pecam por defeito. Só por devoção comunista alguém lerá as 23 compactas páginas deste programa eleitoral (eu sou a excepção que confirma a regra). Um manifesto exagero.

2. Dei-me ao trabalho de contar: os comunistas mencionam 25 vezes o termo soberania neste programa. Uma expressão em tudo contrária ao internacionalismo de que o PCP se reclama.

3. O PCP proclama reiteradamente a sua aversão ao 'federalismo' europeu. É curioso: no tempo da defunta URSS, que aglutinava cerca de duas dezenas de repúblicas espalhadas por um sexto da superfície terrestre do planeta, jamais me apercebi de que os comunistas fossem contra o 'federalismo'.

4. Usa-se e abusa-se aqui do jargão próprio para arengar aos convertidos - 'políticas de direita', 'crise do capitalismo', 'recuperação monopolista', 'natureza de classe', 'ofensiva neoliberal' - que nada diz à generalidade dos eleitores, eternamente por converter.

5. O PCP não esconde a sua profunda aversão ao projecto europeu em que Portugal se integra. E chega ao ponto de considerar que "a adesão de Portugal à CEE/UE foi e é uma peça fundamental no processo contra-revolucionário português". Apetece perguntar se os dois deputados que o partido mantém no Parlamento Europeu também se inserem neste "processo contra-revolucionário". Já agora, outra perguntinha: em 1986, em vez de termos aderido à 'capitalista' CEE, deveríamos ter antes aderido ao Comecon?

6. Os comunistas insurgem-se contra a "utilização e produção de armas nucleares". Estarão a pensar na Coreia do Norte?

7. Em momento algum deste extenso programa o Partido Comunista justifica aos portugueses a manutenção da sigla CDU, fruto da 'coligação' com o inexistente partido Os Verdes, que jamais concorreu de forma autónoma a uma eleição.