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Delito de Opinião

Portocarrero strikes again

Rui Rocha, 27.02.16

Não é um fenómeno novo. Há muito que se se sabe que um acto aparvalhado tem em si mesmo um potencial incalculável de gerar efeitos que replicam a parvoíce de forma exponencial. Veja-se o exemplo que hoje nos dá o sacerdote católico Portocarrero. Há não muito tempo, afirmou o santo homem num texto notável: 

Aos cruzados do anti-catolicismo militante e aos modernos inquisidores, que continuamente julgam e condenam a Igreja pela sua história, não se podem pedir as virtudes cristãs da caridade ou do perdão para os pecados dos fiéis pretéritos. Mas deve-se-lhes exigir a justiça de não julgar o passado à luz do presente, nem culpabilizar os cristãos do terceiro milénio pelos erros dos cruzados, ou pelos excessos dos inquisidores. A cada homem e geração bastam-lhe as suas próprias faltas.

 

Hoje, pouco mais de cinco meses depois, e a propósito do já celebérrimo cartaz do Bloco de Esquerda, este escravo da virtude avança com não menos profundidade:

Não obstante os nossos brandos costumes, é bom recordar que os jesuítas foram expulsos de Portugal no século XVIII, pelo Marquês de Pombal; que, no século XIX, não só eles mas também todas as outras ordens religiosas foram extintas pelo liberalismo jacobino; e que, no século XX, voltaram a ser perseguidos todos os religiosos, bem como todos os bispos e padres do clero secular, pela primeira república. No século XXI, será que o Bloco de Esquerda dará continuidade a esta ignominiosa tradição?!

Ou seja, para o bom padre os cristãos não podem ser julgados pelas faltas praticadas pelas gerações de cristãos que os precederam. Em contrapartida, os cartazes dos pataratas do Bloco de Esquerda podem e devem ser avaliados tendo em conta os actos praticados pelo Marquês de Pombal.  

Não, não, senhores Bispos

Rui Rocha, 26.02.16

Estão enganados. O cartaz do Bloco de Esquerda não ofende crentes nem não crentes só por o serem. Ofende a inteligência. De quem quer que a tenha. Por isso, melhor seria se guardassem a indignação para a utilizarem, por exemplo e para não irmos mais longe, contra instituições que promovem uma visão do mundo em que cabe às mulheres um papel de obediência e subordinação.

Não havia necessidade...

Helena Sacadura Cabral, 26.02.16

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Pessoalmente já exprimi aqui a minha posição relativamente à adopção por casais do mesmo sexo. Entendo que uma criança precisa de amor, seja ele dado pela família tradicional ou pelas famílias que o não são. As unidades familiares de hoje não são iguais às de há meio século e, portanto, os hábitos e os costumes terão de ir-se adaptando.

Na minha opinião, uma criança institucionalizada está pior do que numa família que tem amor para lhe dar, sejam dois pais, duas mães, uma só mãe ou um só pai. E se foi permitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo e que um solteiro adopte uma criança, tenho dificuldade em aceitar que um casal do mesmo sexo não o possa fazer.
Posto isto, entendo de um profundo mau gosto e revelador de bastante desrespeito por quem pensa de forma diferente os cartazes com que o BE resolveu pulverizar o país, usando como símbolo uma pirosíssima imagem de Jesus, com uma frase na qual se afirma que ele tem dois pais.
Uma coisa é defender ideias que se considera estarem certas. Outra coisa é defendê-las exorbitando os limites, para ofender aqueles para quem Jesus representa algo de muito sério. A nossa liberdade termina onde começa a do nosso semelhante. Não havia necessidade!
Eu inclino-me para que estejam a faltar ao Bloco as causas que lhe davam alma. Agora, como situacionistas que são, começam a não ter temas fracturantes e portanto a perder a graça. Estão, de facto, a envelhecer!

Para já voto nele, depois logo se verá

Sérgio de Almeida Correia, 20.08.15

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(Jorge Amaral/Global Imagens) 

 

O Vargas tem direito a tempo de antena porque o Vargas sabe de cartazes. E o Vargas tem a vantagem de não ser como os melões. Eu voto no humor, na imaginação e na criatividade. Eu voto no Vargas e nos Vargas que aparecerem.

O Edson Athaíde e o Carlos Abreu Amorim têm muito a aprender com ele.

P.S. O Bandeira ainda está de férias?

O teu cartaz é tão mau como o meu

Rui Rocha, 11.08.15

Alguém, com um resto de lucidez, devia ajudar o PS. Como se não bastassem os vários episódios relacionados com os cartazes socialistas, temos agora que alguns militantes, não satisfeitos com o triste espectáculo que o partido tem apresentado aos eleitores, decidiram cobrir-se um pouco mais de ridículo. Pelo visto, a PàF utilizou para alguns dos seus cartazes imagens de cidadãos estrangeiros. E vai daí, almas socialistas, em lugar de deixarem o fecundo tema cartazes correr suavemente para o esquecimento, vão de dar relevo ao tema. É como se dissessem, olha, os do PáF são tão pataratas como nós. E isso, convenhamos, não é grande estratégia. Por um lado, é triste que o termo de comparação sejam os desastres e não os sucessos. É como se estes militantes socialistas fizessem mira a si próprios na esperança de que a bala, por ricochete, acabe por acertar no adversário. Por outro lado, trata-se de comparar o incomparável. No caso dos cartazes da PáF, foi utilizado um banco de imagens para para ilustrar uma formulação genérica: pretensa evolução das condições de igualdade de género ou das exportações, por exemplo. Nos cartazes do PS, em contrapartida, o que tínhamos eram testemunhos supostamente na primeira pessoa, sinalizados pela utilização de aspas, com uma ligação directa de um rosto a uma situação concreta de desemprego ou precariedade. Isto é, os cartazes do PS vendiam uma mentira descarada e constituíam um claro abuso do direito de imagem.  Ora, se o ditos militantes do PS não percebem isto, só temos uma de duas: ou consideram os eleitores parvos, pretendendo agora por via do alvoroço e da confusão lançar-lhes areia para os olhos, ou são dotados de uma invulgar queda para a patetice. Num caso ou noutro, não se auguram grandes resultados. Dito isto, é justo referir que os cartazes da PáF são também eles fraquinhos, fraquinhos. Só mesmo a desorientação de alguns militantes socialistas que teimam em compará-los com aqueles que constituíram o desastre comunicacional do PS poderia ajudar ajudar a valorizá-los.

O novo cartaz do PS

Rui Rocha, 07.08.15

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Mal recuperado do outdoor de inspiração mística ou messiânica que foi rapidamente retirado, o PS volta a falhar redondamente em termos de estratégia de comunicação com um novo cartaz. Eis alguns dos pontos que fazem com que esta nova versão constitua um absoluto desastre:

1 - Na melhor das hipóteses, a mensagem é ambivalente. A Senhora que surge no cartaz foi para o desemprego quando governava um executivo do PS; o governo da coligação não lhe assegurou prestações substitutivas da remuneração. A mensagem de um cartaz deve ser curta, directa e unívoca. A deste cartaz deixa o eleitor na dúvida. O que é pior? Desemprego ou falta de subsídio? O que é pior? PS ou Coligação? O cartaz não promove a decisão do eleitor. Paralisa-o pela dúvida.

2 -  A mensagem do cartaz, para além de ambígua, é negativa. O PS pretende ser governo. Tem de impor-se pela alternativa, pelas propostas. O momento devia ser de afirmação. O objectivo (falhado) do cartaz seria salientar aquilo que o PS considera serem erros da governação da Coligação. Mas... e as propostas do PS onde estão?

3 - Não há coerência no rigor de concepção. Houve a preocupação de salientar o número quase exacto de pessoas que supostamente estarão na mesma situação da Senhora: mais de 353.000. O número não é redondo como seria, por exemplo, mais de 350.000. Mas depois de tanta preocupação com o detalhe, não se fazem contas sobre o início da actual legislatura. Não se encontra um exemplo de alguém que tenha ficado desempregado durante o governo de Passos Coelho? Com o exemplo dado, o PS expõe-se involuntariamente a todo o tipo de associações à governação de Sócrates e à velha ideia de que o PS tem dificuldade em fazer contas, em governar com rigor: não consegue fazer uma simples operação matemática (2015-5).

4 - A sequência de comunicação está invertida. No limite, a mensagem crítica que o PS pretendia passar (e não conseguiu) sobre o governo da Coligação devia ter precedido o cartaz messiânico. Numa abordagem racional, primeiro critica-se o adversário, depois apresenta-se uma visão de futuro (a luz, a esperança, etc.). Não seria grande coisa como proposta política, mas pelo menos teria uma sequência lógica.

5 - As decisões sobre a comunicação não estão, nunca podem estar, nas mãos de uma só pessoa nem na dependência da equipa de marketing. É óbvio que a responsabilidade não é só, nem é sobretudo, de Edson Athayde e dos seus técnicos. A aprovação destes materiais tem sempre de ser colegial e política. A Direcção de Campanha não avaliou o cartaz? Ascenso Simões não o viu? António Costa não o aprovou? Se não viram, é mau. Se viram e aprovaram é péssimo.

Mas existe, para além de todos estes pontos, um outro que pode assumir particular gravidade. O cartaz, tosco na sua concepção como é, refere-se  a uma situação concreta. A de uma Senhora cuja fotografia está no próprio cartaz e que é colocada a falar em discurso directo (são usadas aspas). Ora bem. Esta Senhora existe mesmo? Tem um nome? Ficou mesmo desempregada há cinco anos? É que o pior de todos os cenários seria o de o PS ter usado uma cara e uma situção fictícias como se fossem reais. Tal constituiria uma clara falta de respeito perante as situações reais de muitos milhares de portugueses que se viram confrontados com situações de verdadeiro desemprego e privação. Se tal tiver acontecido (não sei se sim, se não), será caso para parafrasear o próprio cartaz numa recomendação dirigida agora ao PS: "Não brinquem com os números, respeitem as pessoas".

A campanha do PS.

Luís Menezes Leitão, 07.08.15

 

A campanha do PS é neste momento um desastre político de proporções colossais. Depois dos cartazes a anunciar a chegada do sol após o período de trevas, o PS agora aposta, para contrariar as estatísticas do desemprego, numa mulher que perdeu o emprego… no tempo de Sócrates. Em termos de mensagem política, isto é a contradição total. De um momento para o outro, passámos de um filme bíblico para um filme neo-realista, criando a maior confusão nos espectadores. E a procissão ainda vai no adro.

 

Há quem queira deitar as culpas deste desastre para Edson Athayde. Na verdade, a prestação de Edson Athayde tem sido muito sobrevalorizada na comunicação política. Edson é um publicitário talentoso, como se viu pelo célebre anúncio Tô Xim da Telecel. Mas isso não basta para se ser um bom comunicador político. Na verdade, a campanha que ele criou para Guterres, "Razão e Coração", com Rosa Mota e Carlos Lopes em t-shirts com corações, era em termos políticos um vazio total. Mas em 1995 o país estava farto de Cavaco e ansiava desesperadamente por uma alternativa. Por isso tanto fazia que a campanha do PS fosse boa ou má, uma vez que o que interessava para a esmagadora maioria do eleitorado era terminar com o consulado cavaquista.

 

Hoje, no entanto, os dados em que se movem as campanhas eleitorais são radicalmente diferentes. Desde a vitória de Obama que se sabe que é nas redes sociais que se desenvolve a campanha com mais eficácia. Não lembraria por isso a ninguém vir buscar um publicitário para repetir uma solução de há vinte anos. No entanto, concordo com Viriato Soromenho Marques quando ele refere que a culpa não é de Edson. A culpa é que o PS de hoje não tem qualquer mensagem política, limitando-se a repetir até à exaustão a palavra "confiança".

 

Mas a verdade é que António Costa não consegue inspirar confiança. Manteve até ao último momento o apoio a Sócrates, mesmo nas vésperas da bancarrota. Por isso, esteve sempre contra António José Seguro, quando ele quis distanciar o partido de Sócrates, e procedeu ao seu derrube, invocando precisamente a necessidade de respeitar o legado de Sócrates. Logo que Sócrates foi preso, sentiu a necessidade de se distanciar dele, pelo que procurou contratar novas propostas políticas, numa espécie de out-sourcing, com recurso a candidatos anódinos, inclusivamente para fins de candidatura presidencial. Só que essas candidaturas, ou constituem uma incógnita total para o eleitorado, ou representam posições muito mais extremistas do que o que era tradicional no PS. Por isso, as propostas políticas que o PS hoje exibe são assustadoras para o eleitorado de centro, que está traumatizado com a irresponsabilidade financeira dos tempos de Sócrates.

 

Viriato Soromenho Marques tem assim razão quando diz que o PS precisa de mudar de política e não de publicitário. Só que para isso precisava urgentemente de mudar de líder. E para estas eleições já não vai a tempo.

À atenção dos marketeers do PS

Rui Rocha, 04.08.15

Pelo visto, os famosos cartazes do PS vão ser retirados. Os turistas que nos visitam por estas alturas perdem assim um dos aspectos mais pitorescos da nossa paisagem. Terão de conformar-se. Ainda ficam o sol, o mar, a afectuosidade das gentes, a história e a gastronomia. Em todo o caso, parece que a missão foi cumprida. Pretendia-se introduzir uma uma linguagem de ruptura com a comunicação política corrente para marcar a viragem de página e reforçar a associação de confiança a António Costa e ao PS? Objectivo alcançado. Agora fica o desafio de manter o nível da comunicação. Não querendo intrometer-me no trabalho de Edson Athayde, que nestas coisas não precisa de lições de ninguém, proponho, para começo de conversa, uma nova geração de outdoors do PS:

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A estratégia de comunicação do Bloco de Esquerda.

Luís Menezes Leitão, 23.02.15

 

Há muito tempo que acho que a estratégia de comunicação do Bloco de Esquerda é um disparate gigantesco, o que talvez explique a facilidade com que esse partido multiplica as tendências, as cisões e até os seus líderes. A imagem que publico acima apareceu em 2004 em cartazes espalhados pelo país. Nessa altura tive ocasião de receber uns colegas americanos em visita a Portugal, que ficaram muito espantados em ver o seu presidente em cartazes por todo o lado e quiseram saber o que lá estava escrito. Quando lhes expliquei que se pretendia extrapolar a derrota de Aznar nas eleições espanholas de Março de 2004 para dizer que a seguir também seriam derrotados eleitoralmente Bush, Blair e Barroso, perguntaram-me logo perplexos o que ganhava um partido político português com esse tipo de mensagem política. A qual aliás se viria a revelar totalmente errada, pois Bush foi calmamente reeleito em 2004 e Blair foi reeleito para um terceiro mandato em 2005. O único que pelos vistos se impressionou com a mensagem do Bloco foi Durão Barroso, que poucos meses depois preferiu emigrar para um exílio dourado em Bruxelas a continuar à frente do governo português.

 

Talvez preocupado com o facto de os alemães que hoje visitam Portugal poderem ter a mesma reacção que os meus colegas americanos, o Bloco decidiu que um cartaz com Angela Merkel deveria obviamente estar escrito em alemão. Aqui denuncia-se correctamente os vários erros de alemão que o cartaz tem. Confesso que quando o vi tive dificuldade em perceber o texto, e parece-me que o problema está logo no próprio português. "Um governo mais alemão que o alemão" é uma frase que nem em português faz grande sentido, quando mais traduzida para alemão, colocando adjectivos em maiúsculas e omitindo a vírgula, essencial nas orações subordinadas. Mas em termos substanciais a comparação não tem qualquer sentido. Não é por obedecer ao Diktat de Angela Merkel que o governo português se torna mais alemão que o governo alemão. No resto da Europa e na própria Alemanha poderemos ser chamados de muitas coisas. Alemães não será seguramente uma delas. E é estranho que o Bloco de Esquerda não consiga ver isso.