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Delito de Opinião

O acne ideológico

José Meireles Graça, 29.02.24

 

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Somos um colectivo aberto, horizontal e anti-capitalista, dizem eles. A parte do horizontal não se compreende bem porque a Climáximo tem ligações e participa em eventos internacionais, o seu site é excelentemente elaborado, fazendo inveja ao de não poucas empresas e organismos, e vem num crescendo de actividades que implicam coordenação. O que tudo só é possível com financiamento, que não vem certamente dos bolsos dos moços exaltados e das moças com frequência bem compostas que constituem o exército de peões para agit-prop.

Hoje, um “activista climático”, que não se sabe (nem, no caso, interessa muito, é tudo farinha do mesmo saco) se pertence àquele notório grupo terrorista, resolveu atirar uma lata de tinta apropriadamente verde a Luís Montenegro, o qual reagiu fleumaticamente e ficou no estado que se vê na fotografia.

São netos da juventude festiva do Maio de 68. E descontada a falta de ineditismo e originalidade, bem como da solidariedade da classe operária, e perdido o encanto da liberdade sexual, que por adquirida já não serve de bandeira, o processo tem a mesma componente de chantagem exercida sobre os pais que estão em casa: somos jovens, generosos e chanfrados, lemos umas coisas e sabemos mais do que vocês. Portanto, contamos com a vossa tolerância para partir umas montras, bloquear o trânsito e causar todo o tipo de outros estragos, agredir uns quantos bonzos do situacionismo, nomeadamente dirigentes políticos, pendurar os ricos no pelouro da execração pública e explicar às massas que a sociedade ideal está ao alcance delas, desde que sigam os ensinamentos dos gurus do mundo novo.

É tudo igual, portanto? Não, dantes os inimigos eram os costumes conservadores, o ensino assente na rigidez tradicional do mérito académico e, logo a seguir, quando a esquerda viu o furo, os proprietários dos meios de produção e de difusão da informação, bem como o poder político burguês que permitia a reprodução de uma sociedade, achava aquela juventude exuberante, fundamentalmente injusta. Acabada a festa, e com umas eleições que mostraram que os azougados manifestantes não tinham convencido ninguém, estes regressaram às suas carreiras académicas e, concluídas estas, inseriram-se na sociedade burguesa – quase sempre do lado esquerdo.

Dantes. Santos tempos em que havia as guerras do Vietname e a Fria de pano de fundo e em que a esquerda se dividia entre a comunista e a socialista, que não era marxista mas queria um extenso sector público e a centralidade do Estado na regulação da vida, sobretudo económica, das pessoas.

Aquela esquerda não marxista detém o Poder em quase todo o lado, ainda que em recuo, com frequência travestida de centro ou até de direita, o conservadorismo nos costumes ausentou-se para parte incerta e as guerras contemporâneas até há pouco não tinham o risco, como tinha a do Vietname, de a juventude de um país rico ir lá parar com os juvenis costados. Excepto no caso dos Judeus, que todavia não podem beneficiar do estatuto de santidade que tinham os admiradores de Joan Baez.

A esquerda moderna, isto é, a que continua a ser radical mas constata melancolicamente que o marxismo tradicional faliu, precisa de causas – sem elas não há superioridade moral. São inúmeras e encontram-se em toda a relação em que se possa classificar as pessoas entre opressores e oprimidos (os antigos exploradores e explorados). A das alterações climáticas vem a calhar, e pode ainda reclamar-se da “ciência”, no caso a consensual subsidiada para realizar estudos, num processo infernal em que a comunicação social amplifica os perigos e simplifica as análises, a boiada da opinião pública estoura, os eleitos tomam “medidas” para a sossegar e personalidades de relevo cavalgam a onda, no processo adquirindo a autoridade moral e intelectual que nada, nos seus percursos, permitia augurar – caso de Guterres.

A verdade é que não há tempestades como antigamente, dizia-se dantes, e agora diz-se ai credo que nunca houve tantas tempestades, e tufões, e ciclones, e inundações, e incêndios. Porém, não se podem ter impressões sobre o clima, o que se pode é ter impressões sobre o tempo, e mesmo isso com grande grau de irrelevância porque a memória nos trai e além do mais o tempo de uma vida humana, ou quatro ou cinco, compreende grande variabilidade significando nada. Sobre o clima o que se pode é medir temperaturas ao longo do tempo em vários sítios, e para épocas mais recuadas inferi-las através de métodos indirectos. E aqui temos a burra nas couves porque as medições foram sendo afinadas (donde quando se repescam notícias antigas de vagas de calor se diz que as medições não eram rigorosas, como se os instrumentos estivessem sempre mal calibrados no sentido de indicar temperaturas superiores às reais). É indesmentível que em vários momentos históricos, quando ainda não havia consumo de combustíveis fósseis, as temperaturas foram mais altas e mais baixas do que actualmente.

E é por tudo isto ser tão titubeante e discutível, e permitir ao mesmo tempo reforço dos poderes de governos e burocracias, a par do sonho de sociedades alternativas imaginárias, que se transformou numa luta campal direita/esquerda. A primeira é céptica e conservadora, não quer sem certezas absolutas mudar a vida das pessoas para pior, esmagando-as com impostos, aumentos de custos sortidos, restrições de todo o tipo e voluntarismos políticos a esmo; a segunda é dirigista e estatista, e imagina-se superior por o seu coração bater por religiões laicas e bandeiras que possa fazer ondear, que embrulham no que “diz a ciência”. Que não diz nada porque não fala, quem fala são os cientistas. E estes não estão de acordo quanto à gravidade das alterações, quanto às consequências e quanto aos prazos. A impressão que a comunicação social veicula não é esta porque o acolhimento reservado a quem não vê catástrofes para depois de amanhã é frio – não se fazem notícias com base em não-problemas. E, finalmente, cada época tem os seus fantasmas. Para os Gauleses era que o céu lhes caísse em cima da cabeça. Para o eng.º Guterres, e a miúda Greta, que recebeu como se fosse uma miraculada, é que morramos todos assados nuns sítios, e afogados noutros.

E então, quanto a este pequeno patife, igual à restante canalhada da Climáximo, que anda por aí com desmandos que são tratados como se a idade e o fanatismo acéfalo os isentasse do cumprimento das leis que penalizam as agressões e o vandalismo? Daria vontade de lhes dizer que vão tratar da acne, uma doença dermatológica que não é conhecida por conferir particular lucidez. Mas seria pouco e já é mais do que tempo de haver, dentro dos limites legais, consequências sérias. Porque a tolerância guarda-se para as opiniões, não para os crimes à sombra delas, senão estes tendem a ir num crescendo.

O movimento ambientalista tem, na maior parte dos casos, de amor à Natureza, sobretudo o gosto por melancias. Que, como se sabe, são verdes apenas por fora. Mas com desmiolados a prometer terrores se não lhes seguirmos os conselhos podemos bem; com criminosos, mesmo que para já de meia-tigela, não.

O Estado a que chegámos

Pedro Correia, 04.02.24

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A Comissão Nacional de Eleições tentou silenciar a livre opinião política procurando impor o absurdo "dia de reflexão" - que a Internet e o voto antecipado tornaram ainda mais anacrónico - à campanha já em curso para a Assembleia da República, a pretexto de que hoje se realizam eleições na Região Autónoma dos Açores. E entendeu divulgar tal decisão apenas dois dias antes do tal dia, que passou ontem.

Fez muito bem a Iniciativa Liberal em manter o evento que anunciara, em Lisboa, para a apresentação detalhada do seu programa eleitoral com a presença de candidatos de todo o País. Não foi um desrespeito pela lei: foi uma afirmação de liberdade, sem condicionamentos inaceitáveis, neste ano em que celebramos o 50.º aniversário do 25 de Abril. Era o que faltava suspender-se a política no país inteiro a pretexto de que nos Açores teria forçosamente de ser assim.

O mais extraordinário, nesta ridícula tentativa da CNE de impor 24 horas sem política em todo o território nacional cinco semanas antes das eleições legislativas, é que o mesmo órgão deliberativo havia emitido decisão oposta poucos dias antes, a 17 de Janeiro. Admitindo acções de propaganda eleitoral fora dos Açores na véspera e no dia das regionais no arquipélago.

É o Estado que temos. É o Estado a que chegámos.

Calma, rotineira e previsível

Pedro Correia, 04.03.20

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Expresso, 18 de Setembro de 2019

 

Lembram-se de um tal Pete Buttigieg, o candidato a quem o Expresso designava há um mês como «o homem na frente da corrida» para derrotar Trump nas presidenciais de Novembro? Abandonou a corrida, renunciando àquele objectivo que parecia ter entusiasmado também o Observador.

 

Novidades, na corrida eleitoral americana, são nulas: restam três septuagenários com hipóteses de vitória para a Casa Branca, daqui a oito meses. No campo republicano, Donald Trump (73 anos) impera sem rival à vista. Entre os democratas, o combate reduz-se ao ex-vice-presidente Joe Biden (77 anos) e ao senador Bernie Sanders (78 anos). Um centrista e um esquerdista, cada qual com as suas falanges de apoio. Mais compactas as de Biden, após a vitória eleitoral de ontem em nove dos 13 Estados que foram a votos nas primária de ontem - a chamada Super Terça-Feira: Alabama, Arkansas, Carolina do Norte, Massachusetts, Minnesota, Oklahoma, Tennessee, Texas e Virgínia.

O troféu mais cobiçado de todos estes era o do Texas, segundo Estado a designar maior número de representantes à convenção democrata: 228, num total de 1.991. 

 

Sanders - que tem incontáveis admiradores em Portugal, designadamente o social-democrata Pacheco Pereira - venceu só em quatro Estados: Califórnia, Colorado, Utah e o Vermont, que o elege desde 2006 como senador. A sua maior proeza foi, sem dúvida, o primeiro lugar na corrida pelo domínio da Califórnia, a maior parcela estadual do território norte-americano, que designa 415 delegados à convenção democrata.

No conjunto dos sufrágios de ontem, estavam em jogo 1.357 delegados no mapa político que agora foi a votos, representando 28% do total de Estados.

 

A senadora Elizabeth Warren - que o Expresso, antes de exibir o fugaz entusiasmo pelo tal Buttigieg, elegia para a fogosa capa da sua revista de 28 de Setembro de 2019, sob o título «Ela pode derrotar Trump» - é a grande derrotada desta Super Terça-Feira: não venceu em lado algum e ficou abaixo dos 15% na maior parte dos Estados.

O facto de também ela pertencer à ala mais conotada com a esquerda entre os democratas parece não lhe ter dado qualquer vantagem competitiva com Sanders.

 

Falta acrescentar que o milionário Mike Bloomberg, que alguns chegaram a imaginar como temível competidor no campo democrata, mesmo correndo fora das tradicionais correntes do partido, falhou igualmente em quase toda a linha, apesar de ter investido mais de 500 milhões de dólares em propaganda eleitoral: restou-lhe, como modesto prémio de consolação, um triunfo na Samoa Americana, minúsculo território no Pacífico Sul, com apenas 55 mil habitantes.

 

O que vai seguir-se? Muito provavelmente, a repetição do já sucedido há quatro anos: Trump enfrentará nas urnas, em Novembro, o mais moderado dos opositores.

Proporciona pouca vibração jornalística, comprendo. E transmite uma maçadora sensação de déjà vu. Mas a vida é assim mesmo, na maior parte das vezes: calma, rotineira e previsível.

Fora da caixa (20)

Pedro Correia, 02.10.19

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«Neste momento nenhum homem cava a terra. Daqui a pouco vai ser a terra a cavar o homem.»

Tino de Rans (anteontem, na RTP) 

 

Segue-se uma antologia sumária de frases proferidas no debate da televisão pública, segunda-feira à noite, pelos líderes dos partidos sem representação parlamentar que concorrem à Assembleia da República. São 15 - nada menos. Dez dos quais fundados nesta década e nove surgidos nos últimos cinco anos - pormenor que justifica alguma reflexão. Quando se diz que a política está em crise (sempre ouvi esta frase, tal como «o jornalismo está em crise», «o teatro está em crise», «o ensino está em crise», etc, etc.), ninguém diria ao ver os partidos multiplicarem-se como cogumelos.

Dois destes participantes não são líderes dos respectivos partidos: o Livre fez-se representar não pelo seu fundador e porta-voz, Rui Tavares, mas por Joacine Moreira, cabeça de lista por Lisboa; e o MRPP, decano dos partidos portugueses, esteve representado pela candidata Maria Cidália Guerreiro pois neste momento «não tem líder». A extrema-esquerda portuguesa já não é o que era: antigamente podiam faltar-lhes as bases, mas candidatos a líderes até sobravam...

 

Amândio Madaleno (Partido Trabalhista Português):

«Nós temos um símbolo que representa dois golfinhos à volta do povo a protegê-lo dos tubarões.»

 

André Ventura (Chega):

«Hoje temos 230 deputados. Uns estão a jogar no casino on line, outros estão a pintar unhas, outros estão a fazer o que lhes passa pela cabeça. Nós a pagar, sempre a pagar, os portugueses só servem para pagar.»

 

António Marinho Pinto (Partido Democrático Republicano):

«Se houver algum agricultor digno desse nome em Portugal, não votará PS depois das declarações que o primeiro-ministro fez que nos jantares oficiais, a partir de agora, só comem peixe e não comem carne. Se houver um agricultor digno desse nome, não vote no PS, que é o partido do oportunismo nestas eleições.»

 

Carlos Guimarães Pinto (Iniciativa Liberal):

«Eu estou na política há muito pouco tempo, não estou muito habituado a estas lides televisivas. Ainda para mais pertenco à mesma minoria que a Joacine: também gaguejo.»

 

Fernando Loureiro (Partido Unido dos Reformados e Pensionistas):

«Eu estava lá, com um grupo de quatro pessoas. Não temos mais, infelizmente. Os outros estão todos doentes.»

 

Filipe Sousa (Juntos Pelo Povo):

«Sou presidente de câmara há seis anos e não tenho motorista.»

 

Gil Garcia (Movimento Alternativa Socialista):

«Há praias que já desapareceram. Todo o nosso litoral pode ficar... algumas cidades podem ficar debaixo de água.»

 

Gonçalo Câmara Pereira (Partido Popular Monárquico):

«Ontem foi domingo, foi dia de eu ir à missa, estive com a família, que é a minha primeira preocupação. Como sou católico apostólico romano, fui à missa e passei o dia todo com a família. Fiz 45 anos de casado com a mesma mulher. Foi a minha campanha eleitoral: convencer a família a votar.»

 

Joacine Katar Moreira (Livre):

«Não é necessário nós estarmos no Executivo para nós identificarmos o que é útil e o que é urgente.»

 

José Pinto Coelho (Partido Nacional Renovador):

«Se não nascerem portugueses, Portugal acaba por morrer.»

 

Manuel Ramos (MPT - Partido da Terra):

«O aeroporto de Beja tem apenas um voo por semana actualmente. E tem as moscas, que vão lá também.»

 

Maria Cidália Guerreiro (MRPP-Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses):

«Nós apresentamo-nos com duas palavras significativas: por um novo rumo e por uma sociedade operária e comunista.»

 

Mendo Castro Henriques (Nós, Cidadãos):

«A nossa campanha não é dizer o que nós pensamos: é escutar o que nos dizem.»

 

Pedro Santana Lopes (Aliança):

«Criou-se em Portugal, depois da tróica, esta obsessão: mesmo quadros qualificados saem das universidades, vão ao primeiro emprego - 650, 700 euros, seja o que for... E as pessoas vão-se embora.»

 

Vitorino Silva (Reagir-Incluir-Reciclar):

«O homem é apenas uma espécie. O homem tem de se humildar. O homem pensa que é o dono disto tudo, mas não é. Temos de respeitar as outras espécies.»

 

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O que me ficou da campanha para as europeias

João Pedro Pimenta, 24.05.19

 

O Pedro Correia já revelou algumas das principais propostas dos partidos concorrentes, mas não resisto a um pequeno apanhado do que me ficou desta pobre campanha eleitoral

A campanha dos "grandes"


As melhores campanhas foram feitas por partidos em que não tenciono votar (e quase do espectro oposto um do outro). Dos grandes, achei que a da CDU cumpriu bem os seus propósitos com o seu eleitorado, sem grandes ataques pessoais e falando realmente de questões europeias.   João Ferreira tem uma imagem ambivalente do trintão a entrar no bar da moda conservando uma linguagem ortodoxa, mas é impossível negar-lhes competência e sobriedade. Desfia a cassete, mas fá-lo bem.

No Bloco, Marisa manteve-se genuína e muito activa, monopolizando toda a campanha do seu movimento, e bem: quando o resto do Bloco se lhe juntava, estragava tudo.

Nuno Melo passou o tempo a falar de Sócrates e muito pouco de Europa (gostava de saber o que ainda pensa do caso da Hungria, por exemplo), com uma postura de forcado que não deixou espaço a outros nomes da lista. Só Cristas falou ao lado dele, fora umas palavrinhas de Mota Soares.

Paulo Rangel conteve-se mais do que o costume, embora falando também demasiado do PS. Ainda assim, uma campanha menos feroz do que há cinco anos, mas menos substantiva do que há dez, quando então ainda era um pouco novidade para o grande público, como quando presidiu à primeira blogotúlia de que tenho memória (mas quem teve aulas com ele sabe como tem o dom da palavra).

Por fim, Pedro Marques. Como praticamente toda a gente reconheceu, revelou-se um candidato desastroso, quase escondido por António Costa, que ainda teve o desplante de atacar a entrada em campanha de Passos Coelho enquanto Pedro Silva Pereira, a sombra de José Sócrates e terceiro candidato da lista do PS, era estrategicamente escondido atrás da cortina. A propósito. alguém ouviu mais algum candidato da lista? A também ex-Ministra Leitão Marques, Zorrinho, ou qualquer outro que teria sido um melhor cabeça de lista?

A campanha dos "pequenos"

O seu liberalismo puro não é propriamente o meu campo, pelo que não terão o meu voto, mas preencheu um espaço vazia na partidocracia portuguesa. A Iniciativa Liberal teve de longe a campanha mais imaginativa e inteligente, sem nunca descer o nível.

Paulo Morais, pelo Nós, Cidadãos, teve menos impacto do que merecia. O discurso da corrupção é importante, mas gostava de ter ouvido melhor o que ele disse sobre questões ambientais (tendo em conta que o seu nº 2 é José Inácio Faria, eurodeputado do MPT).

Paulo Almeida Sande, do Aliança, uma boa surpresa, achei-o convincente e preparado, e não faria má figura no PE. O mesmo se diga de Rui Tavares, do Livre, já com experiência em Bruxelas, assim como Marinho e Pinto, mas este espero bem que fique de fora e que aquela coisa chamada PDR desapareça quanto antes; partidos unipessoais e demagógicos, não, por favor.

O Basta revelou-se a fraude que se supunha, quando André Ventura trocou um debate na RTP por conversas de bola na CMTV. Esta coligação de um cocktail de direitas parece quase uma resposta áqueloutro cocktail de esquerdas das legislativas de 2015, o Agir, com Joana Amaral Dias (a surgir despida e grávida na capa da revista Cristina), o Mas e o PTP. Aqui tínhamos o nóvel Chega, de Ventura, o histórico PPM, ainda que dividido (sim, há lá militantes suficientes para criar divisões, tal como no MPT, aliás, que à mercê disso nem se apresentou nesta eleição depois de há cinco anos ter eleito dois eurodeputados; Gonçalo Ribeiro Telles não teria certamente isto em mente quando os fundou), o Portugal pró Vida e o Democracia 21, que julgo não ser sequer um partido.

PNR, PTP, PAN e PURP poucas surpresas mostraram, para além das suas agendas habituais e de um certo folclore, sobretudo da parte dos reformados e dos trabalhistas (aqui aconselhava a decorarem melhor o teleponto)

Já o MRPP, agora órfão de Arnaldo Matos, nem por isso deixou de ser menos lunático, mas ao menos não escondeu ao que vinha: saída do Euro e mesmo da UE. Para quem há pouco tempo anunciava "Morte aos Traidores" não se podia esperar menos. Quanto ao MAS, na campanha televisiva o cabeça de lista fazia lembrar uma árvore de Natal, tal a profusão de cores, tranças e adereços ideológicos; as propostas eram ligeiramente mais contidas do que as do MRPP - 70% de impostos sobre as grandes fortunas, por exemplo.

Presidenciais (28)

Pedro Correia, 17.01.16

Lamento que o jornalismo abdique cada vez com mais frequência de um olhar autónomo sobre os protagonistas da cena política portuguesa. Isto tem vindo a ser patente nesta campanha eleitoral. Reparem em boa parte das peças televisivas sobre os candidatos no terreno: parecem ser feitas no mesmo molde. Tanto faz o candidato ter em torno de si cem ou dez ou cinco pessoas, o registo não foge da mais estrita banalidade: um plano fechado, com o candidato no centro e dois ou três rostos anónimos a espreitarem-lhe por cima do ombro, e o registo de inócuas declarações do visado sobre um tema qualquer em foco nas manchetes desse dia. Mesmo que esse tema nada tenha a ver com os poderes do Presidente da República definidos na Constituição.

 

Estas peças produzem efeitos miméticos: contagiam outras, acabando por tornar-se todas semelhantes, configurando um jornalismo preguiçoso e reverente, que abdica de um olhar crítico sobre os agentes políticos e a mensagem - tantas vezes desprovida de conteúdo - que estes pretendem passar.

Raras vezes assistimos ao desassombro que se impõe no discurso de um repórter: "Este candidato não atraiu ninguém"; "passou totalmente despercebido", "só havia escassos membros da máquina partidária nesta acção de campanha"; "apenas esteve no terreno enquanto havia câmaras de televisão e microfones da rádio em seu redor."

Raras vezes existe sequer um plano mudo, mostrando uma plateia vazia ou uma rua despovoada porque ninguém acorreu afinal ao encontro dos candidatos, que pretendem usar as câmara de televisão como mero veículo de propaganda.

 

Tanto se fala sobre a crise do jornalismo. Há muitos factores a explicá-la. Mas o primeiro acontece logo aqui.

Deliciosamente invulgar

Helena Sacadura Cabral, 18.12.15

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Não sei se acontece com todos ou se é só comigo, mas a realidade é que, pela primeira vez,  ao abrir a televisão não me dou conta de que estejamos em pré campanha eleitoral.

Nada de nada. Tirando o Prof Marcelo a aparecer a dizer que é candidato, a que já nos habituámos, face à sua forte presença televisiva passada, a única entrevista com pés e cabeça de que me lembro - porque a ouvi com toda a atenção - foi a da Dra Maria de Belém Roseira, que considerei excelente. É verdade que eu aprecio a candidata como Mulher, como pessoa e como profissional. Mas a entrevista foi bastante mais do que isso, e eu congratulo-me pelo facto.
Dos restantes - uma, coitada, ficou sem papéis, levados pelo vento dos Açores - ou nada ouvi ou nada me ficou na cabeça. Também na minha idade já só conservo o importante e pelos vistos não terá sido o caso destes.
Na verdade há muito tempo que Portugal não atravessava um período pré-eleitoral tão morno. A continuarmos assim, não sei se iremos dar pela saída do Prof. Cavaco Silva. Por mim, estou como gosto, sem muito ruído. Tirando as séries político - televisivas que decorrem na Assembleia da República, pode dizer-se que atravessamos um período deliciosamente invulgar!

Deixe lá, depois sai-lhe um carro no sorteio

Sérgio de Almeida Correia, 23.09.15

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 (foto: TVI)

Vá lá, não seja exagerado. Não tem nada? Tem 14 % de taxa, o senhor tem tudo muito bem descrito, o seu rendimento todo e os descontos. De que se queixa, homem? Das gorduras do Estado? Porque está triste? Não seja piegas, está tudo no recibo. Queixe-se ao CDS/PP, eles é que são "o partido dos reformados".

Finalmente

Sérgio de Almeida Correia, 15.09.15

Numa discussão política que tem estado ao nível mais rasteiro que se podia imaginar, e enquanto o primeiro-ministro, aproveitando a sua oferta que afinal não era bem uma oferta para liderar uma subscrição pública a favor dos lesados do BES, não promove uma petição pública para levar o assunto à Assembleia da República e desfazer as dúvidas, parece que finalmente há alguém que assume a responsabilidade pela vinda da troika. Ainda há gente responsável.

E agora como é que eu lhes respondo?

Sérgio de Almeida Correia, 11.09.15

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Hoje recebi uma carta. Vinha de Lisboa, por correio aéreo. No remetente dizia "PORTUGAL À FRENTE" e a morada para devolução era Rua Alexandre Herculano, n.º 50 - 1.º, 1250-011 Lisboa, Portugal. Trazia o meu nome completo e a minha morada. A morada com que me registei nos serviços consulares. Não fui o único a receber.

De lá de dentro saiu um panfleto colorido com as fotografias da pandilha a avisar-me que havia uma equipa para as comunidades, mais a lengalenga habitual. Concluía informando-me de que "em breve receberá o boletim de voto pelo correio, fique atento e proceda desta forma: (...)." No final, acrescentava-se que convinha enviar o voto o mais cedo possível e ensinavam-me a pôr a cruzinha no quadradinho da coligação que me remeteu a carta.

Eu estava convencido de que os dados consulares estavam protegidos por lei e que não eram para fornecimento aos partidos políticos concorrentes ao acto eleitoral de 4 de Outubro. O José Cesário tantas vezes veio a Macau que conseguiu a minha morada. Espero que agora a Comissão Nacional de Protecção de Dados e a Comissão Nacional de Eleições me enviem a morada do Cesário. A de casa, se não se importam. Para eu, como emigrante, lhe poder responder a agradecer a gentileza de me ensinar a pôr a cruzinha e lhe enviar uma garrafinha de Licor Beirão.

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Uma sobreposição que nos prejudica

Rui Rocha, 13.08.15

Pergunto-me se não seria possível decretar a suspensão da silly season até acabar a campanha eleitoral. É que a sobreposição tira-nos a possibilidade de usufruir plenamente dos motivos de galhofa que qualquer uma das duas nos proporciona. Ou vá. Se não for possível, fazer ao contrário: adiar a campanha eleitoral para depois de terminar a silly season.

A campanha do PS (2).

Luís Menezes Leitão, 08.08.15

Conforme referi abaixo, esta campanha do PS constitui um desastre político de proporções colossais, digno de figurar nos anais do disparate político. Até agora, no entanto, os cartazes tinham sido apenas motivo para riso. Neste momento, a coisa ficou muito mais séria, a ponto de o PS já ter surgido com um pedido de desculpas público. Efectivamente, é um acto de uma gravidade extrema publicar imagens de pessoas sem autorização das mesmas, e ainda mais fazendo-as referir testemunhos falsos. Não reproduzo aqui esses cartazes precisamente para não amplificar os danos que lhes foram causados. Mas, de um partido que proclama nos cartazes "respeitem as pessoas", esperar-se-ia outra atitude, que não fosse a utilização abusiva da imagem alheia.

 

Acredito que isto não tenha sido intencional, mas há uma imagem que fica desta campanha do PS. E essa imagem é a do desleixo, do amadorismo e da incompetência. Neste quadro o slogan "alternativa de confiança" parece o que se chama em Direito a protestatio facta contraria, ou seja, uma declaração contrária aos factos. É que, por muito que doa aos apoiantes desta facção do PS, o eleitorado pode justamente perguntar: quem conduz duma forma tão atabalhoada uma simples campanha eleitoral, que condições tem para assumir o governo do país?

Uma campanha alegre

José Navarro de Andrade, 23.05.14

As reportagens chegaram-nos repletas de velhas desdentadas de bandeirinha na mão, homens de bigode, de esguelha para a câmara, a gritarem “vai trabalhar malandro” e cães a ladrar à caravana que passa – metonímias do mirífico “país real”. O repórter assinará com sarcasmo a “visão crítica” que o editor lhe pediu e uma semana depois fará figura entre os colegas (já não há camaradas nas redações…) relatando-lhes as confidências do “Paulo” e do “Francisco”.

Aos candidatos exige-se que exprimam em menos de dez segundos, para não aborrecerem, como irão resolver os magnos dilemas europeus tais como a recuperação económica, a ineficácia das instituições, a questão dos tratados da união. Para abreviarem as suas razões, uns brandem estudos, outros propostas concretas, os menos ouvidos afivelam um esgar de ironia que demonstre superioridade intelectual face à concorrência. Todos acabarão esgotados sem nunca terem sido escutados.

Os comentadores escalpelizam com fervor o que “ele quis dizer quando disse” e discutem entre si as suas taxativas opiniões – horas mal pagas nisto. Nenhum deixará de manifestar uma enorme credibilidade, a despeito desse fenómeno equívoco que é a verdade, ou dessa longínqua miragem que é a realidade.

No fim, uns cavalheiros eloquentes e apreensivos, sinais ineludíveis de prestígio, concluirão que a campanha foi muito fraca, os assuntos não foram discutidos a sério, os candidatos eram ocos e o povo é uma besta ignara. Pomposamente decretarão que é mesmo preciso haver um debate sério sobre isto.

A marquetista brasileira.

Luís M. Jorge, 09.06.11

Alessandra Augusta, de 40 anos, veio do Leblon ajudar Passos Coelho na campanha eleitoral. Não deve ter sido fácil. Ela explica em entrevista ao Sol como se adaptou a uma campanha em directo, assente nos free media (por oposição aos anúncios pagos que dominam a política brasileira) e em que os debates incluem perguntas a sério do moderador (na terra do samba eles ligam o relógio e calam a boca).

 

Demonstrando uma inteligência rara na sua profissão, Alessandra percebeu que aautenticidade de Passos Coelho contrastava bem com o excesso de marketing, mistura de circo, bruxaria e sound-byting, de José Sócrates e Paulo Portas. Por isso recolheu-se e deixou-o falar. Teve muitos arrepios, dada a prolixidade do candidato, mas respirou de alívio quando ele ganhou o debate.

 

Esta entrevista ignora várias coisas: o contexto, muito favorável ao PSD, e o alcance limitado da vitória. Mas Alessandra revela mão segura, ao combinar as incertezas da visão estratégica com uma noção realista da sua própria importância.

 

Boas lições para quem anda por aí.

Uma vantagem da campanha eleitoral

Ana Margarida Craveiro, 03.06.11

Não tivemos telejornais dedicados exclusivamente a espalhar o pânico sobre pepinos e tomates mal lavados, a entrevistar pessoas chegadas da Alemanha, e afins histerias comuns. Não se desenvolveu um especialista em bactérias em cada português. Graças à campanha, perdeu-se esta oportunidade. Ora ainda bem, alguma coisa de bom.