Da série "Grandes Capas"
The New Yorker, edição de Novembro
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The New Yorker, edição de Novembro
The Independent, 7 de Outubro
The New Yorker, 19 de Agosto
Em manchete, o JN destaca o essencial sobre o esbulho fiscal - uma das causas essenciais da nossa estagnação económica e da emigração contínua de jovens qualificados
O Público acena na capa com uma "solução": ainda mais impostos. Neste caso «sobre super-ricos». Haverá alguns no maior grupo privado português, proprietário do jornal?
Algumas capas de revista funcionam como editoriais. Sem sequer necessidade de imprimirem palavras. Esta, da Economist, surgiu a 6 de Julho com o título «Não é maneira de dirigir um país». Nela não figura o rosto de Joe Biden, nem isso é necessário: todos captam de imediato a mensagem. Cruel, sem dúvida. E dolorosa. Um andarilho com o selo presidencial dos Estados Unidos. Que andam muito desunidos. A tal ponto que não falta quem fale em guerra civil de baixa intensidade e até num novo processo separatista, semelhante ao que em 1860 levou à sangrenta secessão dos Estados sulistas. Com as armas viradas para dentro, não para fora.
É óbvio que Joe Biden deixou de reunir condições físicas e anímicas para concorrer a novo mandato de quatro anos naquele que é o mais desgastante cargo político do planeta. Já assim era antes do seu patético desempenho no frente-a-frente televisivo com Donald Trump e dos disparates em catadupa que foi debitando na recente cimeira da OTAN, em Washington. Em Novembro - mês do próximo escrutínio presidencial - terá 82 anos. Idade mais do que suficiente, em qualquer parcela do mundo civilizado, para um cidadão usufruir da reforma a que tem pleno direito. Por todos os motivos, incluindo este, é o momento de dar lugar a alguém ainda jovem. Convém recordar que até hoje o mais idoso inquilino da Casa Branca foi Ronald Reagan: tinha 78 anos incompletos quando cessou funções.
Esta reflexão, repito, já era necessária antes da tentativa de assassínio de Donald Trump, sábado passado, na Pensilvânia. Desde então, tornou-se imperiosa. Aquela saraivada de tiros de que o antecessor de Biden escapou à tangente, quase incólume, alterou todo o clima psicológico da vida pública nos EUA, com inevitáveis reflexos na pré-campanha eleitoral. O recandidato republicano beneficia agora de evidente dinâmica de vitória. Um político caduco contra um proto-mártir: o tabuleiro tornou-se muito desequilibrado. A mudança no campo democrata é quase obrigatória. As pressões nesse sentido vão-se acentuando, como ficou patente ao longo do dia de ontem.
Neste contexto, a capa da Economist, tão cruel para Biden, tem forte carácter premonitório. Antecipa o que acabará por acontecer tão cedo quanto possível. Antes que seja tarde de mais.
O que levará um romance estrangeiro há décadas no mercado português com um título já consagrado a regressar não apenas com nova tradução mas também com novo título, como se fossem livros diferentes?
Pode tratar-se do radical abandono da metáfora, entretanto tornada expressão idiomática, a favor da tradução literal agora tão em voga - como aconteceu com O Triunfo dos Porcos, de George Orwell, popularizado sob esta designação na década de 70, quando foi um sucesso de vendas da editora Perspectivas e Realidades (com uma capa muito expressiva desenhada por Augusto Cid), e reaparecendo já este século, na Antígona, como anódina Quinta dos Animais.
Pode dever-se ao trabalho sobre um manuscrito diferente, como sucedeu com o clássico O Zero e o Infinito, de Arthur Koestler (um dos melhores romances universais do século XX), que adoptou tal nome por decalque da versão francesa, ainda nos anos 40, e o manteve em 1979, sob a chancela Europa-América, reaparecendo em 2022 com título bem diverso - Eclipse do Sol - na editora Livros do Brasil, a partir do original alemão, que durante décadas andou desaparecido, em vez da livre tradução inglesa elaborada pelo próprio autor.
Entendo isto. Custa-me muito mais entender por que motivo O Templo da Aurora, de Yukio Mishima, regressa cerca de 40 anos após a versão original em português, agora intitulado O Templo da Alvorada, com chancela editorial Livros do Brasil. Aqui há mera troca de sinónimos numa palavra, mas basta para parecerem obras diferentes - e ambas coexistem, pois a anterior, com rótulo da Presença, mantém-se no circuito de livros usados.
Percebo que um tradutor queira imprimir o seu cunho pessoal no material literário que lhe chega às mãos. Percebo menos - excepto por mera estratégia comercial - que a aurora passe a alvorada só porque sim. Transmitindo ao leitor mais distraído a ilusão de tratar-se de algo diferente quando está perante a mesma obra, num eventual exercício de publicidade enganosa.
Será o caso, neste terceiro exemplo. E, se o for, parece mal.
Não há fome que não dê em fartura. Durante longos anos, a obra de André Gide esteve ausente do mercado editorial português apesar de ser um escritor galardoado (em 1947) com o Prémio Nobel da Literatura. Sublinho: da Literatura - e não de Literatura, como agora é moda grafar-se copiando os brasileiros. Fuga sem sentido à norma, pois não dizemos Nobel de Economia nem Nobel de Paz.
De repente, as livrarias são inundadas por títulos de Gide, vários dos quais inéditos. Motivo: a obra deste autor, falecido em 1951, acaba de passar para o domínio público. Tal como tinha sucedido há meses com George Orwell. Editá-lo tornou-se mais fácil e muito mais barato.
Inverte-se a situação: antes havia escassez, agora há excesso.
Só o romance O Imoralista, publicado originalmente em 1902, acaba de gerar três versões quase simultâneas em Portugal. Reproduzo aqui as capas das editoras E-primatur, Cavalo de Ferro e Minotauro.
Há muito que sublinho a importância de uma boa capa para valorizar um livro. Lamentavelmente, é uma arte que parece condenada à extinção: hoje basta pesquisar-se num banco de imagens na internet e recolher uma fotografia - com frequência do próprio autor - para fazer de conta que existe capa. A ilustração deixou de ser regra: tornou-se excepção.
Uma verdadeira capa atrai, não afugenta. Capta a atenção por ser diferente, não banaliza nem vulgariza. Até porque, em boa medida, a arte pode - e deve - começar logo aí. Como instrumento de sedução.
Cada leitor que julgue por si, dizendo qual destas capas do mesmo livro prefere.
Libération, hoje
É isto.
Primeira página do diário espanhol Marca, hoje
Primeira página do jornal A Bola, ontem
Em jornalismo, quase sempre, menos é mais. Lembrei-me desta frase, inspirada no lema artístico de um célebre arquitecto, quando vi aquela que considero a melhor capa de revista deste amargo ciclo anual prestes a chegar ao fim. A da edição dominical do El País.
Uma capa em que a fotografia diz tudo, surgindo acompanhada de uma data que funciona em simultâneo como título e legenda. A foto transpira autenticidade e tem cunho universal: foi captada em Espanha, mas poderia ter sido em muitos outros países igualmente golpeados pelo coronavírus que nos envolveu num cortejo de luto e dor.
A carga emotiva desta imagem torna irrelevante qualquer palavra. E nem é preciso situá-la no espaço: basta enquadrá-la no tempo. Quatro caracteres bastam: 2020. Ano de pesadelo.
#FERA, ODIADO E DO MAL - proclama em caixa alta esta capa da revista brasileira Veja, de 27 de Abril de 2016.
Não consigo identificar de imediato a cara da pessoa que aqui aparece em grande plano. Mas faz-me lembrar alguém.
Quem pode esclarecer-me?
Jornal de Notícias: Caxinas preparam homenagem a Hélder Postiga.
Público: saiba como as políticas da igualdade de género aplicadas na Suécia contribuíram decisivamente para o resultado de ontem.
Correio da Manhã: a noite louca de Ronaldo depois da derrota em Estocolmo.
Diário de Notícias: Soares acusa governo de massacrar o meio-campo da selecção.
I: conheça a história do carteiro de Helsingborg que pedala seis horas por dia, treina duas vezes por semana e derrotou Portugal com um pontapé de bicicleta.
O Jogo: Pinto da Costa completamente recuperado.
SOL: Durão Barroso na calha para ocupar cargo de seleccionador.
Expresso (edição do próximo Sábado): selecção nacional apura-se para o mundial do Brasil - ver desenvolvimento na última página e análise de Nicolau Santos no caderno de economia.
Um dia destes, quando parar de chover, lanço aqui uma série sobre capas de livros, a partilhar com os colegas de blogue que queiram juntar-se a ela. Hoje, à laia de prelúdio, deixo as capas das edições portuguesas de Paul Auster (chancela ASA). Cada uma delas é uma pequena obra de arte.