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Delito de Opinião

Pela luz dos olhos teus

Pedro Correia, 27.12.18

 

Interpretou algumas das mais belas canções que conheço no nosso idioma. Muito mais do que «a irmã de Chico Buarque» ou do que «a mãe de Bebel Gilberto», como era geralmente conhecida, destacou-se na criação ou recriação de temas que jamais esqueceremos - como Triste Alegria, Maninha, Vai Levando e sobretudo o sublime Pela Luz dos Olhos Teus, que registou em inúmeros espectáculos ao vivo e num célebre disco com Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes.

Desse fabuloso trio - Vinicius, Jobim e Miúcha - só ela restava. Morreu hoje, aos 81 anos. Presto-lhe esta singela homenagem, enquanto ouvinte comovido e agradecido, convicto de que a sua voz ressoará para a eternidade.

Praia de Ipanema

Francisca Prieto, 18.12.15

Na praia de Ipanema

Passa Luísa no embalo da brisa

Passa José queimando o pé

Lá vai Juracema com carga pequena

Segue serena como Milena.

O sol abrasa na beira da esteira

Uns carregam a vida

Outros vão de bobeira.

 

Canta-se o mate, empadinha ou pastel

Agora de queijo, depois de mel.

Rostos curtidos por vezes aflitos

Vendem biquinis ou panos bonitos

Tatuam imagens, vendem massagens

Praia imensa, festa de Babel.

 

Horácio pensou e logo inventou

Que sem mercadoria p’ra desfilar

E precisando de grana para o jantar

Lhe sobrava somente o violão.

Dedilhou três acordes, soltou vozeirão

Juntou três versos de afeição

E numa fome de poesia ou alento

Gritou sua alma p’ra ganhar seu sustento

 

Madame Olívia, granfina astuta

Mandou chamar o pobre trovador

Pediu que cantasse canções de amor

E Horácio coitado, rezou ao Senhor

P’ra camuflar seu dissabor.

Por qualquer inspiração divina

Abriu em nota cristalina

E em todo o posto se fez esplendor.

 

Para casa levou uns trocados

No bolso velho já em retalhos

Madame Olívia, por sua vez

Logo esqueceu a actuação

Pegou suas tralhas num saco dourado

Deixou pela areia aquela canção

 

É assim a praia de Ipanema

Uns vão levando a vida

Outros carregam problema

 

As canções de Dezembro

Pedro Correia, 30.11.15

É oficial: a série Canções do Século aproxima-se a passos largos do fim. Após quase seis anos de inexistência ininterrupta.

Houve sempre música, dia a dia, noite a noite, aqui no DELITO. Em momentos de alegria, em momentos de tristeza. Música de todo o género e para diversos gostos. Música de várias proveniências mas que deixou rasto no século XX - de 1902 (a mais antiga) até 1999.

É minha intenção encerrar esta série em grande, com um conjunto de canções especialmente memoráveis. Não podendo faltar alusões especiais, neste mês de Dezembro, a dois gigantes da música popular, que nasceram vai fazer cem anos: Edith Piaf e Frank Sinatra.

Aguardarei outras sugestões vossas. Com a disponibilidade de sempre.

As canções de Novembro

Pedro Correia, 31.10.15

Outono adiante, com mudança de hora e novo ciclo político em perspectiva. Chega Novembro e prossegue o desfile das Canções do Século. Desta vez com a promessa de passarem por cá Billie Holiday, Lena Horne, Chavela Vargas, K. D. Lang, Anita Baker, Shirley Horn, Ibrahim Ferrer, Bob Dylan, Elvis Presley, Van Morrison e Carlos Gardel, entre outras vozes.

Como sempre, aceito sugestões vossas. Serão bem-vindas.

As canções de Outubro

Pedro Correia, 01.10.15

Algumas virão cá a pretexto da política, como depois se verá. Nem que seja pelo nome. Outras surgirão a propósito do Outono - mesmo que seja um Outono quente, como se anuncia. Hão-de aparecer por aí canções de Jacques Brel, Carly Simon, Billy Joel, Muddy Waters, Billie Holiday, Ray Charles, Sarah Vaughan, Yves Montand.

E outras que quiserem sugerir-me. Estejam à vontade.

As canções de Setembro

Pedro Correia, 31.08.15

Em Setembro - mês de mudança de estação e de intensos debates políticos - passarão por cá vários clássicos da canção em doses diárias: Leonard Cohen, Ella Fitzgerald, Yves Montand, Nina Simone, Frank Sinatra, Aretha Franklin, James Brown, Joan Armatrading, Tony Bennett, Gal Costa e Patxi Andion, entre vários outros.

Como sempre acontece quando muda a folha do calendário, agradeço desde já as vossas sugestões para as semanas que vão seguir-se em que diremos "até sempre" ao Verão e "olá de novo" ao Outono.

As canções de Maio

Pedro Correia, 30.04.15

Começarão ao som dos Bee Gees, com uma canção de que sempre gostei muito. E continuarão com vários outros nomes ilustres: Caetano Veloso, Cowboy Junkies, Elton John, Leonard Cohen, Madonna, Paul Simon, Silvio Rodríguez, Tina Turner, U2. A pretexto das eleições no Reino Unido e em Espanha, haverá um reforço de música inglesa e espanhola.

E haverá também as sugestões que aqui me quiserem deixar. Sugestões que agradeço desde já.

As canções de Abril

Pedro Correia, 31.03.15

Este mês que vai começar terá por cá vários nomes bem conhecidos da canção do século XX, de géneros muito diferentes. Eis alguns: Bob Dylan, Carmen McRea, Julie Andrews, Kate Bush, Marlene Dietrich, Nat King Cole, P. J. Harvey e Rudy Vallee.

Por alturas do 25 de Abril virão John Lennon e Joan Baez, nomes incontornáveis da canção de protesto.

Mas antes haverá temas de algum modo relacionados com a Páscoa - a primeira quadra festiva do mês.

E como sempre agradeço as sugestões que queiram dar-me.

As canções de Março

Pedro Correia, 28.02.15

As sugestões têm sido tão variadas e tão boas que decidi prolongar um pouco mais esta série, que devia terminar a meio do ano mas vai prolongar-se até ao final de 2015. Decisão que acabei de tomar agora.

Em Março teremos por cá Ella Fitzgerald, Billie Holiday e Ketty Lester, entre as senhoras, e Elvis Presley, Carlos Gardel e Buddy Holly, entre os cavalheiros. Enquanto continuo a aceitar as vossas sugestões musicais, naturalmente. Porque estas Canções do Século XX não são minhas. São nossas.

As canções de Fevereiro

Pedro Correia, 31.01.15

Muda o mês mas a série prossegue, embora já na recta final. Entre as Canções do Século de Fevereiro, que pretendo cada vez mais representativas - em popularidade e qualidade - do que foi o século XX em matéria musical incluirei pelo menos quatro relacionadas de algum modo com o Carnaval, respeitando o espírito da quadra. E para os restantes 24 dias? Agadeço antecipadamente as vossas sugestões, nesta caixa de comentários ou para o meu endereço electrónico. Na certeza de que todas serão acolhidas. Ou já este mês ou noutra data próxima.

As canções de Janeiro

Pedro Correia, 07.01.15

Já perto da recta final da série, As Canções do Século vão centrar-se ainda mais em temas clássicos, muito conhecidos pelo menos em determinada fase do século XX e de qualidade comprovada - dentro da variedade de géneros e épocas que foi estabelecida desde a canção nº 1, que aqui trouxe há cinco anos.

Aproveito para reiterar o pedido de sugestões da vossa parte para novos temas musicais que se enquadrem nesta série. Serão todas bem-vindas.

As canções de Dezembro

Pedro Correia, 30.11.14

Série ininterrupta com maior longevidade da blogosfera portuguesa, que assinala o início de cada dia aqui no DELITO DE OPINIÃO, As Canções do Século aproximam-se do fim. Mas haverá ainda um pouco mais de duzentos temas musicais até à melodia do adeus. E faço questão que sejam temas de qualidade irrepreensível, de modo a que a despedida ocorra em beleza.

Em Dezembro, tal como vem sucedendo desde 2010, não faltarão temas alusivos à época natalícia e aos dias subsequentes que nos separam do novo ano.

Mas aproveito precisamente a mudança do mês para vos pedir mais sugestões.

Quais as vossas canções (não portuguesas) preferidas do século XX que gostariam de ver por cá? Todas as sugestões - prometo - serão acolhidas.

As canções de Novembro

Pedro Correia, 31.10.14

Série ininterrupta com maior longevidade da blogosfera portuguesa, que assinala o início de cada dia aqui no DELITO DE OPINIÃO, As Canções do Século surgirão em Novembro com um formato especial: todos os temas musicais terão nomes de mulher. É uma forma de homenagear as nossas leitoras, que muito colaboram com sugestões, comentários e palavras de incentivo.

A série, iniciada a 1 de Janeiro de 2010, vai prosseguir até ao próximo Verão. Algumas das melhores canções do século virão no fim. E desde já vos peço sugestões sobre as que mais gostariam de ver aqui. Até porque tenciono fazer uma série complementar a esta que possa reflectir os gostos de quem nos lê, há muito ou pouco tempo.

Aguardo essas sugestões, nas caixas de comentários das próximas Canções do Século ou para o meu endereço electrónico. Porque o DELITO será tanto melhor quanto mais for interactivo, estou certo disso.

France Gall e os lollipops

Adolfo Mesquita Nunes, 29.01.13
A razão pela qual cheguei a France Gall é suficientemente ridícula para que a deixe para outra ocasião. Mas foi nesse momento, em que a vi e ouvi cantar, que começou esta minha - também ela ridícula - queda por cantoras de vozes limitadas, na vertigem da afinação e sempre à beira do abismo. Mas voltemos a France Gall, que é dela que quero falar. Quem a visse cantar as músicas de Serge Gainsbourg, ainda adolescente e com ar inconsciente, não podia deixar de perguntar: mas sabe ela o que está a cantar, percebe ela o significado das coisas que o Gainsbourg lhe escrevia para cantar?

O duplo sentido das canções de Gainsbourg era evidente, sobretudo quando coladas a uma ninfeta como Gall. Mas mesmo que não fosse evidente, seria sempre presente. E bastava saber que vinham de Gainsbourg para que a certeza se instalasse: estas letras dizem muito mais do que a mera literalidade. E France Gall, sabia? Quando, ninfeta, lambia lollipops em Les Sucettes, sabia o que estava a fazer? Sabia a imagem que emprestava a pedaços de letra como este: Lorsque le sucre d'orge, parfumé à l'anis, coule dans la gorge d'Annie, elle est au paradis? E quando, de boca sensual, se dizia uma boneca de cera à mercê de tentações, em Poupée de Cire, Poupée de Son, sabia o que estava a fazer? Sabia o que aquele beicinho ilustrava quando cantava elles se laissent séduire pour un oui, pour un nom?

Na altura em que ouvi pela primeira vez France Gall, algures no princípio dos anos 90 (estas canções são do começo da carreira dela, lá para 1965 e 1966) não havia internet e as perguntas que me fiz, numa altura em que, à conta de uma mãe absolutamente francófona, me iniciei na música francesa, ficaram sem resposta. Há uns tempos lembrei-me de France Gall, não vou dizer a propósito de que outra cantora, e fui procurar a resposta.

Ela está aqui, numa pequena entrevista, que partilho convosco. A ninfeta France Gall não sabia, ou diz que não sabia. Sentiu-se, de certa forma, enganada e traída pelos adultos que a rodeavam, e o momento em que se viu enganada marcou-a para sempre, alterando a forma como via e se relacionava com os rapazes. Curiosamente, esse é o tema de Poupée de Cire..., canção que, ao lado de Les Sucettes, foi banida do seu repertório. Chega a ser comovente a forma como France Gall, em imagens antigas mostradas na entrevista, descreve, alheada, uma letra que contava uma história um pouco mais densa do que aquela de 'rapariga que gosta de lamber lollipops'.

Esta história lança várias discussões (o papel dos adultos que rodeiam jovens cantores, a moralidade de autores como Gainsbourg quando escondem, ou parecem esconder, desses jovens cantores o significado das letras que estes manifestamente não alcançam, etc...), que podem correr nas caixas de comentários. Não quis foi deixar de partilhar esta história, real, que me parece demasiado actual, 40 e tal anos depois. 

É preciso saber...

Helena Sacadura Cabral, 30.06.12

Ora aqui está uma canção que me acompanha há muitos e muitos anos, cuja letra jamais esqueci, porque considero que contém uma autêntica lição de vida, quer sejamos novos, velhos, ou assim assim.
Saber sair a tempo - dos deslizes possíveis, das amarguras eventuais, das falsas alegrias, enfim, daquilo que nos pode tornar infelizes -, é uma escola de vida e meio caminho andado para se ser mais feliz. Há muito que a pratico e não me tenho dado nada mal!