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Somos um colectivo aberto, horizontal e anti-capitalista, dizem eles. A parte do horizontal não se compreende bem porque a Climáximo tem ligações e participa em eventos internacionais, o seu site é excelentemente elaborado, fazendo inveja ao de não poucas empresas e organismos, e vem num crescendo de actividades que implicam coordenação. O que tudo só é possível com financiamento, que não vem certamente dos bolsos dos moços exaltados e das moças com frequência bem compostas que constituem o exército de peões para agit-prop.
Hoje, um “activista climático”, que não se sabe (nem, no caso, interessa muito, é tudo farinha do mesmo saco) se pertence àquele notório grupo terrorista, resolveu atirar uma lata de tinta apropriadamente verde a Luís Montenegro, o qual reagiu fleumaticamente e ficou no estado que se vê na fotografia.
São netos da juventude festiva do Maio de 68. E descontada a falta de ineditismo e originalidade, bem como da solidariedade da classe operária, e perdido o encanto da liberdade sexual, que por adquirida já não serve de bandeira, o processo tem a mesma componente de chantagem exercida sobre os pais que estão em casa: somos jovens, generosos e chanfrados, lemos umas coisas e sabemos mais do que vocês. Portanto, contamos com a vossa tolerância para partir umas montras, bloquear o trânsito e causar todo o tipo de outros estragos, agredir uns quantos bonzos do situacionismo, nomeadamente dirigentes políticos, pendurar os ricos no pelouro da execração pública e explicar às massas que a sociedade ideal está ao alcance delas, desde que sigam os ensinamentos dos gurus do mundo novo.
É tudo igual, portanto? Não, dantes os inimigos eram os costumes conservadores, o ensino assente na rigidez tradicional do mérito académico e, logo a seguir, quando a esquerda viu o furo, os proprietários dos meios de produção e de difusão da informação, bem como o poder político burguês que permitia a reprodução de uma sociedade, achava aquela juventude exuberante, fundamentalmente injusta. Acabada a festa, e com umas eleições que mostraram que os azougados manifestantes não tinham convencido ninguém, estes regressaram às suas carreiras académicas e, concluídas estas, inseriram-se na sociedade burguesa – quase sempre do lado esquerdo.
Dantes. Santos tempos em que havia as guerras do Vietname e a Fria de pano de fundo e em que a esquerda se dividia entre a comunista e a socialista, que não era marxista mas queria um extenso sector público e a centralidade do Estado na regulação da vida, sobretudo económica, das pessoas.
Aquela esquerda não marxista detém o Poder em quase todo o lado, ainda que em recuo, com frequência travestida de centro ou até de direita, o conservadorismo nos costumes ausentou-se para parte incerta e as guerras contemporâneas até há pouco não tinham o risco, como tinha a do Vietname, de a juventude de um país rico ir lá parar com os juvenis costados. Excepto no caso dos Judeus, que todavia não podem beneficiar do estatuto de santidade que tinham os admiradores de Joan Baez.
A esquerda moderna, isto é, a que continua a ser radical mas constata melancolicamente que o marxismo tradicional faliu, precisa de causas – sem elas não há superioridade moral. São inúmeras e encontram-se em toda a relação em que se possa classificar as pessoas entre opressores e oprimidos (os antigos exploradores e explorados). A das alterações climáticas vem a calhar, e pode ainda reclamar-se da “ciência”, no caso a consensual subsidiada para realizar estudos, num processo infernal em que a comunicação social amplifica os perigos e simplifica as análises, a boiada da opinião pública estoura, os eleitos tomam “medidas” para a sossegar e personalidades de relevo cavalgam a onda, no processo adquirindo a autoridade moral e intelectual que nada, nos seus percursos, permitia augurar – caso de Guterres.
A verdade é que não há tempestades como antigamente, dizia-se dantes, e agora diz-se ai credo que nunca houve tantas tempestades, e tufões, e ciclones, e inundações, e incêndios. Porém, não se podem ter impressões sobre o clima, o que se pode é ter impressões sobre o tempo, e mesmo isso com grande grau de irrelevância porque a memória nos trai e além do mais o tempo de uma vida humana, ou quatro ou cinco, compreende grande variabilidade significando nada. Sobre o clima o que se pode é medir temperaturas ao longo do tempo em vários sítios, e para épocas mais recuadas inferi-las através de métodos indirectos. E aqui temos a burra nas couves porque as medições foram sendo afinadas (donde quando se repescam notícias antigas de vagas de calor se diz que as medições não eram rigorosas, como se os instrumentos estivessem sempre mal calibrados no sentido de indicar temperaturas superiores às reais). É indesmentível que em vários momentos históricos, quando ainda não havia consumo de combustíveis fósseis, as temperaturas foram mais altas e mais baixas do que actualmente.
E é por tudo isto ser tão titubeante e discutível, e permitir ao mesmo tempo reforço dos poderes de governos e burocracias, a par do sonho de sociedades alternativas imaginárias, que se transformou numa luta campal direita/esquerda. A primeira é céptica e conservadora, não quer sem certezas absolutas mudar a vida das pessoas para pior, esmagando-as com impostos, aumentos de custos sortidos, restrições de todo o tipo e voluntarismos políticos a esmo; a segunda é dirigista e estatista, e imagina-se superior por o seu coração bater por religiões laicas e bandeiras que possa fazer ondear, que embrulham no que “diz a ciência”. Que não diz nada porque não fala, quem fala são os cientistas. E estes não estão de acordo quanto à gravidade das alterações, quanto às consequências e quanto aos prazos. A impressão que a comunicação social veicula não é esta porque o acolhimento reservado a quem não vê catástrofes para depois de amanhã é frio – não se fazem notícias com base em não-problemas. E, finalmente, cada época tem os seus fantasmas. Para os Gauleses era que o céu lhes caísse em cima da cabeça. Para o eng.º Guterres, e a miúda Greta, que recebeu como se fosse uma miraculada, é que morramos todos assados nuns sítios, e afogados noutros.
E então, quanto a este pequeno patife, igual à restante canalhada da Climáximo, que anda por aí com desmandos que são tratados como se a idade e o fanatismo acéfalo os isentasse do cumprimento das leis que penalizam as agressões e o vandalismo? Daria vontade de lhes dizer que vão tratar da acne, uma doença dermatológica que não é conhecida por conferir particular lucidez. Mas seria pouco e já é mais do que tempo de haver, dentro dos limites legais, consequências sérias. Porque a tolerância guarda-se para as opiniões, não para os crimes à sombra delas, senão estes tendem a ir num crescendo.
O movimento ambientalista tem, na maior parte dos casos, de amor à Natureza, sobretudo o gosto por melancias. Que, como se sabe, são verdes apenas por fora. Mas com desmiolados a prometer terrores se não lhes seguirmos os conselhos podemos bem; com criminosos, mesmo que para já de meia-tigela, não.