Por razões profissionais viajei para Bruxelas na quinta-feira passada, regressando na sexta-feira. O avião da TAP das 7h05m é extremamente usado por quem tem assuntos a tratar em Bruxelas e é habitual encontrarmos políticos e gente conhecida no avião. A quinta-feira passada não foi excepção. No meu avião viajavam também Passos Coelho e António Vitorino. No aeroporto de Bruxelas ainda encontrei Marinho e Pinto e tivemos tempo para uma breve conversa no aeroporto.
Nesse dia havia a cimeira entre a União Europeia e a Turquia e Bruxelas parecia uma cidade em estado de sítio. Logo à saída do avião fomos identificados por funcionários do aeroporto, o que foi a primeira vez que vi acontecer dentro do espaço Schengen (ainda existirá?). No aeroporto encontravam-se soldados sempre de metralhadoras empunhadas. Apanhando um táxi para o centro da cidade, o espectáculo era o mesmo: todos os edifícios públicos estavam guardados por soldados em posição de combate. Uma simples cimeira parecia afinal justificar que uma cidade se preparasse como se fosse para receber a invasão de um exército inimigo.
Lá consegui deslocar-me ao sítio da minha reunião de trabalho, apesar de várias ruas estarem cortadas. No regresso ao hotel, tentei apanhar um táxi, mas o motorista convenceu-me a desistir da viagem, dizendo que levaria horas com os engarrafamentos. Optei por isso por ir a pé, apesar de a distância ser enorme. À volta, a cidade parecia habituada a este sistema. As pessoas faziam as suas corridas pela rua, as esplanadas e os restaurantes estavam abertos e a cidade, com a sua magnífica Grand Place, resplandecia ao pôr-do-sol. E permanecia a habitual arrogância dos habitantes flamengos, recusando que na sua capital um estrangeiro se lhes dirigisse em francês. Mas não deixava de se sentir um medo latente nas pessoas, como que esperando um ataque a propósito da cimeira.
No dia seguinte à noite regressei a Lisboa, mas estava ainda no aeroporto de Bruxelas quando ouvi a notícia da prisão de Salah Abdeslan, o principal responsável pelos atentados de Paris. Apesar do tom triunfalista do anúncio, que a televisão procurava repetir, não me pareceu que as pessoas tivessem ficado minimamente tranquilas. Pelo contrário, o ambiente que se sentia era de que essa prisão poderia ser apenas um rastilho para novo ataque, como agora se verificou.
A principal função de um Estado é proteger e garantir a segurança da sua população. É manifesto que a Europa está a falhar rotundamente nessa função. Neste momento, necessita de pagar à Turquia para recolher os refugiados que todos os dias aqui chegam, e apesar de todos os meios de vigilância que coloca no terreno, não é minimamente capaz de proteger algo tão vital para a segurança das pessoas como o aeroporto e o metro no seu principal centro político. O que mais será preciso acontecer para que a segurança dos europeus seja protegida?