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Delito de Opinião

Notre Dame recordada e reconstruída

João Pedro Pimenta, 18.04.24
Esta semana revi um filme de há apenas dois anos sobre um acontecimento ocorrido há cinco: Notre Dame Brûle, no original. Na altura não me lembrei logo que passavam 5 anos do pavoroso incêndio da igreja-mãe dos franceses. O filme assou discretamente nas salas, apesar de ser de um cineasta consagrado, Jean Jacques Anaud, e é pena. Com emoção e adrenalina q.b., mostra todo o processo do incêndio e as dinâmicas dos intervenientes: dos bombeiros para apagar as chamas sem provocar o colapso de todo o edifício, embora não evitando a destruição da flecha central, dos responsáveis de conservação para salvar as relíquias lá guardadas (com algumas cenas burlescas, como a vinda desesperada do curador para apanhar um comboio suburbano para Paris), das autoridades e das decisões difíceis a tomar, dos parisienses e a sua angústia e dos fiéis e a sua fé, reunidos em vigília e orando frente à catedral.
 
Lembro-me de, quando se abriram as portas, a nave central estar coberta de escombros, cinza e água, mas de se ver nitidamente a cruz do altar-mor. Ainda pairou o receio de as estruturas cederem e a fechada colapsar, e, optimisticamente, esperava-se uma reconstrução possível para quase dez anos. Macron prometeu que seriam cinco. Entretanto, o desastre deu origem ao filme descrito supra e até uma série francesa na Netflix.
 
E a verdade é que 5 anos depois as obras estão mesmo a ser concluídas e a abertura da catedral totalmente reconstruída está prevista para 8 de Dezembro, dia da Imaculada Conceição, com a presença do Papa. Os cinco anos cumpriram-se e até já há nova "flecha" a substituir a erguida por Violet le Duc. Houve projectos de inovações no edificado, alguns de fugir, mas contra as previsões mais pessimistas e as sensações apocalípticas desse 15 de Abril de 2019, Notre Dame de Paris vai recuperar a imagem que tinha antes do incêndio, e espero, o seu coro magnífico e os sons do  Emmanuel (o enorme sino, não o Macron). Até parece milagre.
 
(Notre Dame em obras, Maio de 2022).
Pode ser uma imagem de barco e a Basílica do Sagrado Coração

Derrota assegurada

João Campos, 28.09.14

 

Há uns anos, um amigo emprestou-me o DVD do filme Alien vs. Predator, uma combinação improvável entre os monstros icónicos do filme de Ridley Scott (e da sequela de James Cameron) com a criatura do filme de John McTiernan (com Arnold Schwarzenegger) que surgiu na banda desenhada no final dos anos 80 e que já nos anos 90 deu origem a um videojogo muito popular e muito divertido - essencialmente por poder dar-se ao luxo de abdicar de qualquer noção de narrativa para apostar na atmosfera e no combate. O filme não correu tão bem, como de resto não podia correr, e antes de chegar à meia hora já eu desligava o leitor de DVD entre bocejos - tenho um fraco por aqueles filmes tão impossivelmente maus que se tornam bons de uma maneira muito retorcida, mas Alien vs. Predator é apenas e só mau, sem qualquer hipótese de redenção.

 

É, portanto, um pouco como as primárias do PS, a decorrer hoje após não-sei-quantos dias de campanha, de debates televisivos (como se entre duas cabeças desprovidas de sinapes activas como as de Seguro e Costa pudesse haver qualquer coisa de remotamente interessante a debater) e de sabe-se lá mais o quê. Aliás, todo este processo - que acompanhei a uma distância algo forçada, mas nem por isso menos higiénica - traz-me à memória o péssimo filme de Paul W. S. Anderson. Não alguma cena em particular, entenda-se, mas sim a tagline promocional que se podia ler nos cartazes do filme, que ganha toda uma nova leitura perante a evidência de que, com toda a probabilidade, o próximo primeiro-ministro do país será Seguro ou Costa: "Whoever Wins, We Lose". Muito adequado, sem dúvida.