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Delito de Opinião

Entroido galego

Ana CB, 21.03.23

Há poucos anos, indo eu a caminho de Allariz para conhecer o seu Festival Internacional de Xardíns, calhou fazer uma paragem técnica para almoço em Verín, terrinha galega que fica a menos de uma vintena de quilómetros de Vila Verde da Raia. Da refeição não ficou grande memória e a vila não parecia ter um interesse desmedido, mas depois de comer decidi dar uma volta pelo centro histórico – já que ali estava, mais valia aproveitar. Num pequeno largo onde desaguavam umas ruelas, deparei-me com uma escultura de tamanho considerável que reproduzia uma figura mascarada algo estranha. Nestas coisas de estátuas o tamanho anda geralmente a par da importância, por isso quando voltei a casa fiz umas pesquisas online e descobri que a personagem imortalizada em pedra tem o curioso nome de Cigarrón. E descobri também que o dito cujo é a figura típica do que, para minha grande surpresa na altura, percebi ser o mais famoso de vários Carnavais galegos que fazem parte das Festas de Interesse Turístico oficiais do país nosso vizinho.

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Na bela língua galega (adorável por ser tão ciciada e ter tantos “xis”, e também por ser tão parecida com o português), não há Carnaval mas sim Entroido. São muitas as terras da Galiza que celebram a preceito esta época, com as folias a começarem várias semanas antes da terça-feira calendarizada. A tradição tem raízes documentadas pelo menos desde o século XIII e ao longo do tempo as festas foram crescendo em duração, importância e diversidade. De celebração rural num único dia, os seus excessos pagãos admitidos pela fé católica em vésperas de Quaresma jejuadora, o Entroido transformou-se em festa máxima, repartida por vários fins-de-semana, preparada com brio e publicitada como chamariz turístico. Cada localidade desenvolveu os seus próprios hábitos, calendário e figuras particulares, mas persistem algumas tradições comuns. Há os dias dedicados aos “compadres” e às “comadres”, bonecos feitos habitualmente com roupas velhas que eram exibidos e disputados em guerras de sexos animadas*, e cuja designação se ampliou para incluir gente de carne e osso – eles e elas frequentemente com disfarces que imitam o sexo oposto. Há as batalhas de farinha, que não poupam ninguém. Há as charangas e os gaiteiros, que não se poupam a esforços para animarem os foliões. E há os desfiles, encabeçados pelas figuras típicas que cada localidade criou para se distinguir das demais.

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Os Entroidos galegos mais famosos são os de Verín, Xinzo de Limia e Laza. Dizem que a curiosidade matou o gato, e eu devo ter um gene felino porque o que li sobre estas festas deixou-me curiosa. Este ano decidi ir conhecer in loco as festividades carnavalescas de Verín e Xinzo, perceber se a publicidade que lhes é feita se justifica. E (spoiler alert!) diverti-me mesmo.

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Em Verín, o dia do desfile principal é o domingo. Com início previsto ao meio-dia, antes das 11 da manhã já os vários estacionamentos da localidade – e são muitos, todos gratuitos – estavam praticamente a abarrotar, e não paravam de chegar autocarros repletos de gente. Com a sorte que não costumo ter no que toca a estacionar, consegui milagrosamente arranjar um sítio onde deixar o carro num dos parques mais centrais. O movimento de gente desaguava na Avenida de Castilla, àquela hora já parcialmente cortada ao trânsito automóvel e policiada, com as pessoas a começarem a ocupar os passeios para terem a certeza de que não iriam perder pitada do desfile. A quantidade de mascarados era impressionante, desde aqueles que se limitavam a uma cabeleira ou uns óculos excêntricos até famílias inteiras fantasiadas a rigor, incluindo bebés de colo. Os disfarces mais populares eram sem dúvida os macacões com formas de animal que agora se usam como pijama – o que é perfeitamente compreensível e muito razoável quando a temperatura do ar está nos antípodas da do Brasil nesta época do ano. Mas havia também fantasias muitíssimo elaboradas, dignas de um Carnaval de Veneza.

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Não tenho muita paciência para ficar quieta à espera, por isso fui dar uma volta pelo centro histórico. Na Praza Garcia Barbón, o coração da localidade, um enorme painel publicitava o Cigarrón como “Figura central do mellor Entroido do mundo”, expondo imagens de uma centena de máscaras diferentes usadas pelas pessoas que encarnam a figura carnavalesca típica de Verín. A origem desta personagem é incerta mas, segundo alguns estudiosos, remonta ao século XVI e evoca a figura dos odiados cobradores de impostos: esbirros ao serviço dos senhores feudais, que percorriam as aldeias para colectarem as rendas devidas pelos vassalos e, para serem mais intimidantes, usavam máscaras demoníacas inspiradas nas dos indígenas peruanos e um chicote para açoitarem quem se recusasse a cumprir com o seu dever.

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Ser um Cigarrón é uma honra transmitida de pais para filhos. Com o seu látego, impõe a ordem entre o público e ninguém pode tocar-lhe nem faltar-lhe ao respeito. O “Baptismo do Cigarrón” é um dos momentos altos das festas, habitualmente realizado no sábado de Entroido em acto solene na Praza de Mercede, quando os jovens candidatos são empossados, aprendem a vestir-se correctamente e colocam, pela primeira vez em público, a careta (máscara) que irão usar. As máscaras são feitas artesanalmente de madeira e pintadas com um rosto naif em que sobressaem as rosetas vermelhas, sobrancelhas carregadas, um bigode retorcido, um sorriso descarado e uma barba falsa. Agarrada à máscara e em jeito de chapéu, uma mitra onde é pintada a imagem de um animal autóctone, diferente para cada membro da Associação. O traje é complexo: calções com borlas e meias arrendadas presas com ligas, jaqueta com fitas e galões coloridos, um pequeno xaile pelas costas e faixa larga de cor viva à cintura, sobre a qual usam um cinto com seis chocalhos pendurados na parte de trás**.

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É o ruído quase atroador destes chocalhos que anuncia o início do desfile, com muitas dezenas de Cigarróns em corrida ritmada a abrirem caminho para os comparsas e as charangas. Há-os de todas as idades, os mais pequenos sem máscara, os mais velhos todos do sexo masculino, várias raparigas e meninas a fazerem já parte dos grupos dos mais novos – prova de que a mudança é inevitável mesmo nas tradições mais antigas. Enquanto durou o desfile, os Cigarróns foram incansáveis, com idas e vindas em pequenos grupos ao longo da avenida, mantendo o público confinado aos passeios de forma a não se atravessarem no caminho dos que desfilavam. Lá como cá, nem sempre o respeito impera.

Os desfiles destes Entroidos são (felizmente!) simples e pouco sofisticados, mas muito cheios de imaginação. Não há grandes carros alegóricos nem meninas em biquíni, as lantejoulas e os brilhos não ferem os olhos, mas não faltam animação e originalidade. No de Verín houve gaiteiros pediatras e utentes de um lar, piratas e fadas dos bosques, irredutíveis gauleses da banda desenhada, Flinstones, esquimós e gente das Arábias, veículos improvisados e outros construídos com engenho, charangas mais ou menos afinadas e moçoilos com kilts tocando e dançando em estilo “zumba no ginásio”, crítica social e ofertas de trabalho, matrafonas e motards. Uns com mais energia e espírito folião do que outros, os comparsas vão avançando enquanto dançam, tocam, pedalam, revolteiam e animam o público durante cerca de uma hora bem passada.

 

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Ainda o desfile não estava terminado, a maior parte das pessoas começaram a debandar, enfiando-se pelas ruas perpendiculares à avenida. “Entroideira” de primeira viagem, quase não me apercebi a tempo do que aí vinha: a farinhada. Em poucos instantes, ao som do rufar dos bombos, o ar encheu-se com o branco da farinha atirada com genica pelos comparsas menos desejados do desfile. Mesmo tendo conseguido distanciar-me alguns metros da confusão, não me livrei de ficar meio empoeirada. O baptismo tradicional é com água, no Entroido de Verín é com farinha. E até que tem graça!

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Depois do desfile, os turistas foram peregrinar pelas ruas do centro histórico. São obrigatórias as fotos ao pé da estátua do Cigarrón, tal como com algum dos de carne e osso que continuam aos pulos de um lado para o outro mesmo após o desfile. Os habitués não perderam tempo com estas coisas, foram directos para a Garcia Borbón e atiraram-se à cerveja e a qualquer coisa que se comesse em pé, juntando-se em grupos palradores enquanto as charangas se iam instalando na praça e debitando cantoria à vez. Os restaurantes encheram-se com os cautelosos que tinham marcado mesa, e os incautos tiveram de esperar muito tempo à porta ou simplesmente não conseguiram comer. E a festa continuou pela tarde e noite adentro, com a música a ouvir-se a quilómetros de distância – mais propriamente no Castelo de Monterrei, que fica a um quilómetro e meio em linha recta (transformado em mais de quatro pela estrada), que eu e muitos outros optámos por visitar em alternativa.

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Após um dia de interregno para ver outras paisagens (que isto de folia carnavalesca para mim tem de ser em doses homeopáticas), terça-feira foi o dia de ir até Xinzo de Limia. Vila também sem interesse desmedido, é contudo aqui que se encontra o Museo Galego do Entroido, criado para preservar as tradições carnavalescas da região – as que se mantêm, e as que se perderam. Durante os quase quarenta anos de ditadura franquista em Espanha muitos festejos tradicionais foram proibidos, entre eles os Entroidos galegos. Alguns foram sobrevivendo à revelia e regressaram em força nos anos 80, outros acabaram por desaparecer completamente, e tenta-se agora que sejam recuperados.

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O Entroido de Xinzo arroga-se ser o mais longo de Espanha, com a animação a começar mais de um mês antes do Carnaval oficial. O programa das festas estende-se por cinco fins-de semana seguidos e este ano tiveram início em fins de Janeiro com o Sábado do Petardazo (música e dança até de madrugada) e o Domingo Fareleiro, uma farinhada colectiva que tem lugar ao fim da tarde na Praza Maior.

 

Em Xinzo de Limia, as figuras centrais do Entroido são os Pantallas. Sobre eles, existe a teoria de que a sua origem remontará à época celta, representando um druida agregador dos poderes religioso, judicial e social. Talvez por essa razão, a máscara típica destes ícones locais – que também é feita artesanalmente, em pasta de papel ligada com água e farinha – inclui um barrete com ponta curva que se enrola para frente, decorado com motivos astrais e geométricos. Por baixo, um rosto meio demoníaco, com olhos protuberantes, cornichos e um bigodinho torcido nos extremos que faz lembrar a personagem principal da novela gráfica “V de Vingança”. A fardamenta tem como base o branco da camisa e das calças, presas do joelho para baixo por polainas negras. O colorido fica por conta da capa, quase sempre vermelha (mas também as há em negro, azul, verde), com franjas, rosetas e fitas de cetim em várias cores, e da faixa na cintura, onde estão presos vários sininhos.

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Mas o barulho mais característico dos Pantallas é o que ouvimos quando fazem chocar as duas grandes bexigas de vaca cheias de ar que levam nas mãos. A ideia é assustarem o público, e acompanham as batidas com saltos, cabriolas e uns bramidos guturais. Manda a tradição que se encontrarem algum homem que não esteja mascarado, o rodeiem e obriguem a ir até um bar para pagar uma rodada de copos de vinho. Se for uma mulher, deverão dançar à sua volta, envergonhando-a.

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À espera do desfile, o momento ternurento ficou por conta de um miúdo bem pequenino, vestido a rigor com o traje dos Pantallas, que insistia em escapar-se aos adultos e correr pela avenida, abanando as suas bexigas de vaca – certamente já a preparar-se para exibições arrojadas em pleno desfile daqui por uns anitos.

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E por falar em desfile, o de Xinzo de Limia abriu com um buggy verde alface conduzido por um marinheiro e levando a bordo uma figura presidencial (quiçá real), atestando desde o início a solenidade da ocasião. Logo atrás vinham os Pantallas e a sua banda sonora de sininhos e batuques secos, seguidos por umas senhoras com gigantescas couves-galegas nas mãos, que insistiam em dar a provar (cruas!) aos espectadores, e depois por um grupo misto de gaiteiros com vestes vagamente medievais e barretes com cornos.

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A partir daí, foi sempre a subir em termos de diversão, e houve alturas em que chorei de tanto rir. Agricultores em greve que “emigraram” para Portugal; uma brigada de limpeza que trabalhava rente ao chão, às voltas, de barriga para baixo sobre placas de madeira com rodinhas; quatro irmãos travestidos de donas-de-casa, com mímicas engraçadas nas suas varandas móveis, sacudindo o pano do pó ou bebendo directamente de uma garrafa; cavaleiros de competição montados em póneis cheios de originalidade, revoluteando até desabarem no chão de cansaço; uma corrida de triciclos (perdão!) karts; um animado grupo de bem vestidas majoretes, na sua maioria barbadas, de sombrinhas coloridas nas mãos e um impecável esquema de desfile; uma divertidíssima mesa de snooker onde se disputava um jogo difícil… porque as bolas eram pessoas pouco obedientes e às vezes recusavam-se a entrar no buraco; um grupo de prisioneiros que decidiu fugir do seu carro alegórico/prisão; e até uma recriação bem-humorada de “O Resgate do Soldado Ryan”. Tudo isto intervalado com charangas, grupos elegantes de comparsas mascarados, e outros quadros figurativos representados com muita imaginação. No final, vários automóveis antigos, com os seus ocupantes também disfarçados a rigor.

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Em resumo: diversão a valer, e os músculos da cara doridos de tanto rir. A tradição carnavalesca na Galiza está de boa saúde e recusa os estereótipos importados de outras latitudes. As festas continuam a ser do povo e para o povo – gratuitas e abertas a todos, tanto participantes como público. Proibições ditatoriais não as mataram, e uma pandemia também não parece ter-lhes retirado força.

 

Por motivos profissionais, a minha escapadinha carnavalesca teve de ficar por aqui. Se tivesse ficado mais um dia poderia ter assistido ao Enterro da Sardinha, cerimónia “solene” que marca o final do Entroido e início da Quaresma. Há uma procissão nocturna, seguida da leitura do testamento da defunta (reproduzida em papel), que depois é queimada. Tal como na vida real, a cremação está a tornar-se mais popular do que o enterro. E o que é que uma sardinha, bicho capturado no Verão, está a fazer numa festa de Fevereiro? Também neste caso, as origens do costume são incertas, e há versões diferentes. Uma diz que se deve à confusão linguística de “sardiña” com “cerdín”, nome de um canal madrileno onde um porco era enterrado antes da Quaresma; outra diz que um rei mandou servir sardinhas nos festejos do fim do Entroido, mas estava muito calor e as sardinhas estragaram-se, por isso houve que enterrá-las para evitar o cheiro a peixe podre. Seja qual for o motivo, o costume pegou e dura até hoje. É mais uma das características peculiares dos Carnavais galegos.

 

O Entroido é celebrado em quase duas centenas de localidades galegas, com personagens e singularidades próprias em muitas delas. Algumas destas festas ganharam tanta popularidade que já são consideradas como muito importantes para o turismo do país. Os Entroidos de Verín e de Xinzo de Limia estão oficialmente classificados como “Festas de Interesse Turístico Nacional”, e outros cinco como “Festas de Interesse Turístico da Galiza”: os de Cobres, Laza, Viana do Bolo e Manzaneda, e os Xenerais da Ulla, que percorrem 30 lugares em oito concelhos da região.

 

De ritual pagão a festividade religiosa, em boa parte do mundo o Carnaval é uma das celebrações mais antigas, reflexo de características comuns a toda a raça humana: a alegria e a gratidão por existirmos neste planeta, e por aquilo que ele nos proporciona. Se isso não é motivo para festejar, não sei o que será.

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* Esta tradição também existe em Portugal e mantém-se pelo menos parcialmente viva. Neste fim-de-semana alargado por terras raianas, encontrei “comadres” e “compadres” em Pitões da Júnias, onde o Carnaval também estava a ser celebrado a preceito.

 

** O traje e a máscara dos Peliqueiros de Laza são, aos olhos de uma leiga como eu, idênticos aos dos Cigarróns. No entanto, os puristas mais entendidos dizem que há algumas pequenas diferenças.

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 21.02.23

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Hoje celebra-se O Dia de Carnaval

«Também conhecida como Entrudo, esta é uma festa de origem pagã que se comemora sempre à terça-feira. Do Carnaval à Páscoa passam-se aproximadamente 40 dias, os quais a Igreja recorda como o período em que Jesus esteve no deserto e foi tentado pelo demónio. É o tempo da Quaresma, iniciada amanhã, quarta-feira de cinzas.

Em Portugal, o Carnaval é um feriado facultativo. A sua aplicação é decidida pelos municípios (no caso de trabalhadores públicos) e pelas empresas (no caso de trabalhadores do sector privado). Este ano o Governo concedeu tolerância de ponto aos funcionários públicos, que puderam assim usufruir do feriado a nível nacional.

São várias as tradições desta quadra no nosso país. Muitas pessoas mascaram-se com fatos de Carnaval alusivos a uma determinada categoria profissional, personagens de cinema, desenhos animados ou até uma personalidade mediática. As crianças também festejam o Carnaval com trajes coloridos, que vestem no domingo e na terça-feira de Carnaval em desfiles organizados pelas escolas e por associações de tempos livres.

Os desfiles de Carnaval são um dos pontos altos desta data festiva em cidades como Torres Vedras, Loulé, Famalicão, Ovar, Estarreja e Funchal. Recorrendo sempre ao sentido de humor para satirizar o estado do país.

O Carnaval começou a ser festejado na Antiguidade. A Saturnália, em Roma, era um festival que durava dias e em que as pessoas se mascaravam, comiam e bebiam de forma farta. Carnaval (do latim carnis levale), significa "adeus à carne". Em 590 d.C., enquanto esta festividade se tornava cada vez mais popular, a Igreja determinou que o dia seguinte ao Carnaval marcasse o início de um período de jejum. Assim, as populações festejavam e degustavam manjares para preparar o período de privações a começar no dia seguinte.

É uma época de diversão, onde muitas brincadeiras são permitidas. Como diz o provérbio popular, "no Carnaval ninguém leva a mal".»

 

Só tenho ideia de " brincar ao Carnaval" por volta dos meus sete, oito anos. A minha mãe alugou-me uma máscara de fada, azul água, daquelas com um cartucho na cabeça e uns véus diáfanos. O meu irmão vestiu a pele do perfeito Zorro, chapéu com Z, máscara, faixa vermelha, capa e espada, com o indispensável bigodinho pintado a lápis preto de sobrancelhas. Já tínhamos feito a peregrinação do Entrudo em anos anteriores até Torres Vedras, ver os desfiles, deitar papelinhos e serpentinas... um ano não correu bem e nunca mais lá voltámos. Os participantes nos carros alegóricos "disparavam" contra a multidão saquinhos duros cheios de algo que mais tarde se verificou serem grainhas de uva. Um deles magoou o meu pai numa vista. Teve de conduzir de volta a Lisboa com o olho inchado e com dores e foi de tratamento complicado. A partir daí, passámos a levar a miudagem a concursos de máscaras, no antigo Monumental, por exemplo, fardados a preceito com fantasias executadas pela minha mãe que ganhavam sempre um ou outro prémio e deixavam as hostes satisfeitas.

Só bem mais tarde se voltou ao espírito do Carnaval, durante os três anos em que o meu irmão esteve estacionado numa base da OTAN, perto de Geilenkirchen. Não fazia ideia de que a Alemanha tinha uma tradição carnavalesca tão arreigada, mas é verdade. Nas Terças-Feiras Gordas pela manhã, havia desfile de máscaras e corso. Os que vinham a pé, trazia copos de cerveja que distribuíam pelos presentes ou garrafas de schnapps pelas quais todos sem excepção bebiam, para aquecer das baixas temperaturas. Os carros alegóricos atiravam lá de cima, às mancheias, tudo o que era chocolate, rebuçado, chupa-chupa, gomas, sei lá o que mais, mas tanto e de tal modo que as minhas filhas vinham da festa com sacos-tamanho-supermercado a abarrotar de gordices, que em condições normais lhes dariam para um ano inteiro. Como todas as crianças dos arredores chegavam em casa carregadas de doces, os que as minhas meninas traziam vinham para Portugal e faziam as delícias de miúdos e graúdos das respectivas escolas após as férias do Carnaval. Aí era a festa de fim de festa, como nos Óscares, mas muito mais doce. 

 

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Hoje é O Dia Internacional da Língua Materna

«Este dia, assinalado todos os anos, foi criado na 30.ª Conferência Geral da UNESCO, por sugestão do Bangladesh, em 1999. A ONU viria a reconhecê-lo formalmente em 2002.

Com esta iniciativa, pretende-se sublinhar a importância da diversidade cultural e linguística. Incentiva-se também a tolerância, o respeito e a preservação do património cultural e linguístico dos vários povos do mundo.

O tema em 2023 é "Educação multilíngue – uma necessidade para transformar a educação". A educação multilíngue, baseada na língua materna, facilita o acesso e a inclusão na aprendizagem de grupos populacionais que falam línguas não dominantes, línguas de grupos minoritários e línguas nativas.»

 

Num dia de grande alegria em que todos se divertem, alguns mascarados, o meu pensamento vai para a celebração da minha língua materna, ou o que dela resta, debaixo dos trapos e dos pontos com que a coseram a outras impurezas, de modo que se fantasia for, é sem dúvida Frankenstein. 

(Imagens Google)

Bem te conheço, oh Máscara...

Maria Dulce Fernandes, 13.02.18
"Só a fantasia permanece sempre jovem; o que nunca aconteceu nunca envelhece."
 
Schiller





Nunca gostei muito de me mascarar.

Num tempo de  Carnaval,  numa galáxia temporal muito, muito distante, quis muito disfarçar-me de Rainha de Copas, seguramente influências de Lewis Carroll e de Walt Disney, mas não havia fatiota de guarda roupa que preenchesse os requisitos, pelo que fui levada ao engano de que um fato de fada com todos os atributos da mesma, iria ser espectacularmente divertido e inquestionavelmente deslumbrante.

Lá fui eu  toda lampeira, coberta de tules verde água, com uma varinha estrelada, vaporosa e não segura, mas conformada qb.
O meu contento foi tão breve quanto curto era o caminho de casa. O meu Pai,  benza-o Deus e à franqueza que creio lhe ter herdado, assim que me viu com o ensemble do disfarce, não conseguiu deixar de apontar que o velado e etéreo chapéu de fada se parecia demasiado a um cartucho de castanhas assadas... o que era tristemente verdade.

Não me lembro de mais disfarces de Carnaval na minha meninice. Nunca cheguei a vestir-me de Rainha de Copas, mas há bem pouco tempo, inventei uma fatiota de Mad Hatter para uma festa de fantasias, que me assentou que nem uma luva... mero acaso ou facto comprovado de  personalidade gemelar ?

E depois convenci a prole de que Alice era o melhor nome para uma neta de moi, e podem crer que foi na mouche. Não conheço tagarela mais curiosa e espertalhona, caramba !

Ainda assim, e porque os recalcamentos da infância são lixados, tentei convencer a Alice de que seria uma excelente Rainha de Copas, já previamente munida de prints e fotos dos diversos filmes e de vários fatos de máscara para sustentar a minha argumentação, mas não venci nem convenci . Fui derrotada em toda a linha por uma simpática roedora que deitou por terra todas as minhas pretensões à criação de uma Minnie me ...



Nota mental

Rui Rocha, 09.02.16

Parecendo que não, pouparíamos muito tempo e consumições se aceitássemos duas consequências inquestionáveis de factos meteorológicos: a) a estrada da Torre encerra sempre que neva na Serra da Estrela pelo que não vale a pena ir ver a neve quando neva; b) em Fevereiro, não vale a pena organizar Carnaval à "moda" do Rio de Janeiro a norte de Santarém.

Com amigos destes...

Sérgio de Almeida Correia, 19.01.16

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"Li-o em diversos jornais e revistas, entrevistei-o na SIC e em vários jornais mais de uma vez, acompanhei-o em manifestações cívicas, estive ao seu lado em celebrações religiosas, fiz a sua “apresentação” nalguns fóruns e eventos. Em suma: conheço-o de há muito e da primeira fila.

Por isso cedo me apercebi de algumas debilidades na ossatura da sua personalidade. E cedo alcancei que elas poderiam por vezes fazer gripar o motor do seu carácter. É que, com o mesmo brilho e a mesma velocidade, Marcelo era capaz de dizer tudo e o seu contrário, ser tudo e o seu oposto, sem nunca estar inteiramente comprometido com nada (a sério, só com Deus, já lá irei)."

 

Um tipo depois de ler isto, e o resto do texto de Maria João Avillez, que o conhece de ginjeira, fica a pensar se será possível à esquerda haver alguém que a ultrapasse pela direita. O Observador, sem saber, prestou um serviço público. Temo que o único conselho que daqui posso dar ao candidato Marcelo, para ele não ter de repetir aquela rábula do mergulho no Tejo, é sugerir-lhe que peça uma prancha ao McNamara e entre por uma daquelas ondas do canhão da Nazaré antes de dia 24. Se não for assim, corre o risco de não evitar a segunda volta com um dos outros marretas. 

Carnaval é no Palace

Sérgio de Almeida Correia, 18.02.15

mg_3267.jpgOs "nossos irmãos" lusófonos já podem festejar condignamente. Lamento é que o nosso Governo não tenha promovido devidamente as nossas festas de Ovar, Torres Vedras ou Loulé. De qualquer modo, a esperança continua a morar aqui. Perdemos o Alberto João, é verdade, mas quem garante que nos próximos anos não poderemos contar com as tangas e as bundas do clã Obiang? O Carnaval é uma festa.

A receita

Sérgio de Almeida Correia, 18.02.15

É pena que o Benfica não tivesse tido esta lembrança, pois poderia ter vendido o Roberto por mais 10 milhões de euros. Transformar frangos em vitelos não é fácil, mas por aqui se vê que o problema do empate no Restelo não foi da cerveja, do guarda-redes ou dos avançados que não marcam. A culpa foi do árbitro do jogo anterior. Não parece, mas esse é um problema que se resolve melhorando a imagem, a comunicação. Isto deve andar tudo ligado.

Torres Vedras forever

Teresa Ribeiro, 17.02.15

C:\Documents and Settings\Admin\Ambiente de trabal

 

Uau! Está sol! Não sei como é no resto do país, mas pelo menos em Lisboa e arredores as sereias arrepiadas dos corsos carnavalescos podem abanar o bum bum sem se constiparem. Digo "bum bum" não por acaso. Se quisesse usar uma expressão genuinamente portuguesa podia dizer, por exemplo, "sim senhor", uma designação amável, mas fora de moda. Aliás, no Carnaval é todo o país que está fora de contexto, incluindo o clima, esse velho do Restelo que teima em boicotar o trabalho (ia a dizer suado, mas até parece que estou a gozar com as aquelas meninas tadinhas tão roxinhas, com as suas plumas em pele de galinha) das comissões organizadoras dos festejos carnavalescos.

Só em Torres Vedras não se leva a mal que o Carnaval seja português, o que é um alívio para quem não gosta de acompanhar o espectáculo da possidoneira nacional, ao som de sambas, sempre os mesmos, que o Brasil já esqueceu.

Mamã eu quero, uma ova. Se é tradição secular, o que eu quero é, se me apetecer, reviver o Carnaval como o faziam os meus pais e avós em Torres. E mai nada!

 

(foto: sereia arrepiada em Loulé)

Mascaradas

José António Abreu, 17.02.15

 

De certa forma, porém, o teatro avant-garde e as operetas tinham uma coisa em comum para ela, nomeadamente que o conteúdo significava nada, a mascarada tudo.

Dag Solstad, Novel 11, Book 11. Tradução minha a partir da versão inglesa de Sverre Lyngstad.

Urgências

José António Abreu, 21.02.12

A polémica acerca da falta de tolerância de ponto no Carnaval mostra várias coisas interessantes. Aquela a que acho mais piada é como, avaliando pelo que a televisão nos mostra, hoje quase não há casos urgentes nos hospitais e centros de saúde. Pelos vistos, os portugueses só têm problemas de saúde nos dias de trabalho.

 

(Donde talvez o Ministro da Saúde devesse tentar convencer o resto do governo a aumentar e não a diminuir o número de feriados. A poupança que isso permitiria...)

Carnaval: as origens possíveis

João Carvalho, 19.02.12

 

Existem duas teorias plausíveis quanto à origem e significado da palavra Carnaval: uma cristã e outra que remonta à Grécia Antiga.

A primeira, atribui à palavra Carnaval uma origem profundamente religiosa, com um significado quase oposto ao da diversão, brincadeiras e malícia a que a associamos hoje em dia. O termo teria origem no latim carnevale (carne + vale = carne + adeus) e seria a designação da "Terça-Feira Gorda", o último dia do calendário cristão em que é permitido comer carne, uma vez que, no dia seguinte, começa a Quaresma, estando esta associada ao período de jejum e abstinência de carne. Repare-se que o domingo de Carnaval calha sempre no sétimo domingo anterior ao Domingo de Páscoa e é fixado a partir da determinação da Sexta-Feira Santa.

Já a segunda teoria é categórica a afirmar que a palavra Carnaval vem de carrus navalis, por influência das festas em honra de Dionísio, nas quais um carro com um enorme tonel distribuía vinho ao povo de Roma. Muitas das celebrações carnavalescas são, pois, bem mais antigas do que a própria religião cristã, tendo sido alvo de diferentes manifestações ao longo da História: todos os carnavais, no fundo, são reminiscências das festas dionisíacas da Grécia Antiga, dos bacanais de Roma aos bailes de máscaras do Renascimento.

 

 

O Entrudo festeja-se na Península Ibérica desde o século XIII. Foram os portugueses que introduziram estes festejos no Brasil (ainda durante a colonização), os quais se realizavam nos três dias anteriores ao início da Quaresma (Quarta-Feira de Cinzas). Consistiam, inicialmente, em "guerras" de água e sumo de limão. A partir de Setecentos, começou-se também a atirar farinha, ovos, tomate esmagado e outras substâncias menos agradáveis. Eram brincadeiras de rua violentas e sujas, praticadas principalmente pelos escravos negros, a par de muita música e danças populares.

As famílias festejavam o Entrudo em casa com jogos. O Entrudo sofreu várias proibições e, progressivamente, foi dando lugar ao Carnaval, cujo início data de meados do século XIX, inspirado no Carnaval europeu.

O Carnaval passa então a ser festejado com bailes em casa e desfiles nas ruas. É desde então que surgem as brincadeiras que permanecem até hoje: as bisnagas de água perfumada (que vieram substituir as limas de cheiro do Entrudo), os papelinhos coloridos e as serpentinas, os narizes, as barbas, os bigodes, os óculos e por aí fora.

(Com a colaboração da nossa

comentadora MACarvalho)

Participe no quiz e ganhe uma frase do Francisco Louçã sobre a tolerância de ponto no Carnaval

Rui Rocha, 13.02.12

 

Esta notícia do DN é de estalo porque:

 

a) não contabiliza os custos com papel higiénico, electricidade, água, desgaste dos equipamentos, etc.

b) abre a porta a que se façam contas ao que se poderia poupar ao mês ou ao ano.

c) o DN paga subsídio de refeição a quem redigiu uma notícia destas.

d) vai-se a ver e o subsídio de refeição é pago em dias de tolerância de ponto.

e) todas as anteriores.

f) é de estalo mas por nenhuma das razões anteriores (por favor, desenvolver na caixa de comentários).

g) não é de estalo (por favor, desenvolver na caixa de comentários).

Outros carnavais — I

João Carvalho, 13.02.12

Só falamos do Carnaval do Rio de Janeiro. De raspão, do Carnaval com samba que importamos parolamente do Rio; a correr, do Carnaval ainda mais parolo que copiamos mal do Rio; timidamente, de um ou outro resquício do nosso velho Entrudo (o Carnaval pobre que é nossa tradição popular). Mas ignoramos completamente um festejo dos mais famosos e antigos do mundo: o Carnaval de Veneza.

O Carnaval rico, o Carnaval do Teatro e da Ópera, o Carnaval do Barroco e da Renascença, o Carnaval das máscaras e dos trajes, esse, passa totalmente em branco. É sempre a mesma coisa. Nem um apontamento de reportagem sobre a...

 

 

... Festa della Marie, dos Bambini...

 

 

... dos Nobili, dos Insoliti...

 

 

... ou das gôndolas.

Nada. Se fosse um jogo Milán-Juventus ou Parma-Fiorentina não faltariam enviados especiais. Até para fazer a cobertura da tolerância de ponto...

 

(Repescado aqui)

Outros carnavais — II

João Carvalho, 13.02.12

O Mardi Gras é outra festa carnavalesca secular e outro cartaz mundialmente reconhecido. Nasceu em Nova Orleães e atravessa o Estado de Luisiana: pode ocorrer em qualquer altura do ano, mas é tradicional dar-lhe especial relevo durante o mês que culmina na "terça-feira gorda" (do francês mardi gras). O costume foi introduzido pelos franceses, os primeiros colonizadores da região no século XVII.

Entre o imenso colorido sobressaem o dourado, que significa poder, o verde, que significa fé, e o roxo, que significa justiça. Os inevitáveis cortejos são muitas vezes acompanhados pelas igualmente inevitáveis bandas de sopro características da comunidade negra local.

As paradas, com muitas máscaras de gesso e todo o tipo de trajes, incluem símbolos muito específicos, como a flor-de-lis e os colares de contas. Estes, das mais diversas cores e tamanhos, atraem toda a gente, que os oferece e recebe para logo serem colocados ao pescoço.

As continhas de cores podem ter um efeito mágico: muitas vezes, quem as oferece pode ter direito a ver o peito (ou até o rabo) de quem recebe. Aconselha-se, é claro, alguma prática de avaliação prévia, porque a experiência pode ser traumática. Excepto se for pura perversidade: é Mardi Gras, ninguém leva a mal!

 

 

 

 

 

Eis mais um vibrante Carnaval famoso, mas ignorado por cá, neste país do Entrudo violado pelo samba tiritado ao ritmo da chuva e onde não faltam estádios prontinhos para virar sambódromos. O certo é que ninguém lhes descobre outra serventia, mas não há quem se preocupe: preocupante é a intolerância de ponto...

(Repescado aqui)

Carnaval

José António Abreu, 06.02.12

1. Também estaríamos a criticar o governo se tivesse concedido a tolerância de ponto.

 

2. Nas rádios e televisões, presidentes de Câmara, comerciantes e responsáveis por desfiles carnavalescos garantem que a inexistência da tolerância de ponto na Terça-Feira de Carnaval é má para a economia. Bom – para a das localidades em que vivem, com certeza. Para a do país, se esquecermos eventuais vantagens de mais um dia de trabalho, é irrelevante: o dinheiro ficará noutros bolsos, certamente não mais ricos, e será gasto noutras coisas. A menos que alguém consiga provar que o nosso Carnaval, essa imitação pindérica do Carnaval brasileiro, traz milhares de turistas estrangeiros ao país.

Louçã, o Rei Momo de 2012

Rui Rocha, 05.02.12

A tradição já não é o que era. Já se sabia. Agora o que não se esperava é que Jardim, candidato natural a rei de todos os carnavais, fosse destronado no Entrudo de 2012 por Francisco Louçã. Todavia, esta frase permite entronizá-lo como Rei Momo indiscutível dos carnavais deste ano:  “A existência de uma tolerância de ponto, de um dia em que não se trabalha no Carnaval, é um direito das pessoas, não é um baile, é um direito das pessoas fazerem o que querem, é um dia em que não são obrigadas a trabalhar de graça pela força do Governo”. Não se trata do acto revolucionário de exigir o respeito pelos direitos adquiridos. Não. Agora entramos numa fase mais avançada da luta. A do respeito pelas tolerâncias adquiridas. A tolerância é um direito. Se tudo correr bem, a expectativa, mesmo a mais carecida de protecção, vai tornar-se um dia um direito potestativo. No mínimo, será protestativo. Saliente-se, entretanto, que o Carnaval não é um baile. Registado. Não sei bem o que será. Mas, qualquer mente progressista, com um lenço tipo Arafat ao pescoço, estará em condições de afirmar que é uma manifestação cultural. O Estado paga 50.000.000 por ano para subsidiar filmes que são vistos por 2.000 pessoas? Então o Carnaval, cultural como só ele, também deve ser subsidiado. Para quê? Para investir em carros alegóricos, pagar aos cabeçudos e dar umas mamas novas (que não sejam PIP) às gajas despidas que vão nos cortejos a bater o dente. Mas, a vertigem destrambelhada continua:  o Carnaval é um dia para as pessoas fazerem o que querem. Por exemplo, Louçã quer armar-se em patarata com pose e pretensão moralista. Pode. É Carnaval. Ninguém leva a mal. O problema não está no que faz nesse dia, mas no que diz ao longo do resto do ano. Entretanto, para o final está reservado o melhor: as pessoas são obrigadas a trabalhar de graça pelo Governo. Claro que alguém que não pretenda andar disfarçado de palhaço responderá que as pessoas têm um salário mensal. E que, se é assim, cada uma delas que vai ao Carnaval está a obrigar quem lhes paga a que o faça sem a contrapartida natural: o trabalho. Aliás, como o David Levy refere, por cada dia de tolerância, o Estado paga 700.000 dias de salário para nada receber em troca. 700.000 dias de salário para financiar o Carnaval de Ovar, de Loulé, do Funchal e do CaraçasMaisVelho. A menos que me queiram convencer que 1 dia de trabalho de 700.000 funcionários públicos não tem utilidade, a conta sai baratinha. Ainda veremos alguém decretar Carnaval todo o ano para estimular a economia. Ou me engano muito, ou será Louçã.