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Delito de Opinião

A Casa da Rússia

Maria Dulce Fernandes, 25.10.22

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A generosidade e nobreza russas, em tempo de guerra, não cessam de espantar o Mundo.

As Casas da Rússia sediadas em várias cidades europeias, condoídas dos padecimentos a que os rigores do Inverno possam eventualmente sujeitar os povos europeus vítimas das políticas equivocadas praticadas pelos seus governantes, tão ou mais magnânimas do que o seu líder, abrem as suas portas a quem necessitar fugir das intempéries geladas e quiser aquecer-se, carregar o telemóvel, levar os filhos para verem desenhos animados na TV ou tomar um chá quentinho (de preferência sem Novichock).

Estou para lá de perplexa, com tanta munificência e já nem sei se me comove ou me faz rir à gargalhada.

(Fonte:José Milhazes in Guerra Fria, 25/10/2022)

(Imagens Google)

Esta noite sonhei com calor

Maria Dulce Fernandes, 12.06.22

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Odeio o calor! Alguém que possa ler estes escritos pensará seguramente que estou completamente louca. Haverá porventura quem goste do Inverno, do frio, do vento e da chuva?! EU gosto.

Prefiro mil Invernos com temporais tenebrosos a um dia com temperaturas superiores a 30 graus, sem sopro de vento e com o sol a gritar o nosso nome em plenos pulmões na sua voz muda. A rua está quente, a casa está quente, o trabalho parece o inferno, o corpo está quente, e até as bebidas frescas nada têm de refrescante, pois parece que nos deixam ainda mais quentes. A roupa parece que é feita de goma, a pele transpira cola, e a produção elaborada do rosto parece o caudal lamacento que escorre da montanha depois duma abundante chuvada.

Quando eu era miúda, saíamos da escola dois dias por semana á tarde, entre Março e fins de Maio, para lanchar uma merenda e fazer ponto cruz no Jardim Botânico. As tardes eram amenas, o vento, uma carícia, cheirava a flores e a erva fresca – eram maravilhosas tardes de Primavera, estação do ano que já pertence à categoria dos exterminados, como o pássaro Dodô, por ter sido uma das primeiras vítimas do Efeito Estufa. Passámos a ter outras quatro estações: Verão, semi-Verão, Inverno e Inverno-sem-chuva.

O frio do Inverno é controlável pela maior ou menor quantidade de roupa, agora a torreira do Verão, controlamos como? Terá Deus querido castigar a humanidade por ter cometido o Pecado Capital (… Quem nunca comeu um raio duma maçã, que atire a primeira pedra…) e relegar-nos á nossa condição de descendentes de Adão e Eva, deixando-nos uma vinha estéril para usarmos só as folhas??

Sem conseguir responder aos angustiados pensamentos que me assolam, vou buscar os meus leques, companheiros inseparáveis das longas horas de Estio em vigília à alvorada, e preparar-me para mais uma noite insone, reconfortando-me a ideia de que se houver realmente Céu e Inferno, certamente iremos no elevador que sobe ou no que desce, não ficaremos seguramente a meio do caminho, pois no Purgatório já andamos há algum tempo.  

O sol está mais quente

Marta Spínola, 01.07.15

Pois está, e não são precisos estudos para o saber. A mim basta sair da praia e escaldar os pés todos no processo.
É um facto, nos últimos anos sinto a areia muito mais quente muito mais depressa que quando era pequena. Ou tinha pezinhos de amianto, ou não sei. Talvez haja estudos sobre os pés de crianças dos anos 80 e a areia da praia. 

Já nem é só a areia do fim da praia, nem é preciso ser um grande areal. O sol aquece e a areia ferve com ele. Se vou descalça queimo-me, se calço chinelos às vezes a areia mete-se entre eles e um dos dedos, um tormento até os poder tirar.
Sair da praia pode ser uma dor, o que podia ser poético mas não é. Não deixo de ir, naturalmente, mas dói.

Tendes saudades?

Gui Abreu de Lima, 01.07.13

Tendes nada. Mas eu andava a criá-las. Queria. A porta aberta para a rua, o vento a dançar com a cortina e o cão a pensar que é gente, a noite, o muito tarde da noite, a brisa que me afaga as pernas, e esse ar, que por onde andou ninguém sabe mas é um sopro do amor.