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Delito de Opinião

Cá Por Casa

Francisca Prieto, 19.02.18

Adolescente Prieto, ó mãe, tenho uma coisa para pedir. Então diz lá. É que lá na escola, como estamos na quaresma, não fazem pão com chouriço à sexta. Ai sim? Pois, em vez de pão com chouriço, fazem pão com Nutella. E é tão bom, mas tão bom, mãe. É um granda pão, assim cheio de Nutella. Queria pedir-lhe se na próxima sexta feira posso levar dinheiro para comprar seis pães, mãe. Assim, todos os dias levava um para comer na escola.
E eu ah e tal, que Cristão e tal.

Cá Por Casa

Francisca Prieto, 15.09.16

Noite de calor insuportável. Chego à cozinha e dou com as Prietas de impermeáveis vestidos, uma delas a jantar de gorro de orelhas. Explicam-me que fizeram uma breve interrupção nas suas investigações. Que são espias russas e que já encontraram uma data de pistas para a resolução do enigma. Mostram-me a lista, escrevinhada à pressa num pedaço de papel rasgado de um bloco:

  • Duas balizas de futebol
  • Uma bicicleta
  • Um carro amarelo

E eu digo, tá bem, e fico descansada por terem tido o bom senso de se agasalharem enquanto investigam casos sérios na Sibéria.

Uma mãe preocupa-se sempre com os agasalhos dos filhos, mesmo que pertençam ao KGB.

Cá por Casa

Francisca Prieto, 07.09.16

Mãe e filho, pela estrada fora, com o ipod (da mãe) em versão shuffle. Às tantas, calha-nos o Space Oddity do David Bowie. Quando me preparava para suspirar de nostalgia pelo Major Tom, oiço uma voz enfadada a perguntar se não dava para mudar para a Mega Hits.
É por estas e por outras que decidi instituir um regime totalitário na minha viatura.

Cá Por Casa

Francisca Prieto, 01.08.16

Mãe e filho, pela estrada fora, com o ipod (da mãe) em versão shuffle. Às tantas, calha-nos o Space Oddity do David Bowie. Quando me preparava para suspirar de nostalgia pelo Major Tom, oiço uma voz enfadada a perguntar se não dava para mudar para a Mega Hits.
É por estas e por outras que decidi instituir um regime totalitário na minha viatura.

Cá por Casa

Francisca Prieto, 11.06.16

Rita Prieto, zangadíssima por eu a ter contrariado, declarou que a partir daquele momento não me conhecia. De maneira que, quando a interpelei daí a uns minutos, respondeu-me que a mãe dela não a deixava falar com desconhecidos.
E atreveu-se a acrescentar que eu era a pior desconhecida que ela conhecia. Aí os irmãos confrontaram-na com a incoerência. “Se não conheces a mãe, não podes dizer que é uma desconhecida que conheces”. Rita, já no cúmulo da fúria, avança para a declação bombástica: “És a pior desconhecida que desconheço”.

Madalenas de Proust

Francisca Prieto, 21.02.16

Hoje o meu irmão Zé fez anos. Temos os dois uma sintonia estratosférica que faz com que, para além de irmãos, sejamos companheiros de quotidiano. É raro o dia em que não mandamos mensagens parvas um ao outro com pequenos episódios que acabámos de presenciar, ou com frases que encontrámos num livro, ou com uma qualquer piadola que sabemos que vai fazer com que o outro se ria.

Muitas vezes, aproveito esta nossa cumplicidade para pregar o sermão aos meus filhos sobre a importância de serem manos uns para os outros. Sempre que há gritaria, eu berro num décibel acima a já célebre frase “Parem com isso. Sejam manos”.

Calhou que o meu filho Manel fosse hoje jogar ténis a um torneio em Belas, de maneira que aproveitei o caminho para pensar no que é que podia oferecer ao meu irmão como presente de anos. Não é fácil oferecer presentes a quem já tem idade para não dar muita importância a quinquelharia material.

Foi quando dei de frente com a pastelaria que vende Fofos de Belas que se me fez luz no espírito. O que me apetecia oferecer-lhe era uma madalena de Proust, ou, no caso, um par de Fofos, iguaizinhos aos que o avô Eduardo lhe comprava quando resolviam ir em passeata de domingo, ainda antes de eu nascer.

Parei o carro e expliquei ao Manel o que ia fazer, evocando a história das madalenas de Proust.

Levando em conta que muito provavelmente o Manel não faz a mínima ideia de quem foi Proust, muito menos da sua ligação a um bolo da família do queque, perguntei-lhe se ele sabia o que era aquilo de que eu estava a falar.

Respondeu-me prontamente: “Está a ser mana”.

Afinal, sabia mais do que pensava.

 

Fofos de Belas.jpg

Cá Por Casa

Francisca Prieto, 02.09.15

Manuel Prieto, combinando com seu tio uma saída no dia seguinte, disse-lhe não saber o que era um farnel. O tio explicou-lhe que era aquilo que os pastores enrolavam num pano e penduravam num cajado para levarem para o campo. Manuel Prieto não sabia o que era um cajado. Por fim, depois de muita reviravolta vocabulística, lá exclamou: ah é um lanche.

Cá por Casa

Francisca Prieto, 26.02.15

Rodrigo Prieto chega a casa todo desconsolado porque tinha ido à casa de banho da escola e, sem querer, tinha deixado cair na sanita uma bolacha que lhe estava mesmo a apetecer comer. Comentei que essa podia ser considerada a digestão mais rápida do mundo, mas não me parece que o tenha animado.

Cá por Casa

Francisca Prieto, 09.07.14

Rita Prieto, sete anitos: “Ora, o dia tem vinte e quatro horas, mas é só porque alguém resolveu dizer que era assim. Todos os dias são hoje. Hoje é um padrão: manhã, tarde, noite, manhã, tarde, noite. É sempre o mesmo dia, é sempre hoje. Até o mundo explodir e nós sermos todos engolidos pelo fogo”.

Parva da miúda, fiquei cá com uma depressão.