Hoje o meu irmão Zé fez anos. Temos os dois uma sintonia estratosférica que faz com que, para além de irmãos, sejamos companheiros de quotidiano. É raro o dia em que não mandamos mensagens parvas um ao outro com pequenos episódios que acabámos de presenciar, ou com frases que encontrámos num livro, ou com uma qualquer piadola que sabemos que vai fazer com que o outro se ria.
Muitas vezes, aproveito esta nossa cumplicidade para pregar o sermão aos meus filhos sobre a importância de serem manos uns para os outros. Sempre que há gritaria, eu berro num décibel acima a já célebre frase “Parem com isso. Sejam manos”.
Calhou que o meu filho Manel fosse hoje jogar ténis a um torneio em Belas, de maneira que aproveitei o caminho para pensar no que é que podia oferecer ao meu irmão como presente de anos. Não é fácil oferecer presentes a quem já tem idade para não dar muita importância a quinquelharia material.
Foi quando dei de frente com a pastelaria que vende Fofos de Belas que se me fez luz no espírito. O que me apetecia oferecer-lhe era uma madalena de Proust, ou, no caso, um par de Fofos, iguaizinhos aos que o avô Eduardo lhe comprava quando resolviam ir em passeata de domingo, ainda antes de eu nascer.
Parei o carro e expliquei ao Manel o que ia fazer, evocando a história das madalenas de Proust.
Levando em conta que muito provavelmente o Manel não faz a mínima ideia de quem foi Proust, muito menos da sua ligação a um bolo da família do queque, perguntei-lhe se ele sabia o que era aquilo de que eu estava a falar.
Respondeu-me prontamente: “Está a ser mana”.
Afinal, sabia mais do que pensava.