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Delito de Opinião

Se os velhos não vão ao Amorim, o Amorim vai a Fátima

Rui Rocha, 09.09.13

 

Num discurso memorável, proferido em 25 de Abril de 2013, em plena Assembleia da República, o espaçoso Amorim, esse que como se comprova na imagem nem Gaia pode parar, deixou à posteridade, para além de tudo o mais e de uma citação de Habermas bem jeitosa (ah pois é!), dois fabulosos páragrafos que incluem uma desafiante questão:

Numa imagem erradamente atribuída a Benjamin Franklin, a democracia formal é vista como uma votação em que dois lobos e um cordeiro decidem qual será o seu almoço – a fábula costuma ensinar que a liberdade consiste em dotar o cordeiro de instrumentos capazes de impedir a decisão óbvia, valorizando o papel da liberdade como meio de defesa das minorias e dos mais débeis.

Só que resta um problema a solucionar – afinal, qual será o almoço? É precisamente aí que o consenso encontra o seu papel primordial na ordem democrática. Sobretudo, em épocas de aflição coletiva como aquela em que estamos. 


Pois bem. A questão está respondida. O tal almoço era em Fátima. E, embora a notícias não esclareça, é bem provável que o prato principal tenha sido cordeiro. 

"Magrebinos"

jpt, 22.05.13

 

Carlos Abreu Amorim, bloguista no Blasfémias e político, é um andrade. No twitter celebrou (mais um ...) título do seu clube e chamou-nos, aos adeptos do Benfica e de clubes do Sul (um Sul tão próximo, já agora), "magrebinos", termo com requebros de particular perversão pois denotando maior "estrangeirice" do que o habitual "mouros", dado que estes chegaram a povoar a Península e, por vezes, ainda "andam pela costa".

A reacção, à esquerda e à direita, a sul e norte, ao facebook e aos blogs, foi abespinhada. Inúmeros ademanes adversos ao "muro do Mondego" assim proposto, ao que pareceu. CAA já veio lamentar que lhe tenham descontextualizado o dito, que diz ter sido qualquer coisa como "piada infeliz". Presumo que o fez por ser político, de não se sentir em situação de enfrentar coros alheios, má propaganda, por motivos destes.

Mas o óbvio é que são reacções toleironas. De gente incapaz de entender o registo de "invectiva" no futebol, jocosa, pacífica, o cutucar fraterno, amigável, social. Um registo que, mesmo que às vezes exasperante (nas super-derrotas), não vale pelo seu valor "facial", aparente, pois "faz parte" da festa comum, da comunhão. E que assim é entendida no contexto.

Desentendem isso os marginais culturais,  os "sobre-futebolizados", essa figura vazia do "holigão" que inverte esse registo e parte para a real confrontação. E, pelos vistos, outros marginais culturais, nichos de vozes públicas. Também elas "sobre-futebolizadas". Incapazes de entender o que as rodeia. Mas perorando, claro.

Ao ler sobre o "affaire CAA" não pude deixar de me lembrar da cena que acima coloco, uma pérola, um cume de reflexão. Não será exactamente o mesmo caso de entre-identidades, assim constituídas, mas com toda a certeza que uma ligeira transposição poderá esclarecer os esclarecíveis. 

 

[Em nota, antevendo comentadores mais mal-dispostos. Não conheço CAA. Sei que é candidato à câmara de Gaia, processo no qual é apoiado por Luís Filipe Menezes, que o anunciou como seu "único verdadeiro herdeiro". Basta-me esse apoio  para lhe desejar, sinceramente, o insucesso eleitoral. E, para além disso, que mantenha o seu humor.]

Precisávamos tanto de ser salvos e o melhor que arranjámos foi o Carlos Abreu Amorim

Rui Rocha, 11.05.13

Estávamos todos desesperados por ser salvos por Carlos Abreu Amorim. Carlos Abreu Amorim não é um pássaro. Nem é o super-homem. É um porta-aviões. Que estacionou ao largo da nossa democracia, ali por alturas de Angeiras, e está prontinho para nos resgatar. Há políticos com espessura. Carlos Abreu Amorim tem volume. Há políticos com sentido de estado. Calos Abreu Amorim é um estradista. Meu Deus, os quilómetros que este homem não terá feito entre Viana onde foi eleito deputado e Gaia onde se candidata a já nãoseibemoquê. Há políticos abrangentes. Carlos Abreu Amorim é espaçoso. Há  políticos com faro. Carlos Abreu Amorim tem tacto. E eu sou um piano de cauda. Há animais políticos. E há Carlos Abreu Amorim. Se Carlos Abreu Amorim  podia ter prolongado uma enormíssima carreira em alguma das menos prestigiadas instituições universitárias do país? Se podia ter guardado a exclusividade da sua inigualável veia de contorcionista para as águas profundas de um escritório de advogados tripeiro, fazendo ouvir, esporadicamente, a sua voz tronitruante na barra de um Tribunal de Paredes ou de Gondomar? Podia. E seria exactamente a mesma coisa. Na academia, na barra ou até num ancoradouro. Carlos Abreu Amorim seria igual a si próprio, variando conforme as circunstâncias, sempre com a mesma convicção, falando de cátedra sobre o estilicídio, o produto interno bruto (não podia ser outro) do município de Móstoles nos arredores de Madrid ou um par de botas e respectivos cordões. Hoje com o tiroliroliro, amanhã com o tiroliroló, sempre a bombar na concertina. Estávamos desesperadamente a precisar de ser salvos por Carlos Abreu Amorim. O problema é que não sabíamos e continuamos a não saber. Desgraçadamente, a oportunidade vai perder-se por falta de colaboração da nossa parte. É sempre assim neste país. Agora, só há uma possibilidade de Carlos Abreu Amorim cumprir o seu fabuloso destino. Pode sempre doar a coluna vertebral à ciência e as cordas vocais à coerência.