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Delito de Opinião

Quiz anti-capitalista

Paulo Sousa, 12.05.23

Um teste para os nossos prezados leitores. Quem disse esta frase?

“A economia liberal, que nos deu o supercapitalismo, a concorrência desenfreada, a amoralidade económica, o trabalho mercadoria, o desemprego de milhões de homens, já morreu.”

 

A – Vasco Gonçalves, 1976

B – Bernie Sanders, 2008

C – António Salazar, 1934

D – Josip Tito, 1948

E – Benito Mussolini, 1936

F – Joana Mortágua, 2011

Ensaiando uma explicação serena sobre uma confusão recorrente

Tiago Mota Saraiva, 17.11.15

Depois de vário comentadores do Delito colocarem nas caixas de comentários as suas certezas sobre a equiparação do comunismo ao nazismo/fascismo, José António Abreu também o fez aqui. De uma forma serena e sem ser preciso um tratado diria que, para comparar, nos devemos entender sobre o terreno da comparação.
Se optarmos por fazer a comparação pelo número de mortes causados, suponho que o capitalismo também entrará a jogo e vencerá de uma forma avassaladora, por isso não pode ser. Se o fizermos pelas suas expressões práticas e qualidades das respectivas democracias - recordando que nenhum país no mundo alguma vez se declarou como um estado comunista - também creio que é de difícil comparação até porque nenhum estado nazi/fascista pretendeu ter práticas democráticas e, mais uma vez, temos de colocar na equação muitos estados-exemplo das práticas do capitalismo. 
Assim sendo, creio que o único campo em que podemos colocar esta comparação é do ponto de vista teórico-ideológico. Nesse campo, o nazismo/fascismo é uma ideologia que não perfilha a libertação do homem, mas a vitória perante outros. Mais, o comunismo foi, ao longo da história, quem mais combateu (e continua a combater) o nazismo/fascismo para que pessoas como eu ou o José António Abreu possamos, em liberdade, escrever no mesmo blogue o que bem entendermos.

Mal passado, por favor

José Navarro de Andrade, 09.11.12

 

Afinal em que ficamos?

Quando um bispo profere uma diatribe contra o capitalismo, a esquerda aplaude a mãos ambas.

Quando Isabel Jonet, talvez com excessiva candura, diz a mesma coisa embora a partir de outro ângulo, cai o Carmo e Trindade.

Um das razões porque o actual Papa merece toda a consideração ideológica de quem se lhe opõe, é porque ele, brilhante teólogo, colocou as coisas em pratos limpos: a Igreja Católica nunca se acomodou nem se acomodará aos princípios do Iluminismo. Alguns desses princípios, aliás de vincada índole protestante, são a legitimidade da acumulação da capital – os judeus, lembram-se? –, a certificação do esforço individual, a bondade da progressão social.

Além da Fé e da Esperança, a Caridade integra o motto do catolicismo. A frugalidade, a temperança, são os valores que devem levantar-se contra o consumismo desenfreado. A parcimónia e a modéstia opõem-se à especulação e ao enriquecimento, os quais, cegam a virtude e roçam a imoralidade. A gratidão e a obediência, são barreiras à propensão capitalista para o tumulto e àquela nefasta espécie de inquietação social que faz os homens quererem sempre ter mais do que já têm. Sim, quanto mais conservador é o discurso clerical, mais se assemelha às bandeiras de uma certa esquerda portuguesa. Tão arreigado quanto isto é o pior da herança salazarista que persiste em não desaparecer, tão amplo quanto isto é o arco nacional contra a livre iniciativa.

Isabel Jonet limitou-se a reiterar os valores morais que sempre defendeu, os quais costuma pôr em prática com boa-fé e boa-vontade. Para quem nunca os partilhou, embora considere louváveis os resultados, qual é a surpresa?

A sociedade consumista e desumanizada que nunca fomos

Rui Rocha, 09.11.12

Julgava eu que vivíamos numa sociedade capitalista. E que uma das características das sociedades capitalistas era o consumo desenfreado concretizado na compra indiscriminada induzida pelo marketing, pela propaganda e pela publicidade, formas estas de manipulação de massas indefesas. E que só esse consumismo exacerbado permitiria ao capitalismo retroalimentar-se, sempre numa busca incessante e voraz de novas vítimas do modelo de exploração. A inovação, a vertigem tecnológica, o lançamento de novas séries, o re-styling, os ciclos cada vez mais curtos de obsolescência,  tudo isto teria, supunha eu, uma lógica capitalista subjacente. Com a consequente maximização do lucro das empresas à custa de todos quantos, seduzidos pelo bombardeamento de apelos à compra do desnecessário, do supérfluo, do redundante, acabariam por funcionar como uma enorme e proletarizada população de ratinhos que teria como única missão impulsionar com as respectivas patinhas a giganteca roda da exploração. Mais, estava convencido de que tudo isto teria um nexo de causalidade com o aquecimento global, a escassez de recursos não renováveis, a poluição, a acumulação de lixos oceânicos e todo um vasto conjunto de ameaças e desastres naturais. E que, no final da estrada deste capitalismo sem freio estaria a proletarização e o empobrecimento dos iludidos, subjugados à força pelo consumismo e pelo engodo do crédito fácil concedido por banqueiros ávidos, e o esgotamento dos recursos. Pobre de mim, pensava que consumir acima das possibilidades individuais e colectivas eram a  essência mesma e a sustentação do modo de ser capitalista, ainda que fossem também a semente da sua própria destruição, uma e outra vez anunciada. E que a crítica ao modelo era um património reclamado por uma certa esquerda. Depois, ouvi Isabel Jonet dizer umas tontices sobre consumismo exacerbado e a necessidade de fechar a torneira quando se lava os dentes que, se virmos bem, reproduzem esse diagnóstico dos vícios e desvios do sistema capitalista. E vi gente que se proclama de esquerda a esquartejá-la sem piedade, atirando-se-lhe aos bofes como ela se atirou aos bifes. Concluo, portanto, que Portugal é uma ilha. Que num mundo que consome como se não houvesse amanhã, fomos capazes de nos manter puros e contidos, frugais e amigos do ambiente, apesar da cupidez dos banqueiros e da codícia dos grandes grupos empresariais. E que todos aqueles que passaram anos a criticar uma sociedade consumista e desumanizada estavam afinal enganados. Tudo está bem quando acaba bem.

Michael Moore, o homem que doou mil perus

Rui Rocha, 29.10.11

 

O mundo organiza-se a partir do princípio da simplicidade. E os instrumentos que permitem concretizar a simplicidade são uma classificação bipolar e um lápis. O lápis serve-nos para desenhar um risco. A classificação  bipolar serve para situar a realidade face ao risco que desenhámos. Bom e mau, esquerda e direita, branco e negro, norte e sul, pobre e rico e tantos outros pares que nos são úteis na nossa relação com o mundo. Ora, o movimento Ocuppy Wall Street utiliza também este método de abordagem. O lápis do OWS desenhou a fronteira: 99% de um lado, 1% do outro. Simples, não é? É. Depois, é só distribuir os americanos pelo lado do risco que lhe corresponde. Simples, não é? É. E assim se fez. Michael Moore, o conhecido documentarista, colocou-se, naturalmente, do lado bom do risco. O dos 99%. Simples, não é? É. Pois, e participou nas manifestações e tudo. Então a história acaba aqui. Grato pela V/ atenção. Aum... o quê? O Michael Moore tem rendimentos e património que o colocam do lado do risco que corresponde ao grupo do 1%? A sério? Ah, negou que assim fosse. Então está tudo bem. Aum... o quê? Ah, acabou por admitir. Pois, pois, pois. E os seus rendimentos colocam-no no grupo restrito dos 10% mais ricos dentro da malta do 1%? Bem, bem, bem. Ah, mas já fez um post a explicar tudo que até já foi traduzido no Esquerda.net? Então, tudo está bem quando acaba bem, não? Ufa! Óptimo. Já agora, vamos só ver o que ele diz. Ah! Vendeu à Warner Bros. os direitos de distribuição de um filme por 3 milhões de dólares. Boa camarada. E o que fez com o dinheiro? Muito bem. Pagou impostos, pagou dívidas, criou uma fundação, deu algumas prendas a familiares e amigos, fez ofertas meritórias, comprou uma moto e um apartamento em Manhattan... Espera, isto parece uma fábula do capitalismo, caramba, cruzes credo. Não? Ah, pois. Também doou mil perus no dia de Acção de Graças. Pronto, assim já fica tudo muito mais claro. Jamais um capitalista faria uma doação de mil perus. E, embora o post de Michael Moore não esclareça, é certinho que, a partir daí, fez exactamente o mesmo sempre que recebeu dinheiro pelos seus direitos de autor (que são, como se sabe, uma genial invenção socialista). Claro, claro, claro. Pois, enfim, não sei camaradas. Mas, confesso que, apesar de tudo, estava muito mais entusiasmado quando comecei a escrever o post. Parecia-me tudo tão simples. Mesmo com a coisa dos mil perus, confesso que isto já não me parece tão claro como fazer um risco no chão e colocar as pessoas de um lado ou do outro. Bom, mesmo bom, era que o Michael Moore fosse realmente pobre. Ou, quando muito, remediado.