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Delito de Opinião

Constituições do mundo (3)

Cabo Verde: Constituição de 1992

Pedro Correia, 03.02.23

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«1. Cabo Verde é uma República soberana, unitária e democrática, que garante o respeito pela dignidade da pessoa humana e reconhece a inviolabilidade e inalienabilidade dos Direitos do Homem como fundamento de toda a comunidade humana, da paz e da justiça.

2. A República de Cabo Verde reconhece a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, sem distinção de origem social ou situação económica, raça, sexo, religião, convicções políticas ou ideológicas e condição social e assegura o pleno exercício por todos os cidadãos das liberdades fundamentais.

3. A República de Cabo Verde assenta na vontade popular e tem como objectivo fundamental a realização da democracia económica, política, social e cultural e a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.

4. A República de Cabo Verde criará progressivamente as condições indispensáveis à remoção de todos os obstáculos que possam impedir o pleno desenvolvimento da pessoa humana e limitar a igualdade dos cidadãos e a efectiva participação destes na organização política, económica, social e cultural do Estado e da sociedade cabo-verdiana.»

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«1. A República de Cabo Verde organiza-se em Estado de direito democrático assente nos princípios da soberania popular, no pluralismo de expressão e de organização política democrática e no respeito pelos direitos e liberdades fundamentais.

2. A República de Cabo Verde reconhece e respeita, na organização do poder político, a natureza unitária do Estado, a forma republicana de governo, a democracia pluralista, a separação e a interdependência dos poderes, a separação entre as Igrejas e o Estado, a independência dos Tribunais, a existência e a autonomia  do poder local e a descentralização democrática da Administração Pública.»

 

Artigo 1.º e 2.º da Constituição da República de Cabo Verde

Campo do Tarrafal

José António Abreu, 25.04.12
A construção foi ordenada pelo Decreto-Lei 26539, com data de 23 de Abril de 1936. Destinava-se a presos políticos que tivessem de cumprir pena de desterro ou que, encontrando-se noutros estabelecimentos prisionais, se mostrassem «refractários» à disciplina. Em zona separada, poderiam também aqui ser «internadas» pessoas condenadas por crimes executados com finalidades políticas ou presos preventivos aguardando julgamento por crimes constantes do Decreto-Lei 23203, de 6 de Novembro de 1933 (vale a pena ler, em especial o artigo 2º, que tipifica os chamados «crimes de rebelião»). Entre 1937 e 1948, morreram no Tarrafal trinta e sete pessoas.
Fotografias tiradas em Novembro de 2007.

Um abraço ao Jorge Carlos Fonseca

Pedro Correia, 09.09.11
 
É uma sensação curiosa, ter dois amigos como presidentes da República em países lusófonos.
 
O primeiro: José Ramos-Horta, que conheço desde miúdo, quando vivi em Díli e ele era um destacado jornalista do diário Voz de Timor. Na década de 80, já eu era então também jornalista, e ele secretário-geral da Fretilin depois de ter sido ministro dos Negócios Estrangeiros da efémera República Democrática de Timor-Leste em 1975, escrevi uma "carta aberta a Ramos-Horta" em que prometia abraçá-lo novamente em Díli quando a opressão indonésia chegasse ao fim. Não era fácil escrever artigos desses, nessa época, na imprensa portuguesa. E muito menos no Tempo, dirigido por Nuno Rocha. A promessa tardou, mas chegou. Em Novembro de 2004 - vinte anos após a minha "carta aberta" - cumpriu-se o vaticínio: abracei-o no Palácio do Governo, na capital timorense, era ele primeiro-ministro. E nessa mesma noite, jantando ao lar livre na sua magnífica residência perto da praia da Areia Branca, relembrámos os encontros que fomos mantendo, em Lisboa e Macau, durante os anos de chumbo da ocupação, quando alguns influentes políticos portugueses advogavam o reconhecimento de jure da criminosa anexação indonésia, em nome da realpolitik. Alguns deles ainda andam por aí, procurando dar lições de superioridade moral aos outros. Como se tivessem algo que os habilitasse para o efeito.
 
O segundo: Jorge Carlos Fonseca, que hoje toma posse como chefe do Estado cabo-verdiano. Conhecemo-nos desde o final da década de 80, em Macau - era ele então professor da Faculdade de Direito na Taipa, depois de ter leccionado na Faculdade de Direito de Lisboa. Mesmo à distância, alimentava um sonho: contribuir para o fim do regime de partido único em Cabo Verde naqueles dias em que sobre as ruínas iminentes do império soviético emergiam democracias um pouco por todo o globo - da Europa ao Extremo Oriente, da América Latina a África. Formávamos um trio de colunistas (o terceiro elemento do trio era o nosso compagnon de route João Carvalho) no semanário católico O Clarim, que atravessou então - posso dizê-lo sem falsas modéstias - uma das suas melhores fases de sempre, graças em boa parte à pena acutilante deste meu amigo agora eleito Presidente de Cabo Verde. Quando partiu de Macau, em 1991, tinha motivos reforçados para dar asas à sua vocação política: o país abandonara o sistema de partido único, o que permitia a entrada em cena do Movimento para a Democracia, vitorioso nas eleições legislativas que logo se seguiram. O Jorge já lá estava e assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros no primeiro Governo democrático de Cabo Verde.
Reencontrámo-nos anos depois, em Lisboa, e nunca perdemos o contacto. Costumava dizer-lhe: "Um dia chegas a Presidente." Ele ria-se, dizia que preferia escrever e dar aulas do que manter-se na política. Mas a sua vocação para a intervenção na vida pública mantinha-se intacta: ei-lo agora em vésperas de prestar juramento como quarto chefe do Estado de Cabo Verde após Aristides Pereira, António Mascarenhas Monteiro e Pedro Pires. Com a assinalável diferença de esta ser a primeira vez em que o país tem um presidente e um primeiro-ministro de diferentes cores políticas (José Maria Neves é do PAICV) - um sinal acrescido do grau de maturidade que a democracia cabo-verdiana já atingiu.
 
Espero rever o Jorge um dia destes na cidade da Praia, como já aconteceu com Ramos-Horta em Díli - num e noutro caso, Portugal tem os melhores interlocutores: são ambos lusófonos e lusófilos convictos e assumidos. Espero lembrar com ele aqueles tempos tão empolgantes e simultaneamente tão divertidos em que, sentados à frente de velhas e pesadas máquinas de escrever, redigíamos os nossos artigos de opinião, sempre muito cáusticos para a classe política de Macau. Política e jornalismo, duas paixões que partilhamos. Seja em que tempo for, seja em que lugar do mundo for.
Um abraço amigo, Jorge. Desejo-te as maiores felicidades no teu novo cargo. Tenho a certeza antecipada de que confirmarás as expectativas que os eleitores cabo-verdianos acabam de depositar em ti.